Quando o ruído das ferraduras do cavalo deixou de ouvir-se
na noite, estranhamente silenciosa após a borrasca, ela fechou a porta e
trancou-a. Depois, foi às janelas e fez-lhes o mesmo. Quando chegava à última,
precisamente a dos seu quarto, deteve-se, como se tivesse ficado pregada ao
solo. Lá fora, do outro lado da vidraça, havia uma sombra mais escura que as
outras. Aquela sombra nunca estava ali, ela sabia-o bem.
O coração começou a pulsar-lhe em ritmo acelerado e ela
levou a mão ao peito. A sombra movia-se,
aproximando-se cada vez mais. Frances Lowrie sabia que as janelas fechavam mal,
a não ser que se tivesse muito cuidado ao fazê-lo, e ignorava se o mexicano
teria tido essa precaução. Precipitou-se para a janela, num ímpeto que não
provinha da sua vontade consciente, e fechou-a. Do outro lado, a sombra
imobilizou-se. Então, as nuvens separaram-se e deixaram passar um pálido raio
de luar.
A sombra tinha um rosto triangular e as pálpebras
pesadamente caídas sobre as comissuras exteriores dos olhos o que dava a estes
um aspeto oblíquo e particularmente maligno.
(Coleção Pólvora, nº 14)
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