quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BIS164.07 Um rapto na noite

Os olhos salientes de Spencer começaram a pestanejar. Wayland sorriu interiormente. Pensou de si para si que os figos começavam a amadurecer. Mais um toque e magricela seria seu. Ao ver a garrafa vazia fez um sinal ao empregado.
— Traz outra — ordenou.
— Sempre disse que tu eras o meu melhor amigo — disse Spencer sorrindo num tom adulador. — A tua decisão de festejares comigo o teu aniversário agradou--me muito.
Era a segunda garrafa que bebiam e o astuto Spencer ainda não havia dito nada. Não importava. Wayland estava disposto a fazer Spencer falar. Tinha dinheiro suficiente para lhe pagar todo o uísque que conseguisse beber.
— Depressa serei eu a convidar-te, Bob — murmurou Hacker com um sorriso matreiro.
— Vais receber alguma herança?
— É possível — e soltou um riso irónico. — Já sabes que o meu sonho é possuir um «saloon» como este... e creio que o terei muito depressa.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

BIS164.06 Proposta em suspenso

Max Granwley havia escutado, em silêncio, a proposta do negociante de gado. Expeliu uma densa baforada de fumo e disse olhando, fixamente, para Talbott:
— Dar-lhe-ei a minha resposta esta noite, Chill.
O interpelado pestanejou, assombrado. Não contava com aquela resposta. Havia imaginado que Granwley acolheria a sua proposta com demonstrações de alegria. Depois pensou que o ganadeiro pretendia valorizar as suas terras com aquelas evasivas. Uma medida astuta, sem dúvida. E, demonstrar-lhe-ia que também ele não era tolo.
— De acordo — disse, levantando-se —, espero-o esta noite no «saloon» «Duas Estrelas». Não creio que ninguém supere o preço que acabo de oferecer pelas suas terras.
Despediu-se imediatamente do ganadeiro. Este acompanhou-o até ao alpendre. Quando o negociante de gado desapareceu numa curva do caminho, a avantajada figura do capataz do «Círculo M. G.» surgiu junto de Granwley.
— Que queria esse vaidoso, patrão ?
Não sentia muita simpatia por Talbott. Dois anos atrás, havia conhecido Ruth, uma bailarina do «saloon» «Duas Estrelas». Gostara tanto daquela mulher que, inclusivamente, teria casado com ela. Chill Talbott interpusera-se entre eles e tudo fora uma desilusão. A grande idiota ficara deslumbrada pela elegância e pelo dinheiro do negociante e convertera-se em sua amante. Três meses depois, abandonava-a por outra e Ruth, desenganada, deixava Bay Sping. Dal vinha a sua antipatia por Chill Talbott.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

BIS164.05 História de um destroço humano

Haviam entrado separadamente no restaurante do tio de Cinthia. Primeiro, Cole Derry. Minutos depois, Brian Boyds. Cinthia acolheu-os com um sorriso agradável. Sobre o vestido comprido e justo trazia um avental limpo. Ficou desconcertada ao ver que cada um deles se sentava em sua mesa. Contíguas, mas diferentes. Ela julgava que eles eram amigos.
Por duas vezes, tentou entabular conversações com eles. Teve de desistir porque se via solicitada constantemente por outros clientes que quase enchiam o estabelecimento.
Alguém, na noite anterior, lhe dissera o que aqueles dois homens haviam feito a favor do seu irmão. E ficou confusa ao pensar que os havia tratado com a mesma dureza com que tratara os que rodeavam Pat Gloster. Pensou que devia agradecer-lhes. Que ela soubesse, eram as únicas pessoas que não troçavam de seu irmão. E isto era de agradecer.
— Bons dias, Cinthia.
 A jovem, antes de se voltar para a porta, reconheceu a voz de Chill Talbott. O negociante de gado era um dos mais assíduos frequentadores.

domingo, 28 de outubro de 2018

BIS164.04 O tesouro escondido

O olhar astuto e rápido de Chill Talbott pousou-se, perscrutador, no rosto ossudo de Spencer Hacker. Sussurrou ironicamente:
— Bem, já estamos sós. Que coisa é essa tão interessante que tens para me contar a respeito desse forasteiro?
Durante dez minutos, o homem alto esteve a falar ao ouvido do negociante de gado. Os seus olhos brilhavam como os dos gatos na escuridão. Ao terminar, recostou-se na cadeira e olhou para Talbott sorrindo matreiramente.
-- Que te pareceu, Chill ? — perguntou, satisfeito.
— Que bebeste mais que a conta esta tarde, Spencer. Leio-o nos teus olhos.
Spencer Hacker voltou a sorrir, mostrando uns dentes compridos, descarnados, sujos.
— Enganas-te, Chill, apenas bebi meia dúzia de copos. Os necessários para refrescar a boca.
O negociante de gado começou a bater, suavemente, sobre a tampa da mesa sem olhar para o outro. Subitamente, apanhou a garrafa e deitou alguns dedos de bebida no seu copo. Depois, encheu o do seu interlocutor. Disse, mal movendo os lábios:
— Não estarás a fantasiar, Spencer?
— Nunca falei tanto a sério, Chill. Tudo quanto te acabo de contar é certo. Havia esquecido aquilo, mas a presença desse rapaz fez-me recordar o passado. Brian Boyds veio aqui procurar qualquer coisa, e essa coisa não pode ser outra senão...

sábado, 27 de outubro de 2018

BIS164.03 Desconfianças

Durante alguns segundos reinou dentro do «saloon» um silêncio espesso.
O único ruído que o perturbava era o ranger dos gonzos das portas de vaivém que giravam ainda, depois de terem sido empurradas, com força, pelo xerife ao sair com a irmã de Keener. Gloster interrompeu o silêncio com uma gargalhada.
— Estão com sorte, forasteiros — exclamou num tom irónico —; mas não lhes recomendo os ares de Bay Sping, porque se lhes podem tornar nocivos.
Cole Derry sorriu, friamente. Fez um sinal ao empregado que lhe enchera o copo de uísque. Depois voltou-se para Boyds e disse com suavidade:
— Quer tomar alguma coisa, amigo ?
O rosto de Gloster purpureou-se de cólera ao aperceber-se do desprezo a que votavam a sua pessoa. Devia ter muito desenvolvido o orgulho da sua força. Gritou, furioso:
— Será melhor que vão beber para outro sítio porque não gosto de continuar a contemplar as vossas feias figuras.
— Feios, nós ? — respondeu Brian, sarcasticamente. — Pergunte a uma dessas raparigas e elas que nos julguem. De certeza não são da sua opinião.
Indicou meia dúzia de raparigas agrupadas a um canto do balcão. Algumas riram-se. Gloster, ao notá-lo, quis fulminá-las com o olhar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

BIS164.02 Em defesa de um farrapo humano

Max Granwley havia ultrapassado já o meio século. Tinha o cabelo branco, o nariz semelhante a um gancho, os olhos escuros e penetrantes e um corpo alto e nervoso. Havia ouvido, em silêncio, o relato do seu capataz sobre a captura do jovem que permanecia em frente do ganadeiro com o rosto impassível.
— Hum! — murmurou Granwley meneando a cabeça. — Soa-me muito estranha essa história da medalha.
— Não tenho outra explicação para lhe dar — disse de má vontade e com o olhar fixo no ganadeiro. — E repito-lhe o que disse ao seu capataz: voltarei ao regato para procurar a minha medalha. E uma recordação valiosíssima para mim.
As feições enérgicas do ganadeiro endureceram.
— Se o fizer não respondo pela sua cabeça — disse com firmeza. — Dei ordem aos meus homens para dispararem antes de perguntarem. Não estou disposto a suportar mais roubos de gado.
Brian acabou por encolher os ombros. Estava a ver que, sob a fronte daquele homem, as ideias aderiam com a mesma força com que os líquenes aderem às pedras. Ia custar-lhe bastante convencê-lo de que nunca pensara roubar-lhe nenhuma rês.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

BIS164.01 Confundido com um ladrão de gado

Antes de desmontar observou a paisagem solitária com um olhar circular.
Durante alguns segundos, continuou a sua observação perscrutando tudo o que o rodeava com as pupilas semicerradas: o regato, de corrente cristalina e rápida, que deslizava entre rochas musgosas, produzindo um rumor musical; os vapores trémulos resultantes da evaporação, pairando sobre a depressão do arroio e a longa fileira de salgueiros de ramos amarelentos e delgados que bordejavam as duas margens.
Qualquer coisa dentro de si lhe disse que havia atingido, por fim, a sua meta, que era aquele e não outro o lugar que procurava. Lá estavam, para o confirmar, os três enormes castanheiros com os seus frutos esbranquiçados. Formavam um triângulo curioso e encontravam-se precisamente junto de uma curva do regato.
Deu um estalido com a língua, satisfeito. O facto de comprovar que havia chegado, finalmente, ao termo da sua viagem dulcificava a rigidez das suas feições.
Era um homem alto, magro, de rosto enérgico. As barbas brotavam-lhe do rosto como finos arames negros.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

BIS164. Dois gatilhos rápidos



(Coleção Bisonte, nº 164)
 
 No rescaldo da guerra da Secessão, dois homens que não se conheciam dirigem-se a Bay Sping, uma povoação semelhante a tantas centenas de povoações que se erguiam no vasto e selvagem Oeste de 1866. Casas de adobe, pequenas e chatas, com telhados brancos. Havia uma só rua com altos passeios de madeirauma povoação.
O seu objetivo era encontrar um tesouro que alguém tinha escondido durante o conflito.
As circunstâncias, onde se destaca a defesa de um farrapo humano entregue ao álcool, levaram a que se unissem e tivessem de lutar contra interesses estabelecidos.
 
 

terça-feira, 23 de outubro de 2018

BIS163.10 Execução a série exige testemunhas

Bart Lockwood abriu os olhos e olhou à sua volta. Vermelhas ondas de vertigem flutuavam no seu cérebro.
Conseguiu, através daquelas névoas, tomar conhecimento do lugar em que se encontrava. Estava sentado no chão, encostado a um canto de uma escura e húmida parede de pedra, no fundo de um subterrâneo.
Reconheceu perfeitamente o local: tratava-se dos subterrâneos da antiga missão. Tentou mover-se mas tinha as mãos amarradas atrás das costas; as mãos e os tornozelos.
— Acaba de recuperar os sentidos — disse uma voz.
Alguém aproximou uma lanterna que ardia sobre um caixote. Bart Lockwood sentiu um calafrio ao ver-se rodeado por aquela muralha de pernas que se formou à sua volta. Doía-lhe horrivelmente a cabeça, em consequência das pancadas que o tinham deixado sem sentidos, e recordou--se de tudo quanto se passara com a maior clareza. Lou Twerlin!
Ergueu os olhos. Os homens que o cercavam riam-se de satisfação. Deviam achar muita graça ao triste estado em que ele se encontrava. Lou Twerlin ajoelhou-se a seu lado.
— Que supõe o senhor que vamos fazer-lhe, patrão?
A voz do pistoleiro, chocarreira e irónica, eivada de um sarcasmo cruel, soou-lhe aos ouvidos como um sopro gelado e cortante. Twerlin aproximou tanto a sua cara da da sua vítima que os dois hálitos se confundiram.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

BIS163.09 Cilada mortal

Com o sol a bater-lhe nas costas, a pequena carruagem conduzida por Bart Lockwood atravessou o arco de madeira que delimitava a entrada do pequeno rancho e avançou pelo poeirento caminho que, entrecortado aqui e além, por diversas curvas, levava diretamente à casa existente junto do rio.
Lupe apenas uma vez voltara a cabeça desde que, sentado ao lado de Lockwood, tinha saído de Silver City. A medida que a carruagem ia penetrando no rancho, a jovem começara a lançar olhares ansiosos à sua volta. Começara a sentir-se nervosa.
—Tudo isto está muito descuidado, mas é sem dúvida um lugar muito romântico e, sobretudo, muito retirado e muito discreto— disse Lockwood.
A jovem acenou afirmativamente, sem proferir uma única palavra. A voz tinha-lhe desaparecido da garganta. Bart Lockwood apontou com o chicote, a casa que se encontrava um pouco adiante:
— Esta casa foi noutros tempos pertença de uma missão espanhola. Conserva ainda todo o seu pitoresco. Não me surpreende que despertasse o seu interesse —disse o homem.
A carruagem aproximava-se cada vez mais. Desde que transpuseram o arco da entrada, não tinham visto qualquer pessoa; o local parecia ser completamente deserto, apesar de, a uma certa distância, se ouvirem os relinchos dos cavalos e o mugido dos novilhos.

domingo, 21 de outubro de 2018

BIS163.08 Revelação preocupante

Stone Lone, o jovem capataz de «Los Nogales», estava prendendo o seu cavalo à trave do «saloon» de Anita, quando viu alguém aproximar-se. Stone Lone frangiu o sobrolho. Inesperadamente, o «venerável» Lockwood tinha ordenado que tanto ele como os outros homens, permanecessem na cidade.
Como naquele momento não necessitava de escolta, Stone Lone propunha-se divertir-se à grande em companhia das joviais «girls» de Anita, quando, de repente, lhe aparecia pela frente aquele estúpido do Lewt para lhe estragar os seus projetos.
— Vamos a saber: que pretendes daqui? — resmungou.
Lewt passou a mão pelos lábios.
— Bem... vim apenas cumprimentar-te, querido irmão.
— Mau, mau! Safa-te daqui, e depressa.
Lewt esboçou um sorriso alvar. Era um homenzinho ridículo, com a barba por fazer e cheirando a uísque que emprestava.
— Não queres prestar-me alguns momentos de atenção, Stone?
— Nada temos que dizer, Lewt. Nada, compreendes ? — replicou secamente Stone Lone.
O borrachão agarrou-lhe por um braço e insistiu, teimosamente:
—Um momento! Vim aqui...

sábado, 20 de outubro de 2018

BIS163.07 Encontro sob a tormenta

A tormenta que há muito se anunciava, aproximava-se rapidamente. O céu apresentava-se encoberto, pardacento e ameaçador; de quando em quando, o clarão de um relâmpago rasgava as trevas, iluminando o horizonte...
Lupe fustigou a parelha de cavalos que puxavam a carruagem que ela mesma conduzia. Sentia-se possuída de um medo terrível; de um pânico atroz; uma força desconhecida, porém, impelia-a para a frente, no intuito de se desempenhar da tarefa de que Lou Twerlin a incumbira. Mais uma vez ia servir de engodo...
Subitamente, numa curva do caminho, sentiu um sobressalto no coração. Um grupo de cavaleiros, cavalgando em sentido contrário ao seu, cortaram-lhe a marcha. Lupe reconheceu Bart Lackwood.
A avaliar pela descrição que Twerlin lhe fizera, o «venerável» Lockwood não podia ser outro senão aquele cavaleiro de porte altivo e distinto que se avantajava um palmo acima de todos os outros. Era um homem de altura fora do normal, de cabelo grisalho, rosto agradável e com um aspeto de excelente pessoa.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

BIS163.06 Uma jovem como isco

Silver City estava a transformar-se numa cidade das mais importantes e o Silver Hotel, tinha sido construído com a intenção de satisfazer os frequentadores mais exigentes.
No vestíbulo do importante estabelecimento refulgiam os espelhos a condizer com os cadeirões e sofás, forrados de veludo vermelho.
Todos os aposentos se encontravam mobilados com a maior magnificência, dispondo muitos deles de quarto de banho privativos.
Tal, como em qualquer outro estabelecimento de categoria, o Silver Hotel dispunha de um amplo tablado por onde passavam as mais afamadas companhias de bailados e de declamação.
Foi devido a estas especiais circunstâncias que Lou Twerlin traçou o plano em que Lupe se enquadrava admiravelmente. Ataviou a bailarina com os mais luxuosos vestidos que conseguiu encontrar e instalou-a num dos aposentos do hotel, à gerência do qual se ofereceu para realizar algumas exibições do seu reportório.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

BIS163.05 Um vulcão de maldade a rugir nas entranhas

— Concretizando, Lou: tu necessitas de três ou quatro pistoleiros dos mais decididos, para tomarem parte em qualquer coisa que não queres dar-me a conhecer.
— Exato.
A estrondosa gargalhada de Doc Newman, quase fez abalar a sala onde ele e Twerlin se encontravam em redor de uma mesa lautamente servida. O seu olhar irónico e sorridente poisou-se com fixidez no seu amigo.
— Estás a tomar-me por idiota ? Escuta, Lou: eu disponho de uma boa dúzia desses tipos de que tu necessitas. Posso pôr à tua disposição os melhores pistoleiros de toda a região... mas exijo a minha parte no caso que trazes entre mãos. Compreendes?
— Metes-me nojo, Doc...
— A gente precisa de viver, não te parece ?
— Miserável! Estou farto de te dizer que não se trata de qualquer negócio. Não pretendo roubar nenhum Banco, nem coisa que com isso se pareça. O que eu pretendo... Bem, trata-se de um assunto que só a mim diz respeito. Um assunto pouco agradável, cheio de riscos e de outros inconvenientes que eu quero e hei-de vencer por todo o preço.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

BIS163.04 A estranha arte de tudo repartir

Lupe, a graciosa e exótica mexicana, bailava do outro lado da fronteira, aos langorosos e não pouco excitantes compassos da música executada por um par de guitarras, um cornetim e um pandeiro, quando Lou Twerlin chegou a Chiricahua Hills.
Era uma povoação constituída quase só por homens, porque as mulheres não tinham chegado ainda e as poucas que ali existiam eram insignificantes. Apesar disso, podia, afoitamente, afirmar-se que as mais belas raparigas de todo o Sul do Arizona se encontravam em Chiricahua Hills.
O recém-chegado acomodou o seu cavalo na cavalariça que estava situado em frente do «saloon» de Doc Newman, abasteceu a manjedoura sem pedir licença ao homem que dormitava sobre o feno, e encaminhou-se para a taberna. Empurrou os batentes da porta e ficou-se alguns momentos entre os umbrais, observando com olhos perspicazes os homens e as mulheres que enchiam todo o recinto.
A clientela era constituída por pistoleiros e foragidos de mistura com diversas mulheres; a proporção era de quatro homens para cada rapariga...

terça-feira, 16 de outubro de 2018

BIS163.03 A vingança começa

Lou Twerlin abriu os olhos quando a viva luz do sol nascente lhe incidiu em pleno rosto. Ergueu-se rapidamente e empunhou o revólver por mera precaução. Tudo à sua volta se encontrava calmo e tranquilo.
Procurou o seu cavalo com os olhos: estava pastando tranquilamente junto do regato, um pouco mais afastado do que o deixara na véspera. Bocejou. Permaneceu algum tempo sentado sobre a manta, contemplando a paisagem.
Lá ao longe, para além da curva do rio, estava Tombstone. Calçou as botas e aproximou-se da água; lavou a cara e alisou os cabelos com a mão. Respirou satisfeito, ampla, profundamente. Que diferença entre este amanhecer e o outro, aquele amanhecer de Yuma, de algumas semanas antes!...
Calmamente, sem a menor pressa, selou o cavalo e colocou os alforges e a manta nos respetivos lugares. Antes de montar, observou cuidadosamente a configuração do terreno. Não era porque esperasse ter de sair de Tombstone precipitadamente mas, fosse como fosse, nada se perdia em ter perfeito conhecimento do terreno em caso de fuga, se essa ocasião viesse, porventura, a apresentar-se.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

BIS163.02 Matança na prisão

O longo e desconfortável corredor do pavilhão estava completamente deserto. Nada. Ninguém. Silêncio absoluto.
O olhar agudo e frio de Lou Twerlin, esquadrinhou minuciosamente o corredor. As suas pupilas fixaram-se na porta do fundo, a única que se encontrava aberta de entre as muitas que havia nas duas paredes laterais.
Pertenciam todas a outras tantas celas iguais àquele que ele acabava de abandonar: «aquela» era a da repartição dos carcereiros. Com o revólver engatilhado na mão, avançou cautelosamente em direção da porta dos carcereiros.
— Está já pronto o condenado, amigo Bush ?
O guarda de serviço, único ocupante daquela dependência, ficou um instante como que petrificado, quando, ao erguer os olhos, reconheceu o homem que acabava de surgir à porta da casa da guarda, vendo-lhe na mão a arma que lhe apontava. Perplexo, tentou reagir. Empurrou a cadeira para trás, procurando atabalhoadamente lançar mão do revólver.
— Nem um gesto! Quietinho como se encontra e nada se passará, meu amigo...

domingo, 14 de outubro de 2018

BIS163.01 A espera do condenado

O dia avizinhava-se pardacento, trágico, sombrio...
O dealbar apresentava-se escuro e pesado. Soprava um vento áspero e desabrido que levantava montanhas de poeira tão densas e acres como o fumo. Era, na realidade, um amanhecer estranho, diferente; um amanhecer que pressagiava calamidades, desolação e morte.
A Morte!
Lou Twerlin tinha um encontro marcado com aquela frigida e descarnada dama de severos e ebúrneos vestidos a que se dá o nome de MORTE...
Lou Twerlin!
Era um mocetão alto, reforçado, cujo rosto apresentava um tom crestado pelo sol do deserto; os seus olhos grandes e escuros tinham um aspeto de frieza de aço que causava calafrios.
Naquela madrugada, a não surgir qualquer imprevisto, Lou Twerlin ia morrer sem apelo nem agravo...
Frio, sereno, impávido, Lou Twerlin contemplava através do postigo gradeado da sua cela, o cadafalso erguido no centro do amplo pátio da prisão federal. Aquela maldita forca estava ali, na sua frente, como um espectro negro sobressaindo de entre as nuvens de poeira naquele triste e pardacento amanhecer.

sábado, 13 de outubro de 2018

BIS163. Gravata de cânhamo

 
(Coleção Bisonte, nº 163)
 
Um homem condenado à morte envolve-se na ânsia da vingança enquanto espera a execução da sentença de morte. O seu principal alvo seria o patrão que nada tinha feito para o defender. Aproveitando a distração do guarda, consegue evadir-se, semeando a morte entre guardas e outros bandidos.
O seu desejo de vingança parecia não ter satisfação possível e para o concretizar utilizou os encantos de uma bailarina mexicana perante a qual os homens caiam excitados. E a verdade é que também o ex-patrão se deixou enfeitiçar pela jovem.
Nesta novela, o herói é o bandido por quem de quando em quando há um pouco de simpatia. No final, todos morrem... Apesar de tudo, Lou Twerlin não morreu na ponta de uma gravata de cânhamo. Ele morreu da forma mais apreciada por um pistoleiro: de armas na mão.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

BIS162. Morremos todos!

 
(Coleção Bisonte, nº 162)
 
A guerra havia terminado. Centenas de homens, desmobilizados, procuravam uma nova forma de sustento. Dois deles, grandes amigos, decidiram separar-se porque algo os afastava. Um queria enriquecer a qualquer preço, outro aspirava a uma vida calma.
No Este, os fabricantes de armas viam o seu negócio arruinar-se, as ações perderem valor e queriam arranjar novos mercados a qualquer preço. Até que alguém se lembrou: «E se vendêssemos armas aos índios?».
Não foi difícil encontrar mão de obra para tão arriscada missão. E, um dia, os dois amigos encontraram-se em campos antagónicos…
Eis um Fred Hirons em grande estilo a denunciar a necessidade da guerra para o florescimento da indústria de armamento.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

BIS161. A desforra


(Coleção Bisonte, nº 163)

A guerra tinha terminado, mas alguns soldados da Confederação recusaram-se a aceitar a derrota. Sob o comando de um velho, valente e honrado general organizaram-se e procuraram manter o combate pela velha causa. No entanto, muitos dos seus actos descambaram facilmente em banditismo. Ao fim de algum tempo estavam infiltrados de traidores à causa que procuravam benefícios nos golpes que davam. As forças da União também tinham penetrado no seio deles.
É neste ambiente que se integra a personagem central da novela: um homem fiel aos valores do Sul e que encontrou na filha do velho general uma razão para viver. Em determinado dia, o inevitável acontece: os traidores são desmascarados e o velho general acaba por fazer justiça por suas mãos. No entanto, um balázio tornou-lhe irremediável a morte e as suas últimas palavras pediram aos homens para se integrarem na União onde haveria lugar para todos. O mesmo foi prometido por um soldado da União infiltrado.
Trata-se de uma novela muito interessante de Berney W. Byrds, autor com apenas dois registos em Portugal.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CLF017.17 Frente a frente

Joyce agarrou-lhe as mãos, e enquanto o mantinha preso pediu-lhe, angustiada:
—Eddie, não vás.
No rosto de Eddie via-se aquela expressão dura que ela tão bem conhecia.
—Ê inútil. Trata-se dum desafio para nos batermos em duelo e mais tarde ou mais cedo isto tinha que acontecer.
Joyce voltou-se ainda para o sheriff.
—Por favor, impeça que ele vá.
—Sendo um desafio entre dois homens, não posso impedir — disse o aludido, um pouco desconcertado.
A rapariga tornou a suplicar para Eddie.
—Não vás, Eddie.
Nos olhos daquele homem havia agora um olhar muito estranho.
—Será que temes pela vida de Jeff?

terça-feira, 9 de outubro de 2018

CLF017.16 Vitória sobre a morte

Joyce tinha razão.
Pouco depois de terem recomeçado a viagem, no dia seguinte, McCarey caiu do cavalo. Eddie e a rapariga acorreram em seu auxílio. O ferido, cujo rosto estava cada vez mais pálido, encontrava-se quase inconsciente. Quando lhe levaram o cantil aos lábios bebeu com avidez. Depois fechou os olhos e ficou imóvel. Tinha febre e as suas forças atingiram o fim. Examinaram a ferida e viram que esta tinha um aspeto muito mau.
—Está a infetar—afirmou Joyce com evidente temor. —Que havemos de fazer, Eddie?
Na expressão do jovem havia uma resolução inabalável.
—Só nos faltam três dias para chegar a Hondo. Tenho a certeza de que a infeção será imediatamente curada pelo médico, pois só agora se declarou.
—Mas ele não pode montar. Tu mesmo viste.
— Sim. Temos que recorrer a outra solução. Será preciso atá-lo à sela.
Joyce fitou-o horrorizada.
—Mas isso é desumano!

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

CLF017.15 Luta de morte

—Eddie, estão já aqui —murmurou a rapariga.
O jovem que estava examinando a ferida de Mc-Carey afastou-se. Já ao lado da rapariga assomou por cima da parede rochosa. A uns trezentas metros estavam cinco cavaleiros que pareciam estar examinando o solo.
—Sim; creio que são eles—concordou. —Estão procurando a nossa pista.
Os cinco, após um breve e minucioso exame, dirigiram-se diretamente para as formações rochosas.
—Vêm buscar-nos—disse Eddie. —Tu, ocupa-te em continuar ligando a ferida de teu pai. Sobretudo, não se movam daqui.
Tocou no revólver qua a rapariga trazia na sua cartucheira e sublinhou:
—Se for necessário, não hesites em atirar.
Um pouco pálida, agarrou-o por um braço.
— E tu, que vais fazer?
—Vou tentar impedir que cheguem até aqui.
A rapariga rodeou-lhe o pescoço com os braços e beijou-o longamente, apaixonada loucamente por aquele homem; os seus lábios pareciam não querer abandonar aquele contacto—tão íntimo—com os de Parker.
—Eddie; haja o que houver, não esqueças que te amo muito.
Ele sorriu e acariciou-lhe os cabelos.
—Não fiques preocupada. Não tardará que esteja junto de vós.

domingo, 7 de outubro de 2018

CLF017.14 Perseguição

Eddie entregou as últimas fatias de presunto a Joyce e seu pai.
—São as últimas.
McCarey e sua filha trocaram um olhar, preocupados.
— Ainda faltam muitos dias para chegar a Hondo — murmurou a rapariga. — Como vamos comer?
O jovem dirigiu um olhar pela paisagem desértica que os rodeava a perder de vista.
—Não sei. Espero encontrar qualquer solução, mas se esta não surgir...
—Teremos que sacrificar um dos cavalos —disse McCarey adivinhando os seus pensamentos.
—Talvez não seja necessário—murmurou Eddie.
Joyce ofereceu-lhe uma fatia.
—E tu? Não queres comer?
—Não tenho- apetite, obrigado—respondeu ele. —Dá a teu pai. Enquanto comem vou ver se há qualquer vestígio dos nossos adversários.
Deixou a jovem e o ferido sentados junto duns arbustos e dirigiu-se ao cume duma colina rochosa. Passaram-se já vários dias de viagem pelo deserto e o jovem começava a temer que a sua aventura tivesse um mau final.

sábado, 6 de outubro de 2018

CLF017.13 Fuga

Amanhecera há pouco. Sob a claridade pálida, Eddie observou a ferida de McCarey, que estava sentado no solo. Junto dele Joyce parecia fazer esforços para conter a impaciência. O jovem tinha tirado as ligaduras improvisadas, cheias de sangue, com que tinha contido a hemorragia, enquanto fugiam. Mas teve que o fazer na obscuridade, pois não podiam correr o risco de serem novamente capturados.
Uma vez terminado o improvisado tratamento, tinham recomeçado a fuga. Só agora, a várias milhas de distância do rancho de Winters e com claridade suficiente se tinham detido para examinar o ferido e tomar uma decisão.
—A bala não ficou aqui dentro—murmurou Parker—. E uma sorte. Traz-me um pouco de água, Joyce.
A rapariga passou-lhe o cantil. Eddie lavou cuidadosamente os dois orifícios, o da entrada e saída.
—O projétil entrou pela parte de trás do ombro e saiu pela frente—explicou. —Espero que isto signifique que não tenha afetado qualquer osso. Dói-lhe?
McCarey fez um gesto.
—Um pouco, mas não se preocupe. Para a frente é que é o caminho.
— Parece-te grave? — perguntou Joyce.
—Não, se um médico o pudesse observar devidamente.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

CLF017.12 Tiros na moita

Eddie examinou rapidamente o edifício. Todas as janelas e portas pareciam estar bem, fechadas. Então os seus olhos descobriram um terraço no andar superior. Estudou cautelosamente a parede e viu que esta oferecia algumas saliências que podiam servir de apoio.
— És capaz de trepar por esta parede? — perguntou num sussurro, dirigindo-se à rapariga.
Ela assentiu. Eddie agarrou-se com as duas mãos às saliências e começou a perigosa escalada. Tinha que ascender lentamente pelo apoio que era necessário procurar para os pés. Além disso não podia correr o risco de cair ou resvalar. Assim foi subindo valendo-se do parapeito duma janela do andar térreo, dos intervalos dos troncos que formavam a fachada e dos suportes do alpendre. Por fim, as suas mãos agarraram a balaustrada e, mediante -um poderoso impulso — mercê da contração dos músculos —, içou-se até ao terraço. Olhou então para baixo e viu que Joyce subia pelo mesmo sítio que ele.
A rapariga, acostumada a uma vida ao ar livre, estava demonstrando possuir boa musculatura e adequado domínio de si mesma. Abrindo a mão ajudou-a a alcançar o terraço.
—Por onde vamos entrar? —perguntou ela em surdina.
—Não há nenhuma casa que esteja hermeticamente fechada numa noite quente como esta—respondeu ele em igual tom.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

CLF017.11 Uma pista importante

Quando regressou, meia hora depois, Eddie encontrou a rapariga um pouco mais calma. Mantinha-se pálida e desgostosa, mas parecia ter superado a impressão dos primeiros momentos, e logo acercando-se, rodeou-lhe os ombros com o braço.
—Não te deves sentir culpada, querida. Jeff mais tarde ou mais cedo teria feito o mesmo. É um assassino, e qualquer desculpa lhe serve para matar.
Joyce passou a mão pelos olhos.
—Nunca esquecerei que Mamie morreu para me salvar.
—No fundo era boa—murmurou Eddie. —Mas se te facilitou a fuga também foi em seu próprio benefício. Receava que lhe roubasses o amor de Jeff não se apercebendo que este nunca amou a ninguém. De qualquer maneira, dou-te a minha palavra de que a morte de Mamie não ficará sem castigo.
A rapariga deitou a cabeça no ombro do jovem.
—Que vamos fazer agora, Eddie?
Ele agarrou a sua mão e obrigou-a a pôr-se de pé.
—Vem.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

CLF017.10 A vingança de Jeff

Jeff contemplou o cadáver de Gus que jazia imóvel no meio da cabana. Depois voltou-se para Cherokee que permanecia silencioso atrás dele.
— Temos que encontrar Joe e Clark.
O outro assentiu e saíram juntos para o exterior onde tinham deixado os cavalos. O mestiço, curvado para diante, procurou observar em redor procurando uma pista. Jeff, encostado contra a parede da cabana, fumava pensativo um cigarro.
—Está aqui o rasto—disse Cherokee apontando para o chão.
—Bom, vamos segui-lo.
Os dois homens montaram a cavalo e seguiram as marcas que o mestiço ia descobrindo sobre a terra ressequida e farta em pedra. Chegaram ao Desfiladeiro do Enforcado e pouco tardaram em descobrir os cadáveres de Joe e Clark no meio das moitas.
—Pelos vistos tentaram cumprir as minhas ordens, mas Eddie foi mais esperto do que eles—murmurou Winters.
— Esse Parker deve ser um tipo perigoso — mastigou entre dentes Cherokee.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

CLF017.09 A história de McCarey

— Meu pai e eu temos um rancho situado a trezentas milhas de Hondo. E uma propriedade muito pequena que nós dois explorávamos com a ajuda de três vaqueiros. Mas a terra é muito rica e os pastos bons, de maneira que nos dava muito lucro: Meu pai tinha dito que dentro de poucos anos poderíamos comprar muitas mais terras e passaríamos a ser proprietários de categoria. Para tanto ele guardava o dinheiro que ganhávamos. Ele tinha calculado — prosseguiu Joyce, vendo-se quanto lhe custava recordar estes dias tão felizes —que para pôr em prática o seu grandioso plano eram necessários uns trinta mil dólares. Trabalhámos afincadamente para reunir tal soma, Eddie, e tivemos que nos sujeitar a muitas privações. Mas conseguimos juntar e ter no cofre mais de vinte mil dólares, e o pai coloria as futuras alegrias que nos esperavam tão magnificamente quanto imaginava como seria o nosso futuro e majestoso rancho de várias milhas de extensão, com cerca de dez mil cabeças de gado, de princípio, para depois atingirmos a cifra dos muitos milhares, que tudo aceitávamos de bom agrado.
Joyce fez uma pequena pausa e prosseguiu:

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

CLF017.08 Vim para te levar

Deu a volta à fechadura com extremo cuidado. Apenas se ouviu um ligeiro clic. Graças ao que Mamie indicara, foi fácil dar com o quarto. Empurrou suavemente a porta e entrou fechando-a rapidamente nas suas costas.
Joyce, que estava sentada num sofá, levantou-se aterrada ao advertir que alguém entrava. Eddie pôde ver à luz do candeeiro que estava sobre a mesa de cabeceira a tremenda, angústia do seu rosto. Mas aquela angústia transformou-se em esperança, em alegria, numa profunda emoção ao reconhecer quem tinha entrado.
—Eddie— soluçou, chamando-o pela primeira vez o seu nome.
Correu ao encontro dele, buscando refúgio entre os seus braços poderosos. Apertada contra si, não deixava de murmurar com VOZ entrecortada pelos soluços:
—Eddie, Eddie...
O jovem não pôde evitar uma estranha sensação ao advertir a profunda diferença que se tinha operado na rapariga. Estava acostumado ao seu carácter enérgico, teimoso, decidido, e vê-la assim vencida, fraca, buscando instintivamente uma proteção, produziu-lhe um efeito perturbador. Com certa falha de jeito, passou-lhe a mão pelos cabelos.
—Vim para te levar.
Ela fitou-o com os seus belos olhos cor violeta, agora humedecidos pelas lágrimas.
—Eddie, és realmente tu? —disse agarrando-o ainda mais. Como é possível se aqueles homens te levaram para...? Oh, foi horrível! Quando se fez noite, passei os piores momentos da minha vida pensando que nunca mais te voltaria a ver, que estavas morto... Tu não sabes a tortura que é imaginar uma cena assim! Winters veio ver-me e disse que os seus homens tinham acabado contigo. Eu...