sábado, 11 de abril de 2020

KNS054.08 Um xerife que gostava do conforto e tranquilidade

Winton acariciou o queixo mal barbeado, procurando dominar assim uma grande inquietação. A cidade estava tomada de uma maneira que não lhe agradava nada. Vários vizinhos influentes tinham ido naquela manhã exigir que tomasse medidas. E todos pronunciavam mesmo nome: Stuart Kleber.
Winton não era homem que gostasse de preocupações, nem tão pouco desgostos. Tinha aceitado aquele cargo por ser cómodo e bem pago, mas se tinha de enfrentar-se com homens como Kleber, o melhor seria ir-se embora. Não estava tão louco que fosse ao encontro de uma morte certa. Mas o problema era o lugar para onde ir. Estava demasiado acostumada a passar os dias naquela casa, sem preocupações e resultava muito difícil começar de novo.
De repente, abriu-se a porta e entrou Caldwell. Winton esboçou um sorriso, mas compreendeu num instante que aquela visita dar-lhe-ia mais do que desgostos. Stuart Kleber tinha-se posto ao serviço de Norman Beckette, o competidor e adversário de Caldwell.
— Bons dias, amigo. Que posso fazer por si? — disse, procurando conservar uma atitude digna e fria.
Caldwell dirigiu-lhe um furioso olhar.
— Aconselho-o a que não adote comigo essa atitude. Não sou um dos muitos parvos daqui.
Winton sorriu mais abertamente.
— Recordo-lhe que está falando com uma autoridade.

Caldwell descarregou um soco na mesa, que levantou uma nuvem de pó.
— Ouça, xerife de trazer por casa: se mantém esse tom, deixará de ser autoridade e talvez, inclusivamente, deixe de ser um homem para converter-se numa «coisa» ...
Winton engoliu a saliva. Caldwell não figurava entre o número de cidadãos importantes que o tinham elegido, mas sem dúvida era um dos influentes da cidade.
— Bem, senhor Caldwell — disse em tom conciliador. — O que é que deseja?
O outro apontou para a «estrela» que luzia no peito da Winton e disse:
— Tenho entendido que isso significa algo. Quer refrescar-me a memória ou quer que seja eu a forçá-lo?
— Bem, senhor Caldwell, diga o que quiser. Eu não fujo ao meu dever.
— Winton, ontem houve três mortes num «saloon» e dias antes mataram um homem na casa das apostas. Tudo foi feito pela mesma pessoa. Que está esperando para intervir?
O xerife sabia muito bem a quem era feita a referência, mas resistia a não só enfrentar como a intervir naquele assunto. Foram lutas leais e, no Oeste, não se podem proibir. Caldwell olhou-o, entre furioso e surpreendido. Não estava disposto a que Winton brincasse com ele, mas, na verdade, não achava capaz de uma resposta como aquela.
— Olhe, Winton, é natural que você dê uma resposta dessas, mas o que é certo é que quando um homem, seja qual for o motivo se converte numa fonte de sarilhos, a obrigação da autoridade, que você mesmo reconhece ser, é expulsá-lo. — Fez uma pausa e prosseguiu: —E tanto você como eu sabemos bem que espécie de xerife se esconde por detrás da «estrela». Se não procede para expulsar Kleber daqui, eu mesmo provocarei tantos aborrecimentos que chegará o momento em que terá de o expulsar à força.
Winton engoliu novamente a saliva.
— Vejamos com calma a situação, senhor Caldwell — disse com expressão conciliadora. — Você deseja que Kleber deixe de figurar no «saloon» de Beckette. Até agora, esse homem tem-se comportado como qualquer cavaleiro da fronteira. No entanto, é certo o que você diz e se continuar criando complicações e fanfarronadas por aqui, não terei outro remédio senão expulsá-lo. Que lhe parece?
Caldwell fez um gesto de confirmação.
— Está bem. Mas a primeira que haja deve ser o suficiente para o expulsar. De outro modo, você sentirá...

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