quinta-feira, 12 de setembro de 2013

PAS073. Vivian corre perigo de morte

Naquela manhã, Vivian estava encantadora com o ar desportivo e juvenil que lhe dava o traje de amazona. Os olhos pareciam mais rasgados e claros que nuca e o cabelo, recentemente penteado, com matizes de cobre e ouro, caia como aúrea cascata sobre os ombros, em redondos anéis. Suspenso do pulso levava um pequeno chicote e, com ambas as mãos, segurava as rédeas de um formoso corcel, negro de azeviche, uma bela estampa que, à simples vista, denotava ser animal de puro sangue.
A rapariga montou com agilidade e dirigiu-se para o sítio onde estavam a construir a cabana. Observava tudo com interesse, quando inesperadamente se desprendeu uma pesada viga que por momentos pareceu ir atingi-la. Por felicidade não aconteceu assim, mas caiu tão perto que roçou nas patas do cavalo. O animal, espantado, saltou e esteve quase a derrubar a amazona.
O barulho surdo de um corpo pesado a cair e um grito seguido de estranha algazarra chamaram a atenção de Alan que, ainda com o machado no ar, levantou a cabeça para saber o que sucedia. Então viu a mole negra de um cavalo desenfreado prestes a desabar-lhe em cima.
Forte e vigoroso, o aspeto do animal era horrível. O peito dilatado pela corrida louca, a boca meio aberta e cheia de espuma, os dentes À mostra, parecendo resolvidos a morderem-no, formavam um conjunto aterrador.
O primeiro impulso de Alan foi atirar-se de cabeça fugindo rapidamente do caminho trilhado pelo animal, mas deteve-o no último instante a visão fugaz de uma carinha desfigurada pelo pavor e o débil vulto da amazona que, com a força do desespero, se aferrava Às crinas do corcel, tão desnorteada e sem domínio dos nervos que tinha largado as rédeas; já nem sequer tentava pará-lo e o galope cego arrastava-os rapidamente para a selva, onde esmagariam de encontro Às arvores que de maneira nenhuma podiam evitar. Foi a certeza deste facto que impediu o seu primeiro e instintivo movimento.
Nesses poucos segundos, apenas o tempo de lançar uma vista de olhos para avaliar a situação, o animal, ganhando terreno com fantástica velocidade, atirava-se irresistìvelmente para cima dele. Um grito de horror saiu da garganta dos espetadores daquela tremenda cena, tanto mais que a ninguém era possível intervir.
Imobilizado pela expressão de medo que se lia nos olhos da amazona, convenceu-se de que tinha de fazer qualquer coisa, fosse o que fosse, para a salvar, mas a extraordinária rapidez do desenfreado animal impediu de pensar na melhor maneira de o deter.  Só por instinto, afastou levemente o corpo na altura própria, deixando passar a cabeça do cavalo e, com vigoroso impulso, saltou-lhe para o pescoço, de onde, pela violência do choque, se viu repelido. Concentrando toda a sua força nos braços para manter a posição, consegui afinal agarrar-se com firmeza e, então, sustendo o peso do corpo com o braço esquerdo, avançou a mão direita para agarrar as rédeas pendentes.
Chegou a julgar que ia cair pois o suor que empapava o corpo do animal fazia resvalar o braço em que se apoiava; ao dar por isso, apertou com novas energias as crinas do cavalo e, já com as rédeas bem presas, obrigou-o, violentamente, a baixar a cabeça. Agarrando-se como podia, Às rédeas e ao pescoço, foi estendendo as pernas que mantivera encolhidas, inclinou-se para a frente e deixou cair os pés, a tocarem o solo, fincando os saltos dos sapatos para se firmar no terreno, e largou-se puxando as rédeas com ambas as mãos.
Fizera tudo aquilo com a maior rapidez mas, apesar disso, já estavam a poucos metros do bosque, que parecia aproximar-se vertiginosamente, sombrio, ameaçador…
Os músculos em completa tensão afiguravam-se incapazes de resistir ao esforço, o terreno cedia debaixo dos pés, deixando um sulco a rasgar a erva, mas, quando a catástrofe parecia iminente, o animal rendeu-se, ofegante e trémulo. Um suspiro de alívio saiu do peito angustiado do jovem ao perceber que os seus esforços tinam sido coroados do êxito mais rotundo. O cavalo ainda tentou encabritar-se mas a forte pressão que sobre ele exercia Alan dominou-o por completo.
(Coleção Búfalo, nº 27)
 
 
A seguir: Olhos de gratidão
 

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