domingo, 15 de dezembro de 2013

PAS188. Fazendeiros e ganadeiros

O ódio entre lavradores e ganadeiros originou lutas com tão grande ferocidade em Wyoming, que algumas vezes excedem as do Texas.
O território de Wyoming foi explorado em princípio pelos espanhóis e mais tarde colonizado por grupos de franco-canadianos. Por fim, os Estados Unidos, então nascente país, adquiriram-no à coroa de Espanha como parte dos territórios do Noroeste.
Passado alguns anos, o Senado resolveu entregar a terra livre aos lavradores. Este medida teve enorme repercussão no Oeste, e os políticos sabiam que podiam contar com os votos dos imigrantes que conseguissem terras. De resto, Wyoming tinha lugar para todos.

Foi então que chocaram as duas mentalidades. Os lavradores que nada tinham de comum com os antigos colonos representavam o sossego e a ordem. Eram tranquilos, até certo ponto e inimigos das desordens. Os vaqueiros, ao contrário, representavam a vida nómada, a ânsia de novos horizontes, como fora sempre o velho oeste.
Embora os lavradores não fossem simpatizantes com a aventura, estavam acostumados a uma vida dura e a defender-se dos bandidos que, frequentemente, mesmo no centro do Oeste, atacavam propriedades isoladas. Caçadores por desporto, muitos deles sabiam manejar armas com mestria. Depois, nasceu outro motivo de discórdia, motivo esse que mancharia de sangue as formosas terras do Oeste, e do que Wyoming não se livraria.
Os ranchos não tinham vedações, nem valas, nem limites. A água era propriedade comum e os pastos pertenciam ao primeiro que os ocupava com a vista, o que dava, por vezes a disputa entre rancheiros.
Os fazendeiros começaram por pretender fechar os campos, impossibilitando o movimento dos rebanhos com a facilidade anterior. Além disso, pretenderam também canalizar a água, privando dela os ranchos, o que equivalia a condenar os gados à morte.
Por fim, surgiu outro motivo. Todas as terras que não estivessem ocupadas por rebanhos, bastava espetar-lhes umas estacas e inscrevê-las no registo de «Town Hall» para as tornar sua propriedade. Pensaram muitos lavradores, e assim fizeram em muitos Estados, que, matando as reses, obrigariam os vaqueiros a juntá-las para as poderem vigiar, e assim, deixarem livres muitas terras que eles utilizariam. Naturalmente, que nem todos assim procederam, mas a imensidade dos terrenos despertava nos lavradores a ânsia de alargarem os seus domínios levando-os até ao crime.
Por outro lado, os ganadeiros, habituados a considerarem como sua a terra que viam, sem pensar nas transformações que o tempo e o progresso impunham, recorriam à força. Eram homens duros, que nunca pediram ajuda a alguém para solucionar os seus problemas. Algumas vezes recorreram a meios pouco nobres, como o assassínio e o incêndio. E uma vez postos em debandada os lavradores, os ganadeiros consideravam suas as terras por direito de ocupação.
Todavia, em quase toda a parte, e apesar das mortes perpetradas e sangue vertido, os fazendeiros conseguiram o seu propósito de ficar, obtendo tanta terra quanta podiam arrotear.
Este facto animou os que invadiram Wyoming, convendendo-os duma rápida e fácil vitória.
Os ganadeiros, animados por um espírito mais compreensivo, embora não simpatizassem com os lavradores recém-chegados, toleravam-nos e compreendiam a mudança dos tempos. Mas os lavradores, sentindo-se vitoriosos, olhavam-nos com desprezo e superioridade.
Em todos os recantos do mundo existe quem pretenda tirar partido de águas turvas. E a região de Wyoming não era uma excepção.
(Coleção Bisonte, nº 46)

Sem comentários:

Enviar um comentário