As portas do «Texas Saloon» abriram-se violentamente sob o impulso de um homem que saiu por elas como um furacão. Cambaleou sob o alpendre e acabou por rodar no pó da rua, completamente inconsciente.
Quase no mesmo instante ouviram-se três disparos, e saiu outro homem, mas de maneira diferente, andando para trás. com as armas nas mãos, e com o peito cheio de sangue. Caminhou assim até que o alpendre se acabou. Então caiu na rua, por cima do companheiro; mas este último estava morto... com duas balas no meio do coração.
E não acabou aqui o assunto para os curiosos que imediatamente se detiveram na rua e olharam para o «saloon», já que um terceiro indivíduo saiu também de lá, mas desta vez pela janela, como um estranho bólide. Caiu precisamente a meio da rua, onde ficou imóvel, morto. Os curiosos formaram um círculo junto a ele.
— Aposto um «whisky» em como isto é obra de «Procura Sarilhos» Jimmy.
A voz partiu de um dos desocupados vaqueiros que vagueavam pela rua. E teve pronta réplica.
— Ganharias, Mike. Jim é o único capaz de uma coisa destas.
— Com certeza — disse outro, — mas também qualquer dia acabará mal. O xerife McParson já lho disse várias vezes. — E ele respondeu-lhe: «Vá para o diabo!».
A rua ficou silenciosa. Aquelas palavras finais pareciam mágicas, pois o xerife fez a sua aparição naquele momento, vindo de uma das ruas laterais. A sua figura alta e atlética, com traje de vaqueiro, com a estrela presa na camisa, inclinou-se um pouco junto ao corpo do homem que saíra pela janela.
— Richard Deene — balbuciou.
E imediatamente ergueu-se e olhou para o «saloon». Não perguntou nada aos curiosos nem estes lhe disseram nada. Tampouco olhou para os outros dois homens caídos, um dos quais estava vivo e começava a vir a si. Dirigiu-se em rápidas e largas passadas para o «saloon». Empurrou os batentes e observou o homem que, virado para a porta, com um «Colt» na mão, se encostava ao balcão, enquanto o resto da sua camisa, à altura do ombro, se ia empapando rapidamente em sangue.
McParson olhou em redor sem dizer palavra. O interior do local parecia ter sido devastado por um furacão. Mesas e cadeiras jaziam pelo chão, em confusa mistura com copos e garrafas partidas.
Havia um homem caído de bruços junto ao balcão, com os olhos vidrados virados para o teto. Atrás dele, a figura sombria do dono do estabelecimento, adoentado, e com uma estranha careta de falcão.
Mais além, junto ao primeiro degrau da escada situada ao fundo, outro homem derrubado, de boca para baixo, completamente rebentado, em virtude do impacto que tivera contra a parede de troncos de madeira, quando «Procura Sarilhos» Jimmy o lançou contra ela.
McParson não quis ver mais. Aproximou-se do jovem e estudou-o como já o fizera mil vezes. Jimmy era bastante jovem e a sua idade rondava os vinte e oito anos. Enormemente alto, amplo e maciço como um toiro, o peito da cor do cobre, as suas mãos pareciam remos e a ampla fronte denotava uma inteligência privilegiada. O nariz era recto, o queixo duro e agressivo, a boca bastante grande e era, normalmente, pessoa de grande humor.
Vestia como um vulgar vaqueiro. Os «Colt» eram do maior calibre e num dado momento convertiam-se em súbitos e mortais relâmpagos, como acabara de demonstrar em poucos segundos.
McParson sabia que ele era um «pistoleiro» das imensas rotas do Oeste. Conhecia-o desde muito antes de fazer a sua aparição em Trinidad, Estado do Colorado, a poucas milhas da fronteira com o Novo México.
A sua história, pelo menos a que corria de boca em boca, dizia que ele, durante a Guerra da Secessão, lutara com os do Norte e dali o nome que tinha, sem que ninguém até ao momento soubesse mais acerca dele. Ninguém sabia donde vinha nem para onde ia.
McParson sabia que certa noite, e talvez por algo lhe terem feito os seus superiores, desertou e passou-se para os Confederados, onde lutou até acabar a contenda. Isto era uma suposição, pois muito antes, o nome de «Procura Sarilhos» Jimmy se perdera por completo, até que, quando já ninguém se recordava dele, o seu nome apareceu misturado com um estrondo terrível que quase arrasou Riverville, no Texas.
Depois, durante meses, ouviu-se o seu nome relacionado com o desaparecimento em duelo, dos melhores «pistoleiros» da estrada.
O seu nome era já uma legenda, de Norte a Sul dos Estados Unidos. E agora tinha-o em frente, de «Colt» na mão e o sangue a sair do peito e do braço esquerdo. Tudo isto pensou o xerife em menos de um segundo, enquanto se aproximava dele. Jimmy abanou a cabeça e sorriu, ou pelo menos tentou.
— Olá! — disse. — Que lhe parece isto? Aposto a minha pele contra um dólar em como nunca viu nada parecido.
McParson sabia que era verdade, mas não lhe deu razão. Decidido a cumprir a sua missão, estava ao mesmo tempo um pouco temeroso ante aquele fantástico titã das pradarias, e replicou:
— Terá que acompanhar-me, Jimmy.
«Procura Sarilhos» riu de maneira estranha.
— Anda à procura de curandeiros, xerife? — perguntou. -- Advirto-o de que não fui eu quem procurou este sarilho.
Mas McParson sabia que o culpado era ele, Jimmy, embora não o tivesse sido naquele momento preciso. Um dos homens que jaziam na rua, o único que não morrera, tinha uma preciosa morena por irmã, e Jimmy não a deixava desde o dia em que chegou.
E o caso pior não era esse, mas sim o do morto que estava caído junto da escada, que era noivo de Dora Parris. Ao pensar em tudo isso, McParson compreendeu o que se tinha passado: uma emboscada contra Jimmy. O irmão e o noivo da rapariga, vendo-se incapazes de o liquidarem sozinhos, tinham contratado mais dois homens, a fim de os quatro o matarem ou simplesmente expulsá-lo da cidade.
Convencido da sua interpretação dos factos, McParson replicou:
— Para o cárcere...
Por uns segundos os olhos cinzentos do jovem brilharam de maneira invulgar. Depois recobraram a expressão normal.
— Por quê?
— Há tempos que o adverti, Jimmy. Não se trata do que sucedeu hoje, mas de tudo o que vem acontecendo em Trinidad desde há duas semanas. Matou mais gente em quinze dias do que qualquer outro «pistoleiro» num ano.
Jimmy tentou replicar, e o sorriso que iniciava gelou-se na sua boca. Empalideceu tanto, que cambaleou. McParson segurou-o, embora sabendo que se aquela imensa mole caísse, arrastá-lo-ia. Mas «Procura Sarilhos» Jimmy não caiu. Refez-se num instante e comentou:
— Vamos ao médico, temos muito tempo para falar.
E dirigiu-se para a porta, sem desdenhar da pouca ajuda que McParson lhe podia prestar, apesar, também, de ter uma figura atlética.
O dono do «Texas Saloon» nem por um instante se lembrou de lhe pedir contas dos prejuízos causados.
O ferido, Chet Parris, fugira. McParson fez uma careta. Conhecia bem o irmão de Dora e sabia que este tinha ido buscar reforços.
O seu rancho distava menos de quatro milhas da cidade e estava seguro de que antes da noite o teriam na povoação, e bem acompanhado. O xerife sabia que apanharia um balázio ou talvez morresse, mas não estava disposto a permitir que ninguém assaltasse o seu gabinete, por muitas influências que tivesse na cidade.
E foi então que McParson penou noutra coisa. Sorriu. Sem fazer caso dos olhares e de uma ou outra frase mal-intencionada, o xerife dirigiu-se, com Jimmy, diretamente a casa do velho Harry Stanton, o médico de Trinidad. Meia hora depois saíram dali, e Jimmy ia ligado, cambaleante, sem fazer caso dos olhares dos curiosos.
E continuou sem dizer uma palavra, sabendo as consequências que adviriam se aquele teimoso do McParson se empenhasse em metê-lo na cadeia.
Jimmy sabia que Parris era pessoa poderosa e influente em Trinidad, e que, possivelmente, aquilo ia custar-lhe o pescoço. Se Tim não o tivesse atingido, poderia ter defrontado McParson.
É certo que o xerife não lhe tirara as armas, mas ainda era mais certo que ele se encontrava muito fraco, e se tentasse sacar, McParson meter-lhe-ia um bocado de chumbo na cabeça ou numa perna. Uma vez chegados ao gabinete do xerife, Jim ficou surpreendido ao ouvi-lo dizer:
— Chet Parris não morreu, Jimmy. Só desmaiou e quando voltou a si fugiu. Aposto que antes da noite estará aí com uns quantos vaqueiros.
Jimmy sabia que o xerife dizia a verdade. Susteve o olhar e replicou:
— E que diabos quer que eu faça? Já fiz bastante em não o matar. Se não tivesse sido por causa dessa preciosidade que se chama Dora, ele estaria agora a fazer companhia aos outros.
E ao dizer isto, Jimmy compreendeu porque o xerife não o desarmara. Mas ele estava a responder-lhe e o jovem escutou:
— Parta de Trinidad o mais depressa possível, Jimmy. Faça-o agora, e assim evitar-se-ão muitas mortes. Jim ponderou a resposta. Sabia o que teria respondido outro que se encontrasse tão débil como ele. Mas disse o contrário do que estava a pensar.
— Isso seria uma cobardia.
E riu, irónico.
— Não no seu caso, Jimmy. Ninguém poderá dizer que «Procura Sarilhos» Jimmy é um cobarde.
O jovem voltou a rir. McParson sentiu os cabelos eriçarem-se e olhando-o atentamente, disse:
— Parta, Jimmy. Peço-lhe em nome dos que podem cair. Pense nesses homens que são vaqueiros e que cobram um salário para defender o patrão. Não são «pistoleiros» da estrada. Creem ter razão, e você foi muitas vezes advertido de que Dora estava comprometida, e agora o seu futuro marido está morto.
A resposta de Jimmy surpreendeu McParson, que a não esperava.
— E por que não me mete no cárcere em vez de me convidar a fugir? Não foi isso que disse no «saloon»?
Mas McParson refez-se num instante:
— Vá para o diabo, Jim! É certo que lhe disse isso, e não o faço por falta de vontade, mas porque conheço esse bruto do Parris e sei que tentará assaltar o cárcere..., o que faria mais vítimas.
— Pensa defender-me, xerife?
— Com certeza, Jimmy! — afirmou —. Fá-lo-ia por um cão que estivesse a meu lado. Agora, você pode escolher: essa porta — e McParson assinalou a que dava para as celas —ou a pradaria. Que prefere?
— Crê que me enforcarão se ficar? — replicou o jovem, com manifesta ironia —. Ninguém deporá contra mim, porque não fui eu que procurei a luta... pelo menos diretamente. Estava a beber um «whisky», quando eles entraram. Meteram-se comigo e envolvemo-nos ao murro. Depois, Chet sacou e os demais imitaram-no. Teve a sorte de se chamar Parris. Por outro lado, eu não tenho culpa de que as mulheres tenham nascido tão bonitas.
E Jim sentou-se, olhando para o xerife.
— Então fica, não?
O jovem sorriu.
— Não, amigo — replicou tranquilamente —. E não pelo que possa pensar, mais os demais. Faço-o, porque recebi uma carta, que tenho comigo há vários meses, na qual me fazem uma estranha proposta, onde pode estar incluído até o casamento — e Jim riu —. Sim, McParson. Não faça essa cara, que é verdade. E a julgar pela descrição que ela faz de si mesma...
Jim fez um expressivo gesto, no ar, e depois assobiou ruidosamente.
— O meu cavalo está na cavalariça da hospedaria, McParson.
O xerife olhava-o, pasmado, perguntando-se se aquele homem era louco ou estava a brincar com ele. Jim compreendeu o que McParson pensava, mas não tentou tirá-lo do seu erro. E continuou:
— Mas ainda há mais, xerife. Sempre tive vontade, ou melhor dizendo, sempre quis voltar ao Texas. Há ali um homem que não me agrada. E precisamente numa povoação que fica a poucas milhas daquela para onde me dirijo.
Próxima ou longe, isso não o sabia Jimmy, já que o povoado aonde tinha de ir nunca ele ouvira falar no seu nome, se não fosse por aquela estranha e tentadora carta, que ao mesmo tempo era convite e desafio, já que a sua dona, entre outras coisas, dizia que ele nunca se enamorara, porque nunca encontrara uma mulher verdadeiramente formosa, e ao mesmo tempo cheia de dúvidas sobre a sua fama de «pistoleiro».
— Vai buscar o meu cavalo, xerife?
Como resposta McParson caminhou para a porta, dizendo-lhe:
— Vou fechá-lo á chave, Jimmy. Creio que será melhor, para evitar olhares curiosos.
— E depois?
McParson foi rápido a replicar:
— Olhe, Jimmy. Eu não tenho nenhuma simpatia pelos pistoleiros, mas você agrada-me, pela maneira como enganou os do Norte, durante a guerra. Isso é em paga dos bons bocados que me fez passar cada vez que ouvi contar essa história. A ninguém ocorreria vestir-se com as roupas da mulher do capitão da Companhia para abandonar as fronteiras em plena noite. Como o conseguiu, Jim?
«Procura Sarilhos» riu-se.
— Faz-se tarde, xerife.
Este fechou a porta e Jim ficou sozinho, pensando que tivera a sorte de encontrar um inimigo acérrimo dos Nortistas. Instantes depois, o jovem ria-se ao relembrar as peripécias da fuga, que lhe deixaram uma grande dor nas costas, pois obrigaram-no a caminhar durais seis milhas, de rastos, com roupas apertadas. Mas isso pertencia já ao passado, e Jim não queria pensar nele, pois a sua vida era uma incógnita.
Quase no mesmo instante ouviram-se três disparos, e saiu outro homem, mas de maneira diferente, andando para trás. com as armas nas mãos, e com o peito cheio de sangue. Caminhou assim até que o alpendre se acabou. Então caiu na rua, por cima do companheiro; mas este último estava morto... com duas balas no meio do coração.
E não acabou aqui o assunto para os curiosos que imediatamente se detiveram na rua e olharam para o «saloon», já que um terceiro indivíduo saiu também de lá, mas desta vez pela janela, como um estranho bólide. Caiu precisamente a meio da rua, onde ficou imóvel, morto. Os curiosos formaram um círculo junto a ele.
— Aposto um «whisky» em como isto é obra de «Procura Sarilhos» Jimmy.
A voz partiu de um dos desocupados vaqueiros que vagueavam pela rua. E teve pronta réplica.
— Ganharias, Mike. Jim é o único capaz de uma coisa destas.
— Com certeza — disse outro, — mas também qualquer dia acabará mal. O xerife McParson já lho disse várias vezes. — E ele respondeu-lhe: «Vá para o diabo!».
A rua ficou silenciosa. Aquelas palavras finais pareciam mágicas, pois o xerife fez a sua aparição naquele momento, vindo de uma das ruas laterais. A sua figura alta e atlética, com traje de vaqueiro, com a estrela presa na camisa, inclinou-se um pouco junto ao corpo do homem que saíra pela janela.
— Richard Deene — balbuciou.
E imediatamente ergueu-se e olhou para o «saloon». Não perguntou nada aos curiosos nem estes lhe disseram nada. Tampouco olhou para os outros dois homens caídos, um dos quais estava vivo e começava a vir a si. Dirigiu-se em rápidas e largas passadas para o «saloon». Empurrou os batentes e observou o homem que, virado para a porta, com um «Colt» na mão, se encostava ao balcão, enquanto o resto da sua camisa, à altura do ombro, se ia empapando rapidamente em sangue.
McParson olhou em redor sem dizer palavra. O interior do local parecia ter sido devastado por um furacão. Mesas e cadeiras jaziam pelo chão, em confusa mistura com copos e garrafas partidas.
Havia um homem caído de bruços junto ao balcão, com os olhos vidrados virados para o teto. Atrás dele, a figura sombria do dono do estabelecimento, adoentado, e com uma estranha careta de falcão.
Mais além, junto ao primeiro degrau da escada situada ao fundo, outro homem derrubado, de boca para baixo, completamente rebentado, em virtude do impacto que tivera contra a parede de troncos de madeira, quando «Procura Sarilhos» Jimmy o lançou contra ela.
McParson não quis ver mais. Aproximou-se do jovem e estudou-o como já o fizera mil vezes. Jimmy era bastante jovem e a sua idade rondava os vinte e oito anos. Enormemente alto, amplo e maciço como um toiro, o peito da cor do cobre, as suas mãos pareciam remos e a ampla fronte denotava uma inteligência privilegiada. O nariz era recto, o queixo duro e agressivo, a boca bastante grande e era, normalmente, pessoa de grande humor.
Vestia como um vulgar vaqueiro. Os «Colt» eram do maior calibre e num dado momento convertiam-se em súbitos e mortais relâmpagos, como acabara de demonstrar em poucos segundos.
McParson sabia que ele era um «pistoleiro» das imensas rotas do Oeste. Conhecia-o desde muito antes de fazer a sua aparição em Trinidad, Estado do Colorado, a poucas milhas da fronteira com o Novo México.
A sua história, pelo menos a que corria de boca em boca, dizia que ele, durante a Guerra da Secessão, lutara com os do Norte e dali o nome que tinha, sem que ninguém até ao momento soubesse mais acerca dele. Ninguém sabia donde vinha nem para onde ia.
McParson sabia que certa noite, e talvez por algo lhe terem feito os seus superiores, desertou e passou-se para os Confederados, onde lutou até acabar a contenda. Isto era uma suposição, pois muito antes, o nome de «Procura Sarilhos» Jimmy se perdera por completo, até que, quando já ninguém se recordava dele, o seu nome apareceu misturado com um estrondo terrível que quase arrasou Riverville, no Texas.
Depois, durante meses, ouviu-se o seu nome relacionado com o desaparecimento em duelo, dos melhores «pistoleiros» da estrada.
O seu nome era já uma legenda, de Norte a Sul dos Estados Unidos. E agora tinha-o em frente, de «Colt» na mão e o sangue a sair do peito e do braço esquerdo. Tudo isto pensou o xerife em menos de um segundo, enquanto se aproximava dele. Jimmy abanou a cabeça e sorriu, ou pelo menos tentou.
— Olá! — disse. — Que lhe parece isto? Aposto a minha pele contra um dólar em como nunca viu nada parecido.
McParson sabia que era verdade, mas não lhe deu razão. Decidido a cumprir a sua missão, estava ao mesmo tempo um pouco temeroso ante aquele fantástico titã das pradarias, e replicou:
— Terá que acompanhar-me, Jimmy.
«Procura Sarilhos» riu de maneira estranha.
— Anda à procura de curandeiros, xerife? — perguntou. -- Advirto-o de que não fui eu quem procurou este sarilho.
Mas McParson sabia que o culpado era ele, Jimmy, embora não o tivesse sido naquele momento preciso. Um dos homens que jaziam na rua, o único que não morrera, tinha uma preciosa morena por irmã, e Jimmy não a deixava desde o dia em que chegou.
E o caso pior não era esse, mas sim o do morto que estava caído junto da escada, que era noivo de Dora Parris. Ao pensar em tudo isso, McParson compreendeu o que se tinha passado: uma emboscada contra Jimmy. O irmão e o noivo da rapariga, vendo-se incapazes de o liquidarem sozinhos, tinham contratado mais dois homens, a fim de os quatro o matarem ou simplesmente expulsá-lo da cidade.
Convencido da sua interpretação dos factos, McParson replicou:
— Para o cárcere...
Por uns segundos os olhos cinzentos do jovem brilharam de maneira invulgar. Depois recobraram a expressão normal.
— Por quê?
— Há tempos que o adverti, Jimmy. Não se trata do que sucedeu hoje, mas de tudo o que vem acontecendo em Trinidad desde há duas semanas. Matou mais gente em quinze dias do que qualquer outro «pistoleiro» num ano.
Jimmy tentou replicar, e o sorriso que iniciava gelou-se na sua boca. Empalideceu tanto, que cambaleou. McParson segurou-o, embora sabendo que se aquela imensa mole caísse, arrastá-lo-ia. Mas «Procura Sarilhos» Jimmy não caiu. Refez-se num instante e comentou:
— Vamos ao médico, temos muito tempo para falar.
E dirigiu-se para a porta, sem desdenhar da pouca ajuda que McParson lhe podia prestar, apesar, também, de ter uma figura atlética.
O dono do «Texas Saloon» nem por um instante se lembrou de lhe pedir contas dos prejuízos causados.
O ferido, Chet Parris, fugira. McParson fez uma careta. Conhecia bem o irmão de Dora e sabia que este tinha ido buscar reforços.
O seu rancho distava menos de quatro milhas da cidade e estava seguro de que antes da noite o teriam na povoação, e bem acompanhado. O xerife sabia que apanharia um balázio ou talvez morresse, mas não estava disposto a permitir que ninguém assaltasse o seu gabinete, por muitas influências que tivesse na cidade.
E foi então que McParson penou noutra coisa. Sorriu. Sem fazer caso dos olhares e de uma ou outra frase mal-intencionada, o xerife dirigiu-se, com Jimmy, diretamente a casa do velho Harry Stanton, o médico de Trinidad. Meia hora depois saíram dali, e Jimmy ia ligado, cambaleante, sem fazer caso dos olhares dos curiosos.
E continuou sem dizer uma palavra, sabendo as consequências que adviriam se aquele teimoso do McParson se empenhasse em metê-lo na cadeia.
Jimmy sabia que Parris era pessoa poderosa e influente em Trinidad, e que, possivelmente, aquilo ia custar-lhe o pescoço. Se Tim não o tivesse atingido, poderia ter defrontado McParson.
É certo que o xerife não lhe tirara as armas, mas ainda era mais certo que ele se encontrava muito fraco, e se tentasse sacar, McParson meter-lhe-ia um bocado de chumbo na cabeça ou numa perna. Uma vez chegados ao gabinete do xerife, Jim ficou surpreendido ao ouvi-lo dizer:
— Chet Parris não morreu, Jimmy. Só desmaiou e quando voltou a si fugiu. Aposto que antes da noite estará aí com uns quantos vaqueiros.
Jimmy sabia que o xerife dizia a verdade. Susteve o olhar e replicou:
— E que diabos quer que eu faça? Já fiz bastante em não o matar. Se não tivesse sido por causa dessa preciosidade que se chama Dora, ele estaria agora a fazer companhia aos outros.
E ao dizer isto, Jimmy compreendeu porque o xerife não o desarmara. Mas ele estava a responder-lhe e o jovem escutou:
— Parta de Trinidad o mais depressa possível, Jimmy. Faça-o agora, e assim evitar-se-ão muitas mortes. Jim ponderou a resposta. Sabia o que teria respondido outro que se encontrasse tão débil como ele. Mas disse o contrário do que estava a pensar.
— Isso seria uma cobardia.
E riu, irónico.
— Não no seu caso, Jimmy. Ninguém poderá dizer que «Procura Sarilhos» Jimmy é um cobarde.
O jovem voltou a rir. McParson sentiu os cabelos eriçarem-se e olhando-o atentamente, disse:
— Parta, Jimmy. Peço-lhe em nome dos que podem cair. Pense nesses homens que são vaqueiros e que cobram um salário para defender o patrão. Não são «pistoleiros» da estrada. Creem ter razão, e você foi muitas vezes advertido de que Dora estava comprometida, e agora o seu futuro marido está morto.
A resposta de Jimmy surpreendeu McParson, que a não esperava.
— E por que não me mete no cárcere em vez de me convidar a fugir? Não foi isso que disse no «saloon»?
Mas McParson refez-se num instante:
— Vá para o diabo, Jim! É certo que lhe disse isso, e não o faço por falta de vontade, mas porque conheço esse bruto do Parris e sei que tentará assaltar o cárcere..., o que faria mais vítimas.
— Pensa defender-me, xerife?
— Com certeza, Jimmy! — afirmou —. Fá-lo-ia por um cão que estivesse a meu lado. Agora, você pode escolher: essa porta — e McParson assinalou a que dava para as celas —ou a pradaria. Que prefere?
— Crê que me enforcarão se ficar? — replicou o jovem, com manifesta ironia —. Ninguém deporá contra mim, porque não fui eu que procurei a luta... pelo menos diretamente. Estava a beber um «whisky», quando eles entraram. Meteram-se comigo e envolvemo-nos ao murro. Depois, Chet sacou e os demais imitaram-no. Teve a sorte de se chamar Parris. Por outro lado, eu não tenho culpa de que as mulheres tenham nascido tão bonitas.
E Jim sentou-se, olhando para o xerife.
— Então fica, não?
O jovem sorriu.
— Não, amigo — replicou tranquilamente —. E não pelo que possa pensar, mais os demais. Faço-o, porque recebi uma carta, que tenho comigo há vários meses, na qual me fazem uma estranha proposta, onde pode estar incluído até o casamento — e Jim riu —. Sim, McParson. Não faça essa cara, que é verdade. E a julgar pela descrição que ela faz de si mesma...
Jim fez um expressivo gesto, no ar, e depois assobiou ruidosamente.
— O meu cavalo está na cavalariça da hospedaria, McParson.
O xerife olhava-o, pasmado, perguntando-se se aquele homem era louco ou estava a brincar com ele. Jim compreendeu o que McParson pensava, mas não tentou tirá-lo do seu erro. E continuou:
— Mas ainda há mais, xerife. Sempre tive vontade, ou melhor dizendo, sempre quis voltar ao Texas. Há ali um homem que não me agrada. E precisamente numa povoação que fica a poucas milhas daquela para onde me dirijo.
Próxima ou longe, isso não o sabia Jimmy, já que o povoado aonde tinha de ir nunca ele ouvira falar no seu nome, se não fosse por aquela estranha e tentadora carta, que ao mesmo tempo era convite e desafio, já que a sua dona, entre outras coisas, dizia que ele nunca se enamorara, porque nunca encontrara uma mulher verdadeiramente formosa, e ao mesmo tempo cheia de dúvidas sobre a sua fama de «pistoleiro».
— Vai buscar o meu cavalo, xerife?
Como resposta McParson caminhou para a porta, dizendo-lhe:
— Vou fechá-lo á chave, Jimmy. Creio que será melhor, para evitar olhares curiosos.
— E depois?
McParson foi rápido a replicar:
— Olhe, Jimmy. Eu não tenho nenhuma simpatia pelos pistoleiros, mas você agrada-me, pela maneira como enganou os do Norte, durante a guerra. Isso é em paga dos bons bocados que me fez passar cada vez que ouvi contar essa história. A ninguém ocorreria vestir-se com as roupas da mulher do capitão da Companhia para abandonar as fronteiras em plena noite. Como o conseguiu, Jim?
«Procura Sarilhos» riu-se.
— Faz-se tarde, xerife.
Este fechou a porta e Jim ficou sozinho, pensando que tivera a sorte de encontrar um inimigo acérrimo dos Nortistas. Instantes depois, o jovem ria-se ao relembrar as peripécias da fuga, que lhe deixaram uma grande dor nas costas, pois obrigaram-no a caminhar durais seis milhas, de rastos, com roupas apertadas. Mas isso pertencia já ao passado, e Jim não queria pensar nele, pois a sua vida era uma incógnita.
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