domingo, 10 de abril de 2022

FBV034.08 Desejo de macho


Quando o velho Skin e o vigilante da diligência, que tinham acudido, se afastaram para reunir-se a John Weldon, Adams olhou a filha com ansiedade.

— Não sofreste nada?

— Não, Papá — disse ela, ruborizada até à raiz dos cabelos —. Só a garganta me doi um pouco. O senhor Weldon chegou a tempo.

— Graças a Deus! Devemos muito a esse jovem. Nem sei como lhe poderemos agradecer.

Despediram-se pai e filha, mas Merry esperou que o pai se afastasse para se dirigir ao local da lagoa, onde John ficara.

— Eu... voltei porque... queria agradecer-lhe — murmurou confusamente.  

Ele cravou as unhas nas palmas das mãos, num esforço titânico para dominar a sensação do violento desejo que o assaltava.

— Não devia ter vindo — exclamou surdamente. — E melhor abalar...

— Não sei como expressar-lhe... creio que nunca poderei...

Merry interrompeu-se. A sua voz era trémula, e olhando para ele sentia uma vertigem deliciosa, que a atraía, irresistivelmente, para ele.

— John - sussurrou como numa carícia —. Eu...

Nunca saberiam quem fez o primeiro movimento. Num momento, estavam-se olhando, no seguinte confundiam-se num beijo desgarrado. No meio do torvelinho das paixões, do desejo do macho, um raio de luz lhe iluminou o espírito, advertindo John de que ia portar-se como a imunda besta humana, que jazia morta a pequena distância.

Os seus dedos crisparam-se sobre os ombros de Merry, afastando-a, com ímpeto.

— Vai-te — arquejou —. Corre!

Ela voltou-se e correu para a diligência, fugindo de si própria, das novas sensações que, por instantes, ternos e deliciosos, tinham desvanecido todos os princípios e exemplos morais, em que a tinham educado, deixando, em seu lugar, o puro instinto da mulher pelo homem.

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