- Silêncio. Sei tudo, ouves? Tudo. Estás satisfeita da tua
ação, não é verdade? Atraiçoares o teu marido para ajudar essa cabeça perdida
do teu irmão!...
A mulher, apesar do medo que dela se apoderara, teve o
suficiente sangue frio para se levantar.
- Estás a dizer tolices, Joe. Nada tenho a ver com a fuga de
Frank.
- Senta-te e ouve-me até final.
Exaltado, Joe empurrou com violência a mulher que, perdendo
o equilíbrio, caiu de costas sobre o cadeirão do qual acabara de se erguer.
- Estiveste a beber, Joe. Mais vale que vás para a cama.
- Mas não estou embriagado…
Os olhos dele estavam injetados de sangue. Peggy sentiu
medo. Nunca tinha visto Joe daquela maneira. E o receio deu-lhe ânimo para
acabar definitivamente com aquela situação. Pôs-se de pé.
- Falaremos amanhã, Joe. Quando estiveres mais tranquilo.
- Toma cadela, toma lá.
E Peggy recebeu em cheio no rosto uma bofetada brutal. Quis
tapar o rosto com as mãos e o seu gesto mais excitou o marido.
- Toma! Hás-de lembrar-te de mim, desgraçada.
Bateu-lhe outra vez. Ela, querendo afastar-se, deu uns
passos para o lado. Joe apanhou-a. Agarrou-lhe nos cabelos e puxou
violentamente por eles. Ela soltou um grito de dor.
- Pelo que mais queiras, Joe! Deixa-me. Suplico-te! Meu
Deus, ajudai-me!
Joe atirou-a ao chão, contra o pavimento. Ela soluçava sem
se defender já.
- Vou de uma vez para sempre ensinar-te a respeitar-me.
E deu-lhe um furioso pontapé. E outro… e outro ainda…
Inesperadamente, Jor ouviu uma voz nas suas costas:
- Está quieto, miserável, ou faço-te esmigalhar os miolos!
Voltou-se.
Marta, junto da porta, com uma espingarda apontada, tinha na
expressão sombria um olhar firme e decidido.
- Afasta-te dela, já.
Joe Scarlett obedeceu acto contínuo. A atitude da criada
dizia-lhe que, se continuasse a bater na esposa, ela seria capaz de cumprir a
sua ameaça.
Peggy continuava a soluçar.
- Fora desta sala! Vamos!
Marta afastou-se da porta sem deixar de apontar a arma para
o xerife. Este, sem poder conter a cólera de que estava possuído, dirigiu-se
para a porta e ali deteve-se exclamando:
- Hão-de pagar-me, as duas.
- Fora daqui!
E enquanto os passos de Joe se ouviam sobre o corredor,
Marta aproximou-se de Peggy e ajoelhou-se junto da patroa.
- Vamos, senhora, levante-se…
- Oh! Marta! Que desgraçada sou!
(Coleção Pólvora, nº 23)
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