Com um som sinistro, a faca de Alan foi cravar-se no peito
do renegado que, estremecendo dos pés À cabeça e com os olhos dilatados, a
saírem das órbitas, largou o machado que tombou no duro chão. Por um instante,
manteve-se em pé, a agarrar o cabo da faca com ambas as mãos, como se quisesse
arranca-la, e, por fim, caiu de costas com um baque surdo.
Com um gemido de angústia, Vivian lançou-se nos braços do extenuado
jovem e rompeu em trémulos soluços que lhe abalavam todo o corpo, desabafando
finalmente o peito oprimido pelo terror que até então a esmagara com o seu peso
de ferro.
Alan sentiu desaparecer todo o cansaço. Com a mão direita
amparava o corpo da mulher amada, enquanto com a esquerda, ainda tinta de
sangue, lhe acariciava os sedosos cabelos; e Vivian debulhava-se em lágrimas,
que tinham o condão de mitigar a amargura e o desespero acumulados durante
longuíssimos dias de cativeiro. Foi assim que Alan sentiu aumentarem-lhe as
forças, reanimado pela maior debilidade da rapariga, ao mesmo tempo que frases
apaixonadas lhe acorriam aos lábios em verdadeiras catadupas.
A dourada cabecinha, que se reclinava no ombro, voltou-se
lentamente e, ao ver-se na profundeza daqueles olhos qua ainda pareciam maiores
por causa das negras olheiras que os circundavam, Alan leu neles as palavras que
os lábios trémulos não conseguiam dar-lhe e, ébrio de felicidade, beijou-os
loucamente, perdida a noção da tragédia que os cercava, esquecida a morte que a
seus pés os fitava com olhos vítreos, sem brilho…
(Coleção Búfalo, nº 27)
A seguir: quem ousa perturbar o descanso do jaguar?
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