sábado, 18 de abril de 2020

KNS054.15 Noticias de uma cidade dominada por bandidos

Wendy contemplou, surpreendida, os homens que entravam naquele momento no seu rancho. Roberts pôs-se de pé, estendendo a mão.
— Que se passa Reed?
A expressão de Peter era, na verdade, alarmante. Os seus dois companheiros também mostravam nos rostos a inquietação que os invadia.
— Roberts — começou Reed, — a situação é gravíssima.
Wendy contemplou-os estupefacta. Aturdida nos seus sonhos de amor e nos seus projetos, não tinha seguido os acontecimentos e então tudo se descobria de súbito.
— Mas que sucedeu? — perguntou Roberts.
— Não há Lei em New Richmond — explicou Reed. — Os vagabundos indesejáveis são os donos da cidade e se não interviermos acabarão por arrasá-la.
Roberts indagou, surpreendido:
— Não há Lei? E que é feito de Winton?
— Kleber expulsou-o.
Wendy julgou não ouvir bem e perguntou:
— Quem o expulsou?
Reed voltou-se amavelmente para ela.

— Um pistoleiro que se chama Stuart Kleber e está a soldo de Beckett, o dono do «saloon».
A jovem sentiu uma profunda aflição. Não podia ter percebido mal as palavras de Peter Reed. Era demasiada coincidência o nome e o apelido e, também, a condição daquele homem. Recordava agora como o temeram e com que facilidade se desembaraçara dos seus inimigos naquela ocasião.
— O que é que se passa? — estava perguntando seu pai.
Wendy estava demasiado interessada para não prestar atenção.
— Parece que Winton, por fim, se decidiu a pôr fim aos desmandos que iam surgindo, tal como o exigíramos. Poucos dias antes, Kleber teve uma luta, em plena rua, por causa de uma mulher. Supõe-se que devia tratar-se de uma bailarina. Ninguém o castigou e os ânimos exaltaram-se ainda mais. Houve mais distúrbios, que Winton tentou deter. Por fim, quando nós fomos falar-lhe para que detivesse Kleber, decidiu-se a fazê-lo. Resultou um erro. Stuart esbofeteou-o em plena rua, depois de o desarmar. — Winton — continuou Reed, — não era mais do que um fantoche, mas muitos o temiam. Agora, que se demonstrou a verdade, o único freio que continha a violência acabou por ser derrubado e New Richmond cairá nas mãos dos indesejáveis, que começaram já o saque.
— Há que impedir tal coisa— disse o outro rancheiro.
Roberts assentiu:
— Sim, é preciso impor a ordem na cidade, à custa seja do que for. Onde estão os nossos homens?
Reed, sorriu satisfeito.
—Não tardarão meia hora a chegar. Com eles e os seus, Roberts, limparemos a cidade de meliantes.
Outro rancheiro alvitrou: É preciso, sobretudo, acabar com Caldwell e com Beckett. Estes são os fomentadores da desordem.
--Sim, é certo. Eles contrataram pistoleiros, com Luchaire e Kleber — disse outro. — Não podemos perdoar-lhes.
Reed objetou:
— Mas o perigo maior é Kleber. Ele é quem dá animo aos indesejáveis e quem constitui uma ameaça e foi por culpa sua que começou tudo. É preciso terminar com a sua existência.
Wendy, aturdida e sobressaltada, escutava-os em silêncio. Como podiam dizer aquelas coisas. Será que estava louca e tinha alucinações?! Kleber, Stuart Kleber! O homem que ela amava era um pistoleiro, um assassino sem entranhas. E aqueles homens honrados, que se encontravam ali, tinham o propósito de o enforcar. Como podia permitir que seu pai enforcasse Stuart? Mas então Wendy ouviu a voz de seu pai:
— Sim, o primeiro deve ser Kleber.
A jovem não se pôde conter por mais tempo.
— Não, papá, não podem fazer isso.
Havia tanto desespero na sua voz que todos se voltaram para ela, surpreendidos. Roberts indagou, olhando-a fixamente:
— E porque não podemos fazê-lo?
Então Wendy, fazendo eco do que lhe ia na alma e sentia no seu coração, ainda que contra o raciocínio, respondeu:
— Porque estou certo de que estais equivocados, pois creio que Stuart não é um assassino.
Surpreendidos, os rancheiros olharam-na de novo sem saber a que obedeciam as suas palavras. Roberts, em nome dos outros e sobretudo na sua condição de pai, perguntou:
—E como podes sabê-lo?
Reed, interpretando mal as palavras da jovem, quis explicar:
— Senhorita Roberts, compreendo que para si deve ser odiosa a ideia de que vamos buscar um homem para o enforcar. No entanto, não deve defendê-lo, porque não o merece.
Wendy, desesperada, torceu as mãos, tentando encontrar razões para os convencer, se bem que, por outro lado, ela quisesse convencer-se a si mesma. Recordava que foi Stuart quem lhe deu o primeiro dinheiro para a escola e que a tinha defendido, com risco da própria vida, numa ocasião em que podia ter empunhado o revólver, mas que bastaram as suas palavras para deter aqueles malfeitores.
—Tem em conta que é um homem que gosta de provocar — disse seu pai. — É um homem que faz brilhar as suas armas, como se fossem medalhas. Ouviste agora dizer que há poucos dias ateou o fogo que devia lançar os homens na revolta, maltratando uns cavaleiros por culpa de uma mulher qualquer.
Wendy respirou fundo, para logo perguntar:
— Sabem, por acaso, de quem se trata? Conhecem essa mulher?
— Não, não a conhecemos — negou Roberts, com alguma surpresa.
— Então como se aventuram a um juízo tão temerário?
Reed, impaciente, mas cortês, respondeu:
— Senhorita Roberts, não é difícil supor a classe de mulher que se atreve a passear com esse homem.
Ergueu-se a jovem para perguntar: — Estão seguros do que dizem? — E repetiu com mais convicção a frase:
— Estão seguros do que dizem? — Ante o silêncio dos seus interlocutores, um silêncio cheio de surpresa, continuou: — Não têm o direito de ajuizar das pessoas desse modo!
Seu pai, deveras intrigado e desejando concluir aquela interrupção, concluiu:
— Bem. E tu que sabes?
Wendy exclamou:
— Sei que essa mulher era eu!
Uma bomba lançada na sala, não teria causado maior assombro.
Os rancheiros olharam-se, enquanto Reed pigarreava. Roberts, dando um passo em frente, indagou:
— Que estás dizendo?!
Contendo a sua inquietação, a jovem explicou:
— Sim, papá, era eu essa mulher! Uns vaqueiros bêbados pretenderam molestar-me e Stuart..., quero dizer Kleber, defendeu-me. Ia para matar um, mas eu roguei-lhe que o não fizesse e ele obedeceu.
Depois, referiu-se a todo o acontecido. Os outros escutavam-na surpreendidos, sem saber, na realidade, que fazer e que dizer. Roberts inquiriu:
— E de onde o conheceste tu?
— Foi a primeira pessoa que me deu dinheiro para a escola e me animou a que prosseguisse com a ideia.
E explicou o primeiro encontro que teve com o rapaz, para prosseguir:
— Como vês, não creio que esse homem seja o mesmo assassino, sedento de sangue, que para aí dizem.
Roberts gritou indignado:
— Porque me ocultaste tal facto?
— Não queria que te preocupasses, papá — respondeu ela. — Foi isso que me fez calar a luta com aqueles bêbados. Mas insisto em que não é um assassino.
— Senhorita Roberts — atalhou Reed. — Não é difícil para um homem mostrar-se galante consigo. Muitos poucos resistiram ao seu encanto, mas no mesmo dia em que esse homem chegou deu provas da sua verdadeira personalidade, ainda que já tivéssemos ouvido falar dela.
Wendy balbuciou:
— Que quer dizer?
— Sim — disse Roberts, — nós vimos como assassinava um homem.
— Que assassinava? — perguntou ela, horrorizada. —E porque não o detiveram?
Roberts encolheu os ombros.
— Não estão proibidas as lutas a tiro — respondeu. —E devemos reconhecer que a luta foi leal...
Wendy respirou, aliviada.
— Nesse caso não foi um assassinato, foi uma luta e uma luta leal. Não é um assassino, não é, portanto, um assassino!
Reed, mais uma vez, interveio:
— Senhorita Wendy, os motivos da luta foram os que o converteram num assassino. — Fez uma pausa para concluir: — Beckett tinha contratado Luchaire, um pistoleiro e Caldwell pretendia contratar Kleber. Este, matando Luchaire ficaria como único pistoleiro da cidade e as ofertas seriam muito superiores.
Wendy ficou perplexa. Todos os seus argumentos caiam por terra, mas não podia acreditar que se tratava de um criminoso.
— No entanto — disse Wendy, — eu devo-lhe a vida. Será que não o reconheces, papá?
Roberts moveu a cabeça.
— Será julgado e esse facto se fará valer em sua defesa.
— De acordo reconheceu Reed em nome de todos os rancheiros.
Mas Wendy não acreditava muito nisso. Sabia que quando o apanhassem seria muito difícil evitar um linchamento, ainda que ele se defendesse a tiros. Haveria sangue e Wendy queria evitá-lo. Era absolutamente necessário encontrar-se com ele.
Dissimulou, encaminhando-se para o seu quarto, convencida pelas palavras dos rancheiros, mas em vez disso encaminhou-se para a rua. Os homens que os rancheiros esperavam chegariam dentro de meia hora. Levaria essa vantagem e teria tempo de salvar o homem que, apesar de tudo, continuava a amar.

Sem comentários:

Enviar um comentário