Aurora San Roman, mais formosa do que nunca, estava a cantar no tablado do seu «saloon», enquanto centenas de olhos contemplavam a sua esbelta e felina figura.
De vez em quando, olhava para a porta, por onde não deixavam de entrar e sair homens.
Callender, completamente curado do queixo, ocupava o seu lugar junto da roleta, enquanto Davison baralhava as cartas como um mago.
Por entre as mesas, Lorna e Marisa repartiam sorrisos, e esquivavam-se cada vez que algum mais atrevido se destacava.
Somente os que estavam pendentes da atuação de Aurora compreenderam que o seu semblante se alterava ainda que todos soubessem que tinha deixado de cantar. As cabeças voltaram-se todas para ela.
Depois olharam para a porta e compreenderam tudo. Sorrisos maliciosos começavam a aparecer em todas as bocas.
E Joe Milton avançou para o tablado. Os homens abriram passagem, enquanto Aurora o olhava como que fascinada. Finalmente, o jovem deteve-se diante dela. Com o olhar ávido percorreu aquela gentil figura e depois, ante o espanto de todos os presentes, e a própria Aurora, saltou para cima do pequeno tablado.
Aurora não retrocedeu nem moveu um só músculo. Imóvel, parecia uma estátua de pedra, mas uma formosa e chamativa estátua, com o seu vestido aberto; Joe não falou, limitou-se a estender os braços, agarrou-a pela cintura, e carregou-a ao ombro, como se fosse um saco. Ela não reagiu até Joe chegar ao meio do «saloon».
— Bruto! Selvagem! Canalha, Larga-me!...
E continuou com uma série de blasfémias. Mas apesar dos seus furiosos insultos, Aurora não chamou Callender nem Davison, que sorriam como os demais, e o primeiro acariciava o queixo.
Joe abriu os batentes com um pontapé, e saiu para a rua. Ela continuava a espernear e a gritar. Perdeu um dos seus sapatos de tacão alto. E os clientes saíram de roldão, imitando-os a seguir, Lorna e Marisa.
O homem que todos conheciam por «Procura Sarilhos» Jimmy estava junto do cavalo. Aurora estava cada vez mais furiosa.
— Larga-me, canalha, para onde me levas, rufião?
— Simplesmente para casa, boneca.
Durante uns segundos, todos os presentes assistiram a uma cena espetacular, e também fora do vulgar. Mas, logo a seguir tudo mudou. Aurora San Roman, a mexicana, ficara muito quieta, e assim continuou enquanto o jovem a subiu para a sela. Depois subiu ele, e perante o espanto de todos, Aurora voltou-se para Lorna e Marisa, dizendo:
— Podem ficar com o «saloon», as duas.
Já fora da cidade, em plena estrada, sob as estrelas e com a cabeça encostada ao ombro dele, vieram as explicações.
— Joe...
Havia um mundo de promessas naquela simples palavra. Joe Milton assim o compreendeu, mas calou-se, ainda que uma pergunta que lhe queimava a cabeça desde que recobrara os sentidos em Bronton lhe saísse da boca.
— Como soubeste que eu não era Jimmy, mas sim Joe Milton, Aurora?
E ela replicou rapidamente:
— Eu não o sabia, querido. Temia que tivesses morrido, por nunca mais teres dado notícias. Simplesmente, foi o Destino ou uma estranha casualidade que nos pôs um dia frente a frente, e eu, ao chamar «Procura Sarilhos» Jimmy, encontrei-me com o homem...
Aurora calou-se repentinamente, não sabendo como continuar a frase, não querendo feri-lo no seu amor próprio, e compreendendo, também, apesar de todas as circunstâncias, não era culpado de tudo quanto se tinha passado. Depois continuou:
— Terás de perdoar-me a pancada que te dei com a garrafa. Jimmy. Mas ao ver-te, senti desejos de matar-te. Golpeei-te com essa intenção, mas tens a cabeça muito dura. Depois, ao ver-te a meus pés, desejei que soubesses quem te matava e o motivo. Quando me olhaste, não me vias. Não vias a Aurora que tanto te quis, que era tua. Olhavas-me como a uma mulher qualquer. Fizeste aquela pergunta e respondi-te com a primeira coisa que me veio à cabeça. Sabia que se passava algo contigo, muito estranho, e resolvi ter-te junto a mim. Mas depois fugiste... depois de me beijares e me bateres como quiseste. Depois, não sabes quanto me alegrei de que por um estranho acaso do Destino fosses Jimmy. Mas não consegui reter-te. Sabia que tudo o que te parecesse ambição, odiavas. Por isso admirou-me que te procurasses a ti próprio, julgando que eras pouco menos do que um ladrão. Senti vontade de rir... e tive imensa pena, Joe. Como perdeste a memória?
Joe não respondeu imediatamente. Limitou-se a parar o cavalo e puxando Aurora para a frente, beijou-a em plena boca.
— Coisas da guerra, Aurora. Numa trincheira, e como resultado do estrondo de um obus. Sei-o agora, depois de receber uma bala na cabeça, disparada por um tal Parris... — e ela lembrou-se imediatamente daqueles três homens, enquanto Joe continuava a contar tudo o que acontecera, mas ocultando os motivos por que fora Chet Parris atrás dele.
Aurora compreendeu que ele lhe escondia alguma coisa, visto que os seus olhos brilharam, felinos, cheios de ciúme, fogo e paixão. Nada disse, e simplesmente perguntou, muito baixinho:
— E agora, Joe? Vamos para casa. No meu rancho faz falta uma mulher.
— Mas, Joe, não compreendes que amanhã podes pensar que eu...
Joe beijou-a na boca, impedindo que ela pudesse terminar a frase. Depois, e enquanto Aurora procurava respirar, o jovem exclamou:
— Não quero voltar a ouvir-te uma palavra sobre esse assunto. Não te esqueças Aurora.
E para corroborar as suas palavras, Joe Milton fez o que mais desejava naqueles momentos. Beijou-a de novo. Aurora sentiu que lhe faltava a respiração. Finalmente Joe separou a sua boca da dela. Olharam-se em silêncio por uns momentos. Depois, Aurora, com os olhos brilhantes e ameaçadores, exclamou:
— Se me levas, Joe, é sob a tua responsabilidade. Pensa que se te vejo a fazer amor a outra mulher... que não seja eu... mato-a.
E Joe Milton viu o brilho perigoso que havia nos seus olhos e sorriu, enquanto dizia:
— Nada há para mim como tu, Aurora.
Os primeiros raios solares surpreenderam-nos em frente de uma velha missão espanhola, em ruinas. Joe não lhe dissera nada, mas ali, entre os seus sagrados muros, havia um não menos velho sacerdote católico que os esperava para celebrar o seu casamento.
F I M
De vez em quando, olhava para a porta, por onde não deixavam de entrar e sair homens.
Callender, completamente curado do queixo, ocupava o seu lugar junto da roleta, enquanto Davison baralhava as cartas como um mago.
Por entre as mesas, Lorna e Marisa repartiam sorrisos, e esquivavam-se cada vez que algum mais atrevido se destacava.
Somente os que estavam pendentes da atuação de Aurora compreenderam que o seu semblante se alterava ainda que todos soubessem que tinha deixado de cantar. As cabeças voltaram-se todas para ela.
Depois olharam para a porta e compreenderam tudo. Sorrisos maliciosos começavam a aparecer em todas as bocas.
E Joe Milton avançou para o tablado. Os homens abriram passagem, enquanto Aurora o olhava como que fascinada. Finalmente, o jovem deteve-se diante dela. Com o olhar ávido percorreu aquela gentil figura e depois, ante o espanto de todos os presentes, e a própria Aurora, saltou para cima do pequeno tablado.
Aurora não retrocedeu nem moveu um só músculo. Imóvel, parecia uma estátua de pedra, mas uma formosa e chamativa estátua, com o seu vestido aberto; Joe não falou, limitou-se a estender os braços, agarrou-a pela cintura, e carregou-a ao ombro, como se fosse um saco. Ela não reagiu até Joe chegar ao meio do «saloon».
— Bruto! Selvagem! Canalha, Larga-me!...
E continuou com uma série de blasfémias. Mas apesar dos seus furiosos insultos, Aurora não chamou Callender nem Davison, que sorriam como os demais, e o primeiro acariciava o queixo.
Joe abriu os batentes com um pontapé, e saiu para a rua. Ela continuava a espernear e a gritar. Perdeu um dos seus sapatos de tacão alto. E os clientes saíram de roldão, imitando-os a seguir, Lorna e Marisa.
O homem que todos conheciam por «Procura Sarilhos» Jimmy estava junto do cavalo. Aurora estava cada vez mais furiosa.
— Larga-me, canalha, para onde me levas, rufião?
— Simplesmente para casa, boneca.
Durante uns segundos, todos os presentes assistiram a uma cena espetacular, e também fora do vulgar. Mas, logo a seguir tudo mudou. Aurora San Roman, a mexicana, ficara muito quieta, e assim continuou enquanto o jovem a subiu para a sela. Depois subiu ele, e perante o espanto de todos, Aurora voltou-se para Lorna e Marisa, dizendo:
— Podem ficar com o «saloon», as duas.
Já fora da cidade, em plena estrada, sob as estrelas e com a cabeça encostada ao ombro dele, vieram as explicações.
— Joe...
Havia um mundo de promessas naquela simples palavra. Joe Milton assim o compreendeu, mas calou-se, ainda que uma pergunta que lhe queimava a cabeça desde que recobrara os sentidos em Bronton lhe saísse da boca.
— Como soubeste que eu não era Jimmy, mas sim Joe Milton, Aurora?
E ela replicou rapidamente:
— Eu não o sabia, querido. Temia que tivesses morrido, por nunca mais teres dado notícias. Simplesmente, foi o Destino ou uma estranha casualidade que nos pôs um dia frente a frente, e eu, ao chamar «Procura Sarilhos» Jimmy, encontrei-me com o homem...
Aurora calou-se repentinamente, não sabendo como continuar a frase, não querendo feri-lo no seu amor próprio, e compreendendo, também, apesar de todas as circunstâncias, não era culpado de tudo quanto se tinha passado. Depois continuou:
— Terás de perdoar-me a pancada que te dei com a garrafa. Jimmy. Mas ao ver-te, senti desejos de matar-te. Golpeei-te com essa intenção, mas tens a cabeça muito dura. Depois, ao ver-te a meus pés, desejei que soubesses quem te matava e o motivo. Quando me olhaste, não me vias. Não vias a Aurora que tanto te quis, que era tua. Olhavas-me como a uma mulher qualquer. Fizeste aquela pergunta e respondi-te com a primeira coisa que me veio à cabeça. Sabia que se passava algo contigo, muito estranho, e resolvi ter-te junto a mim. Mas depois fugiste... depois de me beijares e me bateres como quiseste. Depois, não sabes quanto me alegrei de que por um estranho acaso do Destino fosses Jimmy. Mas não consegui reter-te. Sabia que tudo o que te parecesse ambição, odiavas. Por isso admirou-me que te procurasses a ti próprio, julgando que eras pouco menos do que um ladrão. Senti vontade de rir... e tive imensa pena, Joe. Como perdeste a memória?
Joe não respondeu imediatamente. Limitou-se a parar o cavalo e puxando Aurora para a frente, beijou-a em plena boca.
— Coisas da guerra, Aurora. Numa trincheira, e como resultado do estrondo de um obus. Sei-o agora, depois de receber uma bala na cabeça, disparada por um tal Parris... — e ela lembrou-se imediatamente daqueles três homens, enquanto Joe continuava a contar tudo o que acontecera, mas ocultando os motivos por que fora Chet Parris atrás dele.
Aurora compreendeu que ele lhe escondia alguma coisa, visto que os seus olhos brilharam, felinos, cheios de ciúme, fogo e paixão. Nada disse, e simplesmente perguntou, muito baixinho:
— E agora, Joe? Vamos para casa. No meu rancho faz falta uma mulher.
— Mas, Joe, não compreendes que amanhã podes pensar que eu...
Joe beijou-a na boca, impedindo que ela pudesse terminar a frase. Depois, e enquanto Aurora procurava respirar, o jovem exclamou:
— Não quero voltar a ouvir-te uma palavra sobre esse assunto. Não te esqueças Aurora.
E para corroborar as suas palavras, Joe Milton fez o que mais desejava naqueles momentos. Beijou-a de novo. Aurora sentiu que lhe faltava a respiração. Finalmente Joe separou a sua boca da dela. Olharam-se em silêncio por uns momentos. Depois, Aurora, com os olhos brilhantes e ameaçadores, exclamou:
— Se me levas, Joe, é sob a tua responsabilidade. Pensa que se te vejo a fazer amor a outra mulher... que não seja eu... mato-a.
E Joe Milton viu o brilho perigoso que havia nos seus olhos e sorriu, enquanto dizia:
— Nada há para mim como tu, Aurora.
Os primeiros raios solares surpreenderam-nos em frente de uma velha missão espanhola, em ruinas. Joe não lhe dissera nada, mas ali, entre os seus sagrados muros, havia um não menos velho sacerdote católico que os esperava para celebrar o seu casamento.
F I M
Sem comentários:
Enviar um comentário