Os olhos salientes de Spencer começaram a pestanejar. Wayland sorriu interiormente. Pensou de si para si que os figos começavam a amadurecer. Mais um toque e magricela seria seu. Ao ver a garrafa vazia fez um sinal ao empregado.
— Traz outra — ordenou.
— Sempre disse que tu eras o meu melhor amigo — disse Spencer sorrindo num tom adulador. — A tua decisão de festejares comigo o teu aniversário agradou--me muito.
Era a segunda garrafa que bebiam e o astuto Spencer ainda não havia dito nada. Não importava. Wayland estava disposto a fazer Spencer falar. Tinha dinheiro suficiente para lhe pagar todo o uísque que conseguisse beber.
— Depressa serei eu a convidar-te, Bob — murmurou Hacker com um sorriso matreiro.
— Vais receber alguma herança?
— É possível — e soltou um riso irónico. — Já sabes que o meu sonho é possuir um «saloon» como este... e creio que o terei muito depressa.
A chegada do empregado com a garrafa fê-lo calar. Encheu o seu copo e o do capataz. Ao beber o seu copo fez estalar a língua, satisfeito. Depois tocou com um dedo no peito de Wayland ao mesmo tempo que dizia:
— Sabes uma coisa, Bob ? Havia pensado em ti para futuro encarregado do meu estabelecimento. Conhecemo-nos há anos e sei que és um tipo honrado. Pagar-te-ia mais que o senhor Granwley.
— Será assunto para pensar. Também eu me sinto cansado de trabalhar com gado. Uma temporada de repouso não viria mal.
— Então combinado, serás o meu encarregado.
— Não corres demais?
— Sei o que digo, Bob. Esta mesma semana tudo ficará resolvido e... eu serei rico.
Wayland compreendeu que era o momento exato para orientar a conversa no sentido que lhe interessava. Disse num tom indiferente, segundo parecia:
— Julguei que continuavas a trabalhar para o senhor Talbott.
— De momento, sim, mas só durante algumas semanas. Já sabes da oferta que esta manhã o meu patrão fez ao teu.
Um sorriso astuto desenhou-se nos lábios do capataz. Ali tinha, finalmente, as palavras que esperava para soltar a sua bomba. E disse:
-- Parece-me que surgiu um competidor ao teu patrão, Spencer. Há mais alguém que deseja adquirir o «Circulo M. G.».
Os olhos salientes de Spencer ergueram-se para o capataz, sobressaltados. Colocou o copo sobre a mesa.
— Estás a brincar, Bob — exclamou com voz rouca.
— Não vejo porquê. O senhor Granwley ouviu dizer que um dos forasteiros deseja estabelecer-se aqui e procura um bom rancho. Esta manhã não decidiu nada com o teu patrão. Não é preciso ter olho de lince para ver o que o meu patrão pretende: um melhor preço para as suas terras. Disse-me que viria esta noite à povoação para se encontrar com esse forasteiro.
— Isso não é jogo limpo — disse o magricela, entrecortadamente. — Tu sabes que Granwley ofereceu o rancho em primeiro lugar ao meu patrão.
— E ele não aceitou — argumentou Wayland sorrindo. — Naturalmente, pensou que o poderia conseguir por menos dinheiro. Se agora outro oferece mais não vejo razão para que Granwley perca dinheiro. Negócios são negócios.
— O teu patrão não pode fazer essa partida a Talbott — gritou quase Spencer, excitado. — Chill está enamorado do vosso rancho. Tenho a certeza de que dará pelo «Círculo M. G.». o dobro do que esse forasteiro oferece.
Spencer Hacker não notou o repentino fulgor que brilhou nos olhos do capataz. Não pôde calcular o alcance das suas imprudentes palavras.
— Creio que são horas de me ir embora, Spencer — anunciou, levantando-se. — Preciso ainda de fazer algumas compras e regressar ao rancho. Esta noite voltaremos a ver-nos. O meu patrão quer que o acompanhe à entrevista com esse forasteiro.
Spencer apertou a mão do capataz com um gesto distraído. Uma profunda ruga sulcava a sua fronte. Quando a figura ereta do capataz desapareceu do «saloon» levantou-se com o rosto sombrio e dirigiu-se para as portas de vaivém. O empregado pestanejou assombrado ao ver
— Traz outra — ordenou.
— Sempre disse que tu eras o meu melhor amigo — disse Spencer sorrindo num tom adulador. — A tua decisão de festejares comigo o teu aniversário agradou--me muito.
Era a segunda garrafa que bebiam e o astuto Spencer ainda não havia dito nada. Não importava. Wayland estava disposto a fazer Spencer falar. Tinha dinheiro suficiente para lhe pagar todo o uísque que conseguisse beber.
— Depressa serei eu a convidar-te, Bob — murmurou Hacker com um sorriso matreiro.
— Vais receber alguma herança?
— É possível — e soltou um riso irónico. — Já sabes que o meu sonho é possuir um «saloon» como este... e creio que o terei muito depressa.
A chegada do empregado com a garrafa fê-lo calar. Encheu o seu copo e o do capataz. Ao beber o seu copo fez estalar a língua, satisfeito. Depois tocou com um dedo no peito de Wayland ao mesmo tempo que dizia:
— Sabes uma coisa, Bob ? Havia pensado em ti para futuro encarregado do meu estabelecimento. Conhecemo-nos há anos e sei que és um tipo honrado. Pagar-te-ia mais que o senhor Granwley.
— Será assunto para pensar. Também eu me sinto cansado de trabalhar com gado. Uma temporada de repouso não viria mal.
— Então combinado, serás o meu encarregado.
— Não corres demais?
— Sei o que digo, Bob. Esta mesma semana tudo ficará resolvido e... eu serei rico.
Wayland compreendeu que era o momento exato para orientar a conversa no sentido que lhe interessava. Disse num tom indiferente, segundo parecia:
— Julguei que continuavas a trabalhar para o senhor Talbott.
— De momento, sim, mas só durante algumas semanas. Já sabes da oferta que esta manhã o meu patrão fez ao teu.
Um sorriso astuto desenhou-se nos lábios do capataz. Ali tinha, finalmente, as palavras que esperava para soltar a sua bomba. E disse:
-- Parece-me que surgiu um competidor ao teu patrão, Spencer. Há mais alguém que deseja adquirir o «Circulo M. G.».
Os olhos salientes de Spencer ergueram-se para o capataz, sobressaltados. Colocou o copo sobre a mesa.
— Estás a brincar, Bob — exclamou com voz rouca.
— Não vejo porquê. O senhor Granwley ouviu dizer que um dos forasteiros deseja estabelecer-se aqui e procura um bom rancho. Esta manhã não decidiu nada com o teu patrão. Não é preciso ter olho de lince para ver o que o meu patrão pretende: um melhor preço para as suas terras. Disse-me que viria esta noite à povoação para se encontrar com esse forasteiro.
— Isso não é jogo limpo — disse o magricela, entrecortadamente. — Tu sabes que Granwley ofereceu o rancho em primeiro lugar ao meu patrão.
— E ele não aceitou — argumentou Wayland sorrindo. — Naturalmente, pensou que o poderia conseguir por menos dinheiro. Se agora outro oferece mais não vejo razão para que Granwley perca dinheiro. Negócios são negócios.
— O teu patrão não pode fazer essa partida a Talbott — gritou quase Spencer, excitado. — Chill está enamorado do vosso rancho. Tenho a certeza de que dará pelo «Círculo M. G.». o dobro do que esse forasteiro oferece.
Spencer Hacker não notou o repentino fulgor que brilhou nos olhos do capataz. Não pôde calcular o alcance das suas imprudentes palavras.
— Creio que são horas de me ir embora, Spencer — anunciou, levantando-se. — Preciso ainda de fazer algumas compras e regressar ao rancho. Esta noite voltaremos a ver-nos. O meu patrão quer que o acompanhe à entrevista com esse forasteiro.
Spencer apertou a mão do capataz com um gesto distraído. Uma profunda ruga sulcava a sua fronte. Quando a figura ereta do capataz desapareceu do «saloon» levantou-se com o rosto sombrio e dirigiu-se para as portas de vaivém. O empregado pestanejou assombrado ao ver
***
— Alguma coisa de grave deve ter acontecido a este — murmurou por entre os dentes. Através dos vidros da grande janela viu o magricela atravessar a rua em grandes pernadas e meter-se no hotel «Glady's», fronteiro ao «saloon».
As sombras da noite desciam já sobre Bay Sping. Não havia lua nem quase estrelas pois o céu estava carregado, ameaçando tempestade. O vento fresco, que se levantara ao entardecer, fazia pequenos redemoinhos de pó de uns três centímetros de altura. A rua estava deserta. Os únicos sinais de vida provinham dos «saloons». Vozes e notas musicais escapavam-se pelas aberturas das portas.
Um homem saiu do restaurante de Cinthia Keener. Dos seus lábios pendia um cigarro aceso. Vagarosamente, como pessoa que não tem pressa, começou a caminhar pelo passeio. A luz do candeeiro de querosene pendurado de uma viga do alpendre deu em cheio no rasto de Cole Derry. A direção que havia tomado era a do «saloon» «Duas Estrelas». Não pôde lá chegar. E não por sua vontade, precisamente. De improviso duas sombras caíram sobre ele. Haviam surgido de um alpendre com a porta na sombra que ficava situado na esquina mais próxima do restaurante.
Um dos indivíduos havia rodeado o pescoço, tapando--lhe a boca. O outro tirou rapidamente o revólver e usou-o como uma maça para atingir a cabeça do sardento.
Cole Derry sentiu que os joelhos se lhe dobravam e a vista lhe escurecia. Uma segunda pancada fez-lhe perder os sentidos. Não caiu por terra. O tipo que lhe rodeava o pescoço com o braço tinha-o bem seguro. Foi este que sussurrou ao seu companheiro, nervoso:
— Ajuda-me a levá-lo para a ruela.
O outro agarrou o jovem inconsciente pelos pés e auxiliou o seu companheiro a transportar Derry. Ao dobrarem a esquina soltou-o e voltando-se para o seu companheiro disse num sussurro:
— Vou buscar os cavalos. Frost deve estar impaciente esperando-nos na cabana.
Nenhum deles havia notado que a janela da casa de comidas que dava precisamente para a ruela se encontrava entreaberta. Tinha a sua explicação. A sala encontrava-se às escuras. A isto se deveu o facto de não se aperceberem da presença de Paul Keener atrás dos cortinados da referida janela.
Minutos antes de os bandidos atravessarem a escura ruela para se esconderem na porta do alpendre, o inválido decidira sair do seu quarto sem os seus familiares se aperceberem. Durante todo o dia havia resistido à tentação da bebida.
Fora um suplicio espantoso ver a garrafa no armário da cozinha e não tomar um trago para acalmar aquela sede angustiosa que lhe abrasava as entranhas. Havia prometido a sua irmã e a seu tio que o que se passara na noite anterior não voltaria a acontecer e que a partir daquele dia deixaria definitivamente de beber.
Mas chegara a noite e, com ela, as amargas recordações começaram a afluir aos borbotões ao fechar-se no seu quarto. Fora então que sentira a necessidade imperiosa de beber para esquecer aquelas recordações que lhe rasgavam o coração e o punham à beira da loucura. Procurara resistir à imperiosa chamada da bebida. Recordava a sua promessa a Cinthia e a seu tio, o seu desejo de se regenerar. Deitara-se, inclusivamente, apertando os olhos com força para ver se assim afugentava a tentação. Tudo inútil.
As recordações, implacáveis, voltaram a assediá-lo. Recordara mais uma vez o seu passado: seus pais, assassinados; a sua noiva, ultrajada e assassinada também; a sua fazenda, calcinada pelo fogo, e ele, coxo, convertido num ser inútil. Impossível esquecer quilo. Só quando morresse poderia apagar da sua mente aquele pesadelo espantoso. Ou quando se embriagava. Isso, quando se embriagava. Já lhe sucedera o mesmo em outras ocasiões. O uísque, ofuscando-lhe o cérebro, impedia-o de pensar, de recordar. Acabara por sair da cama e vestir-se, excitado. Tinha de beber, de contrário enlouqueceria. Alguns copos, apenas alguns copos, nunca chegar ao mesmo da noite anterior. Compreendera que não podia sair pela porta porque ainda havia clientes na sala de jantar. Uma ideia lhe atravessara então o cérebro. Lembrara-se de que numa gaveta da cómoda havia uma corda. Tirara-a do móvel, atara-a a um dos pés da cama e dispunha-se a deslizar por ela até à ruela.
Ao entreabrir a janela ouvira o ruído dos cascos dos cavalos na entrada da ruela. A escuridão era tão densa que não conseguiu identificar os cavaleiros. Os cavalos pararam quase debaixo da janela. Desmontaram os dois cavaleiros e um deles sussurrou:
— Deixaremos aqui os cavalos. Se as informações são certas surpreendê-lo-emos quando sair do restaurante. A coisa será fácil.
Os passos dos dois indivíduos afastaram-se da janela. Paul Keener assomou então a cabeça e viu que os dois homens dobravam a esquina oposta à do restaurante. Esperou, tenso e imóvel, o desenrolar dos acontecimentos. Havia-se esquecido, inclusivamente, da sua imperiosa necessidade de beber. Contudo, a sua espera foi curta.
Minutos depois, viu Cole Derry atravessar a esquina com um cigarro nos lábios. Reconheceu-o graças à luz do candeeiro pendurado no alpendre que lhe iluminou perfeitamente o rosto. Quando quis reagir à surpresa era demasiadamente tarde, o jovem havia atravessado já a estreita ruela.
Segundos mais tarde viu que os dois indivíduos se metiam outra vez na ruela transportando nos braços o corpo inerte de Derry. Estremeceu. Teriam morto Cole Derry?
Antes de poder encontrar resposta para esta dúvida ouviu um dos tipos ordenar ao outro excitadamente: «Vou buscar os cavalos. Frost deve estar impaciente esperando-nos na cabana». Aquelas palavras tranquilizaram-no em parte. Tornava-se evidente que não tinham morto Cole Derry. Levavam-no preso e isso era tudo.
Naquela altura, lamentou não ter um revólver à mão para evitar o sequestro do jovem. Antes que pudesse tomar uma decisão já os indivíduos tinham saltado para as selas dos seus cavalos e os esporeavam brutalmente. Desceu então à sala de jantar com o rosto sombrio. Cinthia apanhou-o junto da porta. Tinha a cara lívida.
— Paul, prometeste-me... — murmurou, com voz entrecortada.
— Não te preocupes, irmã, cumprirei a minha promessa — respondeu roucamente. Libertou-se da mão da jovem angustiosamente fechada sobre o seu braço. — Vou procurar esse rapaz, Brian Boyds — explicou em voz baixa, rápida. — Aconteceu alguma coisa que ele deve saber antes de que seja demasiadamente tarde.
Quando Cinthia abriu a boca de novo para fazer outra pergunta já não o viu. Seu irmão havia transposto a porta.
As sombras da noite desciam já sobre Bay Sping. Não havia lua nem quase estrelas pois o céu estava carregado, ameaçando tempestade. O vento fresco, que se levantara ao entardecer, fazia pequenos redemoinhos de pó de uns três centímetros de altura. A rua estava deserta. Os únicos sinais de vida provinham dos «saloons». Vozes e notas musicais escapavam-se pelas aberturas das portas.
Um homem saiu do restaurante de Cinthia Keener. Dos seus lábios pendia um cigarro aceso. Vagarosamente, como pessoa que não tem pressa, começou a caminhar pelo passeio. A luz do candeeiro de querosene pendurado de uma viga do alpendre deu em cheio no rasto de Cole Derry. A direção que havia tomado era a do «saloon» «Duas Estrelas». Não pôde lá chegar. E não por sua vontade, precisamente. De improviso duas sombras caíram sobre ele. Haviam surgido de um alpendre com a porta na sombra que ficava situado na esquina mais próxima do restaurante.
Um dos indivíduos havia rodeado o pescoço, tapando--lhe a boca. O outro tirou rapidamente o revólver e usou-o como uma maça para atingir a cabeça do sardento.
Cole Derry sentiu que os joelhos se lhe dobravam e a vista lhe escurecia. Uma segunda pancada fez-lhe perder os sentidos. Não caiu por terra. O tipo que lhe rodeava o pescoço com o braço tinha-o bem seguro. Foi este que sussurrou ao seu companheiro, nervoso:
— Ajuda-me a levá-lo para a ruela.
O outro agarrou o jovem inconsciente pelos pés e auxiliou o seu companheiro a transportar Derry. Ao dobrarem a esquina soltou-o e voltando-se para o seu companheiro disse num sussurro:
— Vou buscar os cavalos. Frost deve estar impaciente esperando-nos na cabana.
Nenhum deles havia notado que a janela da casa de comidas que dava precisamente para a ruela se encontrava entreaberta. Tinha a sua explicação. A sala encontrava-se às escuras. A isto se deveu o facto de não se aperceberem da presença de Paul Keener atrás dos cortinados da referida janela.
Minutos antes de os bandidos atravessarem a escura ruela para se esconderem na porta do alpendre, o inválido decidira sair do seu quarto sem os seus familiares se aperceberem. Durante todo o dia havia resistido à tentação da bebida.
Fora um suplicio espantoso ver a garrafa no armário da cozinha e não tomar um trago para acalmar aquela sede angustiosa que lhe abrasava as entranhas. Havia prometido a sua irmã e a seu tio que o que se passara na noite anterior não voltaria a acontecer e que a partir daquele dia deixaria definitivamente de beber.
Mas chegara a noite e, com ela, as amargas recordações começaram a afluir aos borbotões ao fechar-se no seu quarto. Fora então que sentira a necessidade imperiosa de beber para esquecer aquelas recordações que lhe rasgavam o coração e o punham à beira da loucura. Procurara resistir à imperiosa chamada da bebida. Recordava a sua promessa a Cinthia e a seu tio, o seu desejo de se regenerar. Deitara-se, inclusivamente, apertando os olhos com força para ver se assim afugentava a tentação. Tudo inútil.
As recordações, implacáveis, voltaram a assediá-lo. Recordara mais uma vez o seu passado: seus pais, assassinados; a sua noiva, ultrajada e assassinada também; a sua fazenda, calcinada pelo fogo, e ele, coxo, convertido num ser inútil. Impossível esquecer quilo. Só quando morresse poderia apagar da sua mente aquele pesadelo espantoso. Ou quando se embriagava. Isso, quando se embriagava. Já lhe sucedera o mesmo em outras ocasiões. O uísque, ofuscando-lhe o cérebro, impedia-o de pensar, de recordar. Acabara por sair da cama e vestir-se, excitado. Tinha de beber, de contrário enlouqueceria. Alguns copos, apenas alguns copos, nunca chegar ao mesmo da noite anterior. Compreendera que não podia sair pela porta porque ainda havia clientes na sala de jantar. Uma ideia lhe atravessara então o cérebro. Lembrara-se de que numa gaveta da cómoda havia uma corda. Tirara-a do móvel, atara-a a um dos pés da cama e dispunha-se a deslizar por ela até à ruela.
Ao entreabrir a janela ouvira o ruído dos cascos dos cavalos na entrada da ruela. A escuridão era tão densa que não conseguiu identificar os cavaleiros. Os cavalos pararam quase debaixo da janela. Desmontaram os dois cavaleiros e um deles sussurrou:
— Deixaremos aqui os cavalos. Se as informações são certas surpreendê-lo-emos quando sair do restaurante. A coisa será fácil.
Os passos dos dois indivíduos afastaram-se da janela. Paul Keener assomou então a cabeça e viu que os dois homens dobravam a esquina oposta à do restaurante. Esperou, tenso e imóvel, o desenrolar dos acontecimentos. Havia-se esquecido, inclusivamente, da sua imperiosa necessidade de beber. Contudo, a sua espera foi curta.
Minutos depois, viu Cole Derry atravessar a esquina com um cigarro nos lábios. Reconheceu-o graças à luz do candeeiro pendurado no alpendre que lhe iluminou perfeitamente o rosto. Quando quis reagir à surpresa era demasiadamente tarde, o jovem havia atravessado já a estreita ruela.
Segundos mais tarde viu que os dois indivíduos se metiam outra vez na ruela transportando nos braços o corpo inerte de Derry. Estremeceu. Teriam morto Cole Derry?
Antes de poder encontrar resposta para esta dúvida ouviu um dos tipos ordenar ao outro excitadamente: «Vou buscar os cavalos. Frost deve estar impaciente esperando-nos na cabana». Aquelas palavras tranquilizaram-no em parte. Tornava-se evidente que não tinham morto Cole Derry. Levavam-no preso e isso era tudo.
Naquela altura, lamentou não ter um revólver à mão para evitar o sequestro do jovem. Antes que pudesse tomar uma decisão já os indivíduos tinham saltado para as selas dos seus cavalos e os esporeavam brutalmente. Desceu então à sala de jantar com o rosto sombrio. Cinthia apanhou-o junto da porta. Tinha a cara lívida.
— Paul, prometeste-me... — murmurou, com voz entrecortada.
— Não te preocupes, irmã, cumprirei a minha promessa — respondeu roucamente. Libertou-se da mão da jovem angustiosamente fechada sobre o seu braço. — Vou procurar esse rapaz, Brian Boyds — explicou em voz baixa, rápida. — Aconteceu alguma coisa que ele deve saber antes de que seja demasiadamente tarde.
Quando Cinthia abriu a boca de novo para fazer outra pergunta já não o viu. Seu irmão havia transposto a porta.
Sem comentários:
Enviar um comentário