domingo, 22 de abril de 2018

CLF043.10 Dumas: a batalha final

Jimmy ficou tenso, sobre a cama, escutando. As suas mãos acariciaram as coronhas dos revolveres. Segundos depois, levantou-se sem fazer o menor ruido.
No seu quarto, Aurora também se punha em pé, com um «Colt» na mão. Ambos, cada um no seu quarto, se aproximaram da janela, perscrutando a rua. Depois foram ate a outra, que dava para as traseiras, onde estavam os estábulos.
Nas traseiras descobriram as figuras de dois homens, que avançavam lentamente.
E precisamente ao ver as latas que levavam nas mãos, Jimmy compreendeu o que eles iam fazer, e assim compreendeu, também, qual o ruido que o tinha alertado: foram os cavalos, que estavam nervosos ao notar ali perto, a presença de gente estranha.
Sempre com a luz apagada, Jimmy abriu a janela da varanda que dava para as traseiras. Colou-se à parede e olhou para o chão. O salto era fácil, para um homem como ele. Então olhou para os dois homens. Estava escuro e não pôde distinguir as suas feições; só o brilho das latas de petróleo.
E sorriu geladamente, compreendendo donde partia a agressão. Lon Lorrigan não tinha muita paciência. E Jimmy pensou que entre os agressores não estaria Galento.
Jimmy não se equivocou. Efetivamente, eram Ducan e Morgan, levando cada um, uma lata de petróleo numa mão e na outra um «Colt». O jovem olhou para ambos os lados da rua, sem descobrir a figura que forçosamente tinha de pertencer a Galento. Sem dúvida, ele estava perto. A sua intuição lho dizia.
E Jimmy pensou que talvez Lorrigan também se expusesse.
Foi então que saltou para a rua. Caiu de cócoras e baixou-se imediatamente.
Foi precisamente a tempo. Ducan e Morgan separaram-se, lançando uma maldição, e a semiobscuridade da noite foi rompida por duas chamas.
Jimmy sentiu o zumbido do chumbo roçando-lhe a cabeça e fez fogo por sua vez, com o «Colt» da mão direita, já que e outro o tinha debaixo do corpo.
Duncan lançou um grito impressionante e caiu no chão como um fardo. A lata de petróleo despejou-se no pó do chão e Morgan lançou-se de cabeça para baixo, livrando-se milagrosamente do balázio de Jimmy.
Da janela, e enquanto Jimmy se punha em pé para atravessar a rua em duas passadas, Aurora fez fogo uma só vez e Galento lançou uma horrorosa maldição, quando o chumbo produziu uma corrente de ar junto a sua orelha esquerda. Disparou rapidamente contra o sítio donde partira o disparo. Mas Aurora já não estava na janela, mas agachada por detrás dela, e furtou-se aos disparos.
Jimmy chegara, entretanto, ao outro lado da rua e virou-se, rapidamente, disparando sobre Galento, que foi atingido no queixo.
Jimmy disparou ainda mais duas balas sobre Galento, atingindo-o na cabeça e no peito. Nesse momento, Morgan abandonava o seu refúgio, correndo para um dos portais.
Jimmy disparou sobre ele e errou por milímetros. Morgan virou-se, por sua vez, e os disparos do jovem cruzaram-se com os seus. Nenhum dos dois acertou.
Na janela, Aurora, em companhia de Lorna e Marisa, procurava não perder um só detalhe do que acontecia. Eram as únicas pessoas que se mostravam a descoberto em Dumas. Os restantes preferiam dormir antes de assomar os narizes por ali.
Nada disso via Jimmy. O seu único objetivo era alcançar Morgan, o único inimigo que restava. Sabia que estava ileso, dentro daquele portal, quase em frente da cavalariça, onde os cavalos relinchavam, cada vez mais nervosos.
Por sua parte, o jovem estava colado materialmente a esquina, oferecendo um alvo difícil, apesar de estar completamente a descoberto. E não se movia dali, pois sabia que quando Morgan desse por isso, sairia do portal, disparando.
Durante mais de cinco minutos, o jovem permaneceu completamente imóvel. E a interrupção que esperava não veio precisamente de Morgan, mas de Davison e Kirby, que apareceram inopinadamente, cada um do seu lado da rua.
— Não dispare, Jimmy.
O jovem manteve-se imóvel, pois compreendia que aqueles dois tinham saído pela porta principal do «saloon», separando-se imediatamente, a fim de surpreenderem entre dois fogos os homens que disparavam contra ele.
Os pensamentos de Jimmy foram interrompidos por Morgan. Ao ouvir aquele grito perdeu a cabeça, ao compreender que nunca poderia ele, só, acabar com aqueles três homens.
Então saltou para o meio da rua, disparando ambos os «Colt» como um demónio. E fê-lo em direção de Kirby, que não teve tempo para nada.
Com uma careta de agonia, o guarda-costas de Aurora enterrou a cara no pó, depois de ter dado um passo em falso.
Jimmy saltou, precisamente no momento em que, do outro lado da rua, também Davison saltava. Morgan imobilizou-se imediatamente. Os seus «Colt» caíram para o chão e enterraram-se no pó.
Aurora gritou horrorizada perante o espetáculo e Lorna e Marisa taparam a cara com as mãos, não menos horrorizadas do que ela.
É que Morgan começou a dançar estranhamente, indo de um lado para outro, impelido pelas balas dos dois homens, que não falharam uma s6 vez. E quando acabaram de disparar, Morgan estava convertido num passador.
Em quatro passadas, Davison chegou junto de Jimmy. Ambos se olharam nos olhos.
— Obrigado pela ajuda, Davison — disse o jovem.
O guarda-costas sorriu, e estendeu-lhe a mão direita.
— Sem rancores?
— Sem rancores.
E Jimmy apertou-lhe a mão. Depois olhou para a rua.
— Quer tranquilizar os cavalos, Davison? A mim resta ainda algo por fazer.
Davison olhou-o atentamente.
— Vou consigo.
O jovem impediu-o, com um gesto.
— Lon Lorrigan é assunto meu, Davison. Gostaria que o compreendesse assim.
O jogador encolheu os ombros, e Jimmy afastou-se, sem perguntar por Callender, que não voltara a ver desde o dia em que lhe partira o queixo.
Jimmy deu a volta e entrou na rua principal. O silêncio era absoluto. Davison viu-o partir e aproximou-se do corpo de Kirby. O seu companheiro estava morto. Lançou uma maldição e foi até a cavalariça acalmar os cavalos.
Jimmy, ao chegar em frente do «saloon», tropeçou com as três mulheres, que saiam dele. Nas mãos de Aurora brilhava um «Colt».
Ambos se olharam sem dizer nada. Jimmy compreendeu donde tinha partido o tiro que retardou a ação de Galento, dando-lhe tempo para o mandar para o inferno. Admirou-a pelo disparo, e sem dizer nada, continuou rua abaixo.
Aurora deteve-se para o olhar. Deu um passo para virar a esquina e parou tão precipitadamente, que Lorna chocou com ela. Um pouco mais afastada, Marisa parou também. Olharam-se e Aurora foi a única que falou:
— Vão ajudar Davison. Eu vou com Jimmy.
E Aurora avançou como um gato, direita ao «saloon» de Lon Lorrigan, que ela ambicionava tanto como o seu inimigo o dela.
Com os olhos cravados nas costas de Jimmy, continuou durante uns metros, enquanto a povoação parecia dormir, ou simplesmente desabitada. Mas Aurora, tal como Jimmy, sabia que por detrás das janelas e das portas, haviam olhos que esperavam com curiosidade, o final daquela luta.
Jimmy também pensava que os habitantes deitavam para cima dela as culpas do que tinha acontecido e ia ainda acontecer.
Friamente, Aurora encolheu os ombros. De súbito pensou que tanto podia morrer Lorrigan, como Jimmy. Sentiu medo e apertando nervosamente o revolver, apressou o passo.
Um relâmpago abriu a escuridão e Jimmy deu uma volta sobre si mesmo, caindo no solo.
Aurora gritou e disparou contra a janela donde viera o tiro, enquanto voltava a soar o ribombar da «Winchester».
Mas agora dirigia-se a Aurora. Esta tremeu quando o pesado projétil rocou a sua cabeça, para se ir encravar na fachada de uma casa.
No segundo imediato Aurora deitou-se ao chão. E quando chegou novo projétil, ela disparou contra a janela. Lon Lorrigan lançou uma praga quando a bala lhe fez um traço de sangue na face.
Rapidamente voltou a disparar. Mas Aurora já não estava no mesmo lugar, mas umas jardas mais
E do chão, Jimmy fechou os olhos por uns segundos e acabou por abri-los, mas agora fixos na janela. Disparou.
*
A umas milhas de Dumas, três cavaleiros faziam alto para acampar ali naquela noite. A sua meta era a povoação onde estava «Procura Sarilhos» Jimmy.
 

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