Wendy sorriu ao ver chegar o jovem que conhecera no dia anterior. Não sabia o motivo pelo qual o desconhecido lhe interessava tanto, pois não sabia nada dele.
— Bons dias! — saudou.
Kleber tirou o chapéu e sorriu, inclinando-se.
— Bons dias — disse, por sua vez. — Como vão as obras da escola?
Wendy fez um gesto desgostoso.
— Verá que não se apresenta tão difícil como parecia a princípio. Há já muita gente disposta a contribuir e creio que dentro de pouco tempo poderá abri-la.
— Venho examinar o edifício pensando nas reformas.
— Quanto deverão pagar os alunos? — indagou o jovem — Talvez isso também ajude a construí-la.
Wendy negou com a cabeça.
— Os pequenos não pagam nada. Todos devem vir aqui e os que podem dão um donativo, mas eu não penso cobrar nada pelo ensino. Não é para mim um negócio. — Sem dar-se conta foi excitando-se com a sua própria ideia e continuei — Desejo que isto se converta em algo importante para o vale. Os pequenos poderão aprender algo e ter uma ideia de vida diferente da de seus pais. Talvez então a violência diminua e não creiam que tudo se possa solucionar com sangue.
Stuart contemplou-a algo surpreendido por estas palavras, mas sem conceder-lhes grande importância, a não ser porque foram ditas por uma linda mulher que muito o atraía. No seu universo, não podia existir um lugar onde não reinasse «Colt», onde os mais fortes não fossem sempre os vencedores. Agradava-lhe estar a seu lado e também ouvi-la. A escola era algo que não o preocupava, ainda que a não considerasse boa nem má.
— É uma boa causa — disse para galanteá-la. Eu desejo também contribuir para a sua escola. Agradecia que aceitasse este dinheiro.
Estendeu-lhe a quantia que tinha exigido a Beckette e a jovem contemplou-o surpreendida.
— Quer... quer ajudar-me, realmente?
— Isso foi o que disse.
— A verdade é que é o primeiro dinheiro que tenho para fundar a escola! — exclamou. — Meu pai prometeu algo e eu mesma fiz outro tanto, mas só você parece ter confiança no meu projeto.
Kleber sorriu.
— Tenho confiança em tudo o que fizer. E já lhe disse que me parece uma boa causa. Em parte, gostaria de considerar essa obra também um pouco minha.
— É o que desejo — respondeu ela. — Que todos considerem esta escola como algo sua, para que ninguém se sinta alheado.
Stuart sorriu.
— Virá aqui amanhã? — perguntou.
Com um sorriso, Wendy disse que sim.
Roberts viu chegar a sua filha, sorridente e contente. Olhou-a, satisfeito de que ela se encontrasse nesse estado de ânimo e perguntou:
— Onde tens estado, Wendy?
A jovem ruborizou-se ligeiramente e explicou:
— Fui ver o alpendre. E se me dás o dinheiro que me prometeste, posso começar a construir a escola.
Roberts puxou da carteira e entregou-lhe cem dólares. A jovem, que se encontrava junto de seu pai, estendeu a mão.
— Menina Roberts, tenho muito gosto em ajudá-la nesse trabalho, que me parece importante.
A jovem voltou-se e deparando com outra pessoa, logo cumprimentou:
— Obrigada, senhor Reed, mas por momento não o reconheci.
Peter Reed, sorriu e acrescentou:
— Eu creio que, mesmo que quisesse, não a poderia esquecer.
Wendy agradeceu. de novo o cumprimento e depois pediu.
— Se me permitem, irei para o meu quarto. Desejo descansar.
Mas Roberts ainda tinha algo para dizer:
— O alpendre, onde pensas construir a escola, fica e New Richmond, não é verdade?
— Sim — respondeu a jovem.
— Sentir-me-ia mais tranquilo se não fosses só à povoação — continuou o pai. — Aquilo é um ninho de desesperados.
Wendy esteve quase a dizer que tinha encontrado um cavaleiro muito atraente e muito simpático, mas por qualquer motivo que nem ela mesmo podia explicar, preferiu calar-se
— Não creio que corra algum perigo. Às vezes, exagera as coisas.
E Wendy encaminhou-se para a habitação. Reed seguiu-a com o olhar e depois voltou-se para anfitrião.
— É possível que corra perigo, mas não há dúvida de que o seu propósito é magnífico.
Roberts concordou:
— Sim, tenho a mesma opinião, mas é tão pouco experiente, tão sincera e tão entusiasta, que temo alguma complicação, além de que também me custa desiludi-la.
Reed moveu a cabeça.
— Essa é uma das causas pela qual a vim ver. Todas a raparigas correm perigo. New Richmond está a ponto de perder o último dique que continha a maré de violências.
— Porque diz isso?
Reed expirou fundo e acrescentou:
— Stuart Kleber aliou-se a Norman Beckette. Ontem houve uma refrega no «saloon» e matou três homens. Foi uma luta limpa, pois os outros é que o provocaram. Isso não se pode discutir. Parece que Kleber matou, em tempos, um bandido, irmão de um dos que morreram.
— Pelo que contam, Kleber não é um homem que mate à traição. Dá sempre uma oportunidade ao seu rival e poucas vezes é ele a provocar a luta, como fazem muitos. Mas é um indesejável.
Reed assentiu, dando uma palmada na mesa.
— Exato e é isso mesmo que pode provocar a maré de violências. Kleber iniciá-la-á e os outros seguem-no. Que faz Winton, que o não impede?
Roberts concordou.
— É certo, mas como podemos nós?...
— Porque não havemos de reunir os rancheiros e os comerciantes e exigir que Winton atue?
— Quer dizer: expulsar Kleber?
— Isso mesmo.
Roberts concordou de novo.
— Bem, mas Kleber não é mais que um instrumento nas mãos de Beckette, como qualquer outro o pode ser nas mãos de Caldwell. O caso, é que se isto continua assim, acabarão por se apoderar da cidade, o que temos de impedir com todas as forças.
— Bem, tentaremos — disse Reed, — ainda que seja desenrolar outra forma de violência. É preferível que sejamos nós, a serem eles.
Entretanto, Wendy no seu quarto contemplava-se ao espelho, um pouco pensativa, mas com um sorriso a assomar-lho aos lábios.
Até então, ela tinha tratado os seus pretendentes com se fossem apenas amigos, pois nenhum deles chegou a interessá-la. Aquele cavaleiro, decidido e galante, causou-lhe uma impressão muito diferente, um tal interesse que a acanhava, ponto de não o poder confessar a seu pai.
No dia seguinte deviam voltar a encontrar-se e até dar um pequeno passeio a cavalo. Certamente que isto era natural e não um delito, pois toda a jovem tem o direito de encontrar-se com o homem que mais a interessa, mas sentia um pouco de vergonha por ter de descobrir a outros esse se interesse, tanto mais que reservava bem para si aquele segredo maravilhoso.
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