Kenesaw Yates, o filho do deserto, saiu da sua tenda de lona e colocou o espelho
no tronco de um cedro. Sobre um outro tronco cortado que estava perto arrumou
os utensílios para se barbear. Observou-se ao espelho e viu nitidamente a
imagem de um homem com barba de três semanas. Kenesaw sorriu ante a sua própria
cara, da qual tinha desaparecido a negrura do olho, a crosta da sobrancelha
ferida e os sinais dos vários golpes e arranhões que cobriam as suas faces.
Enquanto ensaboava a espessa barba olhou em redor. O
acampamento dos yavapai estava encravado nas margens do lago São Carlos, entre
o Gila River e as montanhas Gila. Ali, num aprazível e recolhido vale, entre
algumas árvores e montes de pedras, erguiam-se as tendas desmontáveis dos
índios, de cor amarelo e pardo com listas brancas, de cujos pináculos saíam
preguiçosas colunas de fumo azulado que se elevavam na atmosfera em linha reta
antes de se dispersarem formando espirais.
Cavalos, burros e ovelhas andavam soltos pelas redondezas
mordiscando as ervas. Dos ramos das árvores pendiam mantas de cor vermelho
vivo. Os índios, lentos, de poucas falas, andavam de um lado para o outro
entrando e saindo das tendas. Voltando os olhos para a esquerda, Kenesaw podia
ver Stella Autry rodeada de um círculo de pequenos índios sentados sobre as
pernas num retalho de relva verde esmeralda. Um pouco mais além, Mister Autry
falava com um chefe de tribo, numa conversação onde havia mais gesticulações
que palavras e mais gritos que sons articulados. Por cima da linda cabeleira de
Stella, as águas azuis do lago cintilavam como espelhos sobre o fundo
vermelho-amarelado do promontório da ribeira oposta.
A seguir: A civilização e o coração da índia
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