Antes de desmontar observou a paisagem solitária com um olhar circular.
Durante alguns segundos, continuou a sua observação perscrutando tudo o que o rodeava com as pupilas semicerradas: o regato, de corrente cristalina e rápida, que deslizava entre rochas musgosas, produzindo um rumor musical; os vapores trémulos resultantes da evaporação, pairando sobre a depressão do arroio e a longa fileira de salgueiros de ramos amarelentos e delgados que bordejavam as duas margens.
Qualquer coisa dentro de si lhe disse que havia atingido, por fim, a sua meta, que era aquele e não outro o lugar que procurava. Lá estavam, para o confirmar, os três enormes castanheiros com os seus frutos esbranquiçados. Formavam um triângulo curioso e encontravam-se precisamente junto de uma curva do regato.
Deu um estalido com a língua, satisfeito. O facto de comprovar que havia chegado, finalmente, ao termo da sua viagem dulcificava a rigidez das suas feições.
Era um homem alto, magro, de rosto enérgico. As barbas brotavam-lhe do rosto como finos arames negros.
Devia ter uns vinte e oito anos e o seu aspeto geral, apesar das suas roupas coçadas de vaqueiro desalinhadas e do pó que o cobria, era agradável.
No momento de meter o cavalo à água rumorosa, os olhos do cavaleiro, negros e excessivamente separados um do outro, vivos, perspicazes, quase inquisitivos, observaram as redondezas por sobre as copas opulentas das árvores.
Viu uma pradaria docemente ondulada e infinita onde a Artemisa, de um cinzento aveludado que, à distância, se tornava purpúreo, crescia livremente. O panorama era muito bonito mas desinteressou-se dele.
A sua presença ali não se devia exatamente ao desejo de se recrear contemplando a natureza. Tinha um problema menos elevado, se se quiser, mas mais importante para ele.
Ao olhar os seus dedos que descansavam sobre o cabeção da sela viu que tremiam. Pestanejou admirado. Era a primeira vez que tal coisa lhe acontecia. Sempre fora dono dos seus nervos, da sua vontade. A vida havia-o ensinado a dominar as suas reações. Porquê, então, aquele súbito nervosismo à medida que se aproximava dos três castanheiros?
Uma cigarra exibia o seu canto alacre em qualquer lugar impreciso. Era o único ruído que violava a paz daquele meio-dia abrasador de Julho.
O cavalo atingiu a outra margem com um chapinhar ruidoso. O cavaleiro desmontou então e acariciou com algumas palmadas o focinho suado do animal.
— Fim da caminhada, «Hélios» — murmurou, sorrindo. — Veremos se a nossa viagem foi inútil ou não.
Deixou que o nobre animal se regalasse à vontade com a erva fresca e verdejante que crescia abundantemente
junto das margens do regato e, com passos decididos, dirigiu-se para os castanheiros. E, de súbito...
Boiiiiinng...! Boiiiiiinng...!
As duas detonações, surdas e repentinas, fizeram-se ouvir separadas apenas de um quinto de segundo. Os ecos dos dois estampidos ribombaram lugubremente, ao longe, durante algum tempo.
Depois... o silêncio voltou a apoderar-se do ambiente. Um silêncio que parecia carregado de eletricidade.
As duas balas haviam sido dirigidas contra o cavaleiro que acabara de desmontar. Nenhuma delas, porém, acertara no alvo.
A primeira passara-lhe acima da cabeça. A segunda estivera a ponto de lhe acabar com a vida. Um centímetro mais abaixo e o projétil, em vez de lhe arrancar o chapéu, ter-lhe-ia feito voar pedaços da cabeça. O jovem, instintivamente, deixou-se cair por terra junto de uns penhascos, onde ficou abrigado. Na sua mão apareceu, subitamente, um revólver que engatilhou numa fração de segundo.
Nem sequer se preocupou com o chapéu que, como um barquinho sem timoneiro, deslizava, vertiginosamente, sobre as águas do regato. Não necessitou de matutar muito para concluir que o ataque provinha da mesma margem onde estava. De contrário, o chapéu teria caído perto dos salgueiros em vez de cair para dentro da água.
— Eh, você, saia desses penhascos, ou será pior para si!
A voz vinha, com efeito, do lugar que ele calculava, quer dizer, da parte traseira de um pequeno bosque de sassafrás que se via para além dos salgueiros.
Naquela altura, lamentou não ter à mão a sua «Winchester». Compreendeu que, com o «Colt», não poderia fazer frente ao seu agressor ou agressores. A distância que o separava deles era grande demais para que os projéteis do seu «45» os atingissem.
Não obedeceu à ordem imperiosa do tipo que estava emboscado. Esperou, tenso e imóvel, o desenrolar dos acontecimentos. Sabia que só tinha um factor favorável: o de estar abrigado atrás daquele refúgio providencial e necessitarem os outros, para o caçarem, de se mostrar ao atravessarem a faixa de terreno que separava o bosque de sassafrás dos salgueiros.
Decorreram vinte segundos no silêncio mais denso. Na outra margem, a misteriosa cigarra continuava no seu canto monótono, alheia ao drama que se desenrolava a poucos metros. Rude, autoritária, voltou a ouvir-se a voz do indivíduo emboscado:
— Não nos faça perder a paciência, forasteiro — gritou de mau-humor. — Saia daí e entregue-se. Somos sete contra si e temos o seu cavalo em nosso poder. Se o tivéssemos querido matar, ter-lhe-íamos feito voar a cabeça em vez do chapéu.
Brian Boyds havia estado na guerra durante quatro anos. Não ignorava portanto o perigo que constitui um movimento envolvente, e ainda mais quando, como naquele caso, o tinham deixado sem meios para tentar a fuga.
Analisou friamente a situação. A conclusão a que chegou não podia ser mais desoladora. Estava dentro da ratoeira sem qualquer possibilidade de escapar. Desobedecer ao desconhecido era quase o mesmo que cavar a sua própria sepultura. Se eram sete, na realidade, os seus inimigos, o cerco era completo. Bastaria que três deles atravessassem o regato para se ver apanhado entre dois fogos. Uma situação desagradável, com efeito. E absurda. Ele não havia ido a Bay Sping para que o matassem estupidamente. Optou pela solução mais racional: entregar-se. Gritou, sem se mostrar:
— Bem, aí vai o meu revólver.
Atirou o seu «45» por cima dos penhascos e aguardou o curso dos acontecimentos, sentado na erva húmida com as costas apoiadas na rocha. Ouviu o estalar de muitos ramos, de onde deduziu que não lhe haviam mentido sobre o número de agressores. Agora, restava-lhe saber se as suas intenções eram tão pacíficas como lhe haviam dito.
A voz áspera, abrupta, do que o convidara a entregar-se voltou a atravessar a atmosfera ardente, desta vez junto dos penhascos onde o jovem se havia refugiado:
— Saia dai com os braços ao alto!
Fê-lo tranquilamente. Não sentia medo mas sim curiosidade. Estava perplexo com tudo o que acontecia.
Em frente dele, em semicírculo, viu sete homens de rostos tensos. Os dedos indicadores das mãos direitas daqueles homens estavam perigosamente curvados sobre os gatilhos das suas espingardas. Não necessitou de perguntar qual deles era o chefe. Desde o primeiro momento se convenceu de que devia ser aquele tipo baixo, atarracado, de cabeleira revolta, que estava na sua frente com o «Colt» na mão. Olhou-o, fixamente, perguntando-lhe com frieza:
-- Quer dizer-me o que isto significa?
O homem olhou-o com uma sombra de hostilidade nos seus olhos rasgados. Disse, quase sem mover os lábios:
— Quem faz as perguntas sou eu. Que fazia dentro do nosso rancho?
Brian Boyds pensou de si para si, naquele momento, que as coisas deviam estar muito feias em Bay Sping para receberem os forasteiros tão hostilmente. Se não, em Bay Sping, pelo menos no rancho daqueles homens. Ia preparado para uma eventualidade como aquela. Desde que saíra de Montana para se dirigir a Bay Sping tinha traçado meticulosamente o seu plano de ação.
— Perdi a medalha que trazia ao pescoço quando me lavei há pedaço no regato — mentiu descaradamente. — Era uma recordação de minha mãe.
— Onde foi isso?
— Ali — disse indicando a curva do regato. — E não penso ir-me embora daqui sem a recuperar.
O tom da sua voz era tranquilo mas firme, como o de uma pessoa que sabe medir o alcance das suas palavras. E fazê-las cumprir, se for caso disso. Nos olhos negros e rasgados do vaqueiro brilhou um fulgor repentino. Ergeu o queixo ameaçadoramente.
— Estas terras pertencem ao rancho «Círculo M. G.» — replicou de má catadura. — Se o voltarmos a ver dentro delas não respondemos pela sua pele.
— Ignorava que fosse proibido passar por aqui. Porque não puseram uma cerca ao longo da margem para os forasteiros como eu não entrarem em terreno proibido?
— Preocupe-se com os seus assuntos — resmungou o vaqueiro.
Apontou com o dedo para o revólver caído no chão e acrescentou:
— Apanhe-o. Terá de nos acompanhar ao rancho.
O jovem obedeceu, em silêncio. Depois de meter o revólver no coldre voltou a encarar o indivíduo:
— Porque os hei-de acompanhar? Se cometi essa falta foi por ignorância. Dirijo-me a Bay Sping.
— Você fará o que o nosso capataz lhe ordenou — replicou um dos do grupo, com aspereza. — Não nos admiraríamos nada que você fosse amigo ou companheiro do indivíduo que vimos ontem à tarde a vaguear por aqui.
— Tremont, cala a boca — gritou o capataz, rudemente.
Dirigindo-se a outro vaqueiro ordenou:
— Traz os cavalos incluindo o deste forasteiro.
— Bob, já sabes o que nos ordenou o patrão — insistiu Tremont de mau modo. — Nada de contemplações com eles.
O capataz devia ser homem de ideias próprias porque respondeu num tom ácido:
— Sei qual é a minha obrigação, Rex. Se o tivéssemos surpreendido com as mãos na massa enforcava-o aqui mesmo. Levá-lo-emos ao rancho e o patrão que decida.
Brian Boyds começava a compreender um pouco de toda aquela história. Haviam-no confundido com um ladrão de gado. Haviam sido vítimas, certamente, de um roubo de reses e daí a sua atitude ameaçadora.
— Parece que se enganam a meu respeito — disse, sorrindo. — Venho à procura de trabalho.
— Diga isso a Granwley, nosso patrão. Será ele a dizer a última palavra neste assunto. Há alguns dias levaram várias reses que tínhamos a pastar por aqui. Montámos vigilância e ontem estivemos prestes a caçar o fulano que vagueava por onde o encontrámos a si. O tipo esporeou a montada e fugiu.
O vaqueiro enviado pelo capataz para trazer os cavalos apareceu minutos depois trazendo-os pelas rédeas. Bob Wayland fez um sinal aos seus homens e estes montaram. Três deles colocaram-se atrás do jovem.
— Monte, amigo — ordenou o capataz, secamente. -- E não se esqueça do seguinte: se quer chegar vivo ao rancho não cometa nenhuma tolice. Brian Boyds apreciava demasiadamente a vida para a cometer.
Durante alguns segundos, continuou a sua observação perscrutando tudo o que o rodeava com as pupilas semicerradas: o regato, de corrente cristalina e rápida, que deslizava entre rochas musgosas, produzindo um rumor musical; os vapores trémulos resultantes da evaporação, pairando sobre a depressão do arroio e a longa fileira de salgueiros de ramos amarelentos e delgados que bordejavam as duas margens.
Qualquer coisa dentro de si lhe disse que havia atingido, por fim, a sua meta, que era aquele e não outro o lugar que procurava. Lá estavam, para o confirmar, os três enormes castanheiros com os seus frutos esbranquiçados. Formavam um triângulo curioso e encontravam-se precisamente junto de uma curva do regato.
Deu um estalido com a língua, satisfeito. O facto de comprovar que havia chegado, finalmente, ao termo da sua viagem dulcificava a rigidez das suas feições.
Era um homem alto, magro, de rosto enérgico. As barbas brotavam-lhe do rosto como finos arames negros.
Devia ter uns vinte e oito anos e o seu aspeto geral, apesar das suas roupas coçadas de vaqueiro desalinhadas e do pó que o cobria, era agradável.
No momento de meter o cavalo à água rumorosa, os olhos do cavaleiro, negros e excessivamente separados um do outro, vivos, perspicazes, quase inquisitivos, observaram as redondezas por sobre as copas opulentas das árvores.
Viu uma pradaria docemente ondulada e infinita onde a Artemisa, de um cinzento aveludado que, à distância, se tornava purpúreo, crescia livremente. O panorama era muito bonito mas desinteressou-se dele.
A sua presença ali não se devia exatamente ao desejo de se recrear contemplando a natureza. Tinha um problema menos elevado, se se quiser, mas mais importante para ele.
Ao olhar os seus dedos que descansavam sobre o cabeção da sela viu que tremiam. Pestanejou admirado. Era a primeira vez que tal coisa lhe acontecia. Sempre fora dono dos seus nervos, da sua vontade. A vida havia-o ensinado a dominar as suas reações. Porquê, então, aquele súbito nervosismo à medida que se aproximava dos três castanheiros?
Uma cigarra exibia o seu canto alacre em qualquer lugar impreciso. Era o único ruído que violava a paz daquele meio-dia abrasador de Julho.
O cavalo atingiu a outra margem com um chapinhar ruidoso. O cavaleiro desmontou então e acariciou com algumas palmadas o focinho suado do animal.
— Fim da caminhada, «Hélios» — murmurou, sorrindo. — Veremos se a nossa viagem foi inútil ou não.
Deixou que o nobre animal se regalasse à vontade com a erva fresca e verdejante que crescia abundantemente
junto das margens do regato e, com passos decididos, dirigiu-se para os castanheiros. E, de súbito...
Boiiiiinng...! Boiiiiiinng...!
As duas detonações, surdas e repentinas, fizeram-se ouvir separadas apenas de um quinto de segundo. Os ecos dos dois estampidos ribombaram lugubremente, ao longe, durante algum tempo.
Depois... o silêncio voltou a apoderar-se do ambiente. Um silêncio que parecia carregado de eletricidade.
As duas balas haviam sido dirigidas contra o cavaleiro que acabara de desmontar. Nenhuma delas, porém, acertara no alvo.
A primeira passara-lhe acima da cabeça. A segunda estivera a ponto de lhe acabar com a vida. Um centímetro mais abaixo e o projétil, em vez de lhe arrancar o chapéu, ter-lhe-ia feito voar pedaços da cabeça. O jovem, instintivamente, deixou-se cair por terra junto de uns penhascos, onde ficou abrigado. Na sua mão apareceu, subitamente, um revólver que engatilhou numa fração de segundo.
Nem sequer se preocupou com o chapéu que, como um barquinho sem timoneiro, deslizava, vertiginosamente, sobre as águas do regato. Não necessitou de matutar muito para concluir que o ataque provinha da mesma margem onde estava. De contrário, o chapéu teria caído perto dos salgueiros em vez de cair para dentro da água.
— Eh, você, saia desses penhascos, ou será pior para si!
A voz vinha, com efeito, do lugar que ele calculava, quer dizer, da parte traseira de um pequeno bosque de sassafrás que se via para além dos salgueiros.
Naquela altura, lamentou não ter à mão a sua «Winchester». Compreendeu que, com o «Colt», não poderia fazer frente ao seu agressor ou agressores. A distância que o separava deles era grande demais para que os projéteis do seu «45» os atingissem.
Não obedeceu à ordem imperiosa do tipo que estava emboscado. Esperou, tenso e imóvel, o desenrolar dos acontecimentos. Sabia que só tinha um factor favorável: o de estar abrigado atrás daquele refúgio providencial e necessitarem os outros, para o caçarem, de se mostrar ao atravessarem a faixa de terreno que separava o bosque de sassafrás dos salgueiros.
Decorreram vinte segundos no silêncio mais denso. Na outra margem, a misteriosa cigarra continuava no seu canto monótono, alheia ao drama que se desenrolava a poucos metros. Rude, autoritária, voltou a ouvir-se a voz do indivíduo emboscado:
— Não nos faça perder a paciência, forasteiro — gritou de mau-humor. — Saia daí e entregue-se. Somos sete contra si e temos o seu cavalo em nosso poder. Se o tivéssemos querido matar, ter-lhe-íamos feito voar a cabeça em vez do chapéu.
Brian Boyds havia estado na guerra durante quatro anos. Não ignorava portanto o perigo que constitui um movimento envolvente, e ainda mais quando, como naquele caso, o tinham deixado sem meios para tentar a fuga.
Analisou friamente a situação. A conclusão a que chegou não podia ser mais desoladora. Estava dentro da ratoeira sem qualquer possibilidade de escapar. Desobedecer ao desconhecido era quase o mesmo que cavar a sua própria sepultura. Se eram sete, na realidade, os seus inimigos, o cerco era completo. Bastaria que três deles atravessassem o regato para se ver apanhado entre dois fogos. Uma situação desagradável, com efeito. E absurda. Ele não havia ido a Bay Sping para que o matassem estupidamente. Optou pela solução mais racional: entregar-se. Gritou, sem se mostrar:
— Bem, aí vai o meu revólver.
Atirou o seu «45» por cima dos penhascos e aguardou o curso dos acontecimentos, sentado na erva húmida com as costas apoiadas na rocha. Ouviu o estalar de muitos ramos, de onde deduziu que não lhe haviam mentido sobre o número de agressores. Agora, restava-lhe saber se as suas intenções eram tão pacíficas como lhe haviam dito.
A voz áspera, abrupta, do que o convidara a entregar-se voltou a atravessar a atmosfera ardente, desta vez junto dos penhascos onde o jovem se havia refugiado:
— Saia dai com os braços ao alto!
Fê-lo tranquilamente. Não sentia medo mas sim curiosidade. Estava perplexo com tudo o que acontecia.
Em frente dele, em semicírculo, viu sete homens de rostos tensos. Os dedos indicadores das mãos direitas daqueles homens estavam perigosamente curvados sobre os gatilhos das suas espingardas. Não necessitou de perguntar qual deles era o chefe. Desde o primeiro momento se convenceu de que devia ser aquele tipo baixo, atarracado, de cabeleira revolta, que estava na sua frente com o «Colt» na mão. Olhou-o, fixamente, perguntando-lhe com frieza:
-- Quer dizer-me o que isto significa?
O homem olhou-o com uma sombra de hostilidade nos seus olhos rasgados. Disse, quase sem mover os lábios:
— Quem faz as perguntas sou eu. Que fazia dentro do nosso rancho?
Brian Boyds pensou de si para si, naquele momento, que as coisas deviam estar muito feias em Bay Sping para receberem os forasteiros tão hostilmente. Se não, em Bay Sping, pelo menos no rancho daqueles homens. Ia preparado para uma eventualidade como aquela. Desde que saíra de Montana para se dirigir a Bay Sping tinha traçado meticulosamente o seu plano de ação.
— Perdi a medalha que trazia ao pescoço quando me lavei há pedaço no regato — mentiu descaradamente. — Era uma recordação de minha mãe.
— Onde foi isso?
— Ali — disse indicando a curva do regato. — E não penso ir-me embora daqui sem a recuperar.
O tom da sua voz era tranquilo mas firme, como o de uma pessoa que sabe medir o alcance das suas palavras. E fazê-las cumprir, se for caso disso. Nos olhos negros e rasgados do vaqueiro brilhou um fulgor repentino. Ergeu o queixo ameaçadoramente.
— Estas terras pertencem ao rancho «Círculo M. G.» — replicou de má catadura. — Se o voltarmos a ver dentro delas não respondemos pela sua pele.
— Ignorava que fosse proibido passar por aqui. Porque não puseram uma cerca ao longo da margem para os forasteiros como eu não entrarem em terreno proibido?
— Preocupe-se com os seus assuntos — resmungou o vaqueiro.
Apontou com o dedo para o revólver caído no chão e acrescentou:
— Apanhe-o. Terá de nos acompanhar ao rancho.
O jovem obedeceu, em silêncio. Depois de meter o revólver no coldre voltou a encarar o indivíduo:
— Porque os hei-de acompanhar? Se cometi essa falta foi por ignorância. Dirijo-me a Bay Sping.
— Você fará o que o nosso capataz lhe ordenou — replicou um dos do grupo, com aspereza. — Não nos admiraríamos nada que você fosse amigo ou companheiro do indivíduo que vimos ontem à tarde a vaguear por aqui.
— Tremont, cala a boca — gritou o capataz, rudemente.
Dirigindo-se a outro vaqueiro ordenou:
— Traz os cavalos incluindo o deste forasteiro.
— Bob, já sabes o que nos ordenou o patrão — insistiu Tremont de mau modo. — Nada de contemplações com eles.
O capataz devia ser homem de ideias próprias porque respondeu num tom ácido:
— Sei qual é a minha obrigação, Rex. Se o tivéssemos surpreendido com as mãos na massa enforcava-o aqui mesmo. Levá-lo-emos ao rancho e o patrão que decida.
Brian Boyds começava a compreender um pouco de toda aquela história. Haviam-no confundido com um ladrão de gado. Haviam sido vítimas, certamente, de um roubo de reses e daí a sua atitude ameaçadora.
— Parece que se enganam a meu respeito — disse, sorrindo. — Venho à procura de trabalho.
— Diga isso a Granwley, nosso patrão. Será ele a dizer a última palavra neste assunto. Há alguns dias levaram várias reses que tínhamos a pastar por aqui. Montámos vigilância e ontem estivemos prestes a caçar o fulano que vagueava por onde o encontrámos a si. O tipo esporeou a montada e fugiu.
O vaqueiro enviado pelo capataz para trazer os cavalos apareceu minutos depois trazendo-os pelas rédeas. Bob Wayland fez um sinal aos seus homens e estes montaram. Três deles colocaram-se atrás do jovem.
— Monte, amigo — ordenou o capataz, secamente. -- E não se esqueça do seguinte: se quer chegar vivo ao rancho não cometa nenhuma tolice. Brian Boyds apreciava demasiadamente a vida para a cometer.
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