A viagem programada era longa e perigosa, pensava Lewis. Não
lhe importavam a duração nem os perigos. Também estava de acordo com a
recompensa até porque, para ele, o dinheiro era uma questão secundária. Mas
Légarde já tinha visto exatamente o que significava penetrarem em Shoshone
County?
- Entender-se a gente com os «sioux», com os «pés negros», é
difícil mas possível, mas com os «shoshones» não. Para eles todo o branco é um
inimigo mortal. Antes de falarem connosco terão tentado por todos os meios
assassinarem-nos.
Simón Legarde desatou a rir, mostrando ao fazê-lo uma dentadura muito branca. Havia
trinta anos que percorria as águas do tio. Vinte vezes tinha subido e descido
das costas ardentes do golfo até aos gelados bosques canadianos. Conhecia os
«shoshones» e sabia de sobra que era preciso ter cautela com o seu ódio aos
«rostos pálidos».
A chave era uma pequenita índia, conhecida por um nome
equivalente a «Morning Star», Estrela Matutina. Andava pelos treze anos, tinha
um corpo ágil e flexível, uma cara bonita que uns olhos negros enchiam quase
por completo. Era filha de Raio Vingador, chefe supremo dos «shoshones». Tinha
sido raptada um ano antes.
- A rapariga fugiu e lançou-se às águas do Marias tripulando
uma canoa. Perdeu os remos num remoinho e foi arrastada pela corrente. Quatro
dias mais tarde foi recolhida por um barco que voltava para Saint Louis com um
carregamento de peles. Estava gelada, morta de fome e de sono e mal podia
falar. O capitão resolveu levá-la, não por espírito de humanidade mas pensando
fazer um bom negócio, vendendo-a no mercado de escravos de Nova Orleães.
Comprei-a, sabendo quem era e o que podia valer. Tive de comprá-la muito caro,
mas se os «shoshones», agradecidos pela sua devolução, quisessem entender-se
connosco, compensavam-nos sobejamente.
(Coleção Pólvora, nº 46)
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