domingo, 1 de maio de 2022

CLF057.12 Epílogo

Wiley Shannon esperava sentado debaixo de uma árvore onde tinha atado o seu cavalo, e o gado pastava com inteira liberdade ao longo da margem do rio. 

Quando Wiley avistou a nuvem de pó que se aproximava atravessando as terras de Haskell, pôs-se em pé e atirou o cigarro ao rio que murmurava a seus pés. 

Garcia vinha acompanhado pelos vaqueiros de Josephine Haskell, mas ela própria vinha também. 

Wiley identificou-a com uma espécie de sobressalto, a sua atitude tornou-se embaraçada enquanto ela atravessava o rio com água até à barriga do cavalo que montava. 

Atrás de Josephine atravessaram os seus vaqueiros e afastaram-se para irem rodear a manada de Wiley. Josephine aproximou-se da árvore onde estava Wiley, desmontou e olhou-o, enquanto sacudia a água das botas. 

— Era necessário que fizesses isso, Wiley? — perguntou zangada. 

— Tínhamos combinado que te entregaria o gado em troca do vale de Ludlow. 

— Bem, mas isso já foi há tanto tempo... 

— Há exatamente um mês. 

— Tão-pouco? Julguei que já tinha passado mais tempo, e além disso já não me lembrava daquele maldito vale, nem do que disse naquele dia. 

— Eu sim. Por isso te trouxe o gado. 

— Então terei que recordar-te eu uma coisa que disse certa vez. O meu irmão incendiou o vosso rancho, soube-o depois. E eu prometi oferecer-te a devida reparação um dia... 

— Bem, bem — atalhou ele com um gesto —. Se começamos a recordar velhos assuntos, nunca mais acabamos de discutir, e eu já tinha determinado nunca mais discutir contigo. 

— O mesmo tinha decidido eu... — murmurou a rapariga. 

E com a ponta da bota começou a desenhar caprichosas figuras na areia do rio. Houve um longo e embaraçoso silêncio. 

— E Anne? — perguntou ela, passado um pouco. 

— Oh, ela está bem! Agora consola-se da morte de Clayton, pensando que vai ter um filho dele. 

— À parte a sua desgraça, a tua irmã é uma mulher afortunada. A minha irmã, no entanto... — Que há do filho que esperava? 

— Malogrou-se. 

— Lamento-o. 

Novamente ficaram calados. O rio murmurava entre eles. Ao longe, ouvia-se o agudo grito dos vaqueiros empurrando o gado, que submisso, obedecia. Era uma manhã tranquila e cálida de Primavera. 

Quebrando o silêncio, Josephine disse: 

— Com respeito a Terry... 

— Que se passa com Terry? — perguntou ele levantando a cabeça. 

— Nada. Pensei que talvez quisesses falar com ela. Parte amanhã. Vai passar uma temporada com uns parentes que temos em Boston. De maneira que... 

— Não há nada que eu deseje falar com Terry. Mas a ti, sim, quero dizer-te que... bem... 

— Como, Wiley? — ela levantou vivamente a cabeça e os seus olhos cravaram-se nos dele. 

Wiley afastou os seus olhos dos dela. Embaraçado e olhando para as terras que se estendiam para além do rio, disse: 

— Há muito tempo que não atravesso esse rio para pisar as tuas terras, Josephine... Eu... bem, não sabia como me receberias lá. Se fosse possível esquecer tudo e enterrar as nossas disputas como há um mês enterrámos os nossos mortos... Josephine, podemos recomeçar de novo e sermos bons amigos? 

Ela fez algo mais que responder. Levantou-se na ponta dos pés e pôs os seus lábios vermelhos sobre os dele. A rapariga corando, disse, enquanto se separava dele: 

—Bem, lá cometi outra vez o mesmo erro. 

— Não — disse Wiley abrindo os braços —. Desta vez não... 

Beijou-a ternamente. O gado tinha começado a atravessar o rio, e o grito agudo dos vaqueiros soava no ar límpido, seco e fragrante do deserto. 




FIM 


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