sábado, 16 de novembro de 2013

PAS163. Engolido pelo pântano

Contexto da passagem: após a descoberta de um cadáver, But Curtis fugiu do local do crime pois houve a tentativa de incrimina-lo. Saltou do barco, nadou para a margem e foi dar a uma cabana onde foi acolhido por um bom velho que se prontificou a dar-lhe guarida e arranjar-lhe transporte para New Orleans com um amigo. But descansou sossegadamente mas, quando acordou, o velho tinha sido preso pelos perseguidores que o ameaçaram procurando saber da fotografia tendo But dito que a tinha escondido antes de chagar a caso do velho. Soa a ameaça das armas dos perseguidores, dirigiam-se agora para o local onde supostamente But guardara a preciosa fotografia
 
 
But afrouxou a marcha, olhando com precaução em seu redor. Aquelas terras eram muito parecidas cos as de Perryville, onde ele se tinha criado… Sabia diferençar como ninguém os terrenos movediços, observando a sua cor.
Duas milhas mais adiante começou a descobri-los. O bosque para o qual se dirigiam estava situado a menos de um quarto de milha do local em que se encontravam nesse momento.
Atrás dele, ia Bill, posteriormente Fred e Wayne. De repente, Curtis deteve-se, levantando o braço e indicando o bosque.
- Olhem-no… ele ali está! – e apontou para um montão de folhas e troncos secos que de longe se divisava.
A sua paragem foi tão inesperada que os três homens quase se juntaram e levantaram a cabeça, dirigindo o olhar para o sítio indicado. Então, rápido como uma faísca, But estendeu o punho e descarregou-o com todas as suas forças nos queixos de Bill.
Este caiu sobre Fred e os dois em cima de Wayne, acabando os três homens por caírem por terra.
Curtis aproveitou a confusão para saltar como uma lebre perseguida pelos caçadores e correr, lesto, numa tentativa de fugir aos possíveis tiros dos três bandidos, distanciando-se o mais depressa que lhe foi possível e saltando e correndo em ziguezague, procurando não pôr os pés em superfície pantanosa.
Ouviu gritos à retaguarda e então deitou-se por terra.
Na realidade,à sua cabeça começaram a silvar algumas balas.
But procurou refúgiu por entre os matagais, enquanto os três homens corriam no seu encalço, convencidos de que, atingido, Curtis jazia ferido, por terra, e que estaria ao sue alcance.
Mas, de um momento para o outro, tudo mudou. Curtis ouviu as pragas que Bill soltava sem descanso, no que era imitado pelos outros. But pensou: «Já estão nos pântanos». Levantou-se. E a cena que se ofereceu aos seus olhos foi pavorosa; Bill, Wayne e Fred debariam-se desesperadamente, tentando libertar-se da terra que os tragava, ajudando-se uns aos outros, o que ainda mais os prejudicava.
De repente, Wayne gritou:
- Senhor Curtis! Senhor Curtis! Salve-nos!
But pôs-se de joelhos e ergueu a cabeça.
- Atirem com todas as armas para longe de vocês.
Bill respondeu logo com um tiro, louco de raiva, e a bala, roçando o braço de Curtis, ainda lhe queimou a pele, obrigando o rapaz a atirar-se, de novo, ao solo.
- Senhor Curtis! – gritou Wayne outra vez.
But serviu-se das mãos para fazer de porta-voz e tornou a dizer:
- Não osso fazer nada, se vocês não atirarem com as armas para longe. É a vossa única oportunidade.
- Atira as armas fora, Bill – ouviu Wayne ordenar. E, ao cabo de um momento, ele mesmo confirmou:  - Jáestamos desarmados, senhor Curtis. Venha, imediatamente, não podemos esperar mais!
Curtis levantou-se e viu que nenhum deles segurava pistola alguma, ois todos tinham os braços no ar, lutando por não se afundarem mais. O pântano tinha tragado já metade dos seus corpos.
But apressou-se então a ir até junto deles. Bill era o que estava mais longe, pelo que se encontrava em piores condições. Wayne estendeu a mão para o jovem.
- A mim primeiro, senhor But! – pediu, grave chorando – A mim primeiro!
Fred tratava de lutar para chegar até uns arbustos apodrecidos. O seu corpo contría-se em mil esforços e tinha o rosto lívido.
- Eu rimeiro, senhor Curtis! – repetiu Wayne, desesperado. – Serei seu escravo! Farei o que o senhor quiser!
Buf fincou o joelho em terra e estendeu o braço.
Wayne, com os olhos quase a saltarem-lhe das órbitas, esticou o seu, por sua vez, tratando de alcançar mão que se lhe oferec ia e que significava a sua salvação.
De quando em quando, ouvia-se um terrífico gorgolejar, porque a terra continuava tragando, esfomeada, a carne que tinha caído na sua ampla boca.
Por fim as duas mãos tocaram-se. But fez um último esforço e logrou começar a uxar por Wayne..
- Conseguimos! – exclamou aqule, chorando. – Puxe agora, mais…
But descansou uns instantes e voltou depois a puxar por Wayne, conseguindo arranca-lo um palmo de terra.
- Wayne! – gritou Bill.
O homem da mão de pau voltou a cabeça e reparou, aterrorizado, que Bill, perto de si, só tinha os ombros, a cabeça e os braços de fora do pântano.
- Quer escapar-se, hem, Wayne? – rugiu Bill.
Wayne não respondeu, porque o terror não o deixava falar. Bil estava, na realidade, em maus lençóis. Com a boca espumando, soltou repentinamente uma garghalhada.
- Quer escapar, não é verdade, Wayne? – e dirigindo-lhe um olhar alucinado, gritou: - Serpente venenosa… És capaz de te submeter aos desejos desse brutamontes só para te salvares!
Um dos seus braços barrou de súbito a mão de pau de Wayne.
- Vais morrer comigo. Entendes? – e acompanhando as palavras com a ação, deu um esticão puxando para si Wayne.
But não esperava aquele movimento inesperado e o seu joelho, resvalando por terra, quase o ia fazendo cair; mas, num esforço sobre-humano, conseguiu manter o equilíbrio sem soltar Wayne. Este continuava a gritar:
- Deixa-me, Bill! Deixa-me!
Um homem puxava-o para a vida… o outro tentava arrastá-lo para a morte.
But viu que Fred tinha conseguido alcançar os arbustos, emergindo do barro negro e movediço.
Num instante deu conta do que aconteceria se ele saísse daquele poço semfundo. Aproximar-se-ia do local onde se encontravam as armas e descarregar-lhe-ia um tiro, disso não tinha a menor dúvida. Não podia soltar Wayne, deixando-o morrer a sangue-frio, tanto mais que a sua vida só dele dependia. Puxou, então, com mais força. Mas Bill era um desesperado e aferrava-se à outra parte do corpo de Wayne, querendo que o mundo inteiro morresse com ele. Wayne suava por todos os poros ainda À vista. Pouco a pouco, perdia o seu moral:
- Não, Bill… Por favor… Deixa-me!... Deixa-me… Bill, não quero morrer…
- Sim, vais morrer comigo… Maldita víbora!
De repente, a mão de pau a que se agarrava Bill desprendeu-se do braço de Wayne, produzindo um balanço que foi fatal para Bill.
But, que estava puxando com força, tirou mais de meio corpo de Wayne cá para fora. Instantaneamente, Bill lançou um terrífico alarido e até o próprio Fred, que estava quase a salvar-se, voltou a cabeça para contemplar o seu companheiro. Este afundava-se irremediavelmente. Só já se via a sua cabeça voltada para o céu. Numa das suas mãos sustinha Bill a de pau que arrebatara a Wayne. A última e desesperada tentativa de Bill mais o agarrou à terra que o engolia lentamente. Já não se viam os seus olhos e só os seus braços estremeciam. Segundos depois, a terra movediça fechava-se sobre Bill, sepultando-o.
(Coleção Búfalo, nº 45)
 
 

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