Wiley Shannon esperava sentado debaixo de uma árvore onde tinha atado o seu cavalo, e o gado pastava com inteira liberdade ao longo da margem do rio.
Quando Wiley avistou a nuvem de pó que se aproximava atravessando as terras de Haskell, pôs-se em pé e atirou o cigarro ao rio que murmurava a seus pés.
Garcia vinha acompanhado pelos vaqueiros de Josephine Haskell, mas ela própria vinha também.
Wiley identificou-a com uma espécie de sobressalto, a sua atitude tornou-se embaraçada enquanto ela atravessava o rio com água até à barriga do cavalo que montava.
Atrás de Josephine atravessaram os seus vaqueiros e afastaram-se para irem rodear a manada de Wiley. Josephine aproximou-se da árvore onde estava Wiley, desmontou e olhou-o, enquanto sacudia a água das botas.
— Era necessário que fizesses isso, Wiley? — perguntou zangada.
— Tínhamos combinado que te entregaria o gado em troca do vale de Ludlow.
— Bem, mas isso já foi há tanto tempo...
— Há exatamente um mês.
— Tão-pouco? Julguei que já tinha passado mais tempo, e além disso já não me lembrava daquele maldito vale, nem do que disse naquele dia.
— Eu sim. Por isso te trouxe o gado.
— Então terei que recordar-te eu uma coisa que disse certa vez. O meu irmão incendiou o vosso rancho, soube-o depois. E eu prometi oferecer-te a devida reparação um dia...
— Bem, bem — atalhou ele com um gesto —. Se começamos a recordar velhos assuntos, nunca mais acabamos de discutir, e eu já tinha determinado nunca mais discutir contigo.
— O mesmo tinha decidido eu... — murmurou a rapariga.
E com a ponta da bota começou a desenhar caprichosas figuras na areia do rio. Houve um longo e embaraçoso silêncio.
— E Anne? — perguntou ela, passado um pouco.
— Oh, ela está bem! Agora consola-se da morte de Clayton, pensando que vai ter um filho dele.
— À parte a sua desgraça, a tua irmã é uma mulher afortunada. A minha irmã, no entanto... — Que há do filho que esperava?
— Malogrou-se.
— Lamento-o.
Novamente ficaram calados. O rio murmurava entre eles. Ao longe, ouvia-se o agudo grito dos vaqueiros empurrando o gado, que submisso, obedecia. Era uma manhã tranquila e cálida de Primavera.
Quebrando o silêncio, Josephine disse:
— Com respeito a Terry...
— Que se passa com Terry? — perguntou ele levantando a cabeça.
— Nada. Pensei que talvez quisesses falar com ela. Parte amanhã. Vai passar uma temporada com uns parentes que temos em Boston. De maneira que...
— Não há nada que eu deseje falar com Terry. Mas a ti, sim, quero dizer-te que... bem...
— Como, Wiley? — ela levantou vivamente a cabeça e os seus olhos cravaram-se nos dele.
Wiley afastou os seus olhos dos dela. Embaraçado e olhando para as terras que se estendiam para além do rio, disse:
— Há muito tempo que não atravesso esse rio para pisar as tuas terras, Josephine... Eu... bem, não sabia como me receberias lá. Se fosse possível esquecer tudo e enterrar as nossas disputas como há um mês enterrámos os nossos mortos... Josephine, podemos recomeçar de novo e sermos bons amigos?
Ela fez algo mais que responder. Levantou-se na ponta dos pés e pôs os seus lábios vermelhos sobre os dele. A rapariga corando, disse, enquanto se separava dele:
—Bem, lá cometi outra vez o mesmo erro.
— Não — disse Wiley abrindo os braços —. Desta vez não...
Beijou-a ternamente. O gado tinha começado a atravessar o rio, e o grito agudo dos vaqueiros soava no ar límpido, seco e fragrante do deserto.
FIM
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