sexta-feira, 13 de setembro de 2013

PAS077. Sombras de esperança na noite

Era um movimento quase impercetível, um ponto que se arrastava em direção à sentinela, a despertá-lo da apatia em que se descaíra. Era um sonho ou na realidade alguém avançava cauteloso, aproximando-se cada vez mais do confiante pele-vermelha? Como havia outro índio atrás de si, suavemente, para não chamar a atenção com um gesto brusco, voltou a cabeça para o ver, mas ficou mudo de pasmo. Nesse instante, um rápido lampejou desceu sobre o índio que, sem um lamento, sem perturbar de modo algum o profundo silêncio da noite, se foi inclinando lentamente até ficar estendido no chão, enquanto outro vulto se erguia no seu lugar. Era um sonho? Voltou de novo a cara para a frente. A sombra que primeiro lhe chamara a atenção ia-se aproximando, devagar, muito devagar, avançando lenta, a pouco e pouco, mas tão inexorável como a própria morte. O mais pequeno ruído, inclusivamente um sopro de respiração agitada, seria o bastante para despertar a desconfiança do guerreiro. Parou quase a tocar-lhe. Como era possível que não pressentisse a iminência do perigo?
De novo um rápido lampejo. Não se ouviu nada mas a sentinela desaparecera do seu posto. A sombra continuava a aproximar-se e passava agora junto de uma das fogueiras mortiças… Era um homem branco!
Quando Vivian viu que o seu salvador, apesar dos tremendos esforços, não podia desenvencilhar-se do inimigo, sentiu o desespero apoderar-se dela. Procurou, com olhos esgazeados, uma arma ou qualquer outro objeto com que pudesse intervir, decidindo a contenda a seu favor
Reparou na faca que o caçador atirara e, com uma exclamação de júbilo, correu para ela. Apanhou-a do chão e brandiu-a corajosamente. Mas, quando se ergue, viu angustiada que Alan caíra de costas e o renegado, imobilizando-o com o seu peso, apertava-lhe a garganta.
Receando chegar demasiado tarde, atravessou quase num salto o curto espaço que a separava dos contendores e, levantando o braço num gesto resoluto, dispôs-se a mergulhar a arma nas costas do renegado.
(Coleção Búfalo, nº 27)
 
 
A seguir: O fim co cativeiro

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