— Não sofreste nada?
— Não, Papá — disse ela, ruborizada até à raiz dos cabelos —. Só a garganta me doi um pouco. O senhor Weldon chegou a tempo.
— Graças a Deus! Devemos muito a esse jovem. Nem sei como lhe poderemos agradecer.
Despediram-se pai e filha, mas Merry esperou que o pai se afastasse para se dirigir ao local da lagoa, onde John ficara.
— Eu... voltei porque... queria agradecer-lhe — murmurou confusamente.
Ele cravou as unhas nas palmas das mãos, num esforço titânico para dominar a sensação do violento desejo que o assaltava.
— Não devia ter vindo — exclamou surdamente. — E melhor abalar...
— Não sei como expressar-lhe... creio que nunca poderei...
Merry interrompeu-se. A sua voz era trémula, e olhando para ele sentia uma vertigem deliciosa, que a atraía, irresistivelmente, para ele.
— John - sussurrou como numa carícia —. Eu...
Nunca saberiam quem fez o primeiro movimento. Num momento, estavam-se olhando, no seguinte confundiam-se num beijo desgarrado. No meio do torvelinho das paixões, do desejo do macho, um raio de luz lhe iluminou o espírito, advertindo John de que ia portar-se como a imunda besta humana, que jazia morta a pequena distância.
Os seus dedos crisparam-se sobre os ombros de Merry, afastando-a, com ímpeto.
— Vai-te — arquejou —. Corre!
Ela voltou-se e correu para a diligência, fugindo de si própria, das novas sensações que, por instantes, ternos e deliciosos, tinham desvanecido todos os princípios e exemplos morais, em que a tinham educado, deixando, em seu lugar, o puro instinto da mulher pelo homem.
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