A jovem pareceu decidir-se, e com voz clara e firme prestou
o juramento que Tharp lhe exigia. Depois, começou a responder às perguntas do
juiz.
- É verdade que, há três noites, Speedy Bob Cantrell,
apontando os seus revólveres para Jesse Rider, Kirby Sand e para mim própria,
se apoderou de dois mil e quinehntos dólares que estavam sobre a mesa, num
gabinete do andar superior do «Oasis Saloon». Também é verdade que disparou
contra Jimmy Drager, ferindo-o no peito. Mas…
Fez uma curta pausa, como para tomar alento, e ninguém se
atreveu a quebrar o profundo silêncio que se seguiu. Durante alguns segundos,
Lilian pareceu travar uma dura luta consigo mesma. Depois continuou, numa voz
ligeiramente agitada:
- Mas isto, que é a verdade, não é mais do que uma parte da
verdade, e eu jurei dizer tudo. Houve mais alguma coisa e…
- Não é preciso continuares, Lil… - tentou atalhar Jesse,
temendo o que ela pudesse acrescentar. – Não crê que é suficiente, juiz, para
enforcar esse bandido?
- Deixe falar a rapariga, Rider!... – interveio Lance,
enérgico. – Devemos ouvir o que tem ainda para dizer-nos, e em que pode ser
importante. Continue!
- Que tem a acrescentar, «miss» Webster?... – perguntou o
juiz.
- Que qualquer pessoa que tivesse um pouco de dignidade, e
não estivesse dominada pelo medo, faria o mesmo que fez Bob Cantrell.
As palavras dela produziram o efeito de uma explosão. A surpresa
deixou Jesse sem fala, enquanto o financeiro «Mr.» Purdy mordia os lábios,
nervoso. Tão surpreendido e desconcertado como eles, o juiz pediu a Lillian que
explicasse o significado das suas palavras.
- Simplesmente Bob descobriu que Rider estava a fazer
batota, ajudado por Sand e por mim. A ele, pessoalmente, pouco dinheiro
tínhamos arrancado, mas o seu amigo Gordon Vance estava a perder mais de mil
dólares. Quando ele viu que Jesse tirava do chapéu, que tinha sobre os joelhos,
uma «escada de cor», deixando cair dissimuladamente as cartas que tinha
recebido, reagiu…
Exclamações de assombro acolheram as suas declarações,
impedindo que se ouvissem as últimas palavras. Depois todos começaram a falar
ao mesmo tempo, sem que ninguém se entendesse. Mas uma coisa resultava clara e
flagrante, e era que Rider como Kirby tinham mentido, que tinham tentado roubar
Gordon Vance, fazendo trapaça, e que o procedimento de cantrell stava
perfeitamente justificado.
- Todos deram motivos para serem metidos na cadeia… - disse
o juiz. – Mas…
Preferiu deixá-los em liberdade, entendendo que, de certo
modo, todos haviam já sido castigados, e avisando-os de que à menor
reincidência os trataria com a máxima dureza.
- Mas… - rebelou-se Purdy – vai deixar esse facínora em
completa liberdade?
- Se o prendo terei de fazer o mesmo aos seus amigos, que
são tanto ou mais culpados do que ele… E é até possível que possa acusá-lo a si
também, de alguma coisa pouco agradável. Mas se quer que levemos isso adiante…
O financeiro bateu precipitadamente em retirada.
…
Quando, depois de muito falar e discutir, e de ouvir ainda
uma severa reprimenda do juiz, Bob Cantrell saiu de novo para a rua, quis o
acaso que encontrasse Lillian – que saíra meia hora antes do gabinete do
xerife. E teve a sorte de encontra-la só. Aproximou-se, para agradecer-lhe e
também para esclarecer uma coisa que não conseguia compreender.
- Porque disseste toda a verdade, Lil?... – perguntou ele,
olhando-a fixamente. – Porque te opuseste a Rider, deitando por terra todos os
seus planos, para me ajudar, a mim?
Ela não respondeu imediatamente. Pensativa, pareceu
abismar-se em fundas cogitações, em recordações de um passado que só ela
conhecia. Por fim, falando lentamente, respondeu:
- Não compreenderias, quinda que to dissesse, Bob. É alguma
coisa que um homem como tu nunca conseguiria compreender. Não o fiz por ti, mas
sim pensando numa pessoa a quem amei muito.
- Parecia-se comigo?
- Em nada. Era diametralmente oposto a ti. Não chegaste a
vê-lo, nunca o conheceste… morreu há anos. Mas vê bem se eu o amava… -
concluiu, com uma expressão concentrada - … para que a sua simples recordação
bastasse para salvar-te a pele. A ti, que és um pistoleiro cobarde, igual ao
que o matou!...
(Coleção Pólvora, nº 49)
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