terça-feira, 14 de abril de 2020

KNS054.11 Em defesa da donzela em perigo

Wendy contemplava as obras da nova escola, que avançavam lentamente. Uns operários mestiços trabalhavam com vontade para que as crianças se pudessem sentir ali comodamente. À jovem parecia ver já a sala repleta de crianças, junto do quadro onde ela explicava as lições. Bem depressa, muito depressa, seria possível ver realizados os seus sonhos. E tudo havia começado graças ao dinheiro com que Stuart contribuiu.
Ruborizou-se ao dar conta de que já lhe chamava pelo seu nome e que os seus pensamentos se dirigiam muito para ele. «Que significava aquilo?» Ficou enleada ao pensar que a resposta lhe fazia medo e, ao mesmo tempo, lhe dava uma grande alegria.
Dirigiu-se ao mestiço encarregado dos operários:
— Baldwin, amanhã tudo deve estar concluído, não é verdade?
Ele assentiu:
— Com certeza, senhorita.
Era, portanto, preciso afastar aquele homem da sua vida. Não podia continuar a pensar nele. Naquele momento ouviu uma voz que dizia:
— Isto é o que me fazia falta.
Baldwin, inquieto, aconselhou:
— Não faça caso, senhorita.

Surpreendida, a jovem ia perguntar o que sucedia quando ouviu uma voz, alterada pela bebida, que dizia:
— Essa rapariga é para mim.
—Calma, rapazes, tiraremos à sorte. Mas primeiro vamos falar. Antes que desse conta do que estava a acontecer, a jovem viu-se rodeada por três vaqueiros sujos e de olhos turvos pelo álcool, sorrindo selvaticamente.
— Vem connosco — disse um deles.
— Sim, vamos divertir-nos de verdade — continuou o segundo, que cambaleava.
O terceiro, por sua vez, não fez mais que rir estupidamente. Baldwin deu um passo em frente, exclamando:
— Deixem-na em paz!
Um dos vaqueiros voltou-se com presteza e deu-lhe um soco na cabeça. Baldwin cambaleou aturdido, sangrando.
— Assim, aprenderás a não te meteres no que não te diz respeito.
O que se encontrava mais próximo da jovem agarrou-a por um braço:
— Vamos, vem connosco.
Wendy gritou, assustada e bateu com fúria no que a sujeitava. As suas forças, porém, não podiam medir-se com as daquele homem que a arrastava violentamente. Mas, do súbito, uma voz autoritária e dominadora gritou:
— Quietos, todos!
A jovem, num esforço, voltou-se e os vaqueiros fizeram o mesmo ao verem Stuart, que avançava decidido, direito a eles. Wendy estremeceu. Bem sabia que esse homem a salvaria, mas compreendeu o perigo em que ele se encontrava. É que Stuart levava as armas enfundadas e um dos homens já tinha uma empunhada. Mas, com grande espanto seu, viu como os três homens se afastavam dela, pálidos e aterrorizados, como se só a presença de Kleber bastasse para os aturdir.
— Esta espécie de homens por aqui? — perguntou o jovem sem fazer o menor caso do revólver que o outro tinha. — Merecem que os trate a chicote, como as mulas.
A jovem sentia-se maravilhada perante o que via. A atitude de Stuart era dominadora e ao mesmo tempo serena. Resplandeciam as suas pupilas e na sua expressão notava-se a agressividade que aterrorizava, mas que, ao mesmo tempo subjugava.
— Não são melhores que os coiotes — prosseguiu — e há que persegui-los como animais selvagens. Vou dar-lhes o tratamento que merecem.
Naquele momento, o que estava armado advertiu:
— Cuidado, porque eu...
Não concluiu a frase. De um salto, o rapaz arrebatou-lhe a arma e descarregou-lhe um direto aos queixos que o lançou como um fardo contra a parede, sangrando e aturdido.
O jovem voltou-se para os outros dois e olhou-os em silêncio. Lentamente aproximou a mão do revólver. Toda a valentia dos seus inimigos segundos depois, diante da perspetiva de terem de se enfrentar com o temível pistoleiro. Pálidos e trementes gritaram, suplicando e gemendo:
— Não, não, por favor...
Wendy compreendeu que Stuart ia disparar e segurando-lhe o braço, suplicou:
— Não, Stuart, não dispare. Kleber baixou o braço.
— Pede-me e eu não lho posso negar, Wendy. Mas não quero que vão assim.
De novo lançou a direita com grande rapidez contra a mandíbula do que se encontrava à sua esquerda, lançando o outro punho ao que estava à direita. Ambos caíram para trás, aturdidos e doridos. Kleber ordenou:
— Fora daqui e levem esse imbecil.
Sem protestarem, arrastaram o seu companheiro, que começava a restabelecer-se do tremendo golpe recebido. Stuart voltou-se então solícito para a jovem e pondo-lhe a mão no braço perguntou:
— Como se sente, Wendy?
Ela sorriu debilmente.
—Já estou bem. Obrigada, Stuart.
O nome dele tinha saído espontaneamente. Naquele momento Baldwin ergueu-se do chão e levou a mão ao ferimento do crânio. Stuart voltou-se para ele.
— Como te encontras?
O mestiço sorriu.
— Ainda não estou morto.
O rapaz estendeu-lhe duas moedas de dólar.
— Curaste e bebe alguma coisa: Isso te aliviará.
O mestiço voltou a sorrir.
— Obrigado, senhor Kleber. Por este preço, deixar-me-ei bater todos os dias.
O cavaleiro voltou-se para a jovem:
— Será melhor retirarmo-nos daqui.
Acompanhou-a até junto do cavalo e ajudou-a a montar. Depois saltou sobre o seu e os dois avançaram a trote curto, afastando-se da povoação.
Wendy não sabia que pensar daquele homem, endurecido e amável. Havia-o considerado um cavaleiro como tantos outros, mas não podia imaginar que exercesse sobre alguns uma influência tão grande. A sua maneira de pôr fim ao conflito tinha sido contundente. Inclusivamente, bastou uma só das suas mãos para desarmar aquele bêbado. E todos pareciam temê-lo, até o mestiço. Avançaram até umas árvores e ali se detiveram a descansar. O rapaz ajudou-a a descer e sorriu-lhe.
— Às vezes, as cidades mais ricas são as mais desagradáveis! — disse ele.
Para Stuart só eram ricas aquelas cidades onde a Lei não imperava, pois eram as únicas onde tinha vivido e nas quais era possível obter grandeza. Wendy sorriu debilmente.
— Pelos vistos assim é, mas não devia ser.
— Em todas essas cidades de fama, como Dodge, Virgínia, S. Francisco ou Santa Fé, o sangue corre de mistura com o ouro. Há que ser mais rápido para vencer e poder subsistir.
Wendy moveu a cabeça, impressionada.
— Aqueles homens pareciam feras. Não tiveram pena de Baldwin, que era o único que pretendia defender-me. --Voltou a cabeça para o seu companheiro: —Graças a si, tudo acabou bem. Aqueles homens nem se atreveram a enfrentá-lo.
— Eram mais que cobardes.
— Mas estavam armados — insistiu a jovem. — Correu um grande perigo. Stuart negou com a cabeça.
— Não, não corria nenhum perigo — respondeu ele no código bárbaro e cavalheiresco da fronteira. — Quem maltrata uma mulher não é capaz de se enfrentar cara a cara com um homem.
Wendy olhou-o apaixonadamente:
— Mas eu agradeço da mesma maneira a sua intervenção. Eu vi o perigo e...
Stuart, incapaz de conter-se por mais tempo, acercou-se dela, tomou-lhe a mão e mostrando tudo o que sentia, acrescentou:
—Por si, Wendy, não há perigo que eu não suporte com prazer. Ainda que se tratasse de homens valentes, não me teria importado fazê-lo.
Por instantes olharam-se e, de repente, descobriram o que ambos sentiam e acharam-se nos braços ou do outro. Wendy, envolvida nos braços musculosos do cavaleiro que parecia querer defendê-la do mundo inteiro, levantou as suas mãos para as prender em volta do pescoço daquele homem que, enfim, compreendia amar desesperadamente.
Stuart viu junto do seu o formoso rosto da mulher que amava e a luz da paixão nos olhos claros, cuja recordação o perseguia constantemente. Inclinou-se buscando os lábios que, tremendo, se rendiam ao seus.



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