segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PAS155. Um par de açoites na condessa

Através da janela aberta filtrava-se um raio de luz. Ainda não eram sete horas, mas por um lado o velho hábito de levantar-se com o Sol, por outro os sucessos da véspera, mantinham-no inquieto e incapaz de conservar-se mais tempo na cama. Decidiu levantar-se para dar um passeio que lhe permitisse pôr as ideias em ordem.
Lavado e vestido, saiu silenciosamente do quarto, atravessou o corredor e começara a descer a escadaria quando se lembrou de que no dia anterior vira uma biblioteca no isso que acabara de deixar e decidiu voltar atrás para escolher uma novela, pois talvez encontrasse algum lugar agradável para ler um pouco antes do pequeno almoço. Depois propunha-se ir buscar «Flash», visto que o pobre devia estar ancilosado por melhor que o tratassem na espçosa e limpa cavalariça de Lovejoy.
Apenas havia descido alguns degraus quando o assaltou a ideia que o obrigara a deter-se, e voltando atrás dispôs-se a subir de novo; mas conteve-o o ruído de um vivo bater de tacões que se aproximava rapidamente, e no mesmo instante alguém dobrou a esquina formada pelo corredor ao começar a escadaria, saltando alegremente os primeiros degraus com o ímpeto de quem está seguro de encontrar o caminho livre.

Um tanto estonteado pela surpresa, Gary saltou de lado para evitar o encontro, mas não foi suficientemente ágil e se bem que furtasse o corpo não pôde evitar que a pessoa apenas entrevista tropeçasse num dos seus pés e se precipitasse pelas escadas com um grito agudo, dando pontapés e saltos ridículos, no baldado intento de recuperar o equilíbrio perdido, de forma que ao chegar ao fim da escada e tropeçar de novo, as pernas não resistiram e dando uma reviravolta, caiu de bruços no chão.
Do alto do seu observatório, entre consternado pela iminência da pancada que via aproximar-se, e divertido pela grotesca e mais que apressada descida da aturdida pessoa que tomara a escada como se fosse um escorregador, Mac Call seguiu imóvel os incidentes do lance até ao ponto culminante. Depois apressou-se a reunir-se à pessoa que tinha caído, para saber se estava magoada.
Qual não foi a sua surpresa ao reconhecer a condessa Olga Selanova, que naquela ocasião tinha perdido todo o rígido e emproado aspeto aristocrático com que até àquele momento se havia dignado favorecê-lo nos seus anteriores encontros. Por um momento perdeu o seu habitual sangue frio, olhando-a consternado, mas depressa se recompôs, encontrando verdadeiramente cómica a situação.
Ela descobriu-o quase ao mesmo tempo e a sua linda carita adquiriu um tom vivo de púrpura ao mesmo tempo euo os formosos olhos brilhavam de indignação. Ao impassível Mac Call pareceu tudo tão natural que não pôde conter uma gargalhada, apoiando-se no parapeito da escada para rir com gosto. Mas, refazendo-se passado o rimeiro instante, inclinou-se para ajudá-la a levantar-se.
- Deixa-me – guinchou ela enfurecida, debatendo-se tãovviolentamente entre as suas mãos que a soltou com receio de magoá-la. – Imbecil! Animal! – seguiu, increpando, a rapariga, perdendo toda a altiva compostura com que sempre a vira e encontrando-a muito mais encantadora apesar do aborrecimento que mostrava.
- Não se exalte, alteza – replicou Gary alegremente, sentindo um estranho prazer ao comprovar que a jovem era tão humana como qualquer das raparigas com quem estava habituado a lidar, o que lhe deu um aorumo de que antes havia carecido junto dela, e metendo as mãos nas algibeiras voltou a recostar-se indolentemente no corrimão, deixando que nos seus lábios aparecesse um irritante sorriso trocista.
Ainda mais encolerizada por aquela mostra de indiferença, a condessita sentou-se na escada com excessiva energia para o que lhe permitia a contusão sofrida e não pode abafar de todo um débil lamento enquanto a sua elegante e pequena mão procurava o ponto magoado.
- Sinto que lhe tenha acontecido mal, mas merece-o por ser tão tola – disse o «cow-boy».
- Como se atreve? – voltou a irritar-se a dama.
- Mas eu sou muito pacato – protestou Gary sem abandonar o seu provocante ar divertido. – Imagine que morro por dar-lhe um beijo e não acabo de decidir-me.
A condessita tinha-se levantado e avançou para o mocetão encantadora apesar do seu aborrecimento. Vestia calças escuras de montar e uma blusa fina de cor cinzento-pérola com uma gola aberta, deixando ver as finas linhas do colo forte e delicadamente modelado. Mas, apesar de ver tudo isto, a atenção do jovem estava concentrada no chicote que ela segurava com excessiva firmeza para que fosse tranquilizadora a sua atitude.
- Por uma bofetada, um beijo – disse tranquilamente, - mas se tenta bater-me com o chicote
terei de dar-lhe os açoites que está merecendo o seu tonto orgulho.
Longe de afastá-la, aquelas palavras puseram ao rubro a ira da condessita que, levantando o braço, tentou cortar-lhe o rosto com o seu curto látego; mas o rapaz estava prevenido e baixando-se com incrível agilidade em tão avantajado mocetão, deixou que o golpe lhe passasse inofencsivo sobre a cabeça, e agarrando-a pela cintura com as grandes manápulas, sentou no segundo degrau para deitá-la de bruços sobre os joelhos e, enquanto ela guinchava e esperneava inutilmente, começou a dar-lhe os prometidos açoites.
Aqule escândalo provocou imediatamente alarme, e, como Gary não ignorava o que se avizinhava, aguçou o ouvido enquanto continuava impassível o seu trabalho.
- Mas, Gary! Que estás fazendo?

 

Pobre Gary! Agora que vem aí o gigantesco Boronoff para vingar a honra da sua protegida condessa…

(Coleção Búfalo, nº 42)

 

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