terça-feira, 1 de outubro de 2019

KNS004.07 Uma Leona traiçoeira e mortífera

Gastaram vários dias a agrupar a manada dispersa. Ao contá-las verificaram que, entre as que tinham morrido e as que desapareceram, faltavam cerca de cem. Não era mau, atendendo que da terrível refrega, ninguém tinha ficado ferido com gravidade.
A caravana pôs-se de novo em marcha. King recompôs-se em dois dias e quando retomaram o caminho para Abilene, ele ocupava o seu habitual posto de comando, mais alegre e cantarolando até...
Os «cowboys» notaram-no e atrás dele, acotovelavam-se uns aos outros. Eles sabiam os motivos daquela transformação... Os lábios de Carol tinham feito o milagre, afastando as nuvens que tinham toldado os dias anteriores ao ataque dos bandidos.
A manada prosseguia incansável o caminho para o Norte. Dias e dias. Semanas. Dois meses. Sempre para o Norte rumo a Abilene. Free Town estava já esquecida. E tudo corria normalmente. Com uma calma, que às vezes inquietava Shelby. Até os ex-companheiros de Carol tinham desaparecido, pois desde o assalto dos bandidos, não mais se tinham visto. Parecia que nada de especial ocorreria até ao fim da viagem. Mas a tempestade ameaçava e uma manhã estalou.


Estalou quando perto dali começaram a ouvir tiros, disparados com abundância e precipitação, próprios dum ataque cerrado. Donovan aproximou-se do patrão:
— Está a ouvir?
— Sem dúvida: estão a atacar alguém e esse alguém, defende-se.
— É para Nordeste. Não é connosco, mas...
— No Texas existe um ditado: não te metas onde não és chamado.
— Apesar disso...
Shelby respondeu:
— Sim, é humano prestar auxílio se possível. Dê ordens para que a manada siga para a frente e redobrem as precauções. Eu vou ver o que sucede.
— Eu acompanho-o.
— Não; é preciso que fique aqui alguém para mandar. Vou com Medina, por exemplo. Agrada-me esse rapaz.
O rapaz que nesse momento se aproximava, ouviu o resto da frase de Shelby.
— Obrigado, patrão! — disse, ao mesmo tempo que verificava se os seus revólveres estavam carregados.
Shelby galopou, seguido de Medina. Começaram a subir um monte, atrás do qual, sem dúvida, tinha lugar o tiroteio.
— Pode ser uma armadilha, Medina. Cautela.
— Estou preparado, patrão.
— Bom.
Chegados ao cimo, viram que em baixo, uma quadrilha de salteadores atacava alguém que, entrincheirado atrás duma rocha, se defendia furiosamente. King contou sete pistoleiros.
— São muitos, Medina. Será melhor pedir reforços.
— Quando chegarem, os outros estão fritos. Devem estar três entrincheirados. Connosco, cinco. Somos demais para tão poucos bandidos.
O ânimo do rapaz decidiu King, que com um berro, cavalgou pela ladeira abaixo.
Os assaltantes não deram conta do que lhes caía em cima, senão quando King e Medina, começaram a disparar. Dois, cessaram imediatamente de fazer fogo, caindo dos seus cavalos e os outros, após a surpresa inicial, procuraram repelir o ataque.
Medina disparava e simultaneamente atroava os ares, com os seus gritos de entusiasmo. Shelby, mais calmo e metódico, mas nem por isso, menos agressivo, disparava com fria serenidade, reduzindo o número de inimigos.
Caiu outro e os que se defendiam recobraram ânimo. Pela sua parte, os bandidos, intimidados pela pontaria certeira dos recém-chegados, lançaram-se em fuga. E de repente acabou tudo.
A pradaria voltou aos seus ruídos normais e King e Medina aproximaram-se do local, onde estavam as três pessoas, que tinham sido atacadas. Um tipo alto e magro, desmesuradamente alto e esquelético, com aspeto de saca-rolhas; um outro, vestido à maneira dos jogadores profissionais de «poker» e uma mulher, que vestia como um homem, blusa aos quadrados e calças. Uma mulher que fazia lembrar loucuras antigas a Shelby. Uma mulher cujo olhar queimava, pois simultaneamente prometia e negava. Leona Walcott.
Ela aproximou-se dele, muito segura de si mesma, convencida da sua superioridade.
— Tu!... — murmurou com voz rouca.
O rapaz que já tinha desmontado, ficou a olhar para ela, infinitamente assombrado.
— Que fazes aqui?
Ela aproximou-se mais ainda e envolvendo o seu pescoço com os braços, beijou-o longamente.
— Não te ocorre dizer outra coisa, senão isso?... Estivemos quase a morrer e quando acabas de nos salvar, não tens outras palavras senão essas!... —censurou ela, ao desprender os seus lábios.
— Já chega, Leona. Estão a olhar para nós.
— E isso que me importa? Nunca teria pensado encontrar-me contigo aqui, na imensidão da pradaria... É a melhor coisa que me poderia ter acontecido.
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Shelby afastou-se com uma certa brusquidão. O tipo elegantemente vestido, olhava para eles com os olhos brilhantes, excitado. Medina, lamentava aquilo tudo pois adivinhava complicações.
— Onde iam? Como é que estavam aqui?
O saca-rolhas aproximou-se, esfregando as mãos e dando estalidos com os nós dos dedos, como se quebrasse ramos secos.
— Saímos de Abilene na diligência e com escolta. Fomos atacados pelos índios e a escolta foi abatida. Por sorte, pudemos fugir com os cavalos. Mas estes morreram há dois dias, no primeiro ataque do bando que acabam de dispersar. Agora preparavam-se para nos dar o golpe de misericórdia.
King fitou-os, um por um. Leona disse:
— Vais ajudar-nos, não é verdade, Shelby?
Em lugar de responder, o rapaz inquiriu:
— Onde é que iam?
— A Austin. Pensava passar uma temporada em casa de uma amiga. Como não estavas em Abilene...
Shelby franziu a testa, fingindo não perceber a alusão. Voltando-se, disse:
— Dar-lhes-ei cavalos para que continuem a viagem.
Leona agarrou-o por um braço:
— Querido, não quero ir a Austin! Já não me interessa!
E continuou apoiando-se nele:
— Voltarei para Abilene. Tu vais para lá, não é verdade?
O jogador, ao ouvir aquilo, disse:
— Também não me interessa continuar a viagem. Nestas condições, é demasiado perigoso e não chegaria com vida. Prefiro regressar.
— Oiçam! — disse furioso, o saca-rolhas —. Não me podem fazer isso! Combinámos chegar a Austin! Não consinto que quebrem o compromisso!
— Escute, velho charlatão — disse o jogador —. Por mim pode ir para onde quiser. Eu volto. Percebeu?
O outro mordeu os lábios e resignado, disse em voz baixa:
— Está bem. Não posso continuar sozinho. Volto também.
Quando voltaram junto à manada, todos os olhos se fixaram nos três recém-chegados. Especialmente em Leona, que procurava sorrir a todos e aceitar as mudas homenagens, que os vaqueiros, supersensíveis aos encantos femininos, após dois meses de Rota, lhe prestavam.
Carol ficou com o rosto sombrio ao ver Leona e sobretudo ao verificar as suas familiaridades com Shelby. Chamou-o à parte e procurando conter a sua ira, perguntou-lhe:
— Quem é?
— Leona Walcott. Filha do banqueiro de Abilene.
— Porque tem essa confiança contigo?
— Mulher! Somos amigos desde crianças.
Carol, mordendo os lábios, disse:
— Não me agrada essa mulher! É uma... — conteve-se. E depois ciumenta, pediu: — Não consintas que se aproxime de ti.
Shelby aproximou o seu cavalo ainda mais do de Carol e estendendo o braço, acariciou as faces suaves da rapariga. Havia uma enorme ternura naquela carícia. Leona que tinha observado aquilo de longe, mordeu os lábios grossos, com os seus alvíssimos dentes.
Faltava pouco mais de uma semana, para o termo da viagem. Estavam prestes a chegar ao fim e o gado continuava são.
— Tens visto qualquer coisa de anormal, Dono-van? — perguntou Shelby, naquela tarde ao acamparem.
— O gado continua bom. Foi aproximadamente neste lugar, que descobrimos as primeiras reses enfermas, na viagem anterior. — Temos de continuar a ter cuidado, Donovan. Avisa os rapazes. Que tenham os olhos bem abertos e que disparem sobre qualquer suspeito, se for preciso, procurando não o matar.
— Combinado. Avisá-los-ei... embora não creia que estejam muito dispostos a vigilâncias...
— Que aconteceu? — perguntou, estranhando o tom empregado pelo capataz.
Donovan explicou:
— Essa mulher... Essa Leona... enfeitiçou-os.
— Quer dizer?...
— Os rapazes deixaram de se dar bem, uns com os outros. Ela excita-os. Provoca-os e já mesmo...
— Tens a certeza?
Donovan encolheu os ombros.
— Tudo é lícito pensar. Ouvi uma conversa e há quem se gabe...
— Maldita! Devia-me ter dito antes! Expulsá-la-ei daqui!
— É a melhor solução, para evitar que os rapazes lutem por causa dela.
Shelby partiu qual furacão à procura de Leona. Custou encontrá-la pois não se encontrava no acampamento. Ouviu um rumor de vozes e uma risada fresca. Afastou uns ramos e viu Leona abraçada a Brady.
— Brady! — chamou King imperioso.
O sempre leal «cowboy», protestou resmungando:
— Deixe-me em paz, patrão! Estou cansado de receber ordens durante dois meses! Tenho direito a ter uns momentos livres! Não sou nenhum escravo!
Em duas passadas, Shelby aproximou-se dos dois. Nos olhos da mulher via a alegria do triunfo e nos de Brady, a cólera.
Com um empurrão afastou-o da mulher. Brady, com um rugido de cólera, atirou-se para Shelby, de cabeça baixa. King aguardou-o a pé firme e quando chegou a distância, disparou-lhe um murro tão violento em pleno queixo, que Brady abriu os braços em cruz e caiu para trás inanimado.
— Bravo! — disse Leona —. Por fim, decidiste-te. Fiz-te ciúmes só para que esquecesses essa miúda, que ainda precisa «biberon» e fizesses caso de mim.
Com um salto, percorreu a distância que o separava de Leona. Ela abriu os braços para o receber, mas King não lhe deu tempo. A sua mão direita, endurecida por dois meses de trabalho, esbofeteou-a à esquerda e à direita. As bofetadas fizeram subir o sangue ao rosto feminino, que se enfureceu.
— Fora daqui, cadela! — bradou o rapaz —. Não te quero ver mais! Fora do meu acampamento!
Depois, inclinando-se sobre Brady, semi-inconsciente, ajudou-o a levantar-se, dizendo:
— Vamos, Brady! Espero que isto te tenha curado. E aos outros também.
Voltou com ele, ainda atordoado, ao acampamento. Os seus companheiros, ao vê-lo, levantaram-se alarmados. Shelby entregou-lhes o corpo do vaqueiro.
— Não se preocupem. Não é nada, tive de lhe dar uma tareia, para ver se lhe aparece um pouco de massa cinzenta na cabeça. Para não se armar em D. Juan. Para bem de todos, espero não ter de voltar a fazê-lo.
Os vaqueiros entreolharam-se, dominados pela vontade férrea daquele homem. Ao amanhecer, levantaram o acampamento. Shelby estava a lavar-se, quando Donovan se aproximou, caminhando balanceando, à maneira dos «cowboys».
— Partiu, patrão. Ela e os companheiros.
— Como? — interrogou o rapaz, suspendendo o que estava a fazer.
— Partiram os três. De noite, sem que ninguém desse conta.
— Como é possível? Estavam a dormir os vigilantes? Belos empregados, tenho ao meu serviço!
— Lamento, patrão, mas eles vigiavam o gado e não as pessoas.
Shelby limpou-se a uma toalha e vestiu a camisa.
— Não gosto disto. Além de que só a mandei embora a ela.
— O «elegante» olhava muito para ela. E o saca-rolhas também...
Pensativo, King não respondeu. Todos se sentiram satisfeitos ao saber a notícia. Os rapazes respiraram melhor sem a presença da mulher, excitando-os. A meio da manhã, Brady aproximou-se de Shelby.
— Quero falar consigo, patrão — disse cabisbaixo. — Sei o que me vais dizer... e não vale a pena. O que passou, passou.
— Não obstante, quero-lhe pedir perdão. Foi tudo por culpa dessa maldita mulher!
— Bom. Para a outra vez pensarás melhor. Corre! Aquelas vacas estão muito molengas. Empurra-as!
Brady galopou na direção indicada e lutou com os animais, até os incorporar na negra massa da manada. À noite, Brady voltou junto do patrão.
— Talvez seja tolice minha, patrão...
— Desembucha, Brady...
— Lembra-se das vacas desta manhã? Ia jurar que...
Shelby deu um salto.
— Vamos vê-las!
Donovan seguiu-os e atrás deles o resto do pessoal. O capataz aproximou-se dum dos bovinos e agarrando-lhe por uma das orelhas, puxou-a com precaução.
— Cuidado, não a puxe!
King cerrou os dentes. Brady começou a rogar pragas, só parando à vista de Carol, que se aproximara. Mart, o cozinheiro amaldiçoava todas as mulheres desde Eva...
Shelby só disse:
— Maldita!
— Nas nossas próprias barbas! — exclamou Donovan.
Carol perguntou:
— Que aconteceu?
— Outra vez a peste!
Os «cowboys», sob a direção de Donovan, começaram a separar as reses. Separaram umas trinta, que puseram de lado.
— Creio que não há mais nenhuma, patrão —disse o capataz —. Até separámos as duvidosas.
— Ótimo!
Brady, Carey e Medina montaram nos seus cavalos e empurraram o gado separado para diante. Atrás dum pequeno monte iniciaram a sua lúgubre tarefa. Os tiros encheram o entardecer de amargas ressonâncias. Quando voltaram, King tentou animá-los:
— Não pensem mais nisso, rapazes. Não vale a pena.
Mas ele sabia que as suas palavras de nada serviam.
Pararam à vista de Abilene, para reunir conselho. Donovan disse:
— A epidemia estendeu-se de mais, patrão. Cerca de metade da manada está contagiada. Tinham perdido a jogada, completamente. Mas tinham uma ideia sobre o culpado.
— Ficaremos aqui. Temos de separar o gado. Venderemos a Sanford, o gado contagiado, pois ele aproveita as peles. É preciso salvar o que pudermos. Enquanto fazem isso, eu vou a Abilene. Tenho umas contas a ajustar.
— Que pensa fazer, patrão?
— Tratar da saúde, ao culpado disto.
— É muito arriscado. São poderosos. Espere que cheguemos e todos juntos... — disse Donovan.
— Não. Eles têm vigias e saberiam antecipadamente da chegada da manada. Poderiam fugir, o que eu não quero. Sozinho, passarei despercebido.
— Acompanhar-te-ei — disse Carol.
Shelby negou-se:
— Ninguém me acompanhará. Fiquem aqui nestes pastos e esperem. Evitem que o gado enfermo tenha contacto com o são. O resto é comigo. Avisá-los-ei quando devem chegar aos currais.
Os «cowboys» obedeceram, não muito convencidos. Via-se, perfeitamente, que Donovan não aceitava aquilo de bom grado, mas a obediência ao patrão era lei suprema na pradaria.
Escolhendo o melhor cavalo, pôs-lhe o seu leve selim texano em cima e afastou-se do acampamento, a galope. Chegou a meio da tarde à cidade. Com o «sombrero» descaído sobre os olhos, procurou não ser muito visto e foi direito ao gabinete do xerife. Deixando o cavalo amarrado fora, subiu as escadas e empurrou a porta. Esboçou um cumprimento:
— Olá, Canory!...
Mas parou antes de terminar. Um indivíduo de olhos cinzentos e rosto queimado, desconhecido para ele, olhava-o friamente.
— Canory, não está?
— Não, não está. Quem é você?
— Não sou forasteiro. Chamo-me Shelby King e vivo aqui. Procuro o xerife, onde é que o posso encontrar?
— Está a falar com ele — disse o outro. Uma pancada na cabeça, não teria feito tanto efeito no rapaz.
— Você? Desde quando?
— Isso que lhe importa? Sou o xerife e basta! Não vê a estrela? Que deseja de Canory? Nada, nada de especial.
Recuou, pensando que não devia mostrar o seu jogo tão cedo. O novo xerife olhava-o com demasiada insistência e nos seus olhos não havia simpatia. O outro acabou por surpreendê-lo ao dizer:
— Mais vale que não seja nada de especial. Canory não poderá atendê-lo... nunca mais.
Canory, morto? Decididamente Abilene tinha mudado muito naqueles meses. Saiu, resmungando um cumprimento e dirigiu-se no seu cavalo a casa do presidente da Associação. Talvez Livingston o pudesse ajudar.
A cidade parecia normal. King notava que nada tinha mudado, enquanto subia as escadas que conduziam ao domicílio de Livingston. Chamou, mas tardaram a abrir a porta. Quando o fizeram, perguntou:
— O senhor Livingston? A rapariga, que abrira a porta, respondeu:
— Não vive aqui.'
Apenas sua família.
— A sua família? E ele?
— Morreu. Um acidente, segundo creio.
— Acidente?
— Sim — a rapariga parecia troçar do cavaleiro. — Um revólver que se disparou e...
— Joana! — chamou de dentro, uma voz de homem.
— Desculpe-me — murmurou ela, nervosa. — Estão a chamar-me.
— Mas, oiça, explique-me...
Um sujeito alto e forte, mal-encarado, abriu a porta de par em par, gritando:
— Para dentro, Joana! — e depois, olhando para Shelby, resmungou: — Que diabo procura aqui?
— O senhor Livingston.
— Diabo! Esticou o pernil há muito tempo! Vamos, desampare-me a loja! Não gosto que me entretenham a criada!
E fechou a porta, com uma violência, que fez estremecer todo o edifício, deixando King à porta, triste e confuso. Atrás daquelas mortes, antevia-se algo de terrível. Lentamente voltou junto do seu cavalo. Mas não chegou a montar. Alguém o chamou:
— Estávamos à sua espera King, embora não tão cedo.
Walcott sorria-lhe, chupando um charuto enorme. Atrás dele dois tipos, com mau aspeto e bem armados, pereciam assistir à conversa, como que por casualidade. Mas a posição das suas mãos, sobre as coronhas dos revólveres, não era casual.
— Olá, Walcott -- cumprimentou, friamente o jovem. — Pelo menos, você ainda está vivo. Que aconteceu em Abilene? Epidemia?
— De chumbo — respondeu, sorrindo o banqueiro, pai de Leona.
— Onde está Leona?
— Em casa. Interessa-lhe?
— Se uma mulher lhe envenenasse mais de meia manada e depois, acompanhada por dois tipos, lhe roubasse três cavalos, o que faria você?
— Você pretende que a minha filha seja a culpada disso?
— Sabe perfeitamente que sim.
— Leona conta coisas muito diferentes. Confessou-me que vocês e os seus homens, abusaram dela. Tenho dois «pistoleiros» atrás de mim, King. Dois tipos perigosos e com ordens de o matar. Um deles também tem uma filha, sabe? E certas manchas, só o sangue as lava.
— Então precisa de degolar meio Texas, para se lavar bem!
Walcott rugiu e parecia disposto a atirar-se sobre o rapaz que o desafiava, não dando importância à gravidade da sua situação. Os «pistoleiros» aproximaram-se. Apesar disso, King parecia que os detinha, com a força magnética do seu olhar, enquanto dizia:
— Você também é o autor das mortes de Canory e Livingston?
— Cala-te! — bradou um dos sicários.
Walcott exclamou:
— As coisas mudaram em Abilene. Antes havia a Associação e agora há outra... diferente.
— Formada por si.
— E Sanford — concordou. — Os outros...
— Maldito! — exclamou o rapaz.
— Agrada-me ouvir-te. É sinal de que consegui o que queria.
— Há-de lamentá-lo! Você e a sua maldita filha!...
— Não chegarás a levantar um dedo, bebé! —troçou um dos pistoleiros, apontando-lhe um «Colt».
Shelby levantou as mãos ao ar. Não tinha outro remédio. Conteve-se, pois era um suicídio tentar qualquer coisa. Mas uma vozinha interior dizia-lhe que aquilo não ficava assim...
— Não tenham pressa, rapazes — disse irónico.

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