Sob as árvores, esperava que chegasse a noite, e, com esta, a saída da Lua. Jimmy mantinha-se muito pensativo. Admirava-se de conhecer aquele terreno, que julgava não ter visto nunca, como as palmas das suas mãos.
Do local onde se encontrava, não via o rancho de Joe Milton, mas sabia que estava por detrás da pequena colina que tinha em frente. Sabia também que se encontrava nos terrenos que eram propriedade daquele rancheiro.
E Jimmy pensou no que diriam os vaqueiros se o surpreendessem por ali. Como resposta, encolheu os ombros e pensou em Aurora San Roman. Sabia-se enamorado dela e por isso fugira. Nada lhe importava o seu passado. Mas era tão especial nas suas coisas, tão amante da sua liberdade, que preferia afastar-se sempre de um lado para outro.
Há três meses que abandonara Dumas, deambulando sempre de um lado para outro, aproximando-se calmamente do rancho de Joe Milton.
Depois Jimmy traçou um simples plano. Podia dizer-se que o tinha elaborado pelo caminho. Pensava apresentar-se no rancho de Joe Milton, pedindo trabalho.
Apesar do seu oficio de pistoleiro, sabia-se muito bom cavaleiro e melhor ainda vaqueiro. Nada importava o seu aspeto exterior, e contava para isso com a sua boa estrela. Tinha quase a certeza de que por ali faltavam bons vaqueiros, apesar de se encontrar em pleno Texas, onde eles eram tão frequentes.
Se tivesse sorte e fosse admitido, fá-lo-ia sob um nome falso. Ali ninguém sabia que ele se chamava «Procura Sarilhos» Jimmy.
Sabê-lo-iam depois de ele conhecer Joe Milton, se ele merecesse um balázio entre os olhos.
Se Milton fosse uma pessoa decente, embora lhe custasse a acreditar, pois só o ouvir esse nome o revoltava, abandonaria o rancho e iria outra vez para a estrada.
E com estes pensamentos viu-se surpreendido pela noite.
Mal as primeiras sombras o envolveram, aproximou-se do cavalo e tirou do bornal um bocado de pão duro.
Comeu-o e esperou a saída da Lua.
Duas horas mais tarde, Jimmy abandonou as árvores, indo em linha recta para a colina, com a montada a passo.
Não tinha pressa de chegar, apesar de desejar ver-se ao pé do homem que, segundo os seus estranhos e complicados pensamentos, regia os destinos daquela povoação.
Sempre a passo e sem se ocultar, sabendo que nos pastos, com o gado, devia haver algum vaqueiro, Jimmy desceu pelo outro lado da colina.
A massa grandiosa do rancho apareceu aos seus olhos, enquanto o mugido das reses lhe chegava aos ouvidos. Jimmy continuou a avançar, sumamente confiado.
E foi precisamente quando lhe faltavam umas setenta jardas para chegar a um grupo de reses, que a surpresa lhe surgiu pelas costas. A todo o galope e por cima da colina, três cavaleiros lançaram-se sobre ele como meteoros.
Jimmy ouviu o furioso bater dos cascos e virou a cabeça para olhar.
Compreendeu que vinham à sua procura, embora não pudesse distinguir-lhes as feições.
O silvo agudo de um projétil roçou-lhe a cabeça e encolheu-se na sela, levando uma das mãos a um «Colt», apesar de saber que estavam a disparar sobre ele com uma espingarda, que soou de novo e lhe furou o chapéu.
Jimmy soltou uma praga enquanto detinha o animal e desmontava.
Correu em ziguezague para evitar novos projéteis e lançou-se de cabeça contra as altas ervas.
Os cavalos diminuíam a distância, como setas.
E agora já não era uma espingarda, mas três, que disparavam contra ele.
E enquanto o chumbo se perdia, as janelas do rancho iluminavam-se, e do barracão dos vaqueiros saiam homens meio vestidos, com armas nas mãos.
Jimmy, dez jardas mais adiante de onde tinha caído primeiramente, esperou uns minutos, até que compreendeu que estavam a tiro de revólver. Então disparou com um frio sorriso nos lábios.
Um dos cavaleiros abriu os braços em cruz e caiu da sela. Jimmy anotou o sítio onde ele caiu.
Mudou rapidamente de sítio e meteu duas balas na cabeça do segundo homem. Voltou a saltar, e quando caia viu que o terceiro lhe caia em cima. Ao disparar, reconheceu-o.
A surpresa impediu-o de fazer pontaria sobre Chet Parris, e este não lhe deu tempo para mais nada.
Parris, visto que era ele, tinha largado a espingarda ao Ver cair o último dos seus homens, e agora sacava os dois «Colt» e disparou.
Jimmy sentiu um forte golpe na cabeça, e as armas escaparam-se-lhe das mãos. Tardou um segundo a sumir-se na inconsciência, mas naquele tempo inverosímil viu-se numa trincheira, empunhando uma espingarda, disparando contra os do Sul, enquanto eles tentavam desalojá-lo dali, a canhão.
Viu cair os três homens que estavam com ele. Ouviu o zumbido dos obuses cada vez mais perto. Depois, uma grande labareda cegou-o e não soube mais nada. Na realidade, naquele momento, «Procura Sarilhos» Jimmy acabava de perder os sentidos.
Parris lançou um grito de alegria e carregou contra ele, com os dedos tensos nos gatilhos dos revólveres. Mas a sua alegria só durou um escasso segundo, o tempo necessário que demorou um dos vaqueiros que guardavam o gado a colocar a arma à cara e meter-lhe um balázio na cabeça do cavalo.
O animal caiu, e Parris perdeu as armas na queda. E teve azar, pois a sua perna esquerda ficou presa debaixo do animal.
Mas nada poderia ter feito, pois estava completamente cercado.
Parris viu os rostos de mais de uma dezena de vaqueiros, que o olhavam, no mais completo silêncio. Sentiu como vários deles tentavam afastar o animal, quando uma interjeição quebrou por uns instantes o silêncio. Depois...
— Infernos, Terry! Corre e olha, para ver se enlouqueci.
E o vaqueiro, alto e magro, afastou-se do grupo e correu para o local onde o velho Ben Tim, capataz da fazenda se encontrava. Quando chegou junto dele, Terry empalideceu, olhando o corpo inanimado de Jimmy.
Durante uns segundos, não pôde articular palavra, vítima da surpresa. Quando conseguiu falar, disse com voz rouca:
— Raios do inferno! Capataz! É o patrão! Está morto?
O rosto sulcado de rugas de Ben Tim iluminou-se num sorriso:
— Não, Terry, só perdeu os sentidos. Tem um bonito sulco na cabeça. Uns milímetros mais abaixo, e ter-lhe-ia voado a caixa craniana. Quem é o outro?
— Não sei ainda, mas aposto em como é o porco que disparou contra ele. Eu não o vi, por me encontrar entre as reses. Pode ser que Logan diga qualquer coisa. Ordena que o tirem debaixo do cavalo... vivo. Enforcá-lo-emos quando o senhor Milton recobrar os sentidos.
O vaqueiro afastou-se, correndo, e o estrépito dos cavalos fez-se ouvir. Segundos depois, desmontavam, ficando tão atónitos como Tim e Terry. Mas levaram-no rapidamente para a beira do rio para ver se ele reanimava.
Quando Jimmy, ou Joe Milton, como na realidade se chamava, recobrou os sentidos, os seus olhos pareciam os de um louco. Olhou para os homens que o rodeavam e depois para os tumultuosas águas do Colorado.
— Que faço com esta roupa?
Os vaqueiros olharam-se entre si. Ben Tim sorriu. Teria o patrão enlouquecido?
— Mas, Milton, não nos conheces?
Joe Milton olhou-os um a um. Pouco a pouco, o estranho olhar dos seus olhos foi desaparecendo e, finalmente, acabou por sorrir.
— Perdoa, Ben. Creio que estive a dormir durante muito tempo.
E apalpou a cabeça, encontrando-a ligada.
Mas Ben Tim não estava conforme com aquela vaga resposta e replicou:
— De onde vens ao cabo de tantos anos, Milton? Quem é esse homem que disparou contra ti?
Joe tentou levantar-se. Os vaqueiros ajudaram-no. O homem sentiu as pernas vacilarem.
— Levem-me junto dele. Quero vê-lo
E foi obedecido. Antes de chegar junto de Parris, Joe prescindiu da ajuda dos vaqueiros. Encontrou Parris debaixo de uma árvore, atado como um fardo, com um laço à roda do pescoço. De um só olhar, Joe compreendeu a sentença dos seus vaqueiros. Não os olhou.
Os seus olhos estavam fixos no semblante do homem que o tinha perseguido durante milhas e milhas, e que agora estava em seu poder. Por sua parte, Parris aguentou-lhe o olhar, e foi o primeiro a romper o silêncio:
— Maldito sejas, «Procura Sarilhos» Jimmy! Vais ordenar que me assassinem?
E os vaqueiros olharam para o capataz e este para Joe. Depois olharam todos para Parris, como se ele fosse um louco. Dissera nada mais nada menos do que «Procura Sarilhos» Jimmy e precisamente estava chamando-o a Joe Milton, o seu patrão!
Mas a surpresa da equipa foi ainda maior, quando o jovem replicou:
-- Continuas a ser um porco, Parris. Quando viste «Procura Sarilhos» Jimmy assassinar alguém sem lhe permitir defender-se?
Parris não respondeu, mas nos seus olhos podia ler-se a pouca confiança que aquelas palavras lhe mereciam. Joe voltou-se para o velho Ben Tim.
— Desatem-no — disse secamente.
— Mas...
— Faz o que te digo, Ben.
E o velho capataz obedeceu, enquanto a equipa, silenciosa, pensava que o patrão não tinha negado ser aquele famoso pistoleiro, pelo contrário, tinha-o afirmado.
Parris pôs-se de pé, e a espectativa chegou ao auge. Parris esfregou os pulsos, sem perder de vista Jimmy. Depois perguntou:
— Dás-me uma arma para que me defenda de todos estes homens?
Joe captou a ironia e sorriu.
— Não, Parris. Vou deixar-te ir de uma vez para sempre. Mas se alguma vez voltares, nem uma legião de diabos a cavalo te salvará. Ben Tim, o meu capataz, dar-te-á um cavalo. Quanto à tua irmã, podes viver tranquilo. Simplesmente a assediei, nada mais. Fiz-lhe o mesmo que a todas as mulheres bonitas que encontro no meu caminho. Vai-te para o diabo, Chet Parris!
Depois de dizer-lhe isto voltou-lhe as costas. Chamando o seu capataz, Ben Tim, Joe Milton, disse-lhe de maneira que Parris ouvisse:
— Dá-lhe um cavalo e comida e deixa-o partir.
Uma hora mais tarde, Chet Parris seguia o seu caminho. Nenhum rancor existia no seu peito, contra o homem que, tendo-o à sua mercê, se limitara a devolver-lhe a vida, que virtualmente era sua.
Joe Milton, no alpendre, rodeado por todos os vaqueiros, não teve outro remédio senão contar o que tinha sido a sua vida durante todo aquele tempo. Muito depois, e já a sós no seu quarto, começou a puxar pela cabeça, tentando recordar muitas coisas, e perguntando-se milhares de vezes se só existiam na sua mente, como um sonho. ou se tinham sido realidade. E Joe Milton demorou três dias a recordar todo o passado. O futuro abria-se diante dele, claro e diáfano, sem uma só nuvem no horizonte.
Do local onde se encontrava, não via o rancho de Joe Milton, mas sabia que estava por detrás da pequena colina que tinha em frente. Sabia também que se encontrava nos terrenos que eram propriedade daquele rancheiro.
E Jimmy pensou no que diriam os vaqueiros se o surpreendessem por ali. Como resposta, encolheu os ombros e pensou em Aurora San Roman. Sabia-se enamorado dela e por isso fugira. Nada lhe importava o seu passado. Mas era tão especial nas suas coisas, tão amante da sua liberdade, que preferia afastar-se sempre de um lado para outro.
Há três meses que abandonara Dumas, deambulando sempre de um lado para outro, aproximando-se calmamente do rancho de Joe Milton.
Depois Jimmy traçou um simples plano. Podia dizer-se que o tinha elaborado pelo caminho. Pensava apresentar-se no rancho de Joe Milton, pedindo trabalho.
Apesar do seu oficio de pistoleiro, sabia-se muito bom cavaleiro e melhor ainda vaqueiro. Nada importava o seu aspeto exterior, e contava para isso com a sua boa estrela. Tinha quase a certeza de que por ali faltavam bons vaqueiros, apesar de se encontrar em pleno Texas, onde eles eram tão frequentes.
Se tivesse sorte e fosse admitido, fá-lo-ia sob um nome falso. Ali ninguém sabia que ele se chamava «Procura Sarilhos» Jimmy.
Sabê-lo-iam depois de ele conhecer Joe Milton, se ele merecesse um balázio entre os olhos.
Se Milton fosse uma pessoa decente, embora lhe custasse a acreditar, pois só o ouvir esse nome o revoltava, abandonaria o rancho e iria outra vez para a estrada.
E com estes pensamentos viu-se surpreendido pela noite.
Mal as primeiras sombras o envolveram, aproximou-se do cavalo e tirou do bornal um bocado de pão duro.
Comeu-o e esperou a saída da Lua.
Duas horas mais tarde, Jimmy abandonou as árvores, indo em linha recta para a colina, com a montada a passo.
Não tinha pressa de chegar, apesar de desejar ver-se ao pé do homem que, segundo os seus estranhos e complicados pensamentos, regia os destinos daquela povoação.
Sempre a passo e sem se ocultar, sabendo que nos pastos, com o gado, devia haver algum vaqueiro, Jimmy desceu pelo outro lado da colina.
A massa grandiosa do rancho apareceu aos seus olhos, enquanto o mugido das reses lhe chegava aos ouvidos. Jimmy continuou a avançar, sumamente confiado.
E foi precisamente quando lhe faltavam umas setenta jardas para chegar a um grupo de reses, que a surpresa lhe surgiu pelas costas. A todo o galope e por cima da colina, três cavaleiros lançaram-se sobre ele como meteoros.
Jimmy ouviu o furioso bater dos cascos e virou a cabeça para olhar.
Compreendeu que vinham à sua procura, embora não pudesse distinguir-lhes as feições.
O silvo agudo de um projétil roçou-lhe a cabeça e encolheu-se na sela, levando uma das mãos a um «Colt», apesar de saber que estavam a disparar sobre ele com uma espingarda, que soou de novo e lhe furou o chapéu.
Jimmy soltou uma praga enquanto detinha o animal e desmontava.
Correu em ziguezague para evitar novos projéteis e lançou-se de cabeça contra as altas ervas.
Os cavalos diminuíam a distância, como setas.
E agora já não era uma espingarda, mas três, que disparavam contra ele.
E enquanto o chumbo se perdia, as janelas do rancho iluminavam-se, e do barracão dos vaqueiros saiam homens meio vestidos, com armas nas mãos.
Jimmy, dez jardas mais adiante de onde tinha caído primeiramente, esperou uns minutos, até que compreendeu que estavam a tiro de revólver. Então disparou com um frio sorriso nos lábios.
Um dos cavaleiros abriu os braços em cruz e caiu da sela. Jimmy anotou o sítio onde ele caiu.
Mudou rapidamente de sítio e meteu duas balas na cabeça do segundo homem. Voltou a saltar, e quando caia viu que o terceiro lhe caia em cima. Ao disparar, reconheceu-o.
A surpresa impediu-o de fazer pontaria sobre Chet Parris, e este não lhe deu tempo para mais nada.
Parris, visto que era ele, tinha largado a espingarda ao Ver cair o último dos seus homens, e agora sacava os dois «Colt» e disparou.
Jimmy sentiu um forte golpe na cabeça, e as armas escaparam-se-lhe das mãos. Tardou um segundo a sumir-se na inconsciência, mas naquele tempo inverosímil viu-se numa trincheira, empunhando uma espingarda, disparando contra os do Sul, enquanto eles tentavam desalojá-lo dali, a canhão.
Viu cair os três homens que estavam com ele. Ouviu o zumbido dos obuses cada vez mais perto. Depois, uma grande labareda cegou-o e não soube mais nada. Na realidade, naquele momento, «Procura Sarilhos» Jimmy acabava de perder os sentidos.
Parris lançou um grito de alegria e carregou contra ele, com os dedos tensos nos gatilhos dos revólveres. Mas a sua alegria só durou um escasso segundo, o tempo necessário que demorou um dos vaqueiros que guardavam o gado a colocar a arma à cara e meter-lhe um balázio na cabeça do cavalo.
O animal caiu, e Parris perdeu as armas na queda. E teve azar, pois a sua perna esquerda ficou presa debaixo do animal.
Mas nada poderia ter feito, pois estava completamente cercado.
Parris viu os rostos de mais de uma dezena de vaqueiros, que o olhavam, no mais completo silêncio. Sentiu como vários deles tentavam afastar o animal, quando uma interjeição quebrou por uns instantes o silêncio. Depois...
— Infernos, Terry! Corre e olha, para ver se enlouqueci.
E o vaqueiro, alto e magro, afastou-se do grupo e correu para o local onde o velho Ben Tim, capataz da fazenda se encontrava. Quando chegou junto dele, Terry empalideceu, olhando o corpo inanimado de Jimmy.
Durante uns segundos, não pôde articular palavra, vítima da surpresa. Quando conseguiu falar, disse com voz rouca:
— Raios do inferno! Capataz! É o patrão! Está morto?
O rosto sulcado de rugas de Ben Tim iluminou-se num sorriso:
— Não, Terry, só perdeu os sentidos. Tem um bonito sulco na cabeça. Uns milímetros mais abaixo, e ter-lhe-ia voado a caixa craniana. Quem é o outro?
— Não sei ainda, mas aposto em como é o porco que disparou contra ele. Eu não o vi, por me encontrar entre as reses. Pode ser que Logan diga qualquer coisa. Ordena que o tirem debaixo do cavalo... vivo. Enforcá-lo-emos quando o senhor Milton recobrar os sentidos.
O vaqueiro afastou-se, correndo, e o estrépito dos cavalos fez-se ouvir. Segundos depois, desmontavam, ficando tão atónitos como Tim e Terry. Mas levaram-no rapidamente para a beira do rio para ver se ele reanimava.
Quando Jimmy, ou Joe Milton, como na realidade se chamava, recobrou os sentidos, os seus olhos pareciam os de um louco. Olhou para os homens que o rodeavam e depois para os tumultuosas águas do Colorado.
— Que faço com esta roupa?
Os vaqueiros olharam-se entre si. Ben Tim sorriu. Teria o patrão enlouquecido?
— Mas, Milton, não nos conheces?
Joe Milton olhou-os um a um. Pouco a pouco, o estranho olhar dos seus olhos foi desaparecendo e, finalmente, acabou por sorrir.
— Perdoa, Ben. Creio que estive a dormir durante muito tempo.
E apalpou a cabeça, encontrando-a ligada.
Mas Ben Tim não estava conforme com aquela vaga resposta e replicou:
— De onde vens ao cabo de tantos anos, Milton? Quem é esse homem que disparou contra ti?
Joe tentou levantar-se. Os vaqueiros ajudaram-no. O homem sentiu as pernas vacilarem.
— Levem-me junto dele. Quero vê-lo
E foi obedecido. Antes de chegar junto de Parris, Joe prescindiu da ajuda dos vaqueiros. Encontrou Parris debaixo de uma árvore, atado como um fardo, com um laço à roda do pescoço. De um só olhar, Joe compreendeu a sentença dos seus vaqueiros. Não os olhou.
Os seus olhos estavam fixos no semblante do homem que o tinha perseguido durante milhas e milhas, e que agora estava em seu poder. Por sua parte, Parris aguentou-lhe o olhar, e foi o primeiro a romper o silêncio:
— Maldito sejas, «Procura Sarilhos» Jimmy! Vais ordenar que me assassinem?
E os vaqueiros olharam para o capataz e este para Joe. Depois olharam todos para Parris, como se ele fosse um louco. Dissera nada mais nada menos do que «Procura Sarilhos» Jimmy e precisamente estava chamando-o a Joe Milton, o seu patrão!
Mas a surpresa da equipa foi ainda maior, quando o jovem replicou:
-- Continuas a ser um porco, Parris. Quando viste «Procura Sarilhos» Jimmy assassinar alguém sem lhe permitir defender-se?
Parris não respondeu, mas nos seus olhos podia ler-se a pouca confiança que aquelas palavras lhe mereciam. Joe voltou-se para o velho Ben Tim.
— Desatem-no — disse secamente.
— Mas...
— Faz o que te digo, Ben.
E o velho capataz obedeceu, enquanto a equipa, silenciosa, pensava que o patrão não tinha negado ser aquele famoso pistoleiro, pelo contrário, tinha-o afirmado.
Parris pôs-se de pé, e a espectativa chegou ao auge. Parris esfregou os pulsos, sem perder de vista Jimmy. Depois perguntou:
— Dás-me uma arma para que me defenda de todos estes homens?
Joe captou a ironia e sorriu.
— Não, Parris. Vou deixar-te ir de uma vez para sempre. Mas se alguma vez voltares, nem uma legião de diabos a cavalo te salvará. Ben Tim, o meu capataz, dar-te-á um cavalo. Quanto à tua irmã, podes viver tranquilo. Simplesmente a assediei, nada mais. Fiz-lhe o mesmo que a todas as mulheres bonitas que encontro no meu caminho. Vai-te para o diabo, Chet Parris!
Depois de dizer-lhe isto voltou-lhe as costas. Chamando o seu capataz, Ben Tim, Joe Milton, disse-lhe de maneira que Parris ouvisse:
— Dá-lhe um cavalo e comida e deixa-o partir.
Uma hora mais tarde, Chet Parris seguia o seu caminho. Nenhum rancor existia no seu peito, contra o homem que, tendo-o à sua mercê, se limitara a devolver-lhe a vida, que virtualmente era sua.
Joe Milton, no alpendre, rodeado por todos os vaqueiros, não teve outro remédio senão contar o que tinha sido a sua vida durante todo aquele tempo. Muito depois, e já a sós no seu quarto, começou a puxar pela cabeça, tentando recordar muitas coisas, e perguntando-se milhares de vezes se só existiam na sua mente, como um sonho. ou se tinham sido realidade. E Joe Milton demorou três dias a recordar todo o passado. O futuro abria-se diante dele, claro e diáfano, sem uma só nuvem no horizonte.
Sem comentários:
Enviar um comentário