sexta-feira, 19 de outubro de 2018

BIS163.06 Uma jovem como isco

Silver City estava a transformar-se numa cidade das mais importantes e o Silver Hotel, tinha sido construído com a intenção de satisfazer os frequentadores mais exigentes.
No vestíbulo do importante estabelecimento refulgiam os espelhos a condizer com os cadeirões e sofás, forrados de veludo vermelho.
Todos os aposentos se encontravam mobilados com a maior magnificência, dispondo muitos deles de quarto de banho privativos.
Tal, como em qualquer outro estabelecimento de categoria, o Silver Hotel dispunha de um amplo tablado por onde passavam as mais afamadas companhias de bailados e de declamação.
Foi devido a estas especiais circunstâncias que Lou Twerlin traçou o plano em que Lupe se enquadrava admiravelmente. Ataviou a bailarina com os mais luxuosos vestidos que conseguiu encontrar e instalou-a num dos aposentos do hotel, à gerência do qual se ofereceu para realizar algumas exibições do seu reportório.
Conhecendo de perto as predileções de Bart Lockwood, não. duvidou nem um momento de que a excitante beleza de Lupe constituísse um poderoso atrativo, suscetível de fazer com que o «venerável» abandonasse o seu inexpugnável refúgio. Em pleno apogeu do seu poderio, Bart Lockwood residia fora da cidade, encerrado como um poderoso Vice-Rei no seu rancho de «Los Nogales», protegido, dia e noite, por um escolhido grupo de pistoleiros. Além disso, como todas as terras de pasto do imenso vale eram praticamente suas, os numerosos grupos de vaqueiros que tinha ao seu serviço constituíam uma espécie de pequeno exército.
Se tentasse dirigir-se a «Los Nogales», os homens do seu odiado inimigo teriam tempo de sobra para se desfazerem dele, muito antes de ele conseguir chegar, sequer, à vista do rancho. Essa a razão por que Twerlin se propôs arrancar Lockwood da sua fortaleza.
Três dias decorridos após a exibição de Lupe, utilizada como isca, verificara que o estratagema não dera qualquer resultado. Bart Lockwood não visitava a cidade. Pelo visto, o atrativo da nova bailarina, que atuava no Silver Hotel, não constituía motivo suficiente para que deixasse a sua tebaida magnífica.
A impaciência começava a apossar-se de Lou Twerlin. Sentados ao redor de uma mesa transbordante de manjares delicados, o pistoleiro e a sua amiga conversavam.
— Estás convencido de que Lockwood virá por aqui?
— Assim o espero.
Lupe que tinha os dedos lambuzados devido à calda de açúcar dos confeitos, ocupava-se a limpá-los com um finíssimo lenço, delicadamente bordado.
— Pelo que tenho ouvido dizer, Lockwood é um terrível femeeiro.
— Noutros tempos gozava dessa fama...
— E tu achas que eu serei bastante sedutora para lhe dar volta ao juízo?
A gargalhada atrevida da jovem encheu o ambiente. Twerlin soltou uma imprecação.
— Farás o favor de calar o bico?
Lupe sentia-se verdadeiramente alegre. Levantou-se e aproximou-se do pistoleiro. Lançou-lhe as mãos ao pescoço.
— E se nós nos divertíssemos um pouco?
Twerlin afastou-a, de mau-humor.
— Deixa-me.
— Amo-te, Lou.
— Já disse que me deixasses!
— Não. Quero estar junto de ti.
A mão do pistoleiro rechaçou-a com uma bofetada. Seguidamente, enfurecido, atirou-a contra a parede deixando-a arquejante.
— É para aprenderes — grunhiu Twerlin.
Os olhos escuros e profundos de Lupe tornaram-se agressivos. Vermelha de cólera, dispôs-se a replicar ao homem que a repelia daquela forma, mas vacilou. Avaliando o grau de excitação do seu companheiro, compreendeu repentinamente ao que se expunha se ousasse discutir com ele. Da sua boca apenas saíram estas palavras:
— Estás perdido de bêbado!
— Achas que sim? Pois nunca estive tão sereno como agora...
Com um aspeto agressivo e o olhar transtornado, Twerlin olhou fixamente para a jovem:
— Perdoa-me, encanto da minha vida, mas estou muito nervoso e impaciente. O meu sangue regurgita de ódio. Compreendes?
O rosto da jovem encheu-se de alegria. Aproximou-se, completamente submissa.
— Tem paciência, Lou — disse. — Tens tempo de te vingar de Lockwood. Garanto-te! Eu te ajudarei.
Novamente o furor e a raiva pareceram apoderar-se de Twerlin. Ergueu-se de um salto, excitado e nervoso. A sua mão deslizou rapidamente para junto da coronha do revólver.
— Como queres tu que eu tenha paciência? — respingou. — Tenho de o matar imediatamente. Imediatamente, compreendes? Lockwood enviou-me para a forca. Para a forca! Ouves bem?
A tarde estava tranquila, pesada, cheia de nuvens e de calor. Walker tinha sido portador de uma boa noticia:
— Bart Lockwood acaba de sair do rancho e encaminha-se para a cidade.
Lupe, que se tinha acercado da janela ao ouvir chegar precipitadamente o cavaleiro, olhou, ansiosamente, para Twerlin. O pistoleiro, que se encontrava estendido sobre a cama, levantou-se vagarosamente.
Aquela notícia oferecia-lhe a oportunidade que há tanto tempo aguardava.
— Tens a certeza? — perguntou com a maior calma, quase com indiferença.
— Absolutamente, patrão. Teylor e eu vimo-lo perfeitamente.
— Quantos homens o acompanham ?
— Uns seis ou sete.
— Ainda vem longe ?
— A menos de dois quilómetros.
— Bem...
Aproximou-se da cama e apoderou-se da cartucheira e do revólver que pendia da barra do leito.
— Vou tratar da emboscada, patrão? Os homens estão preparados.
Twerlin riu-se em tom sarcástico.
— Estarás louco? Bastava que levantasses um dedo contra o «venerável» Lockwood e toda a gente ajudaria a pendurar-te numa árvore...
Lupe não se conteve e perguntou, cheia de surpresa:
— Não era uma oportunidade assim que tu esperavas, Lou?
— O pior que tens é não pensar nas consequências; ou estás ansiosa por te veres livre de mim?
— Que ideia!
— Acho que a jovem tem razão, chefe — interveio Walker. — Se não aproveitamos esta oportunidade, é bem possível que não encontremos outra.
Twerlin riu-se com ar superior.
—É claro que vamos aproveitar a oportunidade, mas há-de ser a meu modo!
— Pensa defrontar-se cara a cara com Lockwood?
— Penso. Mas não neste momento.
—Então?
— Estou decidido a empregar a astúcia até ao fim, compreendes?
— Confesso que não.
— Não faz mal. Tu retira-te, Walker. Necessito apenas de Lupe para resolver este assunto.
— Pensa servir-se dela para...
—Porque perguntas? Tens alguma coisa que objetar?
—É claro que não, patrão. O chefe é que manda.
Quando Walker saiu dos aposentos e começou a descer a escadaria, ia pensando ao mesmo tempo em si próprio e no homem que tinha comprado os seus serviços para eliminar Lockwood, acabando por convencer-se de que estava louco sem remissão.

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