quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PAS169. O delator

Causey suspirou, sem olhar para Morgan. Um calafrio percorreu-lhe a nuca e as costas. Aquele epíteto de Judas cravou-se-lhe como um punhal no coração. Já o xerife, ao entregar-lhe o dinheiro, o tinha feito com um desprezo que parecia equivaler a chamar-lhe Judas, e os seus ajudantes tinham-no olhado de igual modo.
Se Morgan nunca lhe tinha sido simpático, repentinamente, concebeu contra ele um ódio mortal que jamais se apagaria da sua mente. Não sabia se o seu companheiro estava suspeitando dele, se sabia já que denunciara Bouse (antigo companheiro e chefe da quadrilha), mas o medo de chegar a sabê-lo, sem lugar para dúvidas, fazia-o pensar no que podia ocorrer. Entre os meliantes, o delator, o confidente da Polícia era o ser mais execrável, o mais odiado que podia imaginar-se. Entre eles concebia-se o assassínio por ambição do mando sobre a quadrilha; a morte para disputar uma mulher, por fazer batota ao jogo, por um roubar a outro. Eram coisas normais e para todos havia uma desculpa: o ser um mais batoteiro, mais ambicioso e mais ladrão do que o outro. Mas jamais se perdoava ao que denunciava os outros companheiros de um bando e muito menos ainda se por isso cobrava dinheiro da Polícia.
(Coleção Arizona, nº 47)

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