segunda-feira, 8 de outubro de 2018

CLF017.15 Luta de morte

—Eddie, estão já aqui —murmurou a rapariga.
O jovem que estava examinando a ferida de Mc-Carey afastou-se. Já ao lado da rapariga assomou por cima da parede rochosa. A uns trezentas metros estavam cinco cavaleiros que pareciam estar examinando o solo.
—Sim; creio que são eles—concordou. —Estão procurando a nossa pista.
Os cinco, após um breve e minucioso exame, dirigiram-se diretamente para as formações rochosas.
—Vêm buscar-nos—disse Eddie. —Tu, ocupa-te em continuar ligando a ferida de teu pai. Sobretudo, não se movam daqui.
Tocou no revólver qua a rapariga trazia na sua cartucheira e sublinhou:
—Se for necessário, não hesites em atirar.
Um pouco pálida, agarrou-o por um braço.
— E tu, que vais fazer?
—Vou tentar impedir que cheguem até aqui.
A rapariga rodeou-lhe o pescoço com os braços e beijou-o longamente, apaixonada loucamente por aquele homem; os seus lábios pareciam não querer abandonar aquele contacto—tão íntimo—com os de Parker.
—Eddie; haja o que houver, não esqueças que te amo muito.
Ele sorriu e acariciou-lhe os cabelos.
—Não fiques preocupada. Não tardará que esteja junto de vós.
Empunhou os seus dois revólveres e, suavemente, afastou-se por um dos estreitos corredores que se abriam por entre os maciços de rochas. Movia-se tão silenciosamente e com tal agilidade que mais parecia um índio.
De quando em quando, trepava pelas rochas a ver onde estavam os seus inimigos. Pôde ver que estes se tinham espalhado, avançando a pé—cada qual por seu caminho—por aquele labirinto, o que lhe permitia atacar cada um por sua vez. Perdeu-os de vista e não tornou a espreitar evitando ser descoberto. Continuou a avançar agachado e calculou que deviam estar perto. Um ligeiro ruído fez com que se pusesse alerta. Colocou-se de costas para a parede rochosa. Aguardou com todos os músculos em elevada tensão.
De súbito, um homem armado de revólver dobrou um canto. Quando viu Eddie, proferiu um insulto enquanto o colocava sob mira, premindo o gatilho. Parker fez fogo. O estampido arrancou mil ecos entre as paredes rochosas, enquanto o homem caia de costas, indo chocar contra uma pedra e escorregando depois para o solo.
Foi a sombra que se projetou a seu pés o que o salvou da morte. Num instante rodou sobre si velozmente e antes de apertar o gatilho, teve tempo para ver outro dos homens empoleirado sobre uma das rochas, com o dedo no gatilho. Apesar de Eddie não ter feito pontaria acertou no alvo. O outro caiu do alto, após grandes esforços para manter o equilíbrio. O lado esquerdo da sua camisa começava a tingir-se de sangue. O seu corpo relaxou-se. Caiu de bruços, daquela altura, embatendo no solo pedregoso.
Eddie compreendeu que os três adversários que restavam, certamente tomariam cuidados extremos, pelo que ele também devia ter certa precaução. Com os seus cinco sentidos bem atentos, apertou com mais força os dois revólveres e desviou-se por um corredor que se abria na frente, distinto dos restantes.
O silêncio era absoluto, como se os adversários se tivessem esfumado. Inclusive, por instantes, chegou a pensar que eles teriam mesmo fugido. Um impacto de rocha, a poucos centímetros da sua cabeça, seguido duma detonação, tirou-lhe as dúvidas. Rapidamente espreitou por uma abertura a ver donde tinham feito fogo. Um novo projétil veio esmagar-se no parapeito rochoso, mesmo junto ao rosto, lascando pedaços de rocha. Eddie advertiu que, se deixava que o cercassem, estava perdido.
Ansiosamente procurou o agressor. Por fim, a uns dez ou quinze metros de distância, viu algo que se movia. Disparou rapidamente, mas o que fez foi indicar ao outro a sua posição que, por tal, disparou em resposta. Durante uns momentos estiveram trocando tiros. Tanto para um, como para o outro era difícil acertar em tão péssimas condições. Eddie, no entanto, era mais preciso porque o tempo corria contra si. Se não atingisse aquele homem enquanto estivesse só, quando os outros dois começassem a atirar...
Levantou o revólver que empunhava com a mão esquerda e deu uma série de tiros contra a rocha que encobria o inimigo. Pôde ver mesmo como pedaços de pedra voavam em todas as direções e o silvo dos projéteis ao serem desviados.
O outro reagiu como Parker estava aguardando. Instintivamente, procurou refugiar-se em lugar mais seguro, e por um instante, enquanto retrocedia, descobriu a parte posterior da sua cabeça. Então, Eddie com o revólver que empunhava com a mão direita fez fogo. O homem, como que impulsionado por uma mola, ergueu-se a toda a altura do corpo, violentamente, deixando-o a descoberto. Logo, abrindo os braços caiu desamparado com uma bala alojada no crânio.
Eddie voltou a carregar rapidamente as suas armas. Com a maior precaução, deu a volta à rocha e avançou por um corredor estreito. Estava certo de que os outros dois deviam estar muito perto, pois decerto teriam corrido a tomar parte no tiroteio.
Meteu no coldre um dos revólveres e, valendo-se da mão esquerda e dos pés, começou a escalar uma das paredes da estreita passagem. Era tarefa difícil e perigosa, pois podia resvalar, caindo então para o fundo muito mais baixo. Ao atingir a parte superior, assomou do outro lado, vendo a curta distância os dois homens, que se moviam cautelosamente. Mas um deles descobriu--o e apontando-o, gritou:
—Cuidado! Está ali
Eddie colou-se contra o solo quando soou a detonação. A bala quase roçou pelos seus cabelos, no mesmo instante que vomitava do seu revólver uma língua de fogo. O indivíduo deu um grito e com ambas as mãos procurou apoio num penhasco. Ia caindo lentamente, e para sempre.
O outro, acometido pelo pânico, começou a disparar à doida. Eddie fez fogo uma vez mais e derrubou-o com uma bala no peito.
Tinha vencido os cinco homens. Contudo permaneceu imóvel uns instantes com uma expressão de desapontamento no rosto. Nenhum dos inimigos era Jeff Winters, nem tão-pouco estava no grupo Cherokee Banion. Conhecia-os demasiadamente bem para se enganar. Onde estariam então eles?
Estranho ainda, desceu do alto da parede rochosa é acercou-se dum dos inimigos, que fora um dos últimos adversários. Observou-o detidamente. Não o conhecia. Mas advertiu que um deles ainda estava vivo. Ajoelhou-se junto do homem e susteve-lhe a cabeça entre as mãos e depois com o braço. O indivíduo ergueu as pálpebras e olhou-o com as pupilas vidradas. Respirava com dificuldade.
—Onde estão Winters e Cherokee? —perguntou Eddie.
Com visível esforço, o homem balbuciou:
—Vêm mais tarde... tivemos que ir a Pecos avisá-los... Mas nós saímos antes, do rancho. Eles devem vir atrás de nós.
A sua voz desapareceu subitamente enquanto o rosto se contraía num esgar de dor. Então, todo o corpo se relaxou e a cabeça caiu para trás. Estava morto. Eddie pôs-se de pé e guardou o revólver. Com andar pausado, dirigiu-se para onde os homens tinham deixado os cavalos.
Nas bolsas das selas encontro abundantes provisões e cantis cheios de água. Carregou tudo na sela dum dos animais e conduziu-o pelo freio, regressando donde tinha deixado Joyce e seu pai.
A rapariga que permanecia colada a uma das rochas, baixou o revólver ao vê-lo. Com lágrimas de alegria, arrojou-se nos seus braços.
—Eddie, sofri tanto. A cada tiro que ouvia pensava que eras tu a vítima. Mesmo agora ao escutar-te os passos, não tinha já a certeza de serem os teus. Oh, Eddie quanto sofri!
Parker estreitou-a contra o seu peito e reparou que o pai sentado no solo a tudo assistia.
—Pudeste com eles, não é verdade, meu rapaz?
Eddie, afastou-se de Joyce.
—Sim, fui suficiente para os liquidar. Mas ainda não estamos a salvo.
A rapariga olhou-o angustiada.
— Porquê? Se Jeff...
—Estás enganada—disse ele. — Nem Jeff nem Cherokee se encontravam entre estes indivíduos. Eram cúmplices seus que saíram imediatamente em nossa perseguição. Um deles, antes de morrer, confessou tudo. E avisaram também Jeff e o outro sócio, Cherokee, e estes devem-nos estar quase a alcançar, embora tenhamos grande vantagem por terem de ir a Pecos, preveni-los do sucedido.
A alegria de Joyce tinha-se desvanecido como por encanto. Levou as mãos às faces e afastou-se uns passos. Durante uns segundos um pesado silêncio rodeou os três. A rapariga dirigiu-se para Eddie. Nos seus olhos havia uma expressão de angústia e de vã esperança.
—Mas talvez não nos sigam. Talvez Winters se dê por vencido e abandone este caso. O jovem acercou-se dela e colocou-lhe as mãos sobre os ombros.
—Sinto desenganar-te, mas o contrário não adianta agora. Ê melhor encarar frente a frente os problemas. E tu no fundo não acreditas no que acabas de dizer. Perseguiria as nossas pessoas nem que nos dirigíssemos para as profundas do inferno.
Joyce baixou a cabeça.
—Eddie tem razão. Winters não é homem para abandonar uma decisão; é demasiado teimoso. Naquele dia em que me salvaram do rancho tinha tido um interrogatório. Não sabe o que é a derrota ou fraqueza e tanto me havia de torturar que certamente conseguiria arrancar-me o segredo se antes não morresse.
Estas palavras de McCarey fizeram que Eddie voltasse para ele a sua atenção. Examinou detidamente o ferido; este parecia ter unicamente ânimo para estar sentado no chão. Com o rosto pálido e emagrecido, um brilho febril no olhar, mais parecia um homem que tinha chegado ao limite máximo da sua resistência.
— Esta noite ficamos aqui a descansar — disse Eddie. —Mas amanhã retomamos a viagem para Hondo. Agora dispomos de água e provisões.
McCarey moveu a cabeça em sinal afirmativo.
—Está bem; embora seja estupidez que teimem em salvar um homem acabado como eu estou.
Os três tomaram uma ceia frugal quando começavam a cair as primeiras sombras da noite. O ferido não tardou em 'mergulhar num profundo torpor. Joyce buscando proteção, instintiva, fez que uma das suas mãos ficasse entre as de Eddie.
— Meu pai está muito mal. As suas forças abandonam-no por completo, por já não existirem sequer. Temo que não seja capaz de, se suster sabre a sela. E não calculas quanto me horroriza, pensar que ele não poderá chegar a Hondo.
Parker acariciou a mão da rapariga.
—Conseguiremos levá-lo para Hondo, custe o que custar.
Ela reclinou a cabeça no seu ombro.
—Se tu não nos defendesses, não sei o que seria de nós.

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