Caldwell entrou na cantina e deteve-se à porta. Ao fundo, encontrava-se Stuart falando em voz baixa com a serviçal. Uns risos alegres e divertidos chegaram até ao comerciante. Enfurecido, este foi ao encontro do rapaz.
— Aborreço? — disse.
A criada afastou-se do cavaleiro, enquanto este afastava o chapéu para trás e contemplava com desgosto o interlocutor.
— Eu diria que sim — respondeu Stuart. — Mas, já que aqui está, diga o que quer.
Caldwell sentou-se numa cadeira e observou o pistoleiro, que fumava em silêncio, sem perder a calma e aparentemente tranquilo.
— Creio que já poderá responder à minha proposta de ontem — disse. — Já teve vinte e quatro horas para pensar.
Kleber sorriu, com um ar ingénuo.
— Não, Caldwell. Ainda não tive tempo de pensar bem. E tenha em conta que essas coisas não se podem fazer sem consultar bem a consciência.
Caldwell inclinou-se para ele.
— Kleber, ofereço-lhe sessenta dólares diários. Pense, pois é muito dinheiro. Não está mal para um homem que se há de expor ao perigo.
— Sabe muito bem que não há ninguém capaz de o vencer — disse o comerciante.
O jovem indagou com um sorriso:
— De verdade, você acha-me tão bom?
Caldwell pôs-se em pé.
— Ofereço-lhe sessenta dólares diários; nem mais um centavo. Stuart limitou-se a dizer:
— Vou pensar.
Wendy examinava com atenção o alpendre que se elevava fora do povoado. Parecia-lhe bastante central e um lugar próprio para reunir os seus futuros alunos.
A jovem estava decidida a seguir no seu propósito de fundar uma escola. Aquele edifício podia albergar todas as crianças que viviam em New Richmond e também as dos ranchos à sua volta. Seria uma magnífica obra.
Tinha o propósito de visitar os vizinhos mais ricos, para propor-lhes que contribuíssem de algum modo no sentido de reunir fundos. Assim, poderia restaurar o alpendre, convertendo-o em escola. E ela poria o material necessário.
Enquanto contemplava o edifício, deu largas à sua imaginação. Sobretudo, as meninas preocupavam-na muito. Poderia ensinar-lhes tudo aquilo que aprendera no Este e sabia que, mais tarde, lho agradeceriam. Além de que poderia ser um lugar de reunião para as pessoas decentes que não quisessem misturar-se com os desesperados que então vinham chegando à cidade. Sim, era uma obra magnífica. Decerto que necessitava de ajuda, mas supunha que iria encontrar quem estivesse disposto a fazê-lo.
Afastou-se do alpendre, enquanto a sua imaginação o via convertido numa magnífica escola que albergava todas as crianças da região. Acercou-se do cavalo que a conduzira até ali, disposta a saltar de novo para a sela. Seu pai ignorava que havia estado na povoação. Tinha-a aconselhado a que não fosse até lá, pois estava cheia de indesejáveis. Mas havia falado sobre aquele alpendre à cozinheira mestiça do rancho. E foi vê-lo. No momento em que se dispunha a montar o cavalo, uma voz varonil chamou-lhe a atenção:
— Cuidado, um momento.
A jovem voltou-se, surpreendida, para ver um homem, jovem e simpático, que se acercava dela.
— Aguarde um instante — aconselhou o jovem, enquanto se aproximava do cavalo.
Ela olhou, surpreendida e viu como o cavaleiro, pois as suas roupas o denunciavam como tal, examinava as correias da sua montada. Este moveu a cabeça e apertou-as. Depois voltou-se para a jovem, sorrindo e disse-lhe:
— Agora já pode montar. As rédeas estavam mal postas.
Instintivamente ela contestou:
— É estranho. Foi um dos vaqueiros do rancho que as arranjou.
— Qualquer se pode equivocar — explicou o jovem, — mas às vezes é preciso conhecer bem o cavalo para saber ajaezar.
Wendy assentiu:
— Sim, é certo. Temos este cavalo desde ontem. Foi comprado para mim.
— Pode estar satisfeito com o seu destino.
A jovem sorriu, atraída pelo cavaleiro que parecia atento e simpático. É verdade que tinha um ar audacioso, mas não era aborrecido.
— Vejo que conhece bem e sabe como tratar cavalos — disse Wendy.
—Gosto deles e eles de mim — respondeu o jovem.
— Parece-lhe boa a minha égua? Foi comprada ontem, como lhe disse.
O jovem acercou-se mais e examinou-a. Depois disse:
—Sim, é um magnífico corcel. Mas é de raça irlandesa e, portanto, muito delicado. Requer tratamento muito cuidadoso. Também gosta de cavalos?
— Sim — respondeu ela. — Fui criada na fronteira e aqui quase se nasce a cavalo.
O jovem examinou-a dos pés à cabeça, ainda que com certo descaramento, verificando também os arreios da égua.
— É curioso — disse. — Os seus arreios não são do Oeste!
Wendy sorriu.
— Você é demasiado perspicaz. Eu fui criada na Virgínia e ali as selas de montar são muito diferentes.
— Parecem de tipo inglês — disse o jovem. — No Oeste, empregam as «cheyenne» e as mexicanas. — Depois indagou: — Vive aqui?
— Sim — disse Wendy. — Meu pai é rancheiro. Tenho estado na Virgínia até agora e quero fundar uma escola aqui. —Fez uma pausa e acrescentou: — O meu nome é Wendy Roberts.
O jovem tirou o chapéu, ao mesmo tempo que dizia:
—Eu chamo-me Stuart Kleber. Também vivo aqui, o que me parece uma grande sorte. E quando pensa abrir a escola?
Wendy encolheu os ombros.
— Interessa-me fazê-lo quanto antes e procurarei, primeiro que tudo, angariar dinheiro para a reconstruir.
—Desejo que o consiga — disse Kleber. — Assim ser-me-á mais fácil vê-la.
Wendy susteve o riso e lançou o cavalo a toda a brida, decidida a regressar ao rancho. Antes, porém, estendeu a mão ao cavaleiro, que se descobriu, retendo um momento os finos dedos da jovem.
— Vem aqui muitas vezes?
Wendy sorriu.
— Amanhã voltarei.
Firmou-se sobre a sela e partiu a trote largo. Ele contemplou-a em silêncio, satisfeito de ver como iam as coisas. Aquela jovem era bonita e valia a pena continuar a vê-la.
Começou a andar, encaminhando-se para a cantina. Ainda não tornara a ver Beckette, o que lhe causava estranheza. Mas por outro lado, estava seguro de que ele não tardaria em fazê-lo. Com a morte de Luchaire tinha ficado sem defensor e não podia estar sem alguém, sob pena de ser vencido por outro. Na cantina, a criada recebeu-o com um sorriso de cumplicidade. O jovem sentou-se a uma mesa e pediu:
— O habitual...
A criada dispunha-se a obedecer, mas antes disse:
— Hoje, veio mais tarde do que nunca.
Stuart lançou o chapéu para trás e exclamou, ao mesmo tempo que se recostava na cadeira:
— Notaste a minha falta, Lou?
A rapariga piscou os olhos e sorriu sem responder. Stuart tirou o chapéu e colocou-o na cadeira, esperando que o servissem. De súbito, abriu-se a porta para deixar passar Beckette que, com o seu ar melífluo, se encaminhou ao encontro do cavaleiro.
—Posso sentar-me? — disse. — Eu desejava falar com você, mas até agora não o tenho podido ver.
— Talvez porque não fez por isso — respondeu o jovem. —Não saí da cidade e continuo comendo aqui.
Beckette sorriu por sua vez.
— É possível, é possível. Mas eu estava muito ocupado.
Fez uma larga pausa e, de repente, o proprietário do «saloon» acrescentou:
— Queria saber se já acabou de pensar na proposta que lhe fiz.
Stuart conteve um sorriso e moveu a cabeça.
— Pois, na verdade, ainda não. Tenho muitas preocupações.
Beckette assentiu contrariado e indagou:
— Se eu lhe der setenta dólares, decide-se ou não?
Kleber ficou pensativo. Estava seguro de que ele, no outro dia, lhe daria mais, mas convinha-lhe aquela proposta.
— De acordo — disse, — mas, agora mesmo e sem ter relação alguma com a sua proposta, você vai dar-me duzentos dólares.
Beckette, olhou-o surpreendido e algo inquieto.
— Duzentos dólares? Para que os quer?
— Dê-mos e não proteste — advertiu o jovem. — Não vou pedir-lhe mais. Será que não quer contribuir para o progresso desta cidade?
Beckette suspirou e puxou da carteira.
— Aqui tem.
Stuart pegou nas notas que o outro lhe ofereceu e depois estendeu a mão.
— Estamos de acordo. Quando começa o meu trabalho?
— Esta noite — disse Beckette muito contente. — Venha ver-me.
— Aborreço? — disse.
A criada afastou-se do cavaleiro, enquanto este afastava o chapéu para trás e contemplava com desgosto o interlocutor.
— Eu diria que sim — respondeu Stuart. — Mas, já que aqui está, diga o que quer.
Caldwell sentou-se numa cadeira e observou o pistoleiro, que fumava em silêncio, sem perder a calma e aparentemente tranquilo.
— Creio que já poderá responder à minha proposta de ontem — disse. — Já teve vinte e quatro horas para pensar.
Kleber sorriu, com um ar ingénuo.
— Não, Caldwell. Ainda não tive tempo de pensar bem. E tenha em conta que essas coisas não se podem fazer sem consultar bem a consciência.
Caldwell inclinou-se para ele.
— Kleber, ofereço-lhe sessenta dólares diários. Pense, pois é muito dinheiro. Não está mal para um homem que se há de expor ao perigo.
— Sabe muito bem que não há ninguém capaz de o vencer — disse o comerciante.
O jovem indagou com um sorriso:
— De verdade, você acha-me tão bom?
Caldwell pôs-se em pé.
— Ofereço-lhe sessenta dólares diários; nem mais um centavo. Stuart limitou-se a dizer:
— Vou pensar.
*
Wendy examinava com atenção o alpendre que se elevava fora do povoado. Parecia-lhe bastante central e um lugar próprio para reunir os seus futuros alunos.
A jovem estava decidida a seguir no seu propósito de fundar uma escola. Aquele edifício podia albergar todas as crianças que viviam em New Richmond e também as dos ranchos à sua volta. Seria uma magnífica obra.
Tinha o propósito de visitar os vizinhos mais ricos, para propor-lhes que contribuíssem de algum modo no sentido de reunir fundos. Assim, poderia restaurar o alpendre, convertendo-o em escola. E ela poria o material necessário.
Enquanto contemplava o edifício, deu largas à sua imaginação. Sobretudo, as meninas preocupavam-na muito. Poderia ensinar-lhes tudo aquilo que aprendera no Este e sabia que, mais tarde, lho agradeceriam. Além de que poderia ser um lugar de reunião para as pessoas decentes que não quisessem misturar-se com os desesperados que então vinham chegando à cidade. Sim, era uma obra magnífica. Decerto que necessitava de ajuda, mas supunha que iria encontrar quem estivesse disposto a fazê-lo.
Afastou-se do alpendre, enquanto a sua imaginação o via convertido numa magnífica escola que albergava todas as crianças da região. Acercou-se do cavalo que a conduzira até ali, disposta a saltar de novo para a sela. Seu pai ignorava que havia estado na povoação. Tinha-a aconselhado a que não fosse até lá, pois estava cheia de indesejáveis. Mas havia falado sobre aquele alpendre à cozinheira mestiça do rancho. E foi vê-lo. No momento em que se dispunha a montar o cavalo, uma voz varonil chamou-lhe a atenção:
— Cuidado, um momento.
A jovem voltou-se, surpreendida, para ver um homem, jovem e simpático, que se acercava dela.
— Aguarde um instante — aconselhou o jovem, enquanto se aproximava do cavalo.
Ela olhou, surpreendida e viu como o cavaleiro, pois as suas roupas o denunciavam como tal, examinava as correias da sua montada. Este moveu a cabeça e apertou-as. Depois voltou-se para a jovem, sorrindo e disse-lhe:
— Agora já pode montar. As rédeas estavam mal postas.
Instintivamente ela contestou:
— É estranho. Foi um dos vaqueiros do rancho que as arranjou.
— Qualquer se pode equivocar — explicou o jovem, — mas às vezes é preciso conhecer bem o cavalo para saber ajaezar.
Wendy assentiu:
— Sim, é certo. Temos este cavalo desde ontem. Foi comprado para mim.
— Pode estar satisfeito com o seu destino.
A jovem sorriu, atraída pelo cavaleiro que parecia atento e simpático. É verdade que tinha um ar audacioso, mas não era aborrecido.
— Vejo que conhece bem e sabe como tratar cavalos — disse Wendy.
—Gosto deles e eles de mim — respondeu o jovem.
— Parece-lhe boa a minha égua? Foi comprada ontem, como lhe disse.
O jovem acercou-se mais e examinou-a. Depois disse:
—Sim, é um magnífico corcel. Mas é de raça irlandesa e, portanto, muito delicado. Requer tratamento muito cuidadoso. Também gosta de cavalos?
— Sim — respondeu ela. — Fui criada na fronteira e aqui quase se nasce a cavalo.
O jovem examinou-a dos pés à cabeça, ainda que com certo descaramento, verificando também os arreios da égua.
— É curioso — disse. — Os seus arreios não são do Oeste!
Wendy sorriu.
— Você é demasiado perspicaz. Eu fui criada na Virgínia e ali as selas de montar são muito diferentes.
— Parecem de tipo inglês — disse o jovem. — No Oeste, empregam as «cheyenne» e as mexicanas. — Depois indagou: — Vive aqui?
— Sim — disse Wendy. — Meu pai é rancheiro. Tenho estado na Virgínia até agora e quero fundar uma escola aqui. —Fez uma pausa e acrescentou: — O meu nome é Wendy Roberts.
O jovem tirou o chapéu, ao mesmo tempo que dizia:
—Eu chamo-me Stuart Kleber. Também vivo aqui, o que me parece uma grande sorte. E quando pensa abrir a escola?
Wendy encolheu os ombros.
— Interessa-me fazê-lo quanto antes e procurarei, primeiro que tudo, angariar dinheiro para a reconstruir.
—Desejo que o consiga — disse Kleber. — Assim ser-me-á mais fácil vê-la.
Wendy susteve o riso e lançou o cavalo a toda a brida, decidida a regressar ao rancho. Antes, porém, estendeu a mão ao cavaleiro, que se descobriu, retendo um momento os finos dedos da jovem.
— Vem aqui muitas vezes?
Wendy sorriu.
— Amanhã voltarei.
Firmou-se sobre a sela e partiu a trote largo. Ele contemplou-a em silêncio, satisfeito de ver como iam as coisas. Aquela jovem era bonita e valia a pena continuar a vê-la.
*
Começou a andar, encaminhando-se para a cantina. Ainda não tornara a ver Beckette, o que lhe causava estranheza. Mas por outro lado, estava seguro de que ele não tardaria em fazê-lo. Com a morte de Luchaire tinha ficado sem defensor e não podia estar sem alguém, sob pena de ser vencido por outro. Na cantina, a criada recebeu-o com um sorriso de cumplicidade. O jovem sentou-se a uma mesa e pediu:
— O habitual...
A criada dispunha-se a obedecer, mas antes disse:
— Hoje, veio mais tarde do que nunca.
Stuart lançou o chapéu para trás e exclamou, ao mesmo tempo que se recostava na cadeira:
— Notaste a minha falta, Lou?
A rapariga piscou os olhos e sorriu sem responder. Stuart tirou o chapéu e colocou-o na cadeira, esperando que o servissem. De súbito, abriu-se a porta para deixar passar Beckette que, com o seu ar melífluo, se encaminhou ao encontro do cavaleiro.
—Posso sentar-me? — disse. — Eu desejava falar com você, mas até agora não o tenho podido ver.
— Talvez porque não fez por isso — respondeu o jovem. —Não saí da cidade e continuo comendo aqui.
Beckette sorriu por sua vez.
— É possível, é possível. Mas eu estava muito ocupado.
Fez uma larga pausa e, de repente, o proprietário do «saloon» acrescentou:
— Queria saber se já acabou de pensar na proposta que lhe fiz.
Stuart conteve um sorriso e moveu a cabeça.
— Pois, na verdade, ainda não. Tenho muitas preocupações.
Beckette assentiu contrariado e indagou:
— Se eu lhe der setenta dólares, decide-se ou não?
Kleber ficou pensativo. Estava seguro de que ele, no outro dia, lhe daria mais, mas convinha-lhe aquela proposta.
— De acordo — disse, — mas, agora mesmo e sem ter relação alguma com a sua proposta, você vai dar-me duzentos dólares.
Beckette, olhou-o surpreendido e algo inquieto.
— Duzentos dólares? Para que os quer?
— Dê-mos e não proteste — advertiu o jovem. — Não vou pedir-lhe mais. Será que não quer contribuir para o progresso desta cidade?
Beckette suspirou e puxou da carteira.
— Aqui tem.
Stuart pegou nas notas que o outro lhe ofereceu e depois estendeu a mão.
— Estamos de acordo. Quando começa o meu trabalho?
— Esta noite — disse Beckette muito contente. — Venha ver-me.
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