Lily deteve-se, contemplando as flores que cresciam por todo o lado. Formavam lindos conjuntos, o que a alegrava, para poder ornamentar a sua casa. Pôs a cesta no chão e começou a colher flores. Apesar de tudo, gostava de Wyoming. A toda a família agradava também, com exceção da mãe, que afirmava constantemente que aquela terra lhes traria desgraça.
Verdade era acontecerem muitas coisas que preferia não acontecessem; mas também em Tennesse havia lutas e tiroteios. Por outro lado, a jovem estava farta dos ódios resultantes da guerra e preferia estar num território novo, onde pudessem fazer outra vida.
De repente, parou surpreendida. Até pouco tempo antes, dizia sempre lamentar ter saído de Tennesse. A que se devia aquela mudança?
Lembrou-se então de Buck, aquele bonito vaqueiro. Seria verdade o que o pai lhe contara? Efraim confirmava; mas também outro fazendeiro dissera que assistira à contenda e fora Efraim quem o provocara, sendo batido lealmente por ele (Buck Dawes).
O incidente de dois dias antes também a preocupava muito. Numa luta no campo, tinham matado dois lavradores. As suas famílias estavam desesperadas e uma delas era obrigada a vender a terra que possuía, para seguir para Este. A outra, como tinha filhos maiores, poderia continuar ali.
Segundo constava, tinham sido encontrados a matar reses e isto era um crime, sem dúvida alguma. Não compreendia porque seu irmão Steve se mostrava tão nervoso.
Continuou a apanhar flores, até que, de súbito, ouviu o trote de um cavalo. Voltou-se e viu um cavaleiro, de chapéu ao lado, vir ao seu encontro. Quando chegou ao pé dela, descobriu-se com a maior galanteria e disse com o mais amável dos sorrisos:
- Que surpresa! Mas é «miss» Lily!
O cavaleiro era Buck Dawes. Apeou-se, foi ao encontro da jovem e estendeu-lhe a mão.
- Não sabe quanto me alegro em a ver!
Apesar do caráter fanfarrão que, com motivo, se atribuía aos vaqueiros, naquele rapaz ela só encontrou a expressão de uma sincera alegria. Lily, um pouco acanhada, não quis confessar que, apesar de tudo, também ela sentia uma grande alegria em o voltar a ver.
- Vive aqui perto? – perguntou o cavaleiro.
- Sim, mas – acrescentou a jovem, talvez para se defender – numa fazenda. Suponho que isto, a você, o possa aborrecer.
- Não! Que ideia! Uma fazenda é um lugar como outro qualquer. Eu nasci num rancho tão pequeno que mais parecia uma fazenda.
Lily fitou-o de novo. O jovem parecia querer conversar com ela e a rapariga deixou-se arrastar pelo seu entusiasmo.
- Vindo de Este, - disse o vaqueiro – parecer-lhe-á que este é um país de selvagens. É natural. Além disso, não deve ter amigas.
Admirada, Lily voltou-se e, inocentemente, perguntou:
- Como adivinhou?
Ele riu.
- Eu também tenho andado de um lado para o outro e, embora as equipas de vaqueiros formem sempre uma só família, sinto-me muito só. Felizmente, o meu amigo Larry e eu temos andado sempre juntos.
Começaram a andar, seguindo-os, docilmente, o cavalo do vaqueiro. Buck pôs o chapéu na cabeça e dispôs-se a fazer um cigarro. A rapariga olhou para ele com simpatia. Sempre embirrara com as pessoas que mascavam tabaco, e quase todos os lavradores o faziam.
- As fazendas estão muito separadas – continuou o jovem – e, na cidade, você quase não conhece ninguém. Por esta razão, é natural que se aborreça ao princípio. Lembro-me que o meu pai dizia que esta vida era muito mais dura para as mulheres.
Lily concordou.
- É verdade que sinto a falta das minhas amigas e, embora espere arranjar outras, cinto-me muito só.
Dawes contemplou-a em muda adoração. Era completamente diferente de quantas mulheres conhecera até então. Nenhuma o conseguira impressionar tanto como aquela.
- Se você quiser – ofereceu ele – pode ter um amigo sincero e disposto a tudo.
- Um amigo? – perguntou admirada.
Receava e desejava o que ia ouvir. Corou e voltou-se para ele, ansiosa.
- Sim – respondeu o jovem. – Um amigo; eu quero ser seu amigo, se você mo permitir.
O rubor aumentava e ela julgou que o rapaz notava a sua perturbação. Desviou o olhar sem se atrever a responder e sem saber que dizer. Depois, voltou a ouvir a voz do jovem, que pedia:
- Permite-me que seja seu amigo?
Ela fez um sinal afirmativo, mas com o olhar cravado noutro lugar. A Buck pareceu que o coração lhe saltava do peito. Até então nunca se sentira envergonhado ou tímido junto de mulher alguma, o que lhe acontecia agora.
- Gosta de andar a cavalo? – perguntou Buck para quebrar o silêncio que pesava sobre eles.
- Sim. Na outra casa, tínhamos uma égua em que costumava passear. Agora, porém, temos apenas três cavalos de sela, que utilizam o meu pai e os meus irmãos.
- O meu está à disposição de você.
Ela agradeceu o oferecimento, mas sem dizer se aceitava ou recusava. O jovem acrescentou:
- Há aqui lugares lindíssimos, mas é preciso conhecê-los. Existem fontes que os índios julgavam encantadas e que têm uma beleza extraordinária. Gostaria de lhas mostrar.
- Eu também gostaria de as ver – respondeu a rapariga.
- No rancho – continuou o cavaleiro – emprestam-me outro cavalo se o pedir. São montadas muito seguras, que nunca se assustam. Se quiser, posso trazer um.
Lily ficou indecisa.
- Pois… não sei – respondeu. – Combinaremos isso para a outra vez.
Encontravam-se junto dum bosque e a rapariga parou. Bucvk imitou-a sem compreender o motivo, e continuou a falar:
- Quando terminar o «rodeo», que não tardará muito, em cada rancho realiza-se uma festa à qual assistem os vaqueiros de todas as equipas. É uma coisa que esperamos todo o ano. Quer ir?
Lily ficou calada. Desejaria imenso acompanhá-lo, mas compreendia ser impossível. Os seus pais nunca lhe consentiriam ir a uma festa, acompanhada apenas por um desconhecido, e também eles não assistiriam a uma festa de ganadeiros.
- Gostaria imenso – disse, mas acrescentou logo, ao ver o contentamento do rapaz: - Todavia, temo que não possa ir. Não me receberão bem, porque sou fazendeira.
Dawes pestanejou, admirado.
- Ninguém se atreveria a ofendê-la. Iria comigo, e todos seriam tão amáveis como manda a educação.
- É preferível que não vá. – Fez outra pausa e acrescentou: - Agora tenho de ir-me embora. Moro aqui perto e é melhor não me acompanhar.
Buck concordou, percebendo que o motivo era o mesmo porque recusava ir À festa dos ganadeiros. Mas perguntou, ansioso:
- Posso voltar a vê-la?
A rapariga assentiu, baixando os olhos.
- Onde? – perguntou ele.
Lily encolheu os ombros e respondeu:
- Não sei… Onde você quiser…
- Aqui, a esta hora, depois de amanhã?
Lily, com o coração transbordante de alegria e receando que seu irmão Steve descobrisse a verdade, aceitou, ao mesmo tempo que deitou a correr em direção a casa.
(Coleção Bisonte, nº46)
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