John Weldon saiu da agência do Banco satisfeito. Sorria para consigo e para o mundo, com os seus grandes olhos azuis. Guardou o documento do depósito e levantou o rosto, mas, inopinadamente, a dois passos de distância, encontrou dois olhos que pareciam querer fulminá-lo.
— Desavergonhado! Grosseirão! Como se atreve? — increpou-o uma voz feminina, vibrante de indignação.
A bofetada apanhou-o em cheio, estalando no ar com força, apesar de ser pequena e delicada a mão que a aplicara.
O mocetão retrocedeu um passo, de boca aberta, aturdido e surpreso, sem poder reagir.
—O que se passa, Merry? —A voz era de um indivíduo corpulento e de meia-idade, que se acercara da senhora.
O olhar dela, deitava chispas de cólera.
— É inaudito! Que descaramento! Atrever-se a…
John continuou sem perceber o que se passava, de modo que o punho do homem, grande como um presunto, alcançou-o no queixo, atirando-o contra a porta donde acabava de sair, e fazendo-o entrar no mundo dos sonhos.
Quando deu por si, estava sentado no passeio de madeira, vendo o par que se afastava. Ele era um sujeito alto e forte, enquanto ela, mesmo de costas, era ... a mulher mais elegante e altiva que jamais vira.
— Demónio! - resmungou John.
Foi quando viu um sujeito alto, magro, e de barba incipiente, vestido como um vaqueiro, que se ria às gargalhadas. John levantou-se do solo, admitindo que devia ter feito uma figura ridícula, mas pensando que tanta gargalhada era demais. Por isso, olhou o indivíduo com cara de poucos amigos.
— Teve graça, não teve? - resmungou.
— Ainda você não sabe o melhor ... — disse o outro, com lágrimas nos olhos, de tanto rir — Ela pensou que você … — começou o tipo a dizer, mas o riso não o deixou terminar.
— Pensou o quê?
— Pensou que fora você que a beliscara ... - e apontou para uma nádega...
John compreendeu, então, a indignação da senhora e o desagravo que tomara o indivíduo que a acompanhava. E ao ver o descaramento do tipo que estava sua frente, percebeu tudo. O outro continuava a rir, cinicamente.
— Com que então, um belisco, hem? Você, é que o deu ... — disse John — e eu é que levei o murro…
— Dê-lhe também um beliscão, para ficar pago. Olhe que merece a pena... Ali não há nada postiço. Asseguro-lhe - respondeu o outro, continuando com as suas irritantes gargalhadas.
– Nao, isso não ... parece-me que tenho algo melhor, como compensação — respondeu John, cerrando os dentes, e acercando-se do outro que, instintivamente, deixou cair as mãos para os quadris, junto aos dois "Colts".
Já perto do irritante individuo, não lhe deu tempo para nada. Aplicou-lhe um soco que lhe apanhou o nariz, e com o que foi atirado pelo ar até ao passeio, dando um berro de dor e de raiva, ficando quase sem alento.
John deixou cair os braços ao longo do corpo, de modo que as mãos roçassem os " Colts”, e aproximou-se do passeio. Ali viu como o tipo se revolvia no pó da rua, levantando-se, pesadamente, para, depois, levar as mãos ao queixo e verificar, assombrado, o sangue que lhe manchava os dedos.
Um momento mais e o sujeito estava em pé, mas com um aspeto lamentável. O soco no nariz tinha-o feito sangrar copiosamente, e aquele apêndice, a boca e o queixo, constituíam uma 86 ma n-chã, sangrenta.
— Porco ... Filho de ...! — bradou, gaguejando de raiva —. Cão! Toma, maldito!
Talvez aquele homem fosse um terrível pistoleiro, como o indicava as marcas na coronha do seu revólver, mas, naquela ocasião, estava demasiado fora de si, ou aturdido com os dois formidáveis socos...
Como quer que fosse, ainda que tivesse permitido ao outro tomar a iniciativa, John conseguiu sacar o seu "Colt" e disparar antes do adversário. E bastou aquele tiro.
O bandido girou violentamente para um lado, ainda disparou a arma, sem direção definida e com um gemido de estertor, caiu no solo, procurando, convulsivamente, segurar-se a calcinada terra, numa última tentativa para se levantar.
John permaneceu imóvel, com o rosto crispado. Tinha nascido e fora criado na dura escola da fronteira, naqueles tempos difíceis e dominados pela violência. Sabia, perfeitamente, que, se não matasse aquela víbora, seria morto por ela. E foi com certo alívio que viu aproximarem-se dois indivíduos com algo que cintilava ao sol, prendido da camisa, no lado esquerdo.
— Foi você quem fez isto? — perguntou o xerife.
— Sim. Ele quis matar-me — disse o rapaz.
— É Hazes, chefe - disse o ajudante com voz estranha, como se não acreditasse no que dizia — Está morto!
— Quem é você? - inquiriu o xerife.
— John Weldon, de Forte Summer, Novo México. Vim a La Junta trazer gado. Sou rancheiro, e não conhecia este tipo.
— Lutaram por algum motivo especial?
John contou toda a cena que originara aquele desfecho. Enquanto isso sucedia, o ajudante do xerife, que estivera falando com um grupo reunido na rua, acercou-se.
— Conseguiu algumas informações?
— Bastantes. Ao que parece foram muitos as pessoas que viram uma senhora linda e elegante dar um sopapo neste homem, e o indivíduo que a acompanhava derrubá-lo com um soco.
O representante da autoridade olhou para John.
— Até aqui está certo. Siga Coffin — ordenou.
— Hazes estava perto, rindo as gargalhadas. Como toda a gente o conhecia, os mais próximos trataram de afastar-se com receio do que pudesse suceder, e não ouviram nada. Mas viram este, acercar-se e derrubá-lo com um murro.
— Weldon empunhava já o revólver, quando Hazes sacou o seu?
— Nesse ponto, há discrepâncias — disse Coffin —. Uns dizem que sim, outros dizem que não. Estes em maior número.
O xerife voltou-se para John.
— E você o que diz?
— Que saquei o "Colt" depois dele.
— Só que há um pequeno pormenor que não se pode desprezar. Esse Hazes era o mais rápido atirador de todo o Sudoeste. Claro que isso não implica nada contra você, que lhe deu a vantagem de sacar primeiro e que acabou com ele, depois, tao facilmente, como se tratasse de um coelho...
John não fez caso do sarcasmo. Era difícil convencer aquele tipo.
— Tire-lhe a "artilharia" - ordenou o xerife ao seu ajudante.
— Há outro pequeno pormenor, em tudo isto —comentou John com a calma que conseguiu arranjar.
— Sim?
— Segundo o que sei, esse tal Hazes não era precisamente um cidadão respeitador da Lei; penso até que a sua prisão era reclamada por vários distritos. Vai prender-me por ter dado morte a um assassino?
— Nao, exatamente, por ter morto um criminoso, mas sim por alteração da ordem pública e uso perigoso de arma de fogo. Podia ter alcançado um transeunte, não pensou nisso?
— Que pretende com tudo isto? — perguntou Weldon, apertando os punhos, para manter a calma.
— Pretendo submetê-lo a julgamento e conseguir que seja expulso da cidade, por indesejáveI. Quero que vá fazer-se matar noutro sítio. Já aqui temos sarilhos demais ... Mas, se você marchar agora mesmo para fora daqui, deixá-lo-ei em liberdade.
John não pensava prolongar a sua permanência na cidade mais que um dia ou dois, e não lhe importava grande coisa abalar imediatamente, mas não estava disposto a deixar-se expulsar.
— Vá para o diabo, xerife! - disse com a maior amabilidade que lhe foi possível.
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