quinta-feira, 4 de outubro de 2018

CLF017.11 Uma pista importante

Quando regressou, meia hora depois, Eddie encontrou a rapariga um pouco mais calma. Mantinha-se pálida e desgostosa, mas parecia ter superado a impressão dos primeiros momentos, e logo acercando-se, rodeou-lhe os ombros com o braço.
—Não te deves sentir culpada, querida. Jeff mais tarde ou mais cedo teria feito o mesmo. É um assassino, e qualquer desculpa lhe serve para matar.
Joyce passou a mão pelos olhos.
—Nunca esquecerei que Mamie morreu para me salvar.
—No fundo era boa—murmurou Eddie. —Mas se te facilitou a fuga também foi em seu próprio benefício. Receava que lhe roubasses o amor de Jeff não se apercebendo que este nunca amou a ninguém. De qualquer maneira, dou-te a minha palavra de que a morte de Mamie não ficará sem castigo.
A rapariga deitou a cabeça no ombro do jovem.
—Que vamos fazer agora, Eddie?
Ele agarrou a sua mão e obrigou-a a pôr-se de pé.
—Vem.
Saíram da cabana. Não se via rasto de Mamie; só o lugar onde tinha jazido estava assinalado por uma mancha negra de sangue. Um pouco mais adiante via-se um monte de terra acabado de cavar. Eddie levou-a para o outro lado da cabana, e apontou-lhe para o chão.
—Tu viveste toda a tua vida num rancho. Que é isto?
A rapariga inclinou-se para examinar a terra indicada por Eddie. Viu sinais de ferraduras.
—Marcas de cavalos — respondeu.
—Serias capaz de calcular se são muito recentes?
Ela tornou a estudar' o terreno.
—Não sou muito entendida, mas diria que não têm mais de quatro horas.
— Somente três. Mais ou menos, o mesmo tempo desde que morreu Mamie. Vi muitos cadáveres, e dificilmente me engano. Queres dizer que são as marcas dos seus assassinos?
—As marcas de Jeff Winters e de algum dos seus cúmplices — retificou Eddie. — Vamos segui-las.
— Onde pensas que nos conduzirão?
—Ainda não sei. Mas Pecos está a Oeste, e o rasto dirige-se para Norte. Isto significa que não se dirigiram para a cidade, mas sim para algum lugar determinado. E é isto o que quero averiguar.
Foram buscar os cavalos e pouco depois estavam seguindo a pista mareada no solo. Afastavam-se da cabana rumo ao Norte. O rasto serpenteava por um terreno difícil onde abundavam as rochas e grandes pedras. Isto tornava mais difícil a missão, mas Ed-die era capaz de descobrir uma pista sobre a superfície mais plana e rochosa. Havia momentos em que Joyce se convencia de que o jovem se tinha enganado já que lhe era impossível distinguir o menor vestígio da passagem dos cavalos. No entanto, quando alcançavam um terreno mais brando ou terroso, voltavam a aparecer claramente as marcas das ferraduras dos cavalos, e a rapariga tinha de reconhecer, admirada, a perícia de Eddie.
A paisagem ia mudando a pouco e pouco. De árido e rochoso, tornou-se em terreno fértil e cheio de verdura. Por entre a erva cresciam grupos de árvores aqui e além. Era a pradaria texana que voltava a aparecer no meio duma zona desértica.
Quando há mais de duas horas cavalgavam pela pradaria, às primeiras horas da tarde, o jovem e a rapariga treparam uma ladeira duma colina coroada de árvores. Foi daquele alto que viram, a menos duma milha, o rancho que se espalhava a seus pés. Tanto o edifício principal como as restantes construções, em redor, eram construídas de madeira e muito recentes.
Apesar da distância era possível verem-se currais, cavalariças, cercas para gado e locais destinados a pastagens. Distinguiam-se algumas pessoas que iam dum lado para outro, assim como os cavalos presos à entrada principal.
— Penso que encontrámos o que andávamos buscando — murmurou Eddie.
—Mas isto não é mais que um rancho—objetou Joyce. —Isto nada significa.
O jovem desmontou. Os seus olhos estavam cravados na distância.
—Vem aqui—disse à rapariga.
Quando estava a seu lado, explicou:
— Olha; diante da casa estão dois cavalos. Certamente são os de Jeff e do outro que o acompanha. Foram as marcas dos seus cavalos que aqui nos conduziram. E sabes o que significa este rancho? Vou dizer-te. Significa que Jeff está disposto a pôr em prática o negócio do roubo de gado contando com o invento de teu pai. Tudo isto é novo, terminado recentemente. Apostava que ainda há um mês isto não existia. Contratou uma equipa de vaqueiros, certamente formada de meliantes, e edificou tudo em madeira para ser mais rápido. Não quer perder um só único dia até que conheça o sistema de marcar as rezes.
Fez uma pausa e prosseguiu:
—O negócio é fabuloso, para já. Basta roubar o gado, trazê-lo para aqui, marcá-lo novamente e voltar a vender. Quase nenhum gasto e lucros fabulosos. Winters não é dos que perdem o tempo. Mas há ainda uma coisa mais importante para nós.
Joyce olhou-o interrogativa. Eddie apontou o rancho.
— Apostava a cabeça em como o teu pai está preso ali.
— Por que dizes isso? — exclamou Joyce excitada. —Trata-se dum raciocínio muito simples. Se Jeff quer averiguar algo que só teu pai pode dizer, qual o melhor local para o reter que não seja aquele onde há-de começar o negócio? Esta é a sua sede e aqui tem que manter detido o prisioneiro. A menos que...
Calou-se subitamente.
—Diz—pediu Joyce.
Ele prosseguiu contrafeito:
— A menos que teu pai já tenha dito o que ele quer saber.
A rapariga retrocedeu instintivamente.
—Não creio.
Eddie parecia estar pensativo.
— Eu também espero que o não tenha feito. De qualquer maneira hoje à noite ficamos a saber.
Permaneceram durante o resto da tarde ocultos no pequeno bosque. Alimentaram-se com algumas fatias de presunto que Eddie trazia sempre nas bolsas da sela de montar. Joyce estava muito nervosa e não deixava de dirigir olhares prolongados para o rancho. Antes que caísse a noite, viram sair dois homens da habitação principal. Montaram os cavalos que estavam presos à porta. Apesar da visibilidade não ser muita não foi difícil identificá-los.
—Jeff Winters e Cherokee Banion — murmurou Eddie.
Alguns cavaleiros se juntaram aos dois homens.
— Aonde irão? —perguntou Joyce.
—O mais provável é que vão fazer uma batida pela região a descobrir a nossa pista —respondeu o jovem. — A Jeff não convém que estejamos à solta. Fará o possível para nos agarrar.
O pequeno grupo de cavaleiros afastou-se em direção a Pecos. Vendo-os partir, Joyce murmurou:
— Não compreendo por que tardou tanto em procurar-nos.
—Jeff necessitava de recrutar alguns dos seus homens; ele só não a podia fazer. Além de que houve certamente alguma coisa que o deteve no rancho.
Três horas mais tarde, as trevas e o silêncio eram absolutos. A fazenda estava sumida numa profunda quietude, revelando que os homens estavam de há muito dormindo. Eddie poisou a sua mão no ombro de Joyce.
— Chegou o momento.
Saíram do pequeno bosque e, levando os cavalos pela trela, desceram a colina e acercaram-se cautelosamente do rancho. Só se ouvia o ténue murmúrio da brisa das ramas e o canto dos insetos noturnos. Eddie deteve-se ao abrigo duns grandes arbustos, quando faltavam uns cem metros.
—Espera-me aqui — sussurrou.
Depois afastou-se em direção às cavalariças. Andava rapidamente com passos largos e silenciosos, qual felino. Ligeiramente agachado, tendo sempre o cuidado de se mover pelas zonas mais sombrias, atingiu as cavalariças.
Parou ao ver que um homem estava sentado à porta, fumando calmamente. Prosseguiu no seu avanço, rodeando a personagem para o apanhar pelas costas. Mas o homem voltou-se bruscamente quando apenas faltavam uns passos. No seu rosto refletiu-se o assombro e o medo, e exclamou ao mesmo tempo que levava a mão ao revólver:
—Que...?
O golpe despedido atingiu-o brutalmente em pleno queixo, derrubando-o violentamente de costas. A sua cabeça bateu, na queda, contra uma pedra e ficou imóvel. Eddie olhou por instantes. O choque iria prolongar-lhe o sono por muito tempo.
Entrou na cavalariça. Estavam ali vários cavalos que não demonstraram qualquer temor pela sua presença. Eram animais muito bem domados.
Observou-os rapidamente, e escolheu o que lhe pareceu ser mais resistente. Pouco depois afastava-se com ele pela trela, em direção à porta. Escutou lentamente; tudo continuava envolvido no maior silêncio. O seu encontro com a sentinela não fora apercebido. Mesmo assim tirou o casaco e a camisa ao homem caído por terra, rasgou tudo em tiras que depois aplicou aos cascos do cavalo, para que o seu andar fosse silencioso.
Saiu da cavalariça afastando-se pelo mesmo caminho que tinha tomado à vinda. Joyce ficou surpreendida quando o viu chegar com o cavalo.
— Para que é isso? Já temos cavalos.
— Vamos precisar dele — respondeu Eddie, secamente. —E agora vamos, tu e eu. Deixaremos aqui os cavalos.
Mas desta vez o objetivo era a vivenda principal e ia acompanhado pela rapariga.

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