quinta-feira, 19 de abril de 2018

CLF043.07 Matança no «saloon» rival

Com um esforço reprimiu-se, mas dirigiu-se a ela, cheio de fúria:
—Maldita sejas, Aurora San Roman! Que queres? Porque a mim não me podes enganar. Sei o que se esconde por debaixo de tudo isto.
Aurora sorria, sem mostrar o menor assomo de temor no seu lindo semblante. Jimmy levantou uma mão, parecendo ir descarregá-la sobre o rosto de Aurora, mas desistiu, lançando uma maldição.
Depois deu uma patada no solo e saiu para a rua.
Aurora ficou ali, olhando-o, com um mundo nos seus olhos. Porquê, se aquilo era verdade?... Ela estava disposta a casar-se imediatamente sem dizer nada.
Depois, se as coisas se voltassem contra ele, odiá-la-ia, chamando-lhe oportunista. E ao chegar aqui, Aurora encolheu os ombros, pensando que só o presente lhe interessava... O passado estava para trás e o futuro era algo que de momento não merecia a pena pensar nele.
Aurora voltou-se para o balcão, olhando para o não menos atónito «barman», que não perdera um só detalhe da cena.
— Onde diabo estão Kirby e Davison?
— Lá em cima, patroa. Ainda dormem, se não me engano.
— Pois que se levantem em seguida, Pete. Mas antes, vai à cavalariça e prepara o meu cavalo. Rápido!
-- Sim... sim... patroa.
Aurora sorriu como em sonhos. Sentia uns desejos loucos de cavalgar pela pradaria, sem que ninguém a incomodasse. Pensar no caso estranho que tudo isto era e, também, no não menos estranho impulso que a levara a escrever a carta àquele homem. O «barman» voltou a aparecer.
— Deixei o cavalo à porta, patroa. Que digo aos rapazes?
—Que desçam imediatamente. Esse diabo do Jimmy saiu para a rua. E ainda que eu nada espere antes da noite, é conveniente que não o percam de vista. Diz-lhes que pagarei mil dólares a cada um por cada vez que o livrarem de uma embrulhada.
E sem dizer mais nada, Aurora saiu para a rua.
Montou e partiu como uma flecha, para os arredores.
Entretanto, Jimmy chegou ao centro da cidade, andando rapidamente. Compreendendo-o, abrandou a marcha. Cruzaram-se com ele vários homens e mulheres e Jimmy pôde notar os olhares maliciosos que lhe dirigiam.
Imediatamente soube do que se tratava. Aurora San Roman era um bom pedaço que ninguém desejaria perder. Ele tivera a sorte de a ganhar, mal chegou, graças ao seu enérgico poder, para com uma mulher que era considerada indomável.
Conseguira domá-la com uma soberba tareia e já todos o sabiam em Dumas. Também Lon Lorrigan o saberia? Indubitavelmente, sim, como também da morte dos seus dois homens.
E sem querer preocupar-se por Lon não ter dado ainda sinais de vida, Jimmy subiu para o alpendre. Continuou rua abaixo, em direção ao «saloon» de Lon Lorrigan.
Jimmy enrolou um cigarro e deteve-se para o acender precisamente em frente do «saloon». Olhou de soslaio pelos batentes.
E, sem se preocupar com quem poderia estar lá dentro, empurrou-os e entrou no local.
Quatro homens estavam sentados ao fundo, em redor de uma mesa.
Quatro tipos que esperavam ordens de Lorrigan, que os chamara na noite anterior, e que, a julgar pelo pó que tinham em cima, galoparam parte da noite.
Jimmy, sem o aparentar, viu-os passar e calculou que apenas estavam há uma hora em Dumas, e sobretudo que o olhavam fixamente, abrindo a boca.
Já no balcão, o jovem tentou pensar onde os tinha visto, sem conseguir precisá-lo. Jimmy olhou para o tipo calvo que estava por detrás do balcão.
— Lorrigan está lá em cima?
Viu o receio nos olhos do homem, e pelo espelho observou que os outros quatro o olhavam apreensivos. Jimmy repetiu a pergunta e o barman negou. O jovem riu, e o seu riso não foi nada agradável.
— Estás a mentir e isso não me agrada — disse. — Sei que está há um bocado no seu escritório.
O barman olhou para a mesa. O quarteto estava de pé. Jimmy não se moveu. Aparentemente estava tranquilo, mas os seus olhos estavam frios como a morte. 'O barman não os via, mas pareciam despedir algo maligno e mortal.
Jimmy não fez mais perguntas. Estava a estudar os quatro. Além do tipo grande, os outros três eram vulgares pistoleiros a soldo. De onde os teria tirado Lon Lorrigan? Melhor dizendo, de onde viriam?
Ele estava seguro de que eles pertenciam, há longa data, à equipa do vantagista. E precisamente ao acabar de formular aqueles pensamentos, os quatro puseram-se em movimento.
O do meio, Kit Morgan, baixo e redondo, moveu-se para um lado, enquanto que o tipo com aspeto de gorila levava as mãos às armas.
O terceiro, muito jovem, era Owen Sinclair, de estatura normal.
O último, Rick Duncan, estava prestes a sacar.
Jimmy permaneceu impassível. O barman afastava-se para um lado do balcão. Por instantes esteve tentado a ordenar-lhe que não se mexesse.
— Outro sarilho dos teus, Jimmy?
O jovem voltou-se lentamente, cravando os olhos como punhais no rosto do pistoleiro gigante. Então, reconheceu-o.
— Pelos vistos fazem-te mal os ares do Arizona, não, Black?
E Black Galento soltou uma risada que não teve nada de agradável. Sacudiu um pouco a cabeça, replicando:
— Não creio que te importe muito, Jimmy. Ou sim?
— Tanto ou mais do que a ti te importa o que eu faço neste momento aqui.
Galento ficou pensativo por uns momentos. Os quatro homens tinham-se imobilizado, escutando atentamente o que diziam. Finalmente, o pistoleiro do Arizona replicou:
— Perguntaste por Lon Lorrigan, não foi, Jimmy?
— Sim. Vês algo de mal nisso.
— Não se trata só disso, mas...
— Basta de ameaças, que não me agradam, Galento! —interrompeu o jovem, secamente — . Vou falar com ele... agrade-te ou não! Desde quando te dedicas a fazer de cão de guarda dos ladrões? Antes não o fazias, pois o teu forte era o gado dos outros.
Black Galento empalideceu ante a aberta acusação e as suas mãos aproximaram-se ainda mais das armas. Jimmy sorriu de maneira estranha.
— És um cão, Jimmy.
E Jimmy sorriu ainda mais.
— Mas não sou um ladrão, Galento. Nem um homem que aluga o seu gatilho ao melhor pagador.
Agora foi Galento a rir:
— Pois que me dizes de ti? Ou acaso não sabes nada referente a uma cantora dona de um «saloon», chamada Aurora San Roman?
Jimmy ficou a saber que Galento já tinha falado com Lon Lorrigan.
— Vou casar-me com ela. Bem, onde está Lorrigan?
Sinclair riu-se, mas Jimmy nem se dignou olhar para ele.
— Ouviste isso, Black? -- perguntou Sinclair, depois de rir — . O cão parece ter pressa. Atamos-lhe os pés?
Galento tampouco se voltou para olhar o companheiro.
— Ainda não, Sinclair. — E voltando a falar para Jimmy: — Este é o preço da ajuda que dás à dama? Caramba, Jimmy! Nunca julguei que uma mulher como ela se vendesse tão cara!
E Jimmy não replicou, pelo menos com palavras. Estava muito perto de Galento e saltou para ele. O ladrão tentou sacar, mas foi demasiado lento ante a rapidez do jovem.
Mal os «Colt» saíram dos coldres, Galento sofreu um bestial impacto a meio da cara, que o lançou para um canto. Quando o seu corpo tocou o solo, já estava inconsciente, e Jimmy voltou-se como uma víbora para os outros, que sacavam naquele momento.
E desta vez Jimmy nao saltou. Levou simplesmente as mãos as armas, no instante preciso em que a bala de Sinclair lhe roçava a cabeça.
E ao apertar o gatilho, Jimmy compreendeu que a sua vida perigava naquele momento.
Sinclair dobrou-se ao meio e caiu de cabeça no chão. Morgan e Duncan pararam quando já tinham as armas empunhadas, ao verem Jimmy, de pernas abertas, levemente inclinado para a frente, com um «Colt>> em cada mão.
— Quietos!
Mas a advertência nao foi necessária, porque eles já tinham levantado as armas.
— Larguem as armas, rapazes. Mas com cuidado... a vossos pés. Depois deem uma patadinha e atirem-nos para ca.
Duncan e Morgan olharam-se e acabaram por obedecer. Muito lentamente foram largando as armas e deixaram-nas cair no chão. Depois, com o pé, empurraram-nas para Jimmy, que sorriu divertido.
— Isso e melhor. E agora, onde se meteu Lorrigan?
O barman estava pálido, por detrás do balcão, tremendo. Sem ousar mover-se nem sequer replicar, temendo ver aparecer de um momento para o outro o patrão. Lorrigan estava no andar superior, e ouvira o disparo. O pior a que o diabo do forasteiro enquanto apontava aos dois pistoleiros, nao afastava o olhar da escada.
E tudo sucedeu como o barman pensara.
Lorrigan, ouvindo o disparo, saiu do escritório, levando já as armas nas mãos. Em quatro passadas atravessou o corredor e deteve-se no alto da escada. Olhou para baixo. Compreendeu que já nada podia fazer. Jimmy apontava-lhe já uma das armas. Lentamente, Lorrigan guardou as armas. No entanto a cena não mudou. Jimmy nao parecia olhar para ninguém, e no entanto tinha todos sob as suas armas. Nenhum dos presentes se via. Foi Lorrigan quem falou, rompendo a tensão que se apoderara de todos:
— Que faz no meu «saloon», «Procura Sarilhos Jimmy»?
O barman empalideceu ainda mais, ao ouvir aquele nome que era uma legenda. Os rostos de Morgan e Duncan também se alteraram. Nada menos do que «Procura Sarilhos» Jimmy! Agora explicavam o ocorrido! E isto pensaram-no os dois, enquanto Jimmy respondia.
— O mesmo que os teus homens no «saloon, de Aurora San Roman. Isto, alem de que quero falar contigo.
Lorrigan franziu o cenho, ante o tratamento por «tu» que Jimmy lhe infligia.
— Que queres dizer-me?
— Algumas coisas muito graves, Lorrigan. A primeira que não me agrada a sua cara nem os seus métodos.
Lorrigan enrugou ainda mais o cenho. A sua voz soou suave, depois de vários segundos de silencio.
— Por que nao sobe ao meu escritório e falamos calmamente?
O jovem ficou sem saber o que fazer, mas a expressão dos rostos de Duncan e Morgan decidiu-o imediatamente. Lia neles troça. Julgavam que ele tinha medo.
—É o que vou fazer, Lorrigan.
E Jimmy guardou as armas, baixou-se para apanhar as dos foragidos e fê-lo muito rapidamente, pois quando eles se langaram cegamente sobre ele, já lhes apontava com as armas deles próprios.
— Se nao estão quietos meto-lhes uma bala de chumbo na cabeça.
E lançando-lhes um olhar de desprezo, subiu as escadas, lentamente. Morgan e Duncan viram-no subir e olharam-se furiosos, porque se aquele olhar tinha sido de troça, muito mais expressiva era a atitude de Jimmy ao subir a escada, dando-lhe despreocupadamente as costas.
— Pagara isto, Jimmy — ameaçou Morgan.
O aludido sorriu de maneira estranha. Sem replicar foi ate ao balcão e Morgan seguiu-se imediatamente. Ambos pediram de beber, sem se preocuparem com o inconsciente Black Galento, nem com o cadáver de Sinclair, que de boca para baixo. estava mergulhado no próprio sangue.

Sem comentários:

Enviar um comentário