Haviam entrado separadamente no restaurante do tio de Cinthia. Primeiro, Cole Derry. Minutos depois, Brian Boyds. Cinthia acolheu-os com um sorriso agradável. Sobre o vestido comprido e justo trazia um avental limpo. Ficou desconcertada ao ver que cada um deles se sentava em sua mesa. Contíguas, mas diferentes. Ela julgava que eles eram amigos.
Por duas vezes, tentou entabular conversações com eles. Teve de desistir porque se via solicitada constantemente por outros clientes que quase enchiam o estabelecimento.
Alguém, na noite anterior, lhe dissera o que aqueles dois homens haviam feito a favor do seu irmão. E ficou confusa ao pensar que os havia tratado com a mesma dureza com que tratara os que rodeavam Pat Gloster. Pensou que devia agradecer-lhes. Que ela soubesse, eram as únicas pessoas que não troçavam de seu irmão. E isto era de agradecer.
— Bons dias, Cinthia.
A jovem, antes de se voltar para a porta, reconheceu a voz de Chill Talbott. O negociante de gado era um dos mais assíduos frequentadores.
Junto de Talbott viu a figura alta e desagradável de Spencer Hacker, seu ajudante. Um tipo que sempre lhe causara aversão pelo modo libidinoso que tinha de a olhar. Os dois homens sentaram-se quase em frente de Cole Derry e Boyds. Estes não pareciam reparar na sua presença, ocupados em acabar de tomar o pequeno almoço.
Cinthia aproveitou um intervalo para se aproximar das mesas contíguas de Brian e Derry. Um agradável sorriso desenhava-se-lhe nos lábios vermelhos. Os dois jovens levantaram, quase simultaneamente, as pupilas para ela e olharam-na em silêncio.
— Terão de me desculpar — murmurou a jovem num tom suave. — Ontem à noite ignorava o que haviam feito a favor de meu irmão. Estou-lhes muito agradecida.
Eles também o estavam por poderem contemplar uma jovem tão atraente e fresca. Cole Derry foi o primeiro a falar, dizendo a sorrir:
— Era um caso de justiça, menina.
— Ninguém até agora havia feito uma coisa igual a favor de Paul — respondeu ela, emocionada.
Brian Boyds conseguiu finalmente despregar os lábios e descolar a língua do céu da boca. A extraordinária beleza da jovem tinha-o submetido a um estranho êxtase. Murmurou, olhando-a fixamente:
— O que não compreendo é como o seu irmão se deixou dominar dessa forma pela bebida.
As pupilas verdes da rapariga velaram-se com uma tristeza repentina.
—Paul nunca foi assim — disse com voz trémula. — Era um rapaz muito alegre e simpático, mas veio a guerra e tudo mudou para nós, os Keener.
Fez uma pausa. O sangue havia voltado a afluir-lhe ao rosto. E continuou, rapidamente, como se quisesse expulsar alguma coisa do peito que a queimava:
—É incompreensível que ano e meio depois de terminada a guerra ainda siga latente o ódio contra nós, os sulistas. A meu irmão não lhe perdoam que lutasse nas fileiras dos confederados com o posto de tenente.
— Já notámos isso ontem à noite — disse Derry, com gravidade. — Foi essa outra das causas que me impulsionaram a intervir. Quando perdeu seu irmão a perna?
— Meses antes de terminar a guerra, na batalha de Guettysburg.
— Foi então que se dedicou à bebida?
A jovem moveu, negativamente, a cabeça. Uma nuvem de tristeza voltou a velar os seus olhos verdes.
— Essa é outra história — murmurou entrecortada-mente. — Paul, quando lhe foi dada alta no hospital, voltou à nossa terra, ao sul do Kentucky. Ignorava ainda o que havia sucedido na nossa fazenda.
Calou-se pela segunda vez. A emoção embargava-lhe a voz. Fez uma inspiração profunda para se recompor e acrescentou, com visível nervosismo:
— Meus pais possuíam uma bonita fazenda. Um dia foi assaltada pelos nortistas, como outras fazendas da região. A noiva de meu irmão estava naquele dia com meus pais. Todos eles foram passados à espada e a casa convertida em escombros. Eu salvei-me por causalidade. Naquela tarde havia ido à povoação fazer algumas compras. Dorothy, a noiva de meu irmão, foi ultrajada antes por aqueles bárbaros. Quando Paul soube tudo isto pareceu que ia enlouquecer. A partir de então, entregou-se à bebida para esquecer a espantosa tragédia. Consegui finalmente convencê-lo e trouxe-o para aqui, com o nosso tio Sergey que nos ofereceu a sua casa uma vez que nós tínhamos ficado na ruína.
Alguém chamou a jovem de cozinha. Cinthia limpou as lágrimas que lhe brotavam dos olhos com os dedos e depois tentou sorrir.
— Já sabem o motivo que leva meu irmão a beber. Tentámos que ele se corrigisse, mas é impossível, tem esse vício já muito arreigado. É capaz de tudo por um copo de uísque.
Da cozinha voltaram a chamar a rapariga.
— Terão de me perdoar — desculpou-se —, meu tio chama-me. Sempre recordarei o que fizeram por meu irmão.
Girou sobre os tacões e caminhou, com passo ligeiro, para a cozinha. Cole Derry e Brian olharam-se, em silêncio, durante alguns segundos.
— Mais um drama da guerra — murmurou o sardento. — Há centenas de casos como o desse rapaz. Bons dias!
Havia-se levantado, atirando algumas moedas sobre a mesa. Atravessou a sala de jantar pausadamente e saiu para a rua.
Brian Boyds continuou no seu lugar. Havia seguido com o olhar os passos do sardento. Por um momento julgou que iria continuar a comentar a dolorosa história de Paul Keener.
Ao afastar o olhar da porta notou que o ajudante do negociante apanhava o seu chapéu e abandonava o local, seguindo a mesma direção de Cole Derry.
Seguindo um palpite levantou-se da mesa, colocou algumas moedas sobre a toalha e saiu para o alpendre. Chegou a tempo de ver Cole Derry parado em frente da correaria. Falava com um velho. Este, com o braço estendido, indicava-lhe qualquer coisa ao fim da rua. O sardento afastou-se do velho, atravessou a rua e montou um cavalo atado ao madeiro do «saloon» «Duas Estrelas». Pô-lo a um trote curto. Ao fim de algum tempo, cortou à direita e cavalgou por uma ruela estreita desaparecendo da vista.
Também ele atravessou a rua, não para se dirigir à quadro de aluguer onde deixara o seu cavalo, diante de uma boa ração, mas sim para entrar na barbearia. Até àquela manhã não havia reparado em como tinha o cabelo comprido. Através do espelho sujo da barbearia viu Chill Talbott atravessar a rua. Montava um bonito cavalo baio. Ia muito direito na sela e com o seu eterno cigarro na boca
Por duas vezes, tentou entabular conversações com eles. Teve de desistir porque se via solicitada constantemente por outros clientes que quase enchiam o estabelecimento.
Alguém, na noite anterior, lhe dissera o que aqueles dois homens haviam feito a favor do seu irmão. E ficou confusa ao pensar que os havia tratado com a mesma dureza com que tratara os que rodeavam Pat Gloster. Pensou que devia agradecer-lhes. Que ela soubesse, eram as únicas pessoas que não troçavam de seu irmão. E isto era de agradecer.
— Bons dias, Cinthia.
A jovem, antes de se voltar para a porta, reconheceu a voz de Chill Talbott. O negociante de gado era um dos mais assíduos frequentadores.
Junto de Talbott viu a figura alta e desagradável de Spencer Hacker, seu ajudante. Um tipo que sempre lhe causara aversão pelo modo libidinoso que tinha de a olhar. Os dois homens sentaram-se quase em frente de Cole Derry e Boyds. Estes não pareciam reparar na sua presença, ocupados em acabar de tomar o pequeno almoço.
Cinthia aproveitou um intervalo para se aproximar das mesas contíguas de Brian e Derry. Um agradável sorriso desenhava-se-lhe nos lábios vermelhos. Os dois jovens levantaram, quase simultaneamente, as pupilas para ela e olharam-na em silêncio.
— Terão de me desculpar — murmurou a jovem num tom suave. — Ontem à noite ignorava o que haviam feito a favor de meu irmão. Estou-lhes muito agradecida.
Eles também o estavam por poderem contemplar uma jovem tão atraente e fresca. Cole Derry foi o primeiro a falar, dizendo a sorrir:
— Era um caso de justiça, menina.
— Ninguém até agora havia feito uma coisa igual a favor de Paul — respondeu ela, emocionada.
Brian Boyds conseguiu finalmente despregar os lábios e descolar a língua do céu da boca. A extraordinária beleza da jovem tinha-o submetido a um estranho êxtase. Murmurou, olhando-a fixamente:
— O que não compreendo é como o seu irmão se deixou dominar dessa forma pela bebida.
As pupilas verdes da rapariga velaram-se com uma tristeza repentina.
—Paul nunca foi assim — disse com voz trémula. — Era um rapaz muito alegre e simpático, mas veio a guerra e tudo mudou para nós, os Keener.
Fez uma pausa. O sangue havia voltado a afluir-lhe ao rosto. E continuou, rapidamente, como se quisesse expulsar alguma coisa do peito que a queimava:
—É incompreensível que ano e meio depois de terminada a guerra ainda siga latente o ódio contra nós, os sulistas. A meu irmão não lhe perdoam que lutasse nas fileiras dos confederados com o posto de tenente.
— Já notámos isso ontem à noite — disse Derry, com gravidade. — Foi essa outra das causas que me impulsionaram a intervir. Quando perdeu seu irmão a perna?
— Meses antes de terminar a guerra, na batalha de Guettysburg.
— Foi então que se dedicou à bebida?
A jovem moveu, negativamente, a cabeça. Uma nuvem de tristeza voltou a velar os seus olhos verdes.
— Essa é outra história — murmurou entrecortada-mente. — Paul, quando lhe foi dada alta no hospital, voltou à nossa terra, ao sul do Kentucky. Ignorava ainda o que havia sucedido na nossa fazenda.
Calou-se pela segunda vez. A emoção embargava-lhe a voz. Fez uma inspiração profunda para se recompor e acrescentou, com visível nervosismo:
— Meus pais possuíam uma bonita fazenda. Um dia foi assaltada pelos nortistas, como outras fazendas da região. A noiva de meu irmão estava naquele dia com meus pais. Todos eles foram passados à espada e a casa convertida em escombros. Eu salvei-me por causalidade. Naquela tarde havia ido à povoação fazer algumas compras. Dorothy, a noiva de meu irmão, foi ultrajada antes por aqueles bárbaros. Quando Paul soube tudo isto pareceu que ia enlouquecer. A partir de então, entregou-se à bebida para esquecer a espantosa tragédia. Consegui finalmente convencê-lo e trouxe-o para aqui, com o nosso tio Sergey que nos ofereceu a sua casa uma vez que nós tínhamos ficado na ruína.
Alguém chamou a jovem de cozinha. Cinthia limpou as lágrimas que lhe brotavam dos olhos com os dedos e depois tentou sorrir.
— Já sabem o motivo que leva meu irmão a beber. Tentámos que ele se corrigisse, mas é impossível, tem esse vício já muito arreigado. É capaz de tudo por um copo de uísque.
Da cozinha voltaram a chamar a rapariga.
— Terão de me perdoar — desculpou-se —, meu tio chama-me. Sempre recordarei o que fizeram por meu irmão.
Girou sobre os tacões e caminhou, com passo ligeiro, para a cozinha. Cole Derry e Brian olharam-se, em silêncio, durante alguns segundos.
— Mais um drama da guerra — murmurou o sardento. — Há centenas de casos como o desse rapaz. Bons dias!
Havia-se levantado, atirando algumas moedas sobre a mesa. Atravessou a sala de jantar pausadamente e saiu para a rua.
Brian Boyds continuou no seu lugar. Havia seguido com o olhar os passos do sardento. Por um momento julgou que iria continuar a comentar a dolorosa história de Paul Keener.
Ao afastar o olhar da porta notou que o ajudante do negociante apanhava o seu chapéu e abandonava o local, seguindo a mesma direção de Cole Derry.
Seguindo um palpite levantou-se da mesa, colocou algumas moedas sobre a toalha e saiu para o alpendre. Chegou a tempo de ver Cole Derry parado em frente da correaria. Falava com um velho. Este, com o braço estendido, indicava-lhe qualquer coisa ao fim da rua. O sardento afastou-se do velho, atravessou a rua e montou um cavalo atado ao madeiro do «saloon» «Duas Estrelas». Pô-lo a um trote curto. Ao fim de algum tempo, cortou à direita e cavalgou por uma ruela estreita desaparecendo da vista.
Também ele atravessou a rua, não para se dirigir à quadro de aluguer onde deixara o seu cavalo, diante de uma boa ração, mas sim para entrar na barbearia. Até àquela manhã não havia reparado em como tinha o cabelo comprido. Através do espelho sujo da barbearia viu Chill Talbott atravessar a rua. Montava um bonito cavalo baio. Ia muito direito na sela e com o seu eterno cigarro na boca
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