quarta-feira, 15 de abril de 2020

KNS054.12 Preocupações com a cidade que todos queriam dominar

A notícia da luta estendeu-se pela cidade, causando profunda emoção em quem a ouvia. Mas como realmente se tinha passado, ninguém sabia exatamente, pelo que cada um dava versões diferentes.
Os mestiços, como era costume, calaram-se, temendo, em parte, os três vaqueiros.
Sabia-se que Stuart Kleber tinha socado uns homens, em plena rua, por causa de uma mulher. Mas ignorava-se quem ela era e as causas que o levaram a fazê-lo. Muita gente, sem meter-se em mais averiguações, deram por certo que o jovem só podia tratar com bailarinas, pelo que supuseram que aquela desconhecida devia ser Cynthia ou alguma outra.
Entre as bailarinas houve curiosidade cm saber quem era a afortunada e várias fizeram o possível para que julgassem ter sido elas, pelo que cresceu a admiração para com o cavaleiro.
Entre os pistoleiros houve a certeza de que a cidade estava sem lei e sem ordem e que em breve poderiam fazer ali o que lhes apetecesse.
Os fazendeiros honrados consideraram que se tinha chegado ao limite da paciência, pois não era lícito que as pessoas andassem lutando pelas ruas. E logo se perguntaram mutuamente para estava ali o xerife.

Beckette, por sua vez, esfregou as mãos, contente de si mesmo e acariciando secretos planos. Caldwell considerou que surgira a oportunidade que esperava. Nos ranchos diziam que era preciso impor a ordem, ainda que para tal tivessem de assaltar a cidade e enfeitar as ruas com cadáveres.
Wendy e Stuart viviam alheios à tormenta. Felizes com a sua descoberta sobre o amor, consideravam que a vida lhes oferecia uma maravilhosa aventura e que tudo adquirira um aspeto cor-de-rosa, diferente de todas as outras cores. Tudo parecia alheio às suas vidas.
Peter Reed foi visitar Roberts em companhia de outros rancheiros. Este encontrava-se só, pois a jovem estava no seu quarto, enleada nos seus sonhos. Reed tomou a palavra:
—Senhor Roberts, não é possível continuarmos como até agora. Se continuarmos assim, bem depressa teremos a nossa cidade convertida numa cidade sem lei, como Dodge City ou como Tombstone.
Roberts indagou:
—Eu vou pouco à cidade e careço de notícias. Desejaria saber que há a respeito desses rumores que correm.
Peter Reed explicou:
— Kleber, por culpa de uma mulher, que não conhecemos, agrediu três vaqueiros, mas supomos que não seja uma mulher recomendável, pois relaciona-se com ele.
—E isso passou-se em plena rua?
—Sim, vários o viram. Os ânimos estão multo excitados na cidade e teme-se que haja escândalo. Chegaram ultimamente bastantes pistoleiros e cavaleiros que não têm ocupação. A fama de Kleber fará que tentem imitá-lo.
Roberts olhou-os em silêncio.
— Compreendo a vossa inquietação e compartilho dela — disse por fim. — Eu tenho uma filha a defender, como vocês têm as vossas famílias. Que pretendeis?
Reed, em nome de todos, explicou:
— Não queremos que esta cidade acabe como outras do Oeste. Manteremos a ordem, ainda que tenhamos de entrar em luta. E estamos dispostos a fazê-lo.
Roberts comentou:
— Correrá muito sangue.
— Não importa — disse Reed, com grande entusiasmo de todos.
O velho rancheiro assentiu:
— De acordo, mas daremos ao xerife um último aviso.
— Para quê? — ripostou outro rancheiro. — Já sabemos que é inútil.
Roberts moveu a cabeça.
— Até agora tem-nos sido útil. Não tínhamos necessidade de nos preocuparmos. Damos-lhe a última oportunidade e, se falhar, então atuaremos nós.
Reed concordou:
— Você manda, senhor Roberts, pois é a única pessoa que nos podia deter. 

*

Caldwell olhou, surpreendido, o homem que tinha diante de si: um cavaleiro bastante sujo e franzino de semblante seco. Trazia o revólver muito abaixo das ancas e um outro, mais pequeno, na sovaqueira.
Quem me iria dizer — comentou, surpreendido. — Pensei que estavas no México.
O outro, com acento texano, respondeu sorrindo de modo desagradável:
— Sim, estive lá. Mas mais valia que dissesses a verdade. Pensavas que tinha morrido!...
Caldwell negou com a cabeça.
— Ouvi dizer algo, mas nunca acreditei. — Olhou-o de novo e acrescentou: — E tens o dom da oportunidade, Parker -- desatou a rir e exclamou: — Nada menos que o grande Dusty Parker!
O aludido olhou-o profundamente para depois perguntar:
— O que é que te diverte tanto?
— Parker, creio que te recordas que eu também manejo o revólver.
—E não o fazes mal, Caldwell, mas ninguém o diria ao ver-te agora.
— Treino-me muito, mas às ocultas. É preferível. Sabes que esta cidade é de fácil conquista. Podemos fazê-la nossa.
—E quem é o primeiro a matar? — inquiriu o pistoleiro.
— Já falaremos disso — ripostou Caldwell. — De momento, o que deveras me interessa é que não te ocultes. Convém que saibam que estás aqui. Vai ao «saloon» e gasta o que quiseres. Aí tens dinheiro, se necessitas.
Parker sorriu de novo.
— Quando me recebes tão bem e me dás tantas facilidades, é porque necessitas muito de mim.
Caldwell concordou:
— Sim, acertaste. Mas a ti, convém-te estar comigo. Agora vou ver o xerife.
Parker, desconfiado, exclamou:
— O xerife?! Que pensas fazer?!
Caldwell sorriu.
— Não temas, Parker, não temas. As coisas mudaram muito e agora posso apresentar-me impunemente diante dele e exigir que cumpra os meus desejos. — Fez uma pausa acrescentou: — Se não obedecer, então entrarás tu no jogo
— E se obedecer? — perguntou Parker.
— Dentro de pouco tempo te encarregarás dele. 

*

Os vaqueiros, bêbados e agressivos, olhavam-se com e pressão furiosa. Um deles disse, batendo no revólver:
— Asseguro-te que aqui só falará este!
Outro, levantando a cabeça, advertiu:
—É para já. E tenho ganas de comprovar como elas cantam.
O proprietário do estabelecimento empalideceu, dando conta de que era impossível contê-los. Iam estalar os revólveres e haveria mortos. O sangue correria e dar-se-ia por sati feito se só perdesse dinheiro.
— Um pouco de calma! —rogou.
Um vaqueiro voltou-se para ele.
— Que sucede contigo?
— Não é preciso lutar — disse, debilmente, o proprietário.
O vaqueiro acercou-se e olhou-o, agressivo.
— Quem és tu, para dizeres o que devemos fazer? Não aceitamos ordens de ninguém, entendes?
— A única coisa que pretendia era aconselhá-los.
— Pois porque falas? Estás assutado!
Outro vaqueiro acercou-se dele, perguntando com expressão agressiva:
—Será que nos julgas doidos e incapazes de pensar?
O proprietário do «saloon» olhou-o, pálido, incapaz de uma resposta. Só dava conta de que tudo quanto dissera ia voltar-se contra ele e que os ânimos estavam muito exaltados.
— Eu... na verdade... — balbuciava — não...
Os vaqueiros iam acercando-se dele, esquecendo as dissidências que podia haver entre eles só para atender agora àquela possibilidade de diversão selvagem que, de repente, surgia diante deles.
— O que é que te ocorre? —perguntaram vários. —Sim, diz de uma vez.
Um vaqueiro respondeu por todos:
—Toma-nos por imbecis e quer dizer-nos o que devemos lazer.
— Que crês que seja? Estamos num país livre e aqui fazemos o que nos convém. Vamos dar-lhe uma lição. Eu creio que enforcá-lo seria o menos que merecia. Seria um magnífico adorno para esta casa.
Vários o agarraram com força, rindo estrondosamente, arrastando-o para a porta, decididos a levar a sua avante. Naquele momento ouviu-se um disparo e todos se apressaram a soltar a sua vítima.
No umbral encontrava-se Winton, com um revólver na não e no peito a «estrelas a luzir. Por momentos, os bêbados pareceram a ponto de se lançarem sobre ele, mas a sua atitude, uma reputação adquirida não se sabe como e a «estrela» o peito, deteve-os. O dono do «saloon» correu para o seu inesperado salvador.
— Que vem a ser isto? — interrogou Winton em voz forte, o notar que todos se afastavam. — Estamos numa cidade onde a Lei se respeita e é preciso que continue assim. Não tolerarei distúrbios de nenhuma espécie. Ouviram?
Os vaqueiros ficaram confusos, mas já era tarde para tomarem uma decisão. Lentamente, foram-se afastando em direção da rua. Winton respirou aliviado.

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