quinta-feira, 23 de abril de 2020

KNS054.20 E o amor triunfou

Parker foi o primeiro a entrar no «saloon», seguido de Caldwell e de quatro homens bem armados
— Onde está Kleber? — inquiriu.
Ned olhou-os, horrorizado. Compreendia muito bem o que se avizinhava.
— Saiu — respondeu. — Não se encontra aqui.
— Esperaremos — disse Caldwell. — Além disso, o «saloon» é meu. Beckette renunciou.
— Devíamos começar já a impor-nos — sugeriu Parker.
— Primeiro há que esperar por Kleber. Depois, será mais fácil, pois bastará que saibam que o mataste.
Ned não pôde conter uma exclamação de terror, mas Parker avisou-o:
—Tu, serve «whisky» e não te assustes nem faças comentários.
O criado obedeceu, atemorizado, mas decidiu avisar o jovem. Não podia permitir que o assassinassem à traição, como estava seguro de que tinham feito com Beckette. 

*

Parker, impaciente por Kleber ainda não ter aparecido, exclamou:
— Quanto tempo demorará esse homem?! E a gritaria nas ruas parece diminuir.
— Sim — reconheceu Caldwell. — Parece que os ânimos vão serenando. Quando nós aparecermos, será fácil.
Naquele momento ouviram-se passos que se aproximavam do «saloon» e um dos pistoleiros de Beckette disse:
— Vem aí Kleber!...
Caldwell e Parker trocaram um olhar de inteligência, mas Ned decidiu actuar, pois não podia admitir que matassem friamente o seu amigo. Deu uma corrida para a porta, gritando:
— Cuidado, Stuart!
Parker, com uma maldição, esgrimiu o «Colt» e apertou o gatilho. Ned deteve-se, alcançado pelo projétil e caiu para a frente, conseguindo ficar na rua.
— Stuart — gemeu.
Kleber acercou-se a toda a pressa.
— Cuidado — disse o velho. — Caldwell e outros homens, querem matar-te. Assassinaram Beckette!
Kleber ergueu-se ao dar conta de que o velho tinha morrido. A cidade estava pacificada, mas faltava o pior. Sacou dos revólveres e colou-se à parede. No interior da casa deviam estar preparados para o receber, mas ele conhecia muitos truques...
Acercou-se de uma janela e bateu com força. O estilhaçar dos vidros ressoou na rua e naquele mesmo momento o ¡ovem lançou-se pela porta até ao interior do «saloon». Caldwell, de pistola na mão, aguardava-o junto ao balcão. Parker estava no outro extremo e os quatro homens restantes distribuíam-se pelos extremos da sala.
Ao entrar, o jovem premiu o gatilho derrubando um dos pistoleiros e, atirando-se rapidamente para o chão, voltou a fazer fogo. Parker deu um tombo, alcançado na cara, e no mesmo instante o jovem, ainda deitado por terra, começou a disparar sobre Caldwell. Este recebeu os balázios antes de dar conta do que estava sucedendo. Ficavam ainda, todavia, os três pistoleiros, que podiam crivá-lo de balas. Mas naquele instante ouviu-se um galope de cavalos que avançavam pela rua. Um dos pistoleiros gritou:
— Os vigilantes, devem ser os vigilantes! Sem tentarem saber se realmente haviam constituído na cidade aquelas forças de cidadãos, os três homens saltaram pela janela, correndo em fuga desordenada.
Stuart pôs-se de pé e saiu do «saloon» lentamente. Ainda conservava os revólveres armados. na mão.
Na rua encontravam-se uns vaqueiros armados, que eram capitaneados por Roberts. Quando viram o jovem, voltaram-se todos para ele. Em silêncio, Stuart Kleber arrojou os revólveres ao chão.
— Entrego-me! — disse.
A um sinal de Reed, que também figurava no grupo, dois homens desceram e avançaram para o jovem. Entretanto, outro grupo de cavaleiros desembocava de outra rua, informando o chefe:
— Roberts, a cidade está tranquila; já tudo passou.
O rancheiro assentiu.
— Assim parece. Mas que teria sucedido?
Uma voz feminina, dominando o silêncio da rua, exclamou:
— Eu vos digo! Todos se voltaram para ver Wendy, que avançava, decidida, ao encontro de Stuart, que era conduzido por dois vaqueiros, que o agarravam pelos braços.
— Foi ele quem pacificou a cidade!
— Que fazes aqui? — interrogou o seu pai. — Vim avisá-lo do que lhe iam fazer. Não fugiu. Limitou-se a impor a ordem. Eu estava oculta numa das dependências do «saloon», sem que ninguém desse por mim.
Stuart amaldiçoou-se a si mesmo por não lhe ocorrer tal ideia, mas logo se alegrou por ela não ter sofrido qualquer dano.
— Vi como ele se impunha aos bandidos, como ripostava aos tiros e como matou Caldwell!
— Tudo isso servir-lhe-á de defesa, quando for julgado—. disse Reed.
A jovem fez um gesto desdenhoso.
— Estamos na fronteira, Reed. E vocês podem julgá-lo aqui mesmo. Stuart é uma vítima da fronteira! «Criou-se só e sem carinhos. Um dia, teve de vingar a morte de seu pai e foi quando começaram a respeitá-lo. A sua habilidade com o revólver fê-lo sentir-se um homem livre. Não era lógico que considerasse essa lei justa? Não era natural que medisse os homens pela sua habilidade com o «Colt»? Ninguém se preocupou em ensinar-lhe que na vida havia outros valores que devia ter em conta. Só sentiu dignidade e respeito depois que começou a matar. Podeis agora castigá-lo porque pensou que fazia bem?
Wendy fez uma pausa olhando os que a escutavam, e concluiu:
— A fronteira ensinou-lhe um código e, segundo essas normas, agiu com justiça e demonstrou nobreza. Inclusivamente, nem uma falta cometeu, depois de expulsar Winton. Impôs também a ordem e entrega-lhes uma povoação livre de indesejáveis. De que quereis acusá-lo?
Reed sorriu, contemplando Kleber:
— Creio estar convencido, amigo! Vários cavaleiros concordaram em uníssono.
— Está bem! — reconheceu o veterano. — Ficas livre para ires para onde quiseres. Podes recolher as tuas armas.
— Não! — disse Stuart. — Não penso empunhá-las jamais!
Wendy deu-lhe o braço e quase que num murmúrio falou-lhe:
— Eu também aprendi alguma coisa, Stuart! Mas se tivermos de defender a nossa felicidade, talvez tenhamos ainda de confiar nelas...
Roberts brincou:
— Que dizes?
—Sim, papá — respondeu Wendy. — Tinha-me esquecido de dizer-te que nos amamos muito e que pensamos casar-nos.
—É certo! — confirmou Stuart. — Mas quero partir, para voltar quando tiver ganho o bastante e então entrar no rancho de igual para igual. Esperarás, Wendy?
— Toda a vida|... 



FIM

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