quinta-feira, 5 de setembro de 2013

PAS061. Contemplação

Kenesaw Yates, o filho do deserto, saiu da sua tenda de lona e colocou o espelho no tronco de um cedro. Sobre um outro tronco cortado que estava perto arrumou os utensílios para se barbear. Observou-se ao espelho e viu nitidamente a imagem de um homem com barba de três semanas. Kenesaw sorriu ante a sua própria cara, da qual tinha desaparecido a negrura do olho, a crosta da sobrancelha ferida e os sinais dos vários golpes e arranhões que cobriam as suas faces.
Enquanto ensaboava a espessa barba olhou em redor. O acampamento dos yavapai estava encravado nas margens do lago São Carlos, entre o Gila River e as montanhas Gila. Ali, num aprazível e recolhido vale, entre algumas árvores e montes de pedras, erguiam-se as tendas desmontáveis dos índios, de cor amarelo e pardo com listas brancas, de cujos pináculos saíam preguiçosas colunas de fumo azulado que se elevavam na atmosfera em linha reta antes de se dispersarem formando espirais.
Cavalos, burros e ovelhas andavam soltos pelas redondezas mordiscando as ervas. Dos ramos das árvores pendiam mantas de cor vermelho vivo. Os índios, lentos, de poucas falas, andavam de um lado para o outro entrando e saindo das tendas. Voltando os olhos para a esquerda, Kenesaw podia ver Stella Autry rodeada de um círculo de pequenos índios sentados sobre as pernas num retalho de relva verde esmeralda. Um pouco mais além, Mister Autry falava com um chefe de tribo, numa conversação onde havia mais gesticulações que palavras e mais gritos que sons articulados. Por cima da linda cabeleira de Stella, as águas azuis do lago cintilavam como espelhos sobre o fundo vermelho-amarelado do promontório da ribeira oposta.
 
 
A seguir: A civilização e o coração da índia

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