Estavam diante do cofre forte e Joss iluminava com a
lanterna de petróleo. Ferris tateou o botão, em cuja periferia estavam gravadas
todas as letras do alfabeto.
- Achas que se abre? – perguntou-lhe o amigo.
- Veremos. Tenho seis palavras para experimentar.
As palavras estavam escritas num papel. Ferris consultou-o
num lance de olhos, e começou a fazer girar o disco.
- Erre… e… pê… u… ele… esse… e… - terminou, pronunciando a
palavra completa: - «Repulse» - e juntou uma oitava letra, que era simplesmente
a repetição da última da palavra. – Foi sempre o truque desde os tempos do
velho Kerchival – explicou ao companheiro. – Empregar uma palavra apenas com
sete letras e repetir a última.
Depois, tirou uma chave da algibeira – uma chave pequena,
que não pertencia àquelas que, minutos antes, estavam em poder do guarda – e
meteu-a na fechadura do cofre forte. Fez força sobre a lingueta, procurando
levá-la para baixo… Mas a lingueta permaneceu firme.
Continuou a experiência com a palavra «Minster». E tão ouco
teve Êxito. Depois, «Impetus». E acertou. A porta do cofre abriu-se
obedientemente. Joss aproximou o candeeiro.
- Ferris! – maravilhou-se. – Há aqui muito mais dinheiro do
que aquilo que imaginávamos!
Com efeito, o cofre estava cheio de notas grandes.
- Sim. É uma grande quantidade – asseverou Ferris,
calmamente.
- Se atingisse a soma total!... Se fosse assim, Ferris!...
- Cala-te! Já te disse muitas vezes que não pronuncies o meu
nome.
- Não teríamos de voltar a fazer isto!... Acabar-se-iam os
sobressaltos!... Poderíamos respirar, Ferris! – havia demasiada ansiedade no
coração de Joss para fazer caso da advertência do amigo. – Meu Deus, se
houvesse bastante!... Conta-o!
Ferris começou a tirar os maços de notas, colocando-os sobre
uma mesa que lhes ficava ao lado. Calculava ao mesmo tempo a quantidade
correspondente a cada maço.
- Dez mil… quarenta mil… cem mil… cento e cinquenta mil…
Joss nem respirava e também ele ia contando mentalmente.
- Trezentos mil!
- Trezentos mil!... Há o suficiente, Ferris!... Não é
verdade que há o suficiente?... Diz-me!
- Sim. Há o necessário. Nunca o teria imaginado.
Joss estava delirante, completamente absorvido por uma
alegria e por um entusiasmo impossíveis de ocultar.
- Somos pessoas honestas, Ferris!... Nunca mais!... Nunca
mais depois disto!... Procuraremos noiva. Casaremos. Teremos filhos… Cada um os
seus!
- Claro!
- Tu já não terás de esconder o que sentes por Carol.
Poderás dizer-lhe quanto a amas!
- Silêncio, Joss!... Enlouqueceste?
- Eu, sim. E tu?
Ferris apertou o braço do amigo afetuosamente.
- Procuro conservar a calma – disse.
- Porque és feito de gelo!... Somos pessoas honradas,
Ferris! Imaginas tu o que isso significa?
- Ainda não somos. Não o seremos enquanto estivermos aqui.
- Temos de sair!... Temos de sair imediatamente!... Vamos!
Ferris falou com firmeza:
- Não!... Temos de executar o nosso plano, ponto por ponto.
É a salvaguarda que temos. Não percas a cabeça!
Ferris tratou de fechar de novo o cofre com a mesma
combinação de letras. Depois afastou-se um pouco para deixar que Joss se
aproximasse.
- Agora é a tua vez.
Joss tirou da algibeira uma pequena picareta e rapidamente
começou a desprender com ela a argamassa em volta do cofre. Em seguida, agarrou
na pega e puxou por ela com todas as suas forças e com as duas mãos. O cofre
permaneceu firme, incrustado na parede.
Ferris pegou num tronco comprido que estava num dos montes e
deu-o ao amigo.
- Toma-o. Usa-o como alavanca – disse-lhe.
Joss meteu o tronco por baixo da curva da pega, no sentido horizontal,
e apoiou a ponta na parede, à esquerda do cofre. Depois, agarrou na outra
extremidade e, fazendo apoio com as pernas abertas em compasso e os pés
encostados À parede, um de cada lado do cofre, puxou-o para si com um esforço
terrível. O cofre acabou por desprender-se cessando bruscamente a sua
resistência. Com ele desprenderam-se alguns fragmentos de pedra, que foram cair
no chão com ruído.
Joss enxugou o suor e ergueu-se orgulhosamente, voltando a
cabeça para o amigo, À espera das sua felicitações.
- Que te pareceu? – perguntou.
Ferris estava diante de uma janela perscrutando as trevas do
exterior, e fez-lhe sinal para que ficasse quieto Joss aproximou-se sem fazer
ruído.
- Deus!... Que temos agora?
- Vi qualquer coisa a mover-se lá fora.
- Como é possível?
- Não sei. Talvez algum dos guardas. Não te assustes.
Afastou-se da janela para ir à porta espreitar as escadas.
Escutou durante bastante tempo.
- O que é? – perguntou o hérculas, numa ansiedade crescente.
- É que sim – replicou Ferris, friamente.
Joss agarrou-lhe os ombros com ambas as mãos e fê-lo
voltar-se para ele, com uma força de urso.
- Que quer dizer «que sim»?... Que quer dizer, Fe..?
O outro tapou-lhe a boca quase com uma pancada.
- Não digas nomes agora!... Quer dizer que estamos cercados.
E agora? Será que finalmente se desciobrirá quem é Barry
Larsen? E ele será apanhado? Ou escapará mais uma vez?
(Coleção Pólvora, nº 32)
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