Stuart Kleber entrou no «saloon», chamado «Os Quatro Ases», acercou-se de uma mesa e chamou aos berros o criado. Este acudiu, olhando-o com certa apreensão.
— Não somos surdos — advertiu.
Kleber sorriu.
— Eu sei. Basta a sua palavra. Agora, chame Juther Caldwell e diga-lhe que venha cá.
O empregado respingou:
— O patrão?
— Sim, é precisamente a esse que me refiro. E traga-me um copo de «whisky» para me entreter enquanto espero. — Fez uma pausa e acrescentou: — Avise-o de que sou Stuart Kleber.
O empregado fungou e, com o seu melhor sorriso, apressou-se a responder:
— Em seguida.
Fez um sinal a outro, que acudiu com a garrafa e um copo e saiu em direção ao interior da sala. Entretanto, Stuart começou a beber em silêncio. Aquela cidade era tão boa como muitas e melhor do que algumas. Ao que parece existia um pleito, razão pelo qual o chamavam, mas isto a ele pouco importava. Há já muito tempo que não se preocupava em saber quem tinha razão ou quem não a tinha.
Recordou Luchaire e sorriu satisfeito. Era aquilo o melhor que podia ter feito. De súbito, um homem corpulento, vestido com um luxo excessivo, de grosso bigode e expressão autoritária, acercou-se da mesa.
— Viva; vejo que acudiu à minha chamada — disse. — Eu sou Juther Caldwell.
O jovem indicou uma cadeira e continuou bebendo, como se nada lhe importasse a visita. Caldwell puxou de um charuto e acendeu-o, depois de arrancar a ponta com uma dentada.
— Bem, Kleber. Que lhe parece se falássemos de negócios?
-- Comece— disse o jovem, brincando com o copo. —Eu escuto-o.
— Bem, depois verá. As coisas aqui estão tomando muito mau cariz. Há homens que não compreendem que um negociante deve defender-se se não quer arruinar-se. Eu necessito de alguém que me ajude. Que tal lhe parece?
Stuart encolheu os ombros.
— Não há dúvida. No entanto, você dirá o que pretende de mim. Gosto das coisas claras, Kleber. Portanto, vou falar-lhe claro. Ameaçaram-me e necessito de homens de confiança.
— Bem — limitou-se a dizer o jovem.
— Sei quem você é e como lhe corre a vida. Que lhe parece um soldo de cinquenta dólares diários?
Kleber assentiu. Sem responder, pôs-se de pé e bebeu o último trago.
— Vou pensar — disse.
Caldwell contemplou-o, surpreendido.
— Será que não está de acordo?
O jovem novamente encolheu os ombros.
—Eu nunca me apresso, a não ser no momento de disparar. Fora disso, gosto de meditar.
Caldwell acudiu, inquieto:
— Fui eu, porém, que o chamei aqui. Porque não aceita imediatamente?
Stuart sorriu.
— Disse-lhe que vou pensar. E agora, bons dias.
Mas Caldwell não estava tranquilo e desejava saber o que poderia ocorrer.
— Quanto tempo tardará a aceitar?
— Não sei. Como disse, é de pensar. Tanto pode levar uma semana como umas horas. E depois, ainda não disse se aceitava.
O jovem, sem mais palavras, saiu dali e encaminhou-se para uma cantina onde serviam comidas. Entrou, sem olhar à direita ou à esquerda e sentou-se a uma mesa, de costas para a parede e de modo a ver a porta de entrada. Uma criada acercou-se dele, sorrindo:
— Que vem a ser?
Stuart contemplou-a em silêncio, com um amplo sorriso.
—Para mim, seria uma entrevista, esta tarde. Que lhe parece?
A criada desviou os olhos.
— Parece-me que não entendeu a pergunta. Queria saber o que deseja para comer.
— Quanto a isso, pode ser um prato de presunto com ovos e uma chávena de café. Se tem torta, sirva-me um pedaço. — Fez uma pausa e inquiriu: — E sobre a entrevista?
A criada sorriu, descarada e afastou-se em silêncio. Kleber tirou um cigarro, ficou pensativo e seguiu com o olhar a criada que se afastava. Gostava daquela cidade: New Richmond. Havia violência e também inimizades. Era o lugar onde um homem como ele poderia abrir caminho. Além disso, não faltavam diversões e encontravam-se raparigas bem bonitas.
Ficaria. Disso não existia a menor dúvida, mas ainda não podia tomar partido. Sabia bem que se Caldwell o tinha chamado, convidando-o a visitá-lo, era porque tinha poderosos adversários.
A ele importava muito pouco o caso comercial de Caldwell. O que lhe importava era quanto iria ganhar com aquela situação e não duvidava de que o adversário de Caldwell, fosse ele quem fosse, não deixaria de acudir a fazer--lhe também alguma proposta. Entretanto, esperava. Então, quando soubesse qual dos dois lhe oferecia mais, decidiria o partido a tomar.
Voltou a rapariga, servindo o que ele tinha pedido. O jovem perguntou:
—Está incluída a entrevista?
A criada negou com a cabeça.
— Temo que não possa ser. De momento, temos isso esgotado...
Afastou-se de novo e Kleber comeu com apetite. Uma viagem pela planície, a cavalo, não era cómoda, e depois, da sua miserável infância, guardava uma recordação de dias de fome que sempre o estimulava a comer. Muito haviam mudado as circunstâncias, na sua vida de jovem, desde que matara Standish. O seu revólver tinha sido um amigo fiel. Tinha ganho muito dinheiro, defendendo rancheiros e fazendas. Também atuou como guarda de minas e os traços nas culatras das suas armas indicavam o caminho triunfal do pistoleiro. Então, sabia que podia avaliar-se bem, de que era um dos melhores atiradores do Oeste. Por isso o procuravam para contratá-lo.
De súbito, quando já havia concluído a refeição, apareceu um homem à porta e percorreu a sala numa rápida mirada. Dirigiu-se logo ao encontro do jovem. Este, que o havia visto, colocou-se de modo a poder defender-se facilmente, no caso de que se tratasse de algum xerife.
— Você é Stuart Kleber! — exclamou o desconhecido — Acaba de matar Luchaire?
—Sim, sou eu — disse o cavaleiro. -- Agora toca-me a mim perguntar: quem é você e a que vem essa pergunta?
O outro sorriu com ar untuoso. Stuart observava-o com atenção, dando conta de que se tratava de um homem muito mais perigoso que o próprio Caldwell, se bem que talvez menos agressivo.
— Posso sentar-me, não é verdade? — disse o seu interlocutor tomando uma cadeira. — O meu nome é Beckette, Norman Beckette.
— Não me oponho — respondeu o jovem.
— É um verdadeiro prazer. Kleber — disse Beckette, — eu sou um homem muito meticuloso, mas tenho-me por bom comerciante e quando encontro um bom negócio, não vacilo.
— Está no caminho de conquistar a riqueza.
— Creio que sim e estimo que estejamos de acordo. Você — continuou — é novo na cidade e não conhece o que aqui se passa. Não sabia, por exemplo, que Luchaire era meu amigo.
Stuart começou a compreender.
Não merecia a sua amizade. Era um bicho mau.
— Sem dúvida alguma, como você diz. Mas não creia que a sua morte me doeu muito e estou disposto a esquecer. No entanto, Luchaire era-me útil. Um homem da minha posição, nesta cidade, tem sempre inimigos e eu não sou homem de armas. Necessitava de alguém que me ajudasse a defender neste aspeto.
Stuart reprimiu um sorriso. Estava ocorrendo o que esperava desde que aquele homem mencionou Luchaire.
—Creio que você me convém e que eu lhe convenho. Que lhe parece?
— Não duvido que lhe convenha, mas duvido que você me convenha a mim. Quero comprová-lo.
— Posso fazer uma pergunta, Kleber?
— Faça-a, mas o melhor é eu não responder.
Beckette sorriu.
— Tem graça, mas vou fazer a pergunta. Que planos o levaram a vir a New Richmond?
— Vontade de conhecer o mundo.
— Eu ofereço-lhe um emprego. Dar-lhe-ei cinquenta dólares por dia, se trabalhar comigo.
Stuart sorriu, pois era precisamente a mesma quantia que já lhe tinham oferecido.
— Vou pensar.
Beckette pestanejou, surpreendido.
— Vai pensar?! O que é que tem a pensar?
— Eu disse que ia pensar. Depois, voltaremos a ver-nos. Bons dias, Beckette.
— Não somos surdos — advertiu.
Kleber sorriu.
— Eu sei. Basta a sua palavra. Agora, chame Juther Caldwell e diga-lhe que venha cá.
O empregado respingou:
— O patrão?
— Sim, é precisamente a esse que me refiro. E traga-me um copo de «whisky» para me entreter enquanto espero. — Fez uma pausa e acrescentou: — Avise-o de que sou Stuart Kleber.
O empregado fungou e, com o seu melhor sorriso, apressou-se a responder:
— Em seguida.
Fez um sinal a outro, que acudiu com a garrafa e um copo e saiu em direção ao interior da sala. Entretanto, Stuart começou a beber em silêncio. Aquela cidade era tão boa como muitas e melhor do que algumas. Ao que parece existia um pleito, razão pelo qual o chamavam, mas isto a ele pouco importava. Há já muito tempo que não se preocupava em saber quem tinha razão ou quem não a tinha.
Recordou Luchaire e sorriu satisfeito. Era aquilo o melhor que podia ter feito. De súbito, um homem corpulento, vestido com um luxo excessivo, de grosso bigode e expressão autoritária, acercou-se da mesa.
— Viva; vejo que acudiu à minha chamada — disse. — Eu sou Juther Caldwell.
O jovem indicou uma cadeira e continuou bebendo, como se nada lhe importasse a visita. Caldwell puxou de um charuto e acendeu-o, depois de arrancar a ponta com uma dentada.
— Bem, Kleber. Que lhe parece se falássemos de negócios?
-- Comece— disse o jovem, brincando com o copo. —Eu escuto-o.
— Bem, depois verá. As coisas aqui estão tomando muito mau cariz. Há homens que não compreendem que um negociante deve defender-se se não quer arruinar-se. Eu necessito de alguém que me ajude. Que tal lhe parece?
Stuart encolheu os ombros.
— Não há dúvida. No entanto, você dirá o que pretende de mim. Gosto das coisas claras, Kleber. Portanto, vou falar-lhe claro. Ameaçaram-me e necessito de homens de confiança.
— Bem — limitou-se a dizer o jovem.
— Sei quem você é e como lhe corre a vida. Que lhe parece um soldo de cinquenta dólares diários?
Kleber assentiu. Sem responder, pôs-se de pé e bebeu o último trago.
— Vou pensar — disse.
Caldwell contemplou-o, surpreendido.
— Será que não está de acordo?
O jovem novamente encolheu os ombros.
—Eu nunca me apresso, a não ser no momento de disparar. Fora disso, gosto de meditar.
Caldwell acudiu, inquieto:
— Fui eu, porém, que o chamei aqui. Porque não aceita imediatamente?
Stuart sorriu.
— Disse-lhe que vou pensar. E agora, bons dias.
Mas Caldwell não estava tranquilo e desejava saber o que poderia ocorrer.
— Quanto tempo tardará a aceitar?
— Não sei. Como disse, é de pensar. Tanto pode levar uma semana como umas horas. E depois, ainda não disse se aceitava.
O jovem, sem mais palavras, saiu dali e encaminhou-se para uma cantina onde serviam comidas. Entrou, sem olhar à direita ou à esquerda e sentou-se a uma mesa, de costas para a parede e de modo a ver a porta de entrada. Uma criada acercou-se dele, sorrindo:
— Que vem a ser?
Stuart contemplou-a em silêncio, com um amplo sorriso.
—Para mim, seria uma entrevista, esta tarde. Que lhe parece?
A criada desviou os olhos.
— Parece-me que não entendeu a pergunta. Queria saber o que deseja para comer.
— Quanto a isso, pode ser um prato de presunto com ovos e uma chávena de café. Se tem torta, sirva-me um pedaço. — Fez uma pausa e inquiriu: — E sobre a entrevista?
A criada sorriu, descarada e afastou-se em silêncio. Kleber tirou um cigarro, ficou pensativo e seguiu com o olhar a criada que se afastava. Gostava daquela cidade: New Richmond. Havia violência e também inimizades. Era o lugar onde um homem como ele poderia abrir caminho. Além disso, não faltavam diversões e encontravam-se raparigas bem bonitas.
Ficaria. Disso não existia a menor dúvida, mas ainda não podia tomar partido. Sabia bem que se Caldwell o tinha chamado, convidando-o a visitá-lo, era porque tinha poderosos adversários.
A ele importava muito pouco o caso comercial de Caldwell. O que lhe importava era quanto iria ganhar com aquela situação e não duvidava de que o adversário de Caldwell, fosse ele quem fosse, não deixaria de acudir a fazer--lhe também alguma proposta. Entretanto, esperava. Então, quando soubesse qual dos dois lhe oferecia mais, decidiria o partido a tomar.
Voltou a rapariga, servindo o que ele tinha pedido. O jovem perguntou:
—Está incluída a entrevista?
A criada negou com a cabeça.
— Temo que não possa ser. De momento, temos isso esgotado...
Afastou-se de novo e Kleber comeu com apetite. Uma viagem pela planície, a cavalo, não era cómoda, e depois, da sua miserável infância, guardava uma recordação de dias de fome que sempre o estimulava a comer. Muito haviam mudado as circunstâncias, na sua vida de jovem, desde que matara Standish. O seu revólver tinha sido um amigo fiel. Tinha ganho muito dinheiro, defendendo rancheiros e fazendas. Também atuou como guarda de minas e os traços nas culatras das suas armas indicavam o caminho triunfal do pistoleiro. Então, sabia que podia avaliar-se bem, de que era um dos melhores atiradores do Oeste. Por isso o procuravam para contratá-lo.
De súbito, quando já havia concluído a refeição, apareceu um homem à porta e percorreu a sala numa rápida mirada. Dirigiu-se logo ao encontro do jovem. Este, que o havia visto, colocou-se de modo a poder defender-se facilmente, no caso de que se tratasse de algum xerife.
— Você é Stuart Kleber! — exclamou o desconhecido — Acaba de matar Luchaire?
—Sim, sou eu — disse o cavaleiro. -- Agora toca-me a mim perguntar: quem é você e a que vem essa pergunta?
O outro sorriu com ar untuoso. Stuart observava-o com atenção, dando conta de que se tratava de um homem muito mais perigoso que o próprio Caldwell, se bem que talvez menos agressivo.
— Posso sentar-me, não é verdade? — disse o seu interlocutor tomando uma cadeira. — O meu nome é Beckette, Norman Beckette.
— Não me oponho — respondeu o jovem.
— É um verdadeiro prazer. Kleber — disse Beckette, — eu sou um homem muito meticuloso, mas tenho-me por bom comerciante e quando encontro um bom negócio, não vacilo.
— Está no caminho de conquistar a riqueza.
— Creio que sim e estimo que estejamos de acordo. Você — continuou — é novo na cidade e não conhece o que aqui se passa. Não sabia, por exemplo, que Luchaire era meu amigo.
Stuart começou a compreender.
Não merecia a sua amizade. Era um bicho mau.
— Sem dúvida alguma, como você diz. Mas não creia que a sua morte me doeu muito e estou disposto a esquecer. No entanto, Luchaire era-me útil. Um homem da minha posição, nesta cidade, tem sempre inimigos e eu não sou homem de armas. Necessitava de alguém que me ajudasse a defender neste aspeto.
Stuart reprimiu um sorriso. Estava ocorrendo o que esperava desde que aquele homem mencionou Luchaire.
—Creio que você me convém e que eu lhe convenho. Que lhe parece?
— Não duvido que lhe convenha, mas duvido que você me convenha a mim. Quero comprová-lo.
— Posso fazer uma pergunta, Kleber?
— Faça-a, mas o melhor é eu não responder.
Beckette sorriu.
— Tem graça, mas vou fazer a pergunta. Que planos o levaram a vir a New Richmond?
— Vontade de conhecer o mundo.
— Eu ofereço-lhe um emprego. Dar-lhe-ei cinquenta dólares por dia, se trabalhar comigo.
Stuart sorriu, pois era precisamente a mesma quantia que já lhe tinham oferecido.
— Vou pensar.
Beckette pestanejou, surpreendido.
— Vai pensar?! O que é que tem a pensar?
— Eu disse que ia pensar. Depois, voltaremos a ver-nos. Bons dias, Beckette.
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