Quando o Sol se escondeu atrás do horizonte, as estrelas
começaram a pestanejar no céu. A lua ficou só no azul celeste ornado de
estrelas. Passaram sobre um outeiro. Aqui e além, os «saguaros» abriam os seus
braços como enormes e grotescos seres humanos.
- Olhe, Yates! – exclamou a rapariga. – As flores começam a
abrir.
Assim era, com efeito. Como se obedecessem a uma misteriosa
ordem, os «saguaros» abriam as suas lindas flores brancas. O silêncio do
deserto parecia invadido por um crepitar
ténue, produzido por milhares de flores que se abriam sem interrupção. Sob a
difusa claridade da Lua, o bosque de «saguaros» parecia cobrir-se com rapidez
de grandes e aromáticos flocos de neve. A brisa vinha impregnada de um perfume
embriagador que, por vezes, se tornava mais denso e sufocante.
- Oh! Kenesaw! – exclamou a rapariga, voltando-se sobre a
sela. – Que maravilhoso espetáculo.
O mestiço não respondeu. Os seus olhos luziam como duas
brasas, perturbando Stella. Esta afastou os seus e deixou-os vaguear sobre o
deserto que conytinuava a cobrir-se de um manto de lindas e níveas flores. O
perfume era cada vez mais forte. Uma doce embriaguez invadia a rapariga,
provocando-lhe um torpor voluptuoso.
- Ai, Kenesaw! – disse ela, a rir. – Tenho a impressão que
me estou a embriagar. Não haverá perigo de morrermos asfixiados?
- Não. Já peresenciei muitas vezes o florescimento dos
«saguaros» e nunca ouvi dizer que alguém morresse asfixiado.
-Vou desmontar.
Kenesaw saltou agilmente para terra e ergueu os seus braços
para a judar a desmontar. As mãos grandes e ásperas fecharam-se sobre a
graciosa cintura da rapariga e, através das roupas, Kenesaw percebeu um
estremecimento nervoso do corpo da jovem.
Esta deixou-se resvalar na sela de tal maneira que quase ia
caindo em cima do mestiço.
Ficaram de pé, muito juntos, enquanto as mãos dele abarcavam
a esbelta cintura e as dela repousavam como pombas nos largos ombros do rapaz.
Stella ergueu o rosto e suspirou sobre as faces de Kenesaw. Este sentiu-se
dominado por uma espécie de loucura. O enervante perfume das flores, a Lua, o
deserto e aquela boca vermelha entreaberta e dirigida para ele confundia-se
numa ansiedade por beijar aqueles lábios e apertar entre os seus braços o
frágil corpo, que tremia junto de si.
Subitamente, como que possuído de uma audácia de que mais
tarde se admiraria, inclinou-se sobre os lábios vermelhos e surgiu um beijo
prolongado e amoroso. Os seus braços cercaram o esbelto corpo apertando-o com
força para si… Inesperadamente, os braços da rapariga fecharam-se em redor do
pescoço de Kenesaw. A boca de Stella correspondeu ao beijo do mestiço,
fazendo-o estremecer dos pés À cabeça. Depois esquivou-se, para se esconder
atrás do ombro do rapaz.
- Kenesaw! Oh! Kenesaw! – gemeu a voz sufocada e
desfalecida.
A seguir: Coleção Búfalo, nº 22
A seguir: Coleção Búfalo, nº 22
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