Os dois lavradores, pai e filho, contemplavam o campo de trigo, cujas espigas balouçavam, impelidas pelo vento. Dentro em pouco estariam em condições de ceifar e o moinho de Evan Manners, até ali parado, pôr-se-ia em movimento.
Era com certa dose de orgulho que os dois homens admiravam o resultado do seu esforço e das privações que se tinham imposto. Mas agora, aquela terra era sua, unicamente sua, e ninguém lha podia tirar.
De repente, o filho estendeu o braço e exclamou:
- Pai, olhe uma manada!
Naquela direção, avançava um rebanho conduzido por alguns cow-boys. Agitavam no ar os laços, animando a corrida das reses com os seus gritos peculiares.
O pai olhou-os com ódio. Eis ali os inimigos! Tinham razão os que afirmavam não poder haver paz enquanto não desaparecessem os ganadeiros.
A manada aproximava-se o que sobressaltou os dois lavradores.
O maioral da manada dava instruções aos vaqueiros seus ajudantes.
- Conduzam os animais de forma que se não aproximem da seara. Seria um desastre e o coronel Barddock despedia-nos a todos.
Um vaqueiro partiu a galope até à cabeça da manada, e, com os companheiros, mudou o rumo às reses que seguiam na frente.
Mas tinham de passar muito perto dos trigais, visto ser o único caminho possível de utilizar. Os dois fazendeiros assistiam àquela manobra com rancor. O pai blasfemava em voz baixa. Não confiava nas intenções daqueles homens.
De súbito, duas reses saíram do grosso da manada sem os vaqueiros se aperceberem disso, e avançaram mugindo, em direção aos trigais. E, atrás delas, outras se seguiram.
Os lavradores deram um grito de furor, ao mesmo tempo que o maioral, vendo os animais tresmalhados, agitava a mão dirigindo-se aos vaqueiros.
Mas o fazendeiro mais velho não esperou nem pelas providências do maioral, nem pela atuação dos vaqueiros. Correu a buscar uma espingarda e começou a disparar sobre as reses que lhe invadiam a seara.
Uma vitela e uma vaca caíram, varadas pelas balas. Os urros dos animais feridos e o barulho das detonações assustaram a manada, nervosa e cansada pela marcha. Produziu-se o pânico entre os cornúpetos.
Dois cavaleiros avançaram a galope, para tirarem do trigal a única rês que ficara com vida. Mas reparando no perigo, gritaram:
- Não atire! Não atire!
O lavrador continuou disparando sem lhes dar atenção, cego de desespero. Os dois «cow-boys» chegaram junto do lavrador e um deles assentou-lhe a coronha da pistola sobre a cabeça, deixando-o sem sentidos. E, antes que o filho pudesse reagir, o outro cavaleiro derrubou-o também com a montada.
Depois, os dois «cow-boys» galoparam até encabeçar a manada que, correndo a grande velocidade, não era fácil de deter.
O maioral agitava os braços, tentando acalmar o gado e animar os seus homens, para apertarem a manada, de modo a não a deixar tresmalhar, até a cansar. Tudo quanto se lhe pusesse na frente seria arrasado.
Um vaqueiro que cavalgava à cabeça cambaleou de repente. O cavalo tropeçara no tronco duma árvore e assustou-se. Encabritou-se de surpresa, e o cavaleiro foi cuspido pelo pescoço do animal.
Nem os amigos mais próximos lhe puderam valer. A manada passou-lhe por cima, reduzindo-o a uma massa informe.
(Coleção Bisonte, nº46)
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