terça-feira, 5 de abril de 2022

FBV034.03 Encontro na estalagem

Assim o viu Meredith Adams, inexpressivo, aparentemente indiferente ao facto de ter morto a tiro um ser humano, quando a pesada diligência de Santa Fé passava defronte do "saloon”. 

— Meu Deus! — murmurou, levando as mãos ao peito.

Estava aterrorizado, mas a sensação dominante era a de um indizível alívio; ao verificar que o jovem ficara incólume.

O cocheiro fustigou violentamente os animais para se afastar dali o mais rapidamente possível.

— Que horror! - disse uma rapariga loura agarrando-se a um jovem moreno que ia a seu lado —. Mataram-no?

— Acalma-te, Josie. Isto é corrente no Oeste.

O pai de Meredith, para mudar o rumo à conversa, perguntou:

— Vão para Santa Fé?

O jovem respondeu-lhe, com um olhar de agradecimento:

— Sou empregado dos correios e vou tomar posse do meu novo lugar. Chamo-me Finerty. Viemos do Cansas e é a primeira vez que minha esposa vem ao Oeste. Está obcecada pelas histórias dos índios, e de salteadores. Isto vai fazer-lhe crer que são verdadeiras...

O pai de Merry, apresentou-se.

— Chamo-me Adams e tenho um rancho em Springer, junto ao Rio Canadian, e ao pé das montanhas Sangue de Cristo. Um famoso lugar, acredite. Minha filha Meredith vem de Saint Louis; onde esteve internada num colégio.

Por sua vez, um dos outros passageiros, um velho, cujo rosto parecia moldado em pergaminho, disse que era conhecido por Skin, mas não deu mais explicações, nem sobre ele próprio, nem acerca da sua procedência ou do seu destino.

Havia, ainda outro passageiro que disse chamar-se Smith, mantendo-se silencioso e distante. Um tipo corpulento e de meia-idade, que tanto podia ser caçador de búfalos, como outra coisa qualquer. Os seus olhos fixavam-se com frequência nos túrgidos peitos femininos, mas mantendo o olhar uma fração de tempo mínima, para não ser observado.

Todos os outros procuraram mostrar-se sociáveis, pois durante vários dias teriam de permanecer juntos naquela reduzida traquitana.

 ***

John viu passar a diligência, mas não reparou nos ocupantes. Devia esperar o xerife, que não tardaria em chegar. Mas não o seduzia, como era óbvio, a perspetiva de uma outra entrevista com o representante da Lei. Por isso, dirigiu-se apressadamente ao hotel, recolheu os seus pertences e pagou a conta, receando, a todo o momento ver aparecer o xerife ou o seu ajudante. Nada disso aconteceu e pôde chegar sem dificuldade junto da cavalariça, onde guardara o animal. E só se sentiu tranquilo quando, já a cavalo, seguiu pela larga e poeirenta estrada de Santa Fé.

Nao fugia da Lei, que, neste caso estava a seu favor, pois tinha morto os seus adversários em legitima defesa. Fugia de si mesmo e da sangrenta fama que, inevitavelmente, tinha de recair sobre o seu nome, depois daquilo tudo.

Voltava as costas às possibilidades de se repetir a agressão de que fora objeto, pois, a pequena cidade de La Junta estava infetada de jovens s el-vagens, de sangue quente e cabeça oca; mas fugia, especialmente, por recear que um novo encontro com o xerife, alterado como estava, arruinasse a sua vida para sempre, pois não tinha a certeza de que os seus nervos suportassem uma nova arbitrariedade, como aquela de ter sido encarcerado sem razão.

"Stormy", o seu cavalo ruão, era um animal grande, poderoso, veloz e resistente. Todavia, não o forçou, mau grado a pressa que tinha em afastar-se de La Junta, partindo num trote cómodo.

Caia a tarde quando entrou na estalagem onde paravam as diligencias. Só pouco depois de entrar, a viu. Ela observava-o com os olhos muito abertos e uma expressão alegre e, ao mesmo tempo, surpreendida. Era a última pessoa a quem esperava encontrar ali ...

— Senhor Weldon!

— E uma surpresa muito agradável, menina Adams — disse ele, faltando cortesmente à verdade —. não sabia que estavam aqui.

Ela apresentou-o ao casal Finerty, enquanto seu pai dizia ao rapaz:

— Fico muito satisfeito por voltar a vê-lo, Weldon. Ceará connosco, não é verdade?

—Aceito, obrigado.

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