As sombras tinham-se desvanecido. Era dia e o sol brilhava.
Uma gritaria ensurdecedora. E uma sucessão de rostos patibulares, de feições a
transpirar ódio. E ele, Frank, no meio dela. Empurravam-no.
- Pendurai-o de uma vez!
Uma forca. Uma corda que pendia de um ramo da única árvore
que se erguia na praça da povoação, em frente da Câmara.
Mais empurrões. Mais gritos. Depois, Joe Scarlett. Diante
dele, gigantesco, com os braços cruzados sobre o peito. Cínico!
- Vou enforcar-te como a um cão. Disse-te isso uma vez,
Frank. Lembras-te?
Novos encontrões. A corda pendia sobre a sua cabeça prestes
a ajustar-se ao seu pescoço. Um puxão violento. Asfixiava. A escuridão era
completa…
- Meu Deus!
Pousou-se na sua mão outra mão. Silêncio sepulcral.
- Tem ainda febre, Peggy…
Que significava aquilo? Abriu os olhos.
- Acalma-te, rapaz. Não é nada. Tudo isto já passará.
Era o doutor Sandor, com a sua cara avermelhada, com os seus
olhos míopes atrás de grossas lentes.
- Obrigado, meu Deus…
Suspirou profundamente. Tudo tinha sido um pesadelo.
- Tens de te conformar com a situação, Frank. Não podes
deixar-te dominar pela cólera ou irás para o outro mundo enquanto o Diabo
esfrega um olho. Compreendes? A tua irmã disse-me que parecias uma fera quando
retomaste o conhecimento. Que isto não suceda mais para teu bem.
O doutor afastara-se um pouco do leito. Atrás dele, estava
Peggy. E outra vez o ódio se avolumou no seu peito. E a recordação de Joe
Scarlett, o marido daquela mulher que era sua irmã… E a promessa terrível… a forca!
- Fora daqui. Vai-te embora!
- Por Deus, Frank.
- Então, Rapaz…
- Que se vá embora. Não a quero ver.
Agitado, embravecido, fora de si, dominado pelo ódio. E
novos esforços. Outra vez a nuvem diante dos olhos. E a escuridão…
Entre as trevas, o real e o irreal, mescla de sensações. O
quimérico e o certo. E, abarcando tudo, motor vital na luta, na agonia, aquele
ódio imenso e desdobrante. Ódio a Peggy. Ódio a Joe Scarlett.
(Coleção Pólvora, n~23)
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