O homem que estivera a observar o horizonte com o binóculo, percorrendo rocha por rocha aquela paisagem pétrea, estremeceu três veze na sela.
A primeira bala só o feriu, mas as outras duas foram mortais. Soltou um grito agudo e escorregou na sela, da qual ficou pendurado, com o rosto mergulhado no pó. O cavalo, apesar de ter sentido as balas quase morderem-lhe a carne, não se mexeu.
Os cinco cavaleiros que estavam atrás do homem abatido, separados deste por umas oitentas jardas, também ficaram como petrificados, no primeiro instante. Depois um deles, que trazia uma estrela no peito, gritou:
— Aí o temos! Avante, rapazes! Já não pode fugir!
Apontava um pequeno promontório entre os rochedos, onde ainda pairavam três diminutas nuvenzinhas brancas. A paisagem que se lhe estendia diante dos olhos era seca, terrivelmente árida e poderia confundir-se com uma paisagem lunar. Estava cheia de pequenas crateras e de promontórios rochosos, aos quais a erosão de milhares de anos dera formas caprichosas. Aquelas rochas, as crateras, os desníveis e os pequenos desfiladeiros que se abriam aqui e ali, convertiam a paisagem num labirinto que, à luz ofuscante do sol, adquiria características de autêntico pesadelo. Mas agora não seria necessário procurar mais, porque haviam localizado o inimigo.
Aquelas três nuvenzinhas brancas eram tudo o que necessitavam para saber o seu paradeiro.
— Está encurralado ali! — gritou o xerife, de novo. — Temos de desmontar e de o cercar por completo! Se soubermos manejar as carabinas, não terá escapatória!
Os quatro homens que estavam às suas ordens obedeceram e entrincheiraram-se atrás das rochas situadas perto dos cavalos.
-- Imbecis! — gritou o xerife. — Daí não poderão fazer boa pontaria! Devem avançar umas cem jardas mais!
— Umas cem jardas mais? Não vê o que acaba de acontecer a Peter? — resmungou um deles, voltando-se.
— Esse. tipo não poderá repetir o que fez. Necessitou de disparar três vezes para o matar.
— Mas das três vezes acertou-lhe e pelo menos uma bala foi mortal. Quer que arrisquemos a vida por um punhado de dólares?
— Quando aceitaram este trabalho sabiam que havia perigo!
— Mas saímos oito homens e só restamos cinco! Aceitamos um perigo razoável e não um suicídio. Se quer tirar esse tipo dali, vá sozinho, xerife!
O homem da estrela proferiu uma praga, desmontou também do cavalo e, com a carabina na mão, foi saltando de rocha em rocha, até avançar umas oitenta jardas e ultrapassar o ponto onde continuava quieto o cavalo com o cadáver de Pete.
Do saliente rochoso dispararam-lhe duas vezes, mas mais em género de advertência. As balas levantaram nuvens de pó perto dos seus pés, embora fosse evidente que o atirador emboscado podia ter afinado muito mais a pontaria.
Deixando-se cair por fim entre as rochas, enquanto grossas gotas de suor lhe sulcavam o rosto, o xerife observou o horizonte. Já não havia dúvida; o seu inimigo estava ali quase em cima da sua cabeça, apenas a trezentas jardas de distância.
—Larsen! — gritou. — Ouve-me bem, maldito Larsen!
Do rochedo, alguém respondeu:
— Já tinha saudades de ouvir a sua magnífica voz, xerife!
— Mataste três dos meus homens desde que te perseguimos! Sacrificaste três agentes da Lei e a tua situação já não tem remédio! Mas juro que te matarei sem te fazer sofrer se fores razoável e terminares a comédia aqui mesmo!
— E se não me render, xerife?
— Sabes perfeitamente o que posso fazer. Sabes que te enterrarei em areia até ao pescoço e acamparemos a teu lado para te ver rebentar!
— Acha que a Lei deve proceder assim, xerife?
Apesar da distância, as vozes ouviam-se claramente no ar parado e seco. O homem da estrela examinou atentamente o panorama, através do ponto de mira da sua carabina.
— Mataste três agentes, Larsen! Não tenho motivos para te tratar com contemplações!
— A que chama agentes, xerife? Aos pistoleiros que recrutou a troco de umas moedas?
— Traziam placa e representavam a Lei!
— Eram tão bandidos como os que estão consigo, piores do que eu e nunca representaram nada, xerife! Por isso, aviso-o de que atirarei contra eles se continuarem a avançar! Mas primeiro vou dar-lhe uma oportunidade.
— Tu, uma oportunidade a mim? Não me faças rir, Larsen! Depois ficam-me a doer os rins durante uma semana!
— Estou a falar a sério, xerife! Abandone essa maldita perseguição e permita-me que transponha a fronteira do México. Prometo-lhe que nunca mais voltarei aos Estados Unidos!
— Dá a outro cão esse osso, Larsen!
— Sabe que nunca faltei à minha palavra!
— Claro que não! Sempre que deste a tua palavra de matar alguém, acabaste por a cumprir!
Via confusamente o seu inimigo e, convencido de que não estava preparado para lhe responder, o xerife disparou à sorte. Viu pelas lascazinhas de rocha — brilhantes como pedacinhos de prata — que a bala acertou a menos de uma polegada da cabeça de Larsen. Este escondeu-se repentinamente e não respondeu ao fogo.
— Dou-lhe um minuto para decidir, xerife!
— Já decidi!
— Então, lamento... Sofra as consequências!
Contudo, apesar desta ameaça, não disparou. Pressentia que o assédio era prolongado e necessitava de poupar munições. Em vez de denunciar a sua posição pelas colunazinhas de fumo de cada disparo, precisava de procurar alguma fissura entre as rochas por onde tentasse fugir.
O xerife também considerava essa hipótese. Fez um sinal aos seus quatro homens e estes, um pouco menos intimidados já, foram-se aproximando aos saltos, entrincheirando-se atrás das rochas e procurando não estar nem dois segundos a descoberto. Mas Larsen não disparou mais e isso deu-lhes pouco a pouco coragem.
— Sabe que está encurralado — disse o xerife, em voz normal, assim que os teve junto de si. — Cometeu uma imprudência ao disparar contra Pete, apesar de com certeza o ter feito por ele já o haver localizado. Não creio que dispare sem ter a certeza de acertar no alvo, porque lhe convém poupar munições.
— Não tem água nem cavalo — salientou um dos homens, como se de repente se sentisse tomado de otimismo.
— A sua montada ficou morta umas milhas mais atrás — recapitulou o xerife. — E quanto a água e comida, não creio que tenha para mais de dois dias. Se, com este sol, conseguir aguentar três, nem por isso deixará de nos cair nas mãos.
— Tentará matar-nos um a um — murmurou, desconfiado, outro dos homens.
— Se não nos pusermos a descoberto, não haverá perigo. Todos vocês sabem lutar e não cometerão imprudências. Temos de manter o cerco e esperar. Procedendo com sensatez, o trabalho será fácil.
Indicou diversos pontos era que se deviam colocar os homens. Era um bom cão de caça e soube encontrar os sítios onde os seus homens pudessem vigiar bem o inimigo, sem correrem o risco de ser batidos por este, a despeito da situação privilegiada que ocupava Larsen.
Silenciosamente, como perfeitos soldados, os seus homens obedeceram. Não tinham, sem dúvida, aspeto de agentes da Lei. As suas cataduras eram do mais sinistro que se poderia encontrar naquela perdida região do Sudoeste. Mais de um daqueles rostos aparecera em cartazes de reclamação em distantes regiões do Norte. Apesar de agora todos trazerem uma placa ao peito e de dizerem representar a Lei, nem por isso o seu aspeto era diferente.
De cima, do saliente rochoso, o homem que cercavam tomava consciência da situação. Era um rapaz de vinte e sete anos. Tinha os cabelos castanhos e usava-os muito curtos; a sua pele estava queimada pelo sol, tanto que, em determinados momentos, poderia parecer a de um mulato. Usava calças texanas azuis, camisa da mesma cor e botas claras, de meio cano.
O seu chapéu era branco e estava relativamente apresentável, mas tivera de o tirar, para que a cabeça ocupasse menos espaço no precário refúgio onde se encontrava. Também tirara o lenço vermelho do pescoço, porque a sua cor chamava demasiado a atenção à distância.
As suas armas consistiam num revólver de calibre 45, numa faca de mato e numa carabina. Esta última era uma boa arma de repetição, cuidadosamente lubrificada e com todas as suas molas afinadas.
O seu dono trazia, atravessado no peito, em bandoleira, um cinturão-cartucheira que dantes devia ter estado cheio de balas, mas que naquele momento só tinha munições suficientes para uns doze disparos.
Muito poucos, tendo em conta que estava cercado por cinco homens. Quanto ao revólver, era-lhe inútil àquela distância e, além disso, só contava com as seis balas que continha o cilindro. Nem uma mais.
Quando fugira de Silver City, uma semana antes, trazia munições e comida para chegar ao México, mas a perseguição do xerife Rocket tornara-se implacável, muito mais implacável do que calculara ao princípio.
Para pôr fora de combate três inimigos tivera de gastar quase todas as suas munições. Por bom atirador que um homem seja, não pode pretender acertar sempre no alvo, sobretudo se tem de se mover como as lagartixas, de saltar desesperadamente entre as rochas e de resistir aos assédios com o sol a bater-lhe na cara e, devido a isso, os inimigos se convertem apenas em sombras confusas.
Agora estava em situação um pouco mais favorável para o tiro, porque ocupava plano superior ao dos seus inimigos e, além disso, as rochas altas que tinha por cima da cabeça projetavam sombra a maior parte do dia, de modo que veria rebrilhar as armas dos seus adversários, mas eles dificilmente veriam as dele,
A despeito disto, a sua situação era desesperada. Larsen olhou à sua volta, desconfiado, e refletiu sem pressa, porque sabia que havia tempo para tudo. Especialmente tempo para morrer.
Estava a Oeste da serra de Dona Ana, um dos lugares mais abruptos do Novo México. Tinha atrás de si os montes Cooks, de quase nove mil pés de altitude, e em frente a povoação de Deming, embora não a pudesse ver do labirinto rochoso em que se encontrava. A voo de pássaro, passando sobre os montes Florida, haveria umas setenta milhas entre aquele lugar e a fronteira do México.
Quando saíra de Silver City, calculara que, se conseguisse pôr os pés naquele labirinto de montanhas, chegaria ao México sem grande dificuldade. Mas uma vez morto o seu cavalo, as coisas tinham começado a complicar-se. E agora, aquele labirinto onde esperava encontrar a salvação, convertera-se pouco mais ou menos na sua sepultura.
Olhou à sua volta. Impossível escalar a montanha que tinha atrás do si, porque era muito íngreme e não dispunha da ajuda de nenhuma ferramenta. Mais alto de onde estava já não podia subir. Impossível continuar lateralmente, porque à direita e à esquerda se erguiam paredes verticais e lisas como se tivessem sido levantadas a fio de prumo.
Só lhe restava uma saída: regressar pelo mesmo carreiro que utilizara na vinda. Mas esse carreiro era, precisamente, o que dominavam os homens do xerife Roocket. Larsen chegara à última fronteira, chegara ao fim.
A primeira bala só o feriu, mas as outras duas foram mortais. Soltou um grito agudo e escorregou na sela, da qual ficou pendurado, com o rosto mergulhado no pó. O cavalo, apesar de ter sentido as balas quase morderem-lhe a carne, não se mexeu.
Os cinco cavaleiros que estavam atrás do homem abatido, separados deste por umas oitentas jardas, também ficaram como petrificados, no primeiro instante. Depois um deles, que trazia uma estrela no peito, gritou:
— Aí o temos! Avante, rapazes! Já não pode fugir!
Apontava um pequeno promontório entre os rochedos, onde ainda pairavam três diminutas nuvenzinhas brancas. A paisagem que se lhe estendia diante dos olhos era seca, terrivelmente árida e poderia confundir-se com uma paisagem lunar. Estava cheia de pequenas crateras e de promontórios rochosos, aos quais a erosão de milhares de anos dera formas caprichosas. Aquelas rochas, as crateras, os desníveis e os pequenos desfiladeiros que se abriam aqui e ali, convertiam a paisagem num labirinto que, à luz ofuscante do sol, adquiria características de autêntico pesadelo. Mas agora não seria necessário procurar mais, porque haviam localizado o inimigo.
Aquelas três nuvenzinhas brancas eram tudo o que necessitavam para saber o seu paradeiro.
— Está encurralado ali! — gritou o xerife, de novo. — Temos de desmontar e de o cercar por completo! Se soubermos manejar as carabinas, não terá escapatória!
Os quatro homens que estavam às suas ordens obedeceram e entrincheiraram-se atrás das rochas situadas perto dos cavalos.
-- Imbecis! — gritou o xerife. — Daí não poderão fazer boa pontaria! Devem avançar umas cem jardas mais!
— Umas cem jardas mais? Não vê o que acaba de acontecer a Peter? — resmungou um deles, voltando-se.
— Esse. tipo não poderá repetir o que fez. Necessitou de disparar três vezes para o matar.
— Mas das três vezes acertou-lhe e pelo menos uma bala foi mortal. Quer que arrisquemos a vida por um punhado de dólares?
— Quando aceitaram este trabalho sabiam que havia perigo!
— Mas saímos oito homens e só restamos cinco! Aceitamos um perigo razoável e não um suicídio. Se quer tirar esse tipo dali, vá sozinho, xerife!
O homem da estrela proferiu uma praga, desmontou também do cavalo e, com a carabina na mão, foi saltando de rocha em rocha, até avançar umas oitenta jardas e ultrapassar o ponto onde continuava quieto o cavalo com o cadáver de Pete.
Do saliente rochoso dispararam-lhe duas vezes, mas mais em género de advertência. As balas levantaram nuvens de pó perto dos seus pés, embora fosse evidente que o atirador emboscado podia ter afinado muito mais a pontaria.
Deixando-se cair por fim entre as rochas, enquanto grossas gotas de suor lhe sulcavam o rosto, o xerife observou o horizonte. Já não havia dúvida; o seu inimigo estava ali quase em cima da sua cabeça, apenas a trezentas jardas de distância.
—Larsen! — gritou. — Ouve-me bem, maldito Larsen!
Do rochedo, alguém respondeu:
— Já tinha saudades de ouvir a sua magnífica voz, xerife!
— Mataste três dos meus homens desde que te perseguimos! Sacrificaste três agentes da Lei e a tua situação já não tem remédio! Mas juro que te matarei sem te fazer sofrer se fores razoável e terminares a comédia aqui mesmo!
— E se não me render, xerife?
— Sabes perfeitamente o que posso fazer. Sabes que te enterrarei em areia até ao pescoço e acamparemos a teu lado para te ver rebentar!
— Acha que a Lei deve proceder assim, xerife?
Apesar da distância, as vozes ouviam-se claramente no ar parado e seco. O homem da estrela examinou atentamente o panorama, através do ponto de mira da sua carabina.
— Mataste três agentes, Larsen! Não tenho motivos para te tratar com contemplações!
— A que chama agentes, xerife? Aos pistoleiros que recrutou a troco de umas moedas?
— Traziam placa e representavam a Lei!
— Eram tão bandidos como os que estão consigo, piores do que eu e nunca representaram nada, xerife! Por isso, aviso-o de que atirarei contra eles se continuarem a avançar! Mas primeiro vou dar-lhe uma oportunidade.
— Tu, uma oportunidade a mim? Não me faças rir, Larsen! Depois ficam-me a doer os rins durante uma semana!
— Estou a falar a sério, xerife! Abandone essa maldita perseguição e permita-me que transponha a fronteira do México. Prometo-lhe que nunca mais voltarei aos Estados Unidos!
— Dá a outro cão esse osso, Larsen!
— Sabe que nunca faltei à minha palavra!
— Claro que não! Sempre que deste a tua palavra de matar alguém, acabaste por a cumprir!
Via confusamente o seu inimigo e, convencido de que não estava preparado para lhe responder, o xerife disparou à sorte. Viu pelas lascazinhas de rocha — brilhantes como pedacinhos de prata — que a bala acertou a menos de uma polegada da cabeça de Larsen. Este escondeu-se repentinamente e não respondeu ao fogo.
— Dou-lhe um minuto para decidir, xerife!
— Já decidi!
— Então, lamento... Sofra as consequências!
Contudo, apesar desta ameaça, não disparou. Pressentia que o assédio era prolongado e necessitava de poupar munições. Em vez de denunciar a sua posição pelas colunazinhas de fumo de cada disparo, precisava de procurar alguma fissura entre as rochas por onde tentasse fugir.
O xerife também considerava essa hipótese. Fez um sinal aos seus quatro homens e estes, um pouco menos intimidados já, foram-se aproximando aos saltos, entrincheirando-se atrás das rochas e procurando não estar nem dois segundos a descoberto. Mas Larsen não disparou mais e isso deu-lhes pouco a pouco coragem.
— Sabe que está encurralado — disse o xerife, em voz normal, assim que os teve junto de si. — Cometeu uma imprudência ao disparar contra Pete, apesar de com certeza o ter feito por ele já o haver localizado. Não creio que dispare sem ter a certeza de acertar no alvo, porque lhe convém poupar munições.
— Não tem água nem cavalo — salientou um dos homens, como se de repente se sentisse tomado de otimismo.
— A sua montada ficou morta umas milhas mais atrás — recapitulou o xerife. — E quanto a água e comida, não creio que tenha para mais de dois dias. Se, com este sol, conseguir aguentar três, nem por isso deixará de nos cair nas mãos.
— Tentará matar-nos um a um — murmurou, desconfiado, outro dos homens.
— Se não nos pusermos a descoberto, não haverá perigo. Todos vocês sabem lutar e não cometerão imprudências. Temos de manter o cerco e esperar. Procedendo com sensatez, o trabalho será fácil.
Indicou diversos pontos era que se deviam colocar os homens. Era um bom cão de caça e soube encontrar os sítios onde os seus homens pudessem vigiar bem o inimigo, sem correrem o risco de ser batidos por este, a despeito da situação privilegiada que ocupava Larsen.
Silenciosamente, como perfeitos soldados, os seus homens obedeceram. Não tinham, sem dúvida, aspeto de agentes da Lei. As suas cataduras eram do mais sinistro que se poderia encontrar naquela perdida região do Sudoeste. Mais de um daqueles rostos aparecera em cartazes de reclamação em distantes regiões do Norte. Apesar de agora todos trazerem uma placa ao peito e de dizerem representar a Lei, nem por isso o seu aspeto era diferente.
De cima, do saliente rochoso, o homem que cercavam tomava consciência da situação. Era um rapaz de vinte e sete anos. Tinha os cabelos castanhos e usava-os muito curtos; a sua pele estava queimada pelo sol, tanto que, em determinados momentos, poderia parecer a de um mulato. Usava calças texanas azuis, camisa da mesma cor e botas claras, de meio cano.
O seu chapéu era branco e estava relativamente apresentável, mas tivera de o tirar, para que a cabeça ocupasse menos espaço no precário refúgio onde se encontrava. Também tirara o lenço vermelho do pescoço, porque a sua cor chamava demasiado a atenção à distância.
As suas armas consistiam num revólver de calibre 45, numa faca de mato e numa carabina. Esta última era uma boa arma de repetição, cuidadosamente lubrificada e com todas as suas molas afinadas.
O seu dono trazia, atravessado no peito, em bandoleira, um cinturão-cartucheira que dantes devia ter estado cheio de balas, mas que naquele momento só tinha munições suficientes para uns doze disparos.
Muito poucos, tendo em conta que estava cercado por cinco homens. Quanto ao revólver, era-lhe inútil àquela distância e, além disso, só contava com as seis balas que continha o cilindro. Nem uma mais.
Quando fugira de Silver City, uma semana antes, trazia munições e comida para chegar ao México, mas a perseguição do xerife Rocket tornara-se implacável, muito mais implacável do que calculara ao princípio.
Para pôr fora de combate três inimigos tivera de gastar quase todas as suas munições. Por bom atirador que um homem seja, não pode pretender acertar sempre no alvo, sobretudo se tem de se mover como as lagartixas, de saltar desesperadamente entre as rochas e de resistir aos assédios com o sol a bater-lhe na cara e, devido a isso, os inimigos se convertem apenas em sombras confusas.
Agora estava em situação um pouco mais favorável para o tiro, porque ocupava plano superior ao dos seus inimigos e, além disso, as rochas altas que tinha por cima da cabeça projetavam sombra a maior parte do dia, de modo que veria rebrilhar as armas dos seus adversários, mas eles dificilmente veriam as dele,
A despeito disto, a sua situação era desesperada. Larsen olhou à sua volta, desconfiado, e refletiu sem pressa, porque sabia que havia tempo para tudo. Especialmente tempo para morrer.
Estava a Oeste da serra de Dona Ana, um dos lugares mais abruptos do Novo México. Tinha atrás de si os montes Cooks, de quase nove mil pés de altitude, e em frente a povoação de Deming, embora não a pudesse ver do labirinto rochoso em que se encontrava. A voo de pássaro, passando sobre os montes Florida, haveria umas setenta milhas entre aquele lugar e a fronteira do México.
Quando saíra de Silver City, calculara que, se conseguisse pôr os pés naquele labirinto de montanhas, chegaria ao México sem grande dificuldade. Mas uma vez morto o seu cavalo, as coisas tinham começado a complicar-se. E agora, aquele labirinto onde esperava encontrar a salvação, convertera-se pouco mais ou menos na sua sepultura.
Olhou à sua volta. Impossível escalar a montanha que tinha atrás do si, porque era muito íngreme e não dispunha da ajuda de nenhuma ferramenta. Mais alto de onde estava já não podia subir. Impossível continuar lateralmente, porque à direita e à esquerda se erguiam paredes verticais e lisas como se tivessem sido levantadas a fio de prumo.
Só lhe restava uma saída: regressar pelo mesmo carreiro que utilizara na vinda. Mas esse carreiro era, precisamente, o que dominavam os homens do xerife Roocket. Larsen chegara à última fronteira, chegara ao fim.
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