Com uma exclamação de raiva, voltou-se para trás. Os peles vermelhas, ainda longe, não eram mais que uma obscura linha no horizonte. Mais de duas milhas os separavam. Mas cavalgavam com uma velocidade incrível e não tardariam em chegar. John inclinou-se sobre o pescoço do cavalo.
— Corre, “Stormy"! — gritou —. Corre!
O nobre animal respondeu aumentando a velocidade, ainda mais, e em breve John saltava em terra, junto à diligencia, perguntando ao cocheiro:
— Não há aqui nenhum sítio por onde se passe a vau?
— Não. Este é precisamente o lugar de menor volume de água.
— Então, não há tempo a perder. Encoste a diligência o mais próximo possível da margem, desengate e ponha a bagagem entre as rodas para fazer uma barricada, amontoando terra, também. Depressa! Ninguém tentou discutir-lhe o comando das operações.
Voltou-se, depois, para as duas raparigas.
— Qual sabe montar a cavalo?
— Eu. — afirmou Merry, enquanto Josie, muito assustada, movia negativamente a cabeça.
O jovem levantou a sua amada, segurando-a pela cintura, e colocou-a sobre "Stormy".
— Escarranchada! Tem de ser assim! — exclamou.
Ela procurou tapar as pernas o melhor possível, ouvindo com atenção o que John lhe dizia:
— Tens que passar o rio e galopar velozmente. Deixa as rédeas à solta, segura-te bem, e “Stormy" fará o resto. Tens de chegar a Trinidad e explicar o que se passa à autoridade. Um homem ou dois não nos servem de nada. Precisamos pelo menos, de uns vinte, para afugentar os índios.
— Tudo correrá bem — disse Merry pálida, mas serena.
— Então, que Deus te proteja. Para a frente!
Ela inclinou-se inesperadamente sobre a sela, até unir os seus lábios aos dele.
— Tem cuidado, querido — murmurou, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas —. Tem cuidado!
Logo espicaçou o cavalo com os tacões.
“Stormy" saltou para a água sem vacilar, cortando a corrente, em diagonal. Mesmo assim, ainda foi arrastada mais de vinte metros. John ficou a olhar até ver como o animal e a amazona chegavam a terra firme.
Merry voltou-se, acenando com a mão, e fazendo com que "Stormy" largasse pela estrada em galope desenfreado. Só então John se voltou para verificar o avanço dos índios, que galopavam velozmente e que dentro de momentos estariam perto deles. Tudo estava preparado para a defesa, com as malas em terra, a servirem de parapeito, reforçadas com terra
— Sabe carregar uma arma? - perguntou à espantada Josie, que não sabia o que fazer, nem como ajudar.
A pobre rapariga, chorando, sacudiu a cabeça, negativamente.
— Nunca fiz tal coisa na minha vida.
— Deite-se junto à água; assim ficará protegida pela diligência. E não se mexa. Se houver algum ferido, trate-o o melhor que puder.
A jovem senhora apressou-se a obedecer e John dirigiu-se ao marido.
— Não me parece que tenha muita prática a disparar. É melhor entregar o revólver de Smith ao cocheiro, e ocupar-se de carregar as armas o mais depressa que possa. Será muito mais útil, assim. E conserve o seu revolverzinho. Se os índios nos aprisionarem, não dispare, contra eles a sua única bala. Mate sua esposa. Compreende-me? E o melhor que pode fazer por ela! Deitem-se todos em terra! — gritou, depois.
Os peles vermelhas, mais de trinta, achavam-se já perto, a galope desenfreado, gritando como demónios, sendo perfeitamente visíveis as suas pinturas de guerra, e as cores dos penachos de plumas. Estavam a menos de duzentos metros e avançam como um furacão, num espetáculo impressionante.
Quando se aproximaram mais, John escolheu rapidamente aquele que parecia levar o penacho mais largo e abateu-o com um tiro certeiro. Depois, não se preocupou senão em disparar toda a carga em alvos humanos, sem escolher.
— Fogo! - gritou soltando a espingarda e empunhando um dos revólveres.
Os Kiowas, não podendo empregar a sua tática favorita de galopar em círculo em torno da presa, por o rio não o permitir, passavam velozmente diante da diligência, deitados sobre os flancos dos animais, disparando urna chuva de balas contra os defensores.
Uma flecha cravou-se num raio da roda, junto à qual John se abrigava no momento em que ele começava a disparar com as duas mãos, tao depressa e tao certeiramente, quanto podia.
Seis revólveres cuspiram chumbo e fogo. A fumarada e o fragor dos tiros espantaram os cavalos, fazendo-os encabritar. Isto aumentou a confusão, mas favoreceu a ação dos sitiados. John, só por si, disparara vinte e dois tiros, com incrível rapidez e mortal pontaria.
Quando disparou a última bala, começou rapidamente a carregar um dos revólveres, ao mesmo tempo que se dava conta da situação.
Finnerty jazia de bruços no solo, e sua jovem esposa chorando aflitivamente, tentava tirá-lo debaixo da diligencia. Adams, esse, caíra de costas sobre um dos baús, com uma flecha cravada no ombro ensanguentado e estendia-lhe o seu revólver.
O jovem apressou-se a colher a arma, e abateu um pele vermelha que assomava o rosto feroz por cima da barricada, procurando disparar contra o velho Skin, quando este carregava o revólver.
Jim, o vigilante, caíra de costas, com os olhos muito abertos, fixos no fundo da diligencia que lhe servia de tecto. Estava morto!
O cocheiro tinha a camisa ensanguentada, mas carregava febrilmente um dos seus revólveres, sem que a ferida parecesse molestá-lo muito. Aquela heroica defesa tinha contido a carga inicial, e a horda selvagem retirava de forma desordenada.
John levantou-se, custosamente, para verificar a fuga dos Kiowas. Depois, acercou-se de Finnerty. Tinha a cara ensanguentada, mas não estava morto, somente desmaiara. Afastando Josie, levou o ferido até à beira do rio.
— Essas feridas não matam — disse para Josie —. Ponha-lhe uma compressa e ligue-o bem para evitar a perda de sangue.
Voltou-se para Adams, quando ouviu Siriri gritar:
— Esses porcos imundos, voltam ao ataque!
John empunhou a espingarda e colocou os dois revólveres de forma a utilizá-los rapidamente, o mesmo fazendo Skin, enquanto Adams, empunhava um "Colt" com a mão esquerda.
Os Kiowas estavam a uns setecentos/metros, e, à sua frente, vinha um guerreiro corpulento de largo penacho, que parecia dirigi-los. Um grito selvático e impressionante saiu da garganta dos índios e, vibrava ainda, quando os cavaleiros Kiowas se lançaram à carga, ganhando velocidade rapidamente.
Todos estavam preparados para fazer fogo, aguardando somente, a aproximação dos atacantes, quando chegaram até eles, por cima da gritaria dos peles vermelhas, as notas claras e vibrantes de um clarim.
— A cavalaria! — gritou Adams, exultante de alegria.
John levou rapidamente à cara a espingarda. Os Kiowas encontravam-se a uns duzentos metros, mas a sua moderna "Remington" automática, alcançava perfeitamente aquela distância.
O jovem rancheiro queria aproveitar a única oportunidade que teria. O disparo soou e o corpulento guerreiro do largo penacho, dobrou-se e caiu sobre o cavalo. Os outros detiveram-se imediatamente, à volta do chefe, e um deles saltou para o cavalo do ferido e, então, todos se afastaram a galope, fugindo à luta.
— Acertou-lhe! — exclamou Adams —. Nunca vi um tiro melhor, a tal distância e sobre um alvo tao móvel.
— Aí chega a cavalaria! — gritou Skin, saindo de gatas debaixo da diligência.
Um esquadrão de “cavaleiros azuis", com o oficial, a bandeira e o clarim, à frente, avançava pela estrada, a galopar, sem desmanchar a impecável formação, o que só sucedeu à passagem pelo rio.
— Merry vem também — disse John ao rancheiro Adams —. Vamos, ajudá-lo-ei.
— Papá! — exclamou a rapariga, angustiada, ao ver o sangue e a seta que sobressaia do ombro —. Estás ferido!
John colheu-apela cintura e pô-la no solo. Ela olhou-o com lágrimas nos olhos, apertando-lhe as mãos nas suas, mas soltou-se rapidamente, para correr para junto do ferido.
— Não te assustes, pequena — sorriu Adams com esforço —. Não é nada grave.
Merry abraçou-se ao pai, pelo lado contrário à seta, deixando correr livremente o pranto. O médico curou os feridos, e deixou-os entregues ao seu ajudante, antes de seguir com a cavalaria, que tratou de perseguir os Kiowas.
De Trinidad chegaram homens e carros com material para repararem a ponte e para conduzir os feridos e os passageiros para a cidade.
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