domingo, 21 de outubro de 2018

BIS163.08 Revelação preocupante

Stone Lone, o jovem capataz de «Los Nogales», estava prendendo o seu cavalo à trave do «saloon» de Anita, quando viu alguém aproximar-se. Stone Lone frangiu o sobrolho. Inesperadamente, o «venerável» Lockwood tinha ordenado que tanto ele como os outros homens, permanecessem na cidade.
Como naquele momento não necessitava de escolta, Stone Lone propunha-se divertir-se à grande em companhia das joviais «girls» de Anita, quando, de repente, lhe aparecia pela frente aquele estúpido do Lewt para lhe estragar os seus projetos.
— Vamos a saber: que pretendes daqui? — resmungou.
Lewt passou a mão pelos lábios.
— Bem... vim apenas cumprimentar-te, querido irmão.
— Mau, mau! Safa-te daqui, e depressa.
Lewt esboçou um sorriso alvar. Era um homenzinho ridículo, com a barba por fazer e cheirando a uísque que emprestava.
— Não queres prestar-me alguns momentos de atenção, Stone?
— Nada temos que dizer, Lewt. Nada, compreendes ? — replicou secamente Stone Lone.
O borrachão agarrou-lhe por um braço e insistiu, teimosamente:
—Um momento! Vim aqui...
Stone Lone puxou por um maço de notas e estendeu duas ou três a seu irmão.
— Pega, vai beber e não me maces... mas bom será que te acauteles com o patrão. Se ele te vê por aqui...
Lewt repeliu o dinheiro.
— Obrigado. Ainda não cheguei ao ponto de andar pedir esmola.
— Mas que pretendes tu, afinal, de mim?
— Necessito de falar-te, Stone. É muito importante.
— A única coisa importante para mim é que desapareças da minha frente e quanto mais depressa, melhor. O patrão mandou-te sair da cidade. Se te põe os olhos em cima, mete-te alguma bala no corpo.
— Importavas-te que ele me matasse, Stone? Ou é por ti que receias? Tens medo de que ele saiba que me encontro vivo e de que não tiveste coragem para matar teu próprio irmão ?
Stone acusou o golpe. Lewt notou que seu irmão, vários anos mais velho do que ele, acabava de empalidecer. E adivinhou também o seu medo; o medo do homem que seria capaz de tudo menos de recalcar os sentimentos do seu próprio sangue.
— Cuidado, Lewt! — vociferou o capataz, dando às suas palavras umas entonação ameaçadora. — Estás farto de saber que não suporto certas brincadeiras. Não sou um sentimental. Entendido ?
— Ah! não és um sentimental? Então porque me não mataste no outro dia? A bala que me fez este ferimento — e Lewt apontou para o braço que trazia suspenso de um lenço amarrado ao pescoço — podia ter-me sido dirigida ao coração. Não foste capaz, Stone, o teu sentimentalismo impediu-te de matar-me, mas aos outros, aqueles que andavam comigo a roubar o gado de Lockwood, não perdoaste.
Stone Lone mordeu os lábios ao mesmo tempo que relanceava o olhar à sua volta.
— Entra — acabou por dizer. — Tomaremos umas pingas e depois desapareces. Está bem?
— Encantado!
Os dois homens entraram no «saloon». A assistência não era das mais seletas, mas havia ali muitas raparigas e o ambiente era bastante alegre. Stone encaminhou-se com seu irmão para uma mesa, ao fundo do salão. A própria Anita, com a cara repleta de pó de arroz e os rechonchudos braços à mostra, aproximou-se para servir os recém-chegados.
— Caramba! — exclamou com a sua desagradável voz de falsete. — Vai sendo difícil ver de novo juntos os irmãos MacKay. Onde te tens gasto ultimamente Lewt?
Stone pegou na garrafa e nos copos que a dona da casa lhe estendia e despediu-a de mau-humor. Encheu o copo.
— Então?
— Então, o quê?
— Querias falar-me, não?
Lewt esboçou um sorriso.
— Consegui deixar-te intrigado, hem? Vai para o diabo. De que se trata, afinal? Falaste em não sei quê de importante...
Lewt sorveu um golo da bebida. Poisou o copo. Olhou para seu irmão.
— Quero fazer-te um favor, Stone.
Os lábios do capataz, crisparam-se.
—Um favor, tu? Porquê?
— Porque fazendo-te a ti, é muito possível que O faça a mim mesmo.
— De veras?
— Sem dúvida. Necessito de recuperar o meu antigo emprego e...
— Fala.
— Como sabes, Bart Lockwood despediu-me sem razão, Por cobarde, segundo ele disse. Quer isto dizer que me não será possível encontrar em todo o Arizona qualquer, trabalho para a única atividade para que tenho jeito:, o revólver. E já me estou sentindo velho, Stone!
—Pretendes comover-me? Que foi, afinal, que te obrigou a vir falar-me, Lewt?
— Vamos lá a saber...
— Apenas isto: Lou Twerlin, encontra-se na cidade.
— Que é que dizes?...
— Aquilo que ouviste: Lou Twerlin, encontra-se na cidade.
Stone Lone permaneceu um instante silencioso. Semicerrou os olhos e cravou-os no homem que tinha na sua frente.
— Mas... tu estarás em teu perfeito juízo? — perguntou.
Lewt sentiu-se mais forte e mais seguro de si mesmo.
— Sei o que digo, rapaz. Estás disposto a ouvir-me?
—Claro que sim... Ora vamos lá a ver...
— Sei que Lou Twerlin está vivo e que se encontra em Silver City. Soube-o por casualidade. Vi-o chegar a noite passada. Eu e Twerlin fomos sempre amigos e, é claro... o meu primeiro impulso foi dirigir-me a ele. Entretanto, a maneira estranha como ele entrou no hotel, passando através de uma janela como qualquer gatuno vulgar, despertou-me suspeitas. Que negócio teria ele entre mãos? Pus-me à espreita. E queres saber? Lou Twerlin encontra-se há quatro dias fechado no hotel, sem sair nem receber visitas de ninguém.
— Tens... tens a certeza, Lewt?
— Tanta certeza, como a tenho de morrer quando me chegar a vez.
Stone Lone passou a língua pelos lábios. O moço capataz de «Los Nogales» esforçou-se por aparentar serenidade, mas, nos seus olhos lia-se a mesma inquietação da pessoa que avalia os prós e os contras de um determinado assunto.
— Que pretenderá Twerlin destes sítios? Por que se esconde ele? — murmurou. — Parece que o velho o comprometeu seriamente. Twerlin era o seu homem de confiança e quando o prenderam, nunca mais quis saber dele para coisa alguma! É claro que...
— Convences-te de que veio para se vingar de Lockwood?
— Se o homem em quem depositasses a tua confiança te agredisse pelas costas, tu que farias, Stone?
Stone Lone tornou-se lívido. A mão com que segurava o copo de uísque tremeu-lhe de tal maneira que se viu obrigado a poisá-lo e a ocultar a mão.
— Aposto a cabeça em como Lou Twerlin apenas espera uma oportunidade para ajustar as contas com Lockwood — sussurrou Lewt. — Está nas tuas mãos impedir que isso aconteça.
Stone Lone olhou para seu irmão. Em seguida, como se só então se apercebesse do verdadeiro alcance das palavras que ouvira no início, descarregou uma violenta palmada sobre a mesa, exclamando:
—Velha raposa! Pensaste então em voltar às boas graças de Lockwood, não é isso?
— E ao mesmo tempo prestar-te, a ti, um grande serviço. Ou não?...
Stone Lone sentiu-se invadir pela alegria. Talvez fosso como seu irmão dizia. Quem sabe? Não havia dúvida de que era um assinalado serviço. Começava a acreditar que era um homem cheio de sorte. Pôs-se de pé e dirigindo-se aos homens que mantinha sob as suas ordens, e que se encontravam espalhados pelo «saloon», gritou:
— Tudo a postos! Rápido!
Lewt agarrou seu irmão por um braço.
— Que te propões fazer, Stone? Posso acompanhar-vos?
— Tu vais ficar aqui! — disse ele, no mesmo tom autoritário com que se havia dirigido ao resto da quadrilha. Este assunto não é da tua conta, compreendes?
— Mas... se vais em busca de Twerlin, posso ser-te útil.
— Não te faças idiota! Estás convencido que preciso de ti para aplanar as dificuldades ao patrão?
Não havia dúvida que o argumento tinha uma certa dose de lógica!
***
A expectativa manifestou-se subitamente no luxuoso vestíbulo do «Silver Hotel». Brisson, o proprietário, ficou sem pinga de sangue quando viu irromper pela porta do seu estabelecimento o homem violento que era Stone Lone.
O capataz de «Los Nogales» tinha a mão direita junto do quadril, como se se tivesse enclavinhado ao preparar--se para sacar o revólver. Atrás dele encontravam-se cinco dos mais perigosos pistoleiros de Bart Lockwood, todos eles com as mãos apoiadas nas coronhas das respetivas armas. Brisson dispunha-se a reagir, quando viu que Stone Lone se encaminhava para ele.
— Que... que se passa de especial, Stone?
— Trate-me por senhor Stone — disse o pistoleiro; e agarrando-o pelo peitilho da camisa, perguntou: — Que espécie de homem é você, Brisson? É um traidor, ou não passa de um simples estúpido?
— Eu?... Mas...
— Que sabe você acerca de Lou Twerlin?
O dono do hotel ficou tão assombrado com a pergunta que ficou, positivamente, de boca aberta.
—Responda! — insistiu Stone Lone, sacudindo-:, ameaçadoramente.
— Mas, porque deveria eu saber qualquer coisa? —perguntou por sua vez.
— O senhor garante que não sabe que Lou Twerlin se encontra escondido no seu hotel, mesmo na frente das suas bochechas?
—Lou Twerlin, aqui? Em Silver City? Não é possível
Stone Lone arredou-o para o lado com desprezo.
— Sapo asqueroso! — exclamou, ameaçador. — Receio muito que se veja obrigado a dar todas as explicações ao senhor Lockwood, se não quiser sair de aqui para fora aos ombros dos gatos-pingados. Quem são os hóspedes do hotel? Vamos!
Brisson engoliu em seco; a sua enorme maçã-de-adão, avolumou-se ainda mais.
— Há cá... muitos hóspedes — balbuciou. — A feira do gado atrai aqui muitos forasteiros e...
Stone Lone interrompeu-o:
—Está aqui algum hóspede especial? Qualquer pessoa que possa suscitar suspeitas?
— Talvez; um tal Walker e alguns amigos. Lamento muito, senhor Stone, mas confesso que nunca me passou pela cabeça que isso pudesse ter qualquer importância. Sim... que uma tal coisa pudesse vir a interessar ao senhor Lockwood.
—Desembuche, com mil diabos!
—Chegaram aqui há coisa de uma semana e pediram que lhes reservasse um aposento na parte de trás do hotel, daqueles que dão para as cavalariças e que não devia ser ocupado por ninguém até que chegasse um amigo de quem estão à espera.
— Não lhe disseram qual era o motivo?
— Não.
—E o tal amigo já chegou?
— Confesso que não faço a mínima ideia.
— Quem tem a chave desse aposento?
— O próprio senhor Walker.
—Que faz esse tal senhor Walker? Que veio fazer aqui?
— Também não sei. Quis parecer-me...
—Quis parecer-lhe o quê?
— Pareceu-me que esses homens e a menina Montez, a bailarina, já se conheciam antes de aqui chegarem.
Stone Lone empalideceu ao ouvir a confidência.
— Quer dizer, então, que a presença dos tais homens e da rapariga, têm alguma relação entre si?
— Suponho que sim...
Stone afagou a esguia coronha do seu revólver, ao mesmo tempo que fixava os seus olhos no homem que tinha na sua frente. Sentia-se confuso e desorientado. Suava por todos os poros. Todo ele tremia, com exceção da sua mão direita que segurava nervosamente a arma.
Se Lou Twerlin estava em contacto com Walker e com os demais hóspedes, e estes, por sua vez, estavam relacionados com a bailarina, não quereria isso significar que Bart Lockwood estava prestes a cair numa cilada? Finalmente conseguiu reagir.
—Onde fica o tal aposento? Rápido!
— No piso superior. E o número vinte e dois...
Empunhando o revólver, Stone Lone lançou-se freneticamente pelas escadas acima.
Os seus homens seguiram-no. Quando o grupo chegou ao primeiro andar, avançaram cautelosamente pelo corredor, de armas prontas a entrar em ação. Com um violento pontapé, Stone Lone fez estremecer a porta do número vinte dois.
— Toca a arrombá-la! — rugiu.
Uma saraivada de balas estilhaçou a madeira, fazendo saltar a fechadura. Um segundo pontapé abriu a porta de par em par. Precipitaram-se todos para dentro, disparando as armas a torto e a direito contra os armários, as janelas, as cortinas 'e as cadeiras... Não se encontrava ninguém ali dentro!

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