Durante alguns segundos reinou dentro do «saloon» um silêncio espesso.
O único ruído que o perturbava era o ranger dos gonzos das portas de vaivém que giravam ainda, depois de terem sido empurradas, com força, pelo xerife ao sair com a irmã de Keener. Gloster interrompeu o silêncio com uma gargalhada.
— Estão com sorte, forasteiros — exclamou num tom irónico —; mas não lhes recomendo os ares de Bay Sping, porque se lhes podem tornar nocivos.
Cole Derry sorriu, friamente. Fez um sinal ao empregado que lhe enchera o copo de uísque. Depois voltou-se para Boyds e disse com suavidade:
— Quer tomar alguma coisa, amigo ?
O rosto de Gloster purpureou-se de cólera ao aperceber-se do desprezo a que votavam a sua pessoa. Devia ter muito desenvolvido o orgulho da sua força. Gritou, furioso:
— Será melhor que vão beber para outro sítio porque não gosto de continuar a contemplar as vossas feias figuras.
— Feios, nós ? — respondeu Brian, sarcasticamente. — Pergunte a uma dessas raparigas e elas que nos julguem. De certeza não são da sua opinião.
Indicou meia dúzia de raparigas agrupadas a um canto do balcão. Algumas riram-se. Gloster, ao notá-lo, quis fulminá-las com o olhar.
— Creio que esquecerei a recomendação do xerife — rugiu ameaçadoramente. — Nunca ninguém se riu de Pat Gloster.
— Céus! Que se passa aqui outra vez ?
A figura alta e severa do xerife destacava-se junto da porta. Nos seus olhos escuros brilhava uma centelha de ira. Em duas pernadas colocou-se no centro da sala e olhou hostilmente para Gloster e seus amigos.
— Palpitava-me uma coisa do género — exclamou asperamente —, por isso deixei Cinthia à porta do seu restaurante e voltei.
— Devia ter lá ficado — declarou o ruivo com fúria mal contida. — Esses dois parasitas riram-se de mim e preparava-me para lhes fazer engolir as suas palavras. Melhor dito — corrigiu — estou disposto a fazer com que as engulam. Ainda não nasceu quem se há-de rir de Pat Gloster.
O xerife semicerrou os olhos e permaneceu silencioso durante alguns segundos. Compreendeu que se não interviesse energicamente as coisas se tornariam piores. Conhecia demasiadamente o ruivo para pensar assim.
— Bem, amigos — disse, voltando-se para Boyds e Derry —, é a segunda vez que evito um sarilho. Será melhor que bebam os vossos uísques e se vão deitar.
— Obrigado pelo conselho, xerife — disse Boyds sorrindo. — Era essa, precisamente, a minha intenção.
— Os senhores são amigos ?
— Conhecemo-nos aqui, há alguns momentos. Sei que se chama Cole Derry porque ele próprio o disse. Quando vimos o que pretendiam que o coxo fizesse tivemos a mesma reação: evitar que o rapaz metesse os lábios naquela porcaria.
— Sei o que aqui aconteceu por uma pessoa que presenciou através da janela e me veio contar — explicou o xerife. -- Foi essa pessoa que avisou Cinthia do que se passava. Mas ainda não me disse como se chama.
— Boyds, Brian Boyds — apresentou-se. — Há meia hora que cheguei.
— Para ficar em Bay Sping ou de passagem ?
— Ainda não resolvi.
O xerife desviou o olhar para Cole Derry e olhou-o fixamente.
— Ontem à tarde, quando lhe fiz esta mesma pergunta, respondeu-me da mesma maneira que este rapaz.
— Pura coincidência, xerife — sorriu o sardento com um encolher de ombros. — Na vida costumam acontecer estas coisas. Também eu não sei se vou ficar aqui ou não. Isso depende das circunstâncias.
— Previno-o de que o trabalho escasseia em Bay Sping.
—E quem lhe disse que eu necessito de trabalho? Porque não poderei ser um homem que procura algumas terras que sejam do seu agrado para as comprar e se estabelecer como ganadeiro ?
Apanhou o seu copo de uísque, olhou a bebida à transparência e, acto contínuo, começou a beber, vagarosamente, com um brilho irónico no olhar. Brian Boyds, que o observava detidamente, teve a impressão de que tudo quanto acabava de dizer era falso, que o móbil que o havia levado a Bay Sping não era, precisamente, o de levantar ali o seu «homestea».
Também o xerife devia pensar como o jovem porque voltou a encarar Derry com um olhar, segundo parecia, indiferente:
— Os do rancho «Círculo M. G.» queixaram-se-me, ontem à noite, de que à tarde viram vaguear um cavaleiro perto do regato, junto dos três castanheiros. Mandaram-no parar e o cavaleiro fugiu. Creio que montava um cavalo como o seu. Que diz a isto?
— Que era eu próprio — respondeu o sardento com simplicidade. — O meu cavalo vinha fatigado e aproximei-me do regato para o dessedentar. Subitamente, senti o zumbido de várias balas sobre a minha cabeça e esporeei o animal para me afastar daquele vespeiro. Nunca teria imaginado que nesta terra recebessem assim os forasteiros.
— Esse rancho sofreu, recentemente, vários roubos de gado — explicou o xerife com gravidade. — Creio que isso explica tudo. ~
— Isso é conforme as opiniões — contrariou o sardento. — Poderiam ter-me cercado e não começarem aos tiros contra mim sem saberem que espécie de pessoa era.
Brian Boyds sentiu uma estranha agitação no corpo ao ouvir a explicação do jovem. Instintivamente, recordou o que lhe acontecera junto do arroio. Também contra ele haviam disparado sem aviso prévio. Simplesmente ele não pudera fugir. De resto, o seu caso e o daquele desconhecido eram tão semelhantes que pareciam desenhados pelo mesmo molde.
Isto fortaleceu a sua ideia de que o sardento havia mentido deliberadamente ao xerife sobre a verdadeira causa da sua presença em Bay Sping. Pat Gloster voltou-se para o xerife, num tom azedo.
— Creio que a coisa está bem clara, Loveland — resmungou, abruptamente. — Estes dois tipos devem pertencer a uma dessas quadrilhas de ladrões de gado que se escondem nas montanhas. Terão descido em reconhecimento e os homens de Granwley descobriram-nos a tempo.
— Você merecia que o fizessem senador deste Estado — ironizou Cole Derry. — Há muito tempo que eu não via uma inteligência tão brilhante como a sua.
Duas chispas de ódio escaparam-se dos olhos do ruivo. Cerrou os punhos e deu um passo na direção do sardento. O xerife segurou-o por um braço.
— Demónios! — gritou de mau-humor. — Não haverá maneira de se ter paz aqui?
— Evidentemente que sim, xerife — rugiu Gloster, sufocado. — Quando eu retorcer o pescoço a esse parasita.
Tentou desprender-se dos dedos que lhe seguravam o braço. Não o conseguiu. Aqueles dedos eram semelhantes a tenazes de aço cravados na sua carne.
As portas de vaivém abriram-se mais uma vez, precisamente naquele momento, e as figuras do ganadeiro Max Granwley, do seu capataz — Bob Wayland e do negociante de gado Chill Talbott ficaram recortadas na entrada.
Os três homens olharam, com estranheza, o quadro que se lhes oferecia aos olhos. Foi o ganadeiro que desfez o silêncio que se produzira no estabelecimento.
— Aconteceu alguma coisa, Loveland?
— Até agora, não — respondeu o interpelado, largando o ruivo. — Já sabes que gosto mais de prevenir que de remediar.
Granwley, ao ver Brian Boyds, franziu as sobrancelhas. Olhou-o sem muita simpatia.
— Você por aqui ainda? — disse, desabridamente.
—'Não creio que esta terra seja sua — respondeu o jovem, impassível.
— Conhecias este rapaz, Max ? — admirou-se o xerife.
— Pessoalmente, não. Wayland e os rapazes surpreenderam-no há algumas horas no regato, junto dos três castanheiros. Avisei-o de que na próxima vez em que os meus homens o vissem dentro das minhas terras lhe fariam voar a cabeça.
Brian, em vez de estar atento ao ganadeiro, estava concentrado em Cole Derry. Pelo canto do olho espreitava as suas reações.
Notou que a sua aparente indiferença desapareceu ao ouvir a revelação do ganadeiro. Notou também um estranho e fugaz brilho nos seus olhos como se a noticia o tivesse alarmado.
Tomou nota mentalmente, de tudo aquilo e esperou os novos acontecimentos com os nervos calmos. Porque os haveria, disso não tinha a menor dúvida, embora ignorasse de que espécie seriam e como se proporcionariam.
Um tipo alto e ossudo, de nariz aquilino e olhos salientes, que se encontrava junto do grupo de raparigas, fez um sinal ao negociante de gados. Chill Talbott afastou-se de Granwley e do seu capataz e aproximou-se do indivíduo que o chamara.
Aquilo pareceu atenuar a tensão nervosa dos primeiros momentos. O ganadeiro e o xerife sentaram-se numa mesa que ficava a um canto e Wayland juntou-se ao grupo de Pat Gloster, perto do balcão.
Brian Boyds e Cole Derry também se aproximaram do balcão, embora em sítios opostos. Evitando olhar-se abertamente, os dois surpreenderam-se, no entanto, em várias ocasiões espiando-se mutuamente com o olhar.
De uma das vezes, Brian notou que não eram só as pupilas de Cole Derry que o olhavam. Também os olhos de Chill Talbott e os do tipo alto, sentado junto dele, não o largavam.
Notou que o negociante de gado perguntava qualquer coisa ao outro, mal movendo os lábios e com o dos olhos salientes movia afirmativamente a cabeça.
Deduziu que se referiam a ele, embora não conseguisse compreender o que seria que aqueles sujeito estariam a tramar em relação à sua pessoa.
Teria soltado um «Oh!» de surpresa se tivesse ouvido a pergunta que Chill Talbott fazia ao seu companheiro.
— Não estás a fantasiar, Spencer ?
— Que me enforque se o estou a fazer, Chill. Estou certo de que esse tipo é irmão de Fred Boyds. Desde que entrou neste «saloon» que tinha essa impressão, mas fiquei sem qualquer dúvida ao ouvir o seu nome.
Ao notar que Brian os olhava fixamente desviou os olhos para outro lado e acrescentou num rápido sussurro:
— Será melhor falarmos num dos reservados, Chill. O que tenho para lhe contar tem um interesse extraordinário.
Brian, ao vê-los desaparecer por uma das portas do fundo desviou o olhar para Cole Derry. Havia resolvido tomar uma bebida com ele.
Uma expressão de assombro desenhou-se-lhe no rosto ao ver que ele já não estava junto do balcão. O empregado, sorrindo, indicou-lhe o sardento com a cabeça.
Viu-o, então, sentado a uma das mesas.
Sim, ali estava Cole Derry sentado. Diante dele tinha uma garrafa de uísque. A seu lado, fabricando sorrisos, sentava-se uma formosa loura de busto exuberante e ancas largas. «Parece tão rápido a disparar como a conquistar mulheres» — disse, sorrindo.
Pagou a sua despesa e abandonou seguidamente o «saloon». Ao atravessar as portas de vaivém teve a impressão de que levava cravadas na nuca as pupilas penetrantes de Cole Derry.
O único ruído que o perturbava era o ranger dos gonzos das portas de vaivém que giravam ainda, depois de terem sido empurradas, com força, pelo xerife ao sair com a irmã de Keener. Gloster interrompeu o silêncio com uma gargalhada.
— Estão com sorte, forasteiros — exclamou num tom irónico —; mas não lhes recomendo os ares de Bay Sping, porque se lhes podem tornar nocivos.
Cole Derry sorriu, friamente. Fez um sinal ao empregado que lhe enchera o copo de uísque. Depois voltou-se para Boyds e disse com suavidade:
— Quer tomar alguma coisa, amigo ?
O rosto de Gloster purpureou-se de cólera ao aperceber-se do desprezo a que votavam a sua pessoa. Devia ter muito desenvolvido o orgulho da sua força. Gritou, furioso:
— Será melhor que vão beber para outro sítio porque não gosto de continuar a contemplar as vossas feias figuras.
— Feios, nós ? — respondeu Brian, sarcasticamente. — Pergunte a uma dessas raparigas e elas que nos julguem. De certeza não são da sua opinião.
Indicou meia dúzia de raparigas agrupadas a um canto do balcão. Algumas riram-se. Gloster, ao notá-lo, quis fulminá-las com o olhar.
— Creio que esquecerei a recomendação do xerife — rugiu ameaçadoramente. — Nunca ninguém se riu de Pat Gloster.
— Céus! Que se passa aqui outra vez ?
A figura alta e severa do xerife destacava-se junto da porta. Nos seus olhos escuros brilhava uma centelha de ira. Em duas pernadas colocou-se no centro da sala e olhou hostilmente para Gloster e seus amigos.
— Palpitava-me uma coisa do género — exclamou asperamente —, por isso deixei Cinthia à porta do seu restaurante e voltei.
— Devia ter lá ficado — declarou o ruivo com fúria mal contida. — Esses dois parasitas riram-se de mim e preparava-me para lhes fazer engolir as suas palavras. Melhor dito — corrigiu — estou disposto a fazer com que as engulam. Ainda não nasceu quem se há-de rir de Pat Gloster.
O xerife semicerrou os olhos e permaneceu silencioso durante alguns segundos. Compreendeu que se não interviesse energicamente as coisas se tornariam piores. Conhecia demasiadamente o ruivo para pensar assim.
— Bem, amigos — disse, voltando-se para Boyds e Derry —, é a segunda vez que evito um sarilho. Será melhor que bebam os vossos uísques e se vão deitar.
— Obrigado pelo conselho, xerife — disse Boyds sorrindo. — Era essa, precisamente, a minha intenção.
— Os senhores são amigos ?
— Conhecemo-nos aqui, há alguns momentos. Sei que se chama Cole Derry porque ele próprio o disse. Quando vimos o que pretendiam que o coxo fizesse tivemos a mesma reação: evitar que o rapaz metesse os lábios naquela porcaria.
— Sei o que aqui aconteceu por uma pessoa que presenciou através da janela e me veio contar — explicou o xerife. -- Foi essa pessoa que avisou Cinthia do que se passava. Mas ainda não me disse como se chama.
— Boyds, Brian Boyds — apresentou-se. — Há meia hora que cheguei.
— Para ficar em Bay Sping ou de passagem ?
— Ainda não resolvi.
O xerife desviou o olhar para Cole Derry e olhou-o fixamente.
— Ontem à tarde, quando lhe fiz esta mesma pergunta, respondeu-me da mesma maneira que este rapaz.
— Pura coincidência, xerife — sorriu o sardento com um encolher de ombros. — Na vida costumam acontecer estas coisas. Também eu não sei se vou ficar aqui ou não. Isso depende das circunstâncias.
— Previno-o de que o trabalho escasseia em Bay Sping.
—E quem lhe disse que eu necessito de trabalho? Porque não poderei ser um homem que procura algumas terras que sejam do seu agrado para as comprar e se estabelecer como ganadeiro ?
Apanhou o seu copo de uísque, olhou a bebida à transparência e, acto contínuo, começou a beber, vagarosamente, com um brilho irónico no olhar. Brian Boyds, que o observava detidamente, teve a impressão de que tudo quanto acabava de dizer era falso, que o móbil que o havia levado a Bay Sping não era, precisamente, o de levantar ali o seu «homestea».
Também o xerife devia pensar como o jovem porque voltou a encarar Derry com um olhar, segundo parecia, indiferente:
— Os do rancho «Círculo M. G.» queixaram-se-me, ontem à noite, de que à tarde viram vaguear um cavaleiro perto do regato, junto dos três castanheiros. Mandaram-no parar e o cavaleiro fugiu. Creio que montava um cavalo como o seu. Que diz a isto?
— Que era eu próprio — respondeu o sardento com simplicidade. — O meu cavalo vinha fatigado e aproximei-me do regato para o dessedentar. Subitamente, senti o zumbido de várias balas sobre a minha cabeça e esporeei o animal para me afastar daquele vespeiro. Nunca teria imaginado que nesta terra recebessem assim os forasteiros.
— Esse rancho sofreu, recentemente, vários roubos de gado — explicou o xerife com gravidade. — Creio que isso explica tudo. ~
— Isso é conforme as opiniões — contrariou o sardento. — Poderiam ter-me cercado e não começarem aos tiros contra mim sem saberem que espécie de pessoa era.
Brian Boyds sentiu uma estranha agitação no corpo ao ouvir a explicação do jovem. Instintivamente, recordou o que lhe acontecera junto do arroio. Também contra ele haviam disparado sem aviso prévio. Simplesmente ele não pudera fugir. De resto, o seu caso e o daquele desconhecido eram tão semelhantes que pareciam desenhados pelo mesmo molde.
Isto fortaleceu a sua ideia de que o sardento havia mentido deliberadamente ao xerife sobre a verdadeira causa da sua presença em Bay Sping. Pat Gloster voltou-se para o xerife, num tom azedo.
— Creio que a coisa está bem clara, Loveland — resmungou, abruptamente. — Estes dois tipos devem pertencer a uma dessas quadrilhas de ladrões de gado que se escondem nas montanhas. Terão descido em reconhecimento e os homens de Granwley descobriram-nos a tempo.
— Você merecia que o fizessem senador deste Estado — ironizou Cole Derry. — Há muito tempo que eu não via uma inteligência tão brilhante como a sua.
Duas chispas de ódio escaparam-se dos olhos do ruivo. Cerrou os punhos e deu um passo na direção do sardento. O xerife segurou-o por um braço.
— Demónios! — gritou de mau-humor. — Não haverá maneira de se ter paz aqui?
— Evidentemente que sim, xerife — rugiu Gloster, sufocado. — Quando eu retorcer o pescoço a esse parasita.
Tentou desprender-se dos dedos que lhe seguravam o braço. Não o conseguiu. Aqueles dedos eram semelhantes a tenazes de aço cravados na sua carne.
As portas de vaivém abriram-se mais uma vez, precisamente naquele momento, e as figuras do ganadeiro Max Granwley, do seu capataz — Bob Wayland e do negociante de gado Chill Talbott ficaram recortadas na entrada.
Os três homens olharam, com estranheza, o quadro que se lhes oferecia aos olhos. Foi o ganadeiro que desfez o silêncio que se produzira no estabelecimento.
— Aconteceu alguma coisa, Loveland?
— Até agora, não — respondeu o interpelado, largando o ruivo. — Já sabes que gosto mais de prevenir que de remediar.
Granwley, ao ver Brian Boyds, franziu as sobrancelhas. Olhou-o sem muita simpatia.
— Você por aqui ainda? — disse, desabridamente.
—'Não creio que esta terra seja sua — respondeu o jovem, impassível.
— Conhecias este rapaz, Max ? — admirou-se o xerife.
— Pessoalmente, não. Wayland e os rapazes surpreenderam-no há algumas horas no regato, junto dos três castanheiros. Avisei-o de que na próxima vez em que os meus homens o vissem dentro das minhas terras lhe fariam voar a cabeça.
Brian, em vez de estar atento ao ganadeiro, estava concentrado em Cole Derry. Pelo canto do olho espreitava as suas reações.
Notou que a sua aparente indiferença desapareceu ao ouvir a revelação do ganadeiro. Notou também um estranho e fugaz brilho nos seus olhos como se a noticia o tivesse alarmado.
Tomou nota mentalmente, de tudo aquilo e esperou os novos acontecimentos com os nervos calmos. Porque os haveria, disso não tinha a menor dúvida, embora ignorasse de que espécie seriam e como se proporcionariam.
Um tipo alto e ossudo, de nariz aquilino e olhos salientes, que se encontrava junto do grupo de raparigas, fez um sinal ao negociante de gados. Chill Talbott afastou-se de Granwley e do seu capataz e aproximou-se do indivíduo que o chamara.
Aquilo pareceu atenuar a tensão nervosa dos primeiros momentos. O ganadeiro e o xerife sentaram-se numa mesa que ficava a um canto e Wayland juntou-se ao grupo de Pat Gloster, perto do balcão.
Brian Boyds e Cole Derry também se aproximaram do balcão, embora em sítios opostos. Evitando olhar-se abertamente, os dois surpreenderam-se, no entanto, em várias ocasiões espiando-se mutuamente com o olhar.
De uma das vezes, Brian notou que não eram só as pupilas de Cole Derry que o olhavam. Também os olhos de Chill Talbott e os do tipo alto, sentado junto dele, não o largavam.
Notou que o negociante de gado perguntava qualquer coisa ao outro, mal movendo os lábios e com o dos olhos salientes movia afirmativamente a cabeça.
Deduziu que se referiam a ele, embora não conseguisse compreender o que seria que aqueles sujeito estariam a tramar em relação à sua pessoa.
Teria soltado um «Oh!» de surpresa se tivesse ouvido a pergunta que Chill Talbott fazia ao seu companheiro.
— Não estás a fantasiar, Spencer ?
— Que me enforque se o estou a fazer, Chill. Estou certo de que esse tipo é irmão de Fred Boyds. Desde que entrou neste «saloon» que tinha essa impressão, mas fiquei sem qualquer dúvida ao ouvir o seu nome.
Ao notar que Brian os olhava fixamente desviou os olhos para outro lado e acrescentou num rápido sussurro:
— Será melhor falarmos num dos reservados, Chill. O que tenho para lhe contar tem um interesse extraordinário.
Brian, ao vê-los desaparecer por uma das portas do fundo desviou o olhar para Cole Derry. Havia resolvido tomar uma bebida com ele.
Uma expressão de assombro desenhou-se-lhe no rosto ao ver que ele já não estava junto do balcão. O empregado, sorrindo, indicou-lhe o sardento com a cabeça.
Viu-o, então, sentado a uma das mesas.
Sim, ali estava Cole Derry sentado. Diante dele tinha uma garrafa de uísque. A seu lado, fabricando sorrisos, sentava-se uma formosa loura de busto exuberante e ancas largas. «Parece tão rápido a disparar como a conquistar mulheres» — disse, sorrindo.
Pagou a sua despesa e abandonou seguidamente o «saloon». Ao atravessar as portas de vaivém teve a impressão de que levava cravadas na nuca as pupilas penetrantes de Cole Derry.
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