Karin, de beleza delicada e grande sensibilidade artística, amava o teatro com paixão e entregava-se toda ao anseio de que chegasse o dia do seu triunfo definitivo. Enquanto os seus pais viveram foi uma simples espetadora que sonhava interpretar heroínas da cena. Cada vez que Philip Jarrison, seu parente afastado, passava pela cidade À frente da sua companhia, a jovem extasiava-se, sofrendo grandes desgostos ao ouvir os comentários desagradáveis que os seus pais faziam daquele cabeça louca. Ficou órfã; esgotaram-se os recursos económicos, não muito abundantes, o tio Philip, como lhe chamava, acolheu-a com carinho, incorporando-a no elenco.
Quanta diferença existia entre o Teatro que ela imaginava e o que ele era na realidade!...
Mas não desanimava. Tinha fé no êxito e tudo o que não fosse isso para ela não tinha valor.
…
Ao agradecer os apausos, a jovem atriz descobriu Lester e não pôde reprimir um gesto que denotava grata surpresa. A partir daquele instante trabalhou para ele, dedicando-lhe todas as excelências da sua capacidade artística. Tinha ocasiões em que se transfigurava por completo.
O público parecia eletrizado. Nunca tinham visto Karin como naquela tarde.
As frases de uma romanza de amor, cheias de beleza e ternura, desassossegaram o rancheiro. A intérprete cantou-a sem o olhar, mas ele teve a certeza de que lhe era dirigida e uma série de estranhas emoções perturbou-o até ao ponto de esquecer o sítio em que se encontrava.
A voz doce, cálida, da linda rapariguita, era um sussurro acariciador, uma melodia inefável.
Rebentou uma ovação estrondosa. Karin olhou-o então, numa espécie de oferenda sem palavras e vendo-o aplaudir com entusiasmo agradeceu-lhe com um sorriso, enquanto os seus olhos se enchiam de pranto…
(Coleção Bisonte, nº 42)
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