Com resolução, dirigiu-se à jovem. Ela viu-o aproximar-se e
ruborizou-se.
- Está divertida? – perguntou ao chegar junto dela.
- Muito – respondeu, com secura.
- E seu pai?
- Encontrou um amigo. Deve estar por aí, nalguma mesa.
- Quer comer ou beber alguma coisa? A dança abre o apetite e
provoca a sede.
- Obrigada. Não tenho apetite e não bebo.
- Regressa já o senhor Shelby?
- Creio que sim.
- Posso atrever-me a pedir-lhe que dance comigo?
- Não – respondeu ela olhando os pares dançantes.
- Está bem. Mas porquê? Eu sei que é livre e está no seu
direito de dançar com quem entenda; mas, sinceramente, julguei estar cotado no
número dos seus amigos.
- Desculpe-me não dar explicações.
- E você, do que vou fazer.
John tomou-a rapidamente pela cintura e arrastou-a dançando.
- Mas… Que… que pretende? – balbuciou, sem oferecer
resistência, mas vermelha de raiva.
- Dançar, não vê – respondeu Sterling. Continuando a dança.
- É um insolente! Eu disse-lhe não querer dançar consigo.
- Eu ouvi perfeitamente. Mas você devia-me uma pequena
compensação pelo trabalho que tive, com as formigas, ao pé do rio.
- Você enganou-me, senhor Sterling. Julguei que era um
cavalheiro.
- Estava errada. Por isso eu me apressei a desfazer essa
ilusão. E Douglas Shelby, é?
- Naturalmente!
- Teve sorte em o encontrar.
- Conheci-o em Kansas há umas semanas e… - a jovem
interrompeu-se.
- E veio a Dodge City para a ver. Não era o que ia dizer?
- Assim é, com efeito.
- Já a pediu em casamento?
- Ainda não.
- E que lhe responderá quando chegar esse momento?
- Não sei.
Sterling olhou, distraído, o homem do piano, enquanto dizia:
- Aceite, Mary.
Sentiu estremecer a jovem nos seus braços, e arrependeu-se
do que disse, levado por um certo despeito.
- Então quer que case com Douglas? – e olhou fixamente para
ele.
- Por que havia de recusar? Shelby ocupa uma
invejável posição social, é rico e bem parecido. Será feliz com ele.
Subitamente Mary deu um sacão, desfazendo-se do jovem.
- Não quero tornar a vê-lo, senhor Sterling! – exclamou a
jovem, com lágrimas nos olhos. – E sinto tê-lo conhecido!
Ele sentiu o coração desfazer-se, mas continuou inalterável,
como se aquela cena e a sentença proferida lhe não dissessem respeito.
Alguns pares próximos deixaram de dançar, contemplando os
dois jovens.
Nesse momento, John sentiu-se agarrado pelo pescoço, e um
murro atingiu-o no queixo, lançando-o por terra.
(Coleção Bisonte, nº 43)
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