domingo, 15 de abril de 2018

CLF043.03 Duelo no «saloon» de Aurora

O local era amplo e espaçoso, e estava a abarrotar de gente, apesar de serem apenas sete da tarde. A um canto estavam as mesas de jogo e uma roleta.
Junto do balcão, duas fantásticas morenas.
O homem que acabava de entrar abriu muito os olhos ao vê-las. Uma delas, sentada, de copo na mão, balanceava suavemente as compridas e bem torneadas pernas.
A outra, de costas viradas para a porta, também era muito formosa. Ambas tinham as saias muito curtas, por cima dos joelhos, e as pernas envolvidas em meias pretas.
Jimmy aproximou-se com movimentos felinos, e parou, encarando a que estava sentada.
Olhou-a com evidente descaro, e disse:
— Olá, linda. Por que não ofereces um copo a um caminhante sedento?
A morena, de olhos azuis, estendeu-lhe o copo, ao mesmo tempo que abria muito os seus olhos, de assombro, examinando aquela gigantesca figura. A outra voltou-se, ficando igualmente pasmada.
Jimmy não se contentou com o copo. Puxou a morena por um braço e beijou-a na boca. «Procura Sarilhos» Jimmy metia-se em mais um sarilho, de consequências imprevisíveis.
Parece que a morena gostou do beijo, e sorrindo, disse:
— Vamo-nos divertir, amor. O «New Saloon» é o local apropriado para isso. Chamo-me Lorna Done. E tu?
— Jimmy.
— Só?...
—É o suficiente, amor..., por agora.
E Jimmy fez tensão de a beijar de novo, mas a outra, que permanecera quieta até àquela altura, interpôs-se com o melhor dos sorrisos e a pior das intenções.
— Para mim não há nada, Jimmy? — perguntou —. O meu nome é Marisa Templar e não tenho nenhum compromisso com nenhum pistoleiro, como ela tem. Pelos vistos, Lorna sente predileção em ver os homens matarem-se pelos seus beijos.
Jimmy escutou, interessado e cético, pois julgava que aquilo era um simples caso de rancor. E confirmou a sua ideia, quando Lorna replicou:
— Podes ficar com ela, forasteiro. Mas creio que me viste primeiro — e Lorna sorriu de tal maneira que Jimmy perdeu toda a resolução —. Se tens medo de qualquer dos pistoleiros que passam por Dumas... — terminou agora, com bastante pior intenção do que a outra.
Mas Jimmy encolheu os ombros, olhando a chamada Marisa.
— Ela tem razão — disse, tranquilamente —. Lamento, Marisa, mas vi-a primeiro.
— Levar-te-ei uma coroa de flores quando morreres, pistoleiro — foi a réplica que obteve. Jimmy riu-se e enlaçou Lorna pela cintura.
Segundos depois, estavam os dois a rir e a brincar, dizendo algumas palavras entre os beijos, num canto afastado. Meia hora depois, Jimmy pôs-se de pé. Ela imitou-o, olhando-o com um brilho perigoso nos olhos.
— Fica um pouco mais.
Jimmy sorriu e replicou com a franqueza que o caracterizava:
— Lamento, encanto, agradas-me muito, mas eu vim a Dumas casar-me com outra mulher.
E então sucedeu algo inexplicável, precisamente no momento em que entravam dois homens, os quais por simples casualidade, a primeira coisa que viram no «saloon» foi precisamente Jimmy e Lorna.
Esta, num arranque impossível de conter, levantou a mão e esbofeteou-o fortemente.
Fez-se silêncio na sala. Jimmy sorriu irónico e ela tentou atingi-lo de novo. Mas desta vez gritou com todas as suas forças, quando Jimmy a agarrou pelas bochechas e 'a apertou contra o peito, beijando-a de novo. Feito isto, sem a largar, afastou-a umas polegadas e ela sentiu medo ao ver aquelas pupilas geladas.
— Não faças isso outra vez, Lorna — disse o jovem —. Podia ser que desejasse também bater-te.
E com um violento empurrão, Jimmy largou-a. Lorna retrocedeu, tropeçando, enquanto os homens que entravam, se afastaram, rindo às gargalhadas. Teria caído no chão, se alguém não a segurasse. Alguém que Jimmy não viu, pois já estava de costas. Ao chegar junto à porta, os dois homens que tinham entrado cortaram-lhe o passo.
— Um momento, forasteiro. O que acaba de fazer com Lorna não é de homem.
Jimmy franziu o cenho.
— E que diabos lhe importa isso a si, pode saber-se?
— Lorna é coisa minha. Sempre o foi. Ou não sabia?
Durante um segundo, as palavras de Marisa martelaram-lhe o cérebro, e no segundo seguinte tinha a certeza de que eram verdade. Por qualquer razão, Lorna odiava aquele tipo e ele impunha-lhe a sua presença, valendo-se dos seus ares de pistoleiro.
Jimmy, sem replicar, olhou para o outro homem. Era muito loiro.
Quase no mesmo instante os olhos do jovem voltaram ao primeiro. Como Lorna, também era moreno, e o rosto demonstrava que era um canalha perfeito. Jimmy deu um passo em frente e depois deteve-se. Nem por um instante Jimmy fez qualquer gesto que denotasse intenção de sacar.
— Afaste-se da porta — disse subitamente o jovem ao pistoleiro que falara —. Vou sair.
Como resposta, o indivíduo alto e moreno encarou o seu companheiro.
— Ouviste, Dick?
— Claro, Rex. Que faço?
— Esse gigante tem de pedir perdão a Lorna.
Ela tornou-se lívida. Agora, como de outras vezes, sentia piedade pelo homem que a convidara para beber e a tinha beijado. Nunca devia ter aceitado, sabendo que Rex Linsay tinha morto muitos homens por sua culpa, sem que ela lhe desse razão para isso. Pelo contrário, odiava-o com toda a alma, mas este tinha resolvido que se ela não era para ele, não seria para mais ninguém. E até àquele momento tinha levado a melhor.
Rex voltou a chamá-la, e Lorna começou a andar, parando imediatamente, quando Jimmy disse:
— Puxem as armas. É o primeiro e último aviso.
E o seu corpo de titã sofreu uma brusca transformação que deixou assombrados os mais serenos. Jimmy encolheu-se tanto que ficou reduzido a metade, inclinado para diante, com os seus largos e potentes braços arqueados para trás, esperando o momento em que os outros levassem as mãos às armas.
— Vai morrer, forasteiro. Sabe disso?
— Avancem!
Rex levou as mãos aos dois «Colt». Lorna e Marisa deram um grito e mal puderam ver, como todos os assistentes, as armas de Jimmy sair e vomitarem fogo.
Um «oh!» de admiração e incredulidade surgiu de todas as bocas, pois assim que Rex sacou, Dick seguiu-o imediatamente. Tudo se passou numa fração de segundo. Mas, apesar disso, os dois pistoleiros só puderam tirar as armas.
Jimmy foi infinitamente mais rápido. Antes de que eles o pudessem alvejar, e de uma maneira inexplicável para todos, o jovem já tinha as armas nas mãos, cintilando como duas lâminas.
E puderam ver como, concedendo-lhes todas as vantagens, Jimmy esperou que eles apontassem. E só então disparou duas vezes com cada arma!
Os dois pistoleiros de Dumas caíram como sacos, um em cima do outro, banhados em sangue, e oferecendo um espetáculo macabro e sinistro.
Jimmy guardou uma das armas, e levou a mão ao cinturão para carregar a outra. Foi esse o seu erro, já que muito antes que o consentisse, algo caiu em cima dele.
Recebeu um golpe na cabeça, e uma dor aguda paralisou-lhe todos os sentidos. Vacilou uns instantes, e outro golpe submergiu-o na inconsciência.
Mas não tardou muito a vir a si, se bem que sentisse no cérebro o barulho de uma manada de búfalos a passar. Endireitou-se sem ajuda de ninguém, e sentou-se no chão.
Jimmy viu muitos pares de botas que o- rodeavam e notou que tudo estava silencioso.
Sem se levantar ainda, continuou a olhar, e então os seus olhos tropeçaram com as mais lindas pernas que vira em toda a sua vida.
Levantou os olhos pouco a pouco. As meias eram negras, e a saia aberta bordada de lantejolas.
Jimmy levantou a cabeça rapidamente, olhando para mulher.
A cintura era extremamente estreita, o busto formoso e juvenil, que ameaçava rebentar a blusa, a boca grande, os lábios vermelhos, sensuais.
Jimmy sentiu-se fascinado por eles, mas antes de continuar a olhar aquele nariz aquilino e depois os olhos negros, que contrastavam com a pele branca, e brilhavam como chamas.
As faces, redondas e saudáveis, não tinham qualquer enfeite.
Jimmy catalogou-a imediatamente.
Muito lentamente pôs-se de pé. O silêncio era completo.
Jimmy passou a mão pela cabeça, voltou a olhar para a mulher que permanecia silenciosa, e depois olhou em redor.
Imediatamente o jovem compreendeu o que todos esperavam. Queriam que ele reagisse, e sorriam irónicos, como se soubessem de antemão o que se ia passar.
Jimmy voltou a olhar a mulher. Esta aguentou o olhar e o jovem leu o mais aberto desafio neles.
— Golpeou-me, não foi? — perguntou secamente.
Ela estudou o gigante e disse, mordaz:
— Fui eu, efetivamente, forasteiro. Não me agradam lutas no meu «saloon», ainda que o tipo em questão tenha razão, como agora. Meta na sua linda cabecinha que aqui sou eu a única pessoa com direito a lutar. Sou o único galo.
Jimmy arqueou as sobrancelhas, de maneira inverosímil.
O silêncio continuava em redor. Junto ao balcão estavam três homens, que pareciam gorilas disfarçados. Pela ordem como estavam colocados, chamavam-se Douglas Callender, Larry Davison e Pat Kirby.
Altos, brutais, levavam no rosto o selo da sua profissão. Eram simples pistoleiros assalariados. Estavam disfarçados de pessoas decentes, pois levavam casacos. Eram os guarda--costas de Aurora San Roman, a deliciosa e incitante dona do Jimmy nada disso sabia, nem tinha dado conta da presença daquelas três «deliciosas» pessoas.
— Sim?
Isto disse Jimmy como resposta à frase da mulher. E mal terminou de falar deu um passo em frente e atraiu-a pela cintura.
Aurora viu-se levantada por aqueles potentes braços e gritou, ainda que o seu grito não fosse medo. Simplesmente fúria, cólera, ante aquele atrevimento. Esperneou furiosamente, tentando alcançar Jimmy nas canelas, mas não conseguiu. Jimmy ria.
— Com que então um galo?
Era a mesma pergunta, mas aos ouvidos de Aurora soou de maneira diferente.
— Larga-me, rufião, canalha!
Jimmy riu de novo, e depois apertou-a contra si. Aurora sentiu que se afogava. Tentou safar-se quando Jimmy inclinou a cabeça para ela, mas não o conseguiu. Muito antes, os lábios masculinos beijaram os seus, vermelhos e húmidos. Sentiu-a desfalecer, e Jimmy, como o compreendesse, largou-a subitamente, e empurrou-a contra o grupo de curiosos.
— Bah! — exclamou. — Uma qualquer... que se julga um galo!
Aurora caiu contra o grupo, que se fechou de forma a recebê-la.
Os três guarda-costas puseram-se em movimento e ela fez um gesto que teve o condão de paralisá-los.
Junto ao balcão, Marisa e Lorna estavam pálidas. Dos mortos, nem rasto. Jimmy dirigiu-se ao balcão.
Aurora furiosa, firmou os pés no chão. Umas palavras em voz baixa chegaram aos seus ouvidos:
— O forasteiro pode contigo, Aurora. Se não o evitas todos teremos direito a algo parecido.
Aquelas palavras podiam ser uma brincadeira, mas expressavam o próprio pensamento de Aurora.
A rapariga olhou para o homem que falara. Um simples vaqueiro que noutra qualquer ocasião não teria ousado sequer olhá-la.
E agora...
E tudo por causa daquele maldito grandalhão! Como se não lhe bastasse as complicações que tinha com Lon Lorrigan.

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