sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PAS063. Flores que abrem e embriagam

Quando o Sol se escondeu atrás do horizonte, as estrelas começaram a pestanejar no céu. A lua ficou só no azul celeste ornado de estrelas. Passaram sobre um outeiro. Aqui e além, os «saguaros» abriam os seus braços como enormes e grotescos seres humanos.
- Olhe, Yates! – exclamou a rapariga. – As flores começam a abrir.
Assim era, com efeito. Como se obedecessem a uma misteriosa ordem, os «saguaros» abriam as suas lindas flores brancas. O silêncio do deserto parecia invadido por  um crepitar ténue, produzido por milhares de flores que se abriam sem interrupção. Sob a difusa claridade da Lua, o bosque de «saguaros» parecia cobrir-se com rapidez de grandes e aromáticos flocos de neve. A brisa vinha impregnada de um perfume embriagador que, por vezes, se tornava mais denso e sufocante.
- Oh! Kenesaw! – exclamou a rapariga, voltando-se sobre a sela. – Que maravilhoso espetáculo.
O mestiço não respondeu. Os seus olhos luziam como duas brasas, perturbando Stella. Esta afastou os seus e deixou-os vaguear sobre o deserto que conytinuava a cobrir-se de um manto de lindas e níveas flores. O perfume era cada vez mais forte. Uma doce embriaguez invadia a rapariga, provocando-lhe um torpor voluptuoso.
- Ai, Kenesaw! – disse ela, a rir. – Tenho a impressão que me estou a embriagar. Não haverá perigo de morrermos asfixiados?
- Não. Já peresenciei muitas vezes o florescimento dos «saguaros» e nunca ouvi dizer que alguém morresse asfixiado.
-Vou desmontar.
Kenesaw saltou agilmente para terra e ergueu os seus braços para a judar a desmontar. As mãos grandes e ásperas fecharam-se sobre a graciosa cintura da rapariga e, através das roupas, Kenesaw percebeu um estremecimento nervoso do corpo da jovem.
Esta deixou-se resvalar na sela de tal maneira que quase ia caindo em cima do mestiço.
Ficaram de pé, muito juntos, enquanto as mãos dele abarcavam a esbelta cintura e as dela repousavam como pombas nos largos ombros do rapaz. Stella ergueu o rosto e suspirou sobre as faces de Kenesaw. Este sentiu-se dominado por uma espécie de loucura. O enervante perfume das flores, a Lua, o deserto e aquela boca vermelha entreaberta e dirigida para ele confundia-se numa ansiedade por beijar aqueles lábios e apertar entre os seus braços o frágil corpo, que tremia junto de si.
Subitamente, como que possuído de uma audácia de que mais tarde se admiraria, inclinou-se sobre os lábios vermelhos e surgiu um beijo prolongado e amoroso. Os seus braços cercaram o esbelto corpo apertando-o com força para si… Inesperadamente, os braços da rapariga fecharam-se em redor do pescoço de Kenesaw. A boca de Stella correspondeu ao beijo do mestiço, fazendo-o estremecer dos pés À cabeça. Depois esquivou-se, para se esconder atrás do ombro do rapaz.
- Kenesaw! Oh! Kenesaw! – gemeu a voz sufocada e desfalecida.


A seguir: Coleção Búfalo, nº 22

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